30/11/2019

Ville Bathke preso com Dr Joaquim

Ville Bathke foi preso porque o Cartório do Crime, do qual era escrivão vitalício, emitiu certidão negativa a favor dos denunciados por crime de estelionato, no famoso caso Vendramim, sobre grilagem de terra na Gleba Sem Passo. A grande vítima era a viúva de Jorge Walter, dona Julia da Rocha Loures Walter (Nha Dona), que chegou a receber oferta de uma máquina de costura em troca do imenso quinhão de terra que era a perder de vista, e aceitou. Quem interviu e impediu a transição foi Elias Xavier do Rego, que era uma especie de procurador da família Walter. Não muitos dias mais tarde foi assassinado a tiros, pouco antes do meio-dia, em plena Avenida Capitão Índio Bandeira, em frente da Inspetoria de Terra (hoje Sanepar) pelo pistoleiro Gaspar Negreiro e seu filho Antonio, justamente no dia que foi agilizar a legalização daquela gleba. 
Uma funcionária do cartório verificou o fichário e o Livro Tombo e não encontrou nenhum acento de processo contra os requerentes e expediu a certidão de nada consta.
Ocorreu, anteriormente, que o juiz de direito Joaquim Euzébio de Figueiredo, antes do inquérito dar entrada no Fórum despachou e disse ao estafeta dar meia volta com a documentação e entregar urgente ao delegado de polícia, com ordem expressa para agilizar a prisão dos denunciados. A coisa estava indo longe demais e o caso se complicava. Suspeitava-se que corria muito dinheiro por debaixo do pano envolvendo, inclusive, autoridades locais, daí a pressa do meritíssimo em apurar os fatos e trancafiar os culpados se assim fossem julgados.
A prisão foi ordenada pelo Capitão Neudo – um dos suspeitos - que comandava os militares da ditadura em Campo Mourão.
Ville Bathke foi comunicado da ordem de prisão pelo oficial de justiça, Faustino Elias dos Santos, antes das 8 hs da manhã, enquanto tomava o habitual chimarrão com seu pai, na área da sua casa, na Av. José Custódio de Oliveira, em frente das residências de Pierre Jort e Aldo Casali.
A cadeia era onde funcionaram a Assessoria de Imprensa da Prefeitura e finalmente o Conselho Tutelar, espaço este tomado pela construção do novo prédio da Câmara Municipal.
Os médicos Manoel Andrade e José Carlos  Ferreira intervieram e tiveram permissão de levar seu Ville a um dos quartos do Hospital São Pedro.
No dia seguinte, pela manhã, escoltado por dois militares, embarcou em ônibus na rodoviária provisória em frente da antiga Loja Rio Grande. Apenas dois amigos o acompanharam até o embarque para Curitiba: Aldo Casali e José Paulino Slompo, além dos policiais que a todo instante lhe pediam desculpas. Eram amigos.
A manobra foi sigilosa e nem a família ou amigos foram comunicados. 
Por coincidência, os dois amigos estavam tomando chimarrão com ele no hospital, quando os militares solicitaram que os acompanhasse e que estavam seguindo, juntos, para Curitiba. A ordem era levá-lo a pé e algemado, do hospital à rodoviária, passando antes pela frente da delegacia, mas não o fizeram. O capitão Neudo gostava de humilhar seus prisioneiros, mas sua ordem foi desconsiderada a revelia.
Quanto ao Dr. Joaquim também foi preso, mas não se soube como foi levado até a Prisão Provisória do Ahú.
Seu Ville, conhecido dos diretores da instituição prisional, trabalhou na ala administrativa, na parte burocrática do órgão, com direito à prisão domiciliar. Neste caso ele prestava serviço durante o dia e das 18hs à 8 hs do dia seguinte ficava em sua casa no Alto Cajuru, em companhia da sua esposa. Os filhos acompanhavam tudo, com ansiedade e desejo de um desfecho feliz, desde Campo Mourão, o que, felizmente, aconteceu a bom termo. Ville Bathke foi absolvido e o Dr. Joaquim também.
As ações dos agentes do regime militar corriam no mais extremo sigilo e total segredo de estado.
Dr Joaquim foi preso por falsidade ideológica e suspeição de estar envolvido, propinado, no caso e ter falsificado sua assinatura.
Nada foi provado contra ambos e, cerca de um ano depois, foram julgados inocentes por unanimidade, com direito as indenizações por danos morais e aposentadoria compulsória.
Atuou na defesa de Ville Bathke, o insigne advogado René Dotti indicado, no processo, pelo então prefeito, advogado Horácio Amaral e pelo deputado eleito por Campo Mourão, Paulo Poli, amigos do escrivão acusado.
Na sua volta Ville Bathke – que nunca reclamou e nem falava da injustiça de que foi vítima – fixou residência na entrada do Jardim Modelo, loteou o Jardim Santa Cruz (mais de 300 datas) e distribuiu terrenos a baixo custo às famílias de pequena renda. As prestações dos lotes variavam de 5 a 10 cruzeiros, sem reajuste nem correção, com 10 a 20 anos para quitar. Tem gente pagando até hoje, conseqüência do inventário, obrigatório, aberto após seu falecimento, em 15 de novembro de 1980. 
Ele era natural de Balsa Nova, antigo distrito de Campo Largo - PR, onde nasceu dia 26 de junho de 1910.
Casou em primeira nupcia com Maria Conceição Vera e tiveram sete filhos: Santina, Glauco, Rubens, Wille, Vilma, Roseli e Fernando. E em segunda nupcia com Terezinha Menezes.
Repousa em Campo Mourão no Cemitério Municipal São Judas Tadeu, de acordo com seu desejo.

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