07/11/2018

Médico de Campo Mourão recebe em frango


Acredite se quiser.

Manoel Andrade, primeiro médico a se fixar em Campo Mourão nos idos de 1950, conta que:  “no início visitava os clientes a cavalo. Era tudo longe. Tinha dia que eu cavalgava tanto, chegava travado, não conseguia desmontar e minha esposa, professora Leony auxiliava-me. Colocava uma cadeira e eu escorregava do lombo do cavalo e da cadeira ao chão. 
Nas cirurgias, quando não tinha luz, usava flash fotográfico para clarear e operar. Desde o início tive bons instrumentos cirúrgicos,  que trouxemos na bagagem.
O que mais gosto de fazer é parto e participar do surgimento ... do milagre da vida. O primeiro parto que fiz foi nas Barras, na estradinha do Pinhalão do Oeste (Farol), que era caminho dos índios. O segundo seria além de Araruna. Mandaram me buscar de carro. Ia cobrar caro, um pouco mais de trinta mil réis. Eu estava recém chegado e precisava de uns trocos. Um cavaleiro me esperava na jovem Araruna que era um miolinho. Disse que a criança já tinha nascido e estava bem. Pensei: pronto, lá se foi o dinheiro! O cavaleiro ainda perguntou: quanto lhe devo doutor? Respondi: nada, eu não fiz nada para receber! 
Demos meia volta no carro, o cidadão tocou o cavalo no galope, emparelhou conosco e jogou uma nota de 500$000 contos no meu colo. Nem deu tempo de agradecer, Ele rodopiou nas patas do cavalo e sumiu na estrada arenosa. Divida 500 por 30 e veja quanto me deu a mais." (sorrindo). "500 era meio milhão, na época. Muito dinheiro". 

O parto mais difícil - "Uma noite o abnegado  Belim Carollo encostou a camionete junto com um caboclo, na minha casa. Pediram e fui atender um parto dificílimo. Chegamos no rancho. Entrei. Luz de lampião. Fumaça preta. Vi uma mulher deitada no chão de terra. Quase morri de pena. A parteira estava ali. A criança demorou, mas nasceu. Porém houve retenção da placenta. Aqui não tinha recursos. Era morte certa. Levar à Maringá não dava tempo. Tinha que arriscar. Isso se faz com anestesia geral porque a dor é muito grande. Só tinha uma ampola de morfina na valise e apliquei. Pedi sabonete e me deram sabão bruto. Pedi álcool e me deram cachaça. Lavei, escovei bem a mão e o braço direito e mandei a parteira segurar as pernas e o marido a cabeça e os braços da mulher.
Pedi: não deixem ela por as mãos em mim de jeito nenhum, senão ela me tira o movimento. Não posso errar!
Iniciei o trabalho. Com dificuldade abri o útero com os dedos. Pensei: o caboclo vai me pagar bem!
A mulher gritava de dor e ele a consolava: callmaaa... este é o médico dos pobres, nem vai cobrar! 
Aí percebi tudo. Ia voltar duro.
Fiz o trabalho perfeito, despedi-me e vim embora com seu Belim que esperou-me, pacientemente, lá fora e não viu nada. Só perguntou se deu certo?! - Respondi que sim! 
Passados dias o pai da criança veio nos visitar e trouxe um frango de presente”, recorda, rindo muito. 
"Vim lhe pagar, doutor!" Agradeci e ele se foi. 
Soltei o galo, nossa casa ainda não tinha cerca e meu ‘pagamento’ sumiu ou comeram. Não o ví mais.” (risadas).


 
Um frango naquele tempo custava um cruzeiro a dúzia.
Durante a dieta - 40 dias - a mulher só tomava canja de galinha.

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