Acredite se quiser.
Manoel Andrade, primeiro
médico a se fixar em Campo Mourão nos idos de 1950, conta que: “no início
visitava os clientes a cavalo. Era tudo longe. Tinha dia que eu cavalgava
tanto, chegava travado, não conseguia desmontar e minha esposa, professora
Leony auxiliava-me. Colocava uma cadeira e eu escorregava do lombo do
cavalo e da cadeira ao chão.
Nas cirurgias, quando não tinha luz, usava flash fotográfico para clarear e operar. Desde o início tive bons instrumentos cirúrgicos, que
trouxemos na bagagem.
O que mais gosto de
fazer é parto e participar do surgimento ... do milagre da vida. O primeiro parto que fiz foi
nas Barras, na estradinha do Pinhalão do Oeste (Farol), que era caminho dos índios. O segundo seria além de
Araruna. Mandaram me buscar de carro. Ia cobrar caro, um pouco mais de trinta mil
réis. Eu estava recém chegado e precisava de uns trocos. Um cavaleiro me
esperava na jovem Araruna que era um miolinho. Disse que a criança já tinha
nascido e estava bem. Pensei: pronto, lá se foi o dinheiro! O cavaleiro ainda
perguntou: quanto lhe devo doutor? Respondi: nada, eu não fiz nada para
receber!
Demos meia volta no carro, o cidadão tocou o cavalo no galope, emparelhou conosco e jogou uma nota de 500$000 contos no meu colo. Nem deu tempo de agradecer, Ele rodopiou nas patas do cavalo e sumiu na estrada arenosa. Divida 500 por 30 e veja quanto me deu a mais." (sorrindo). "500 era meio milhão, na época. Muito dinheiro".
Demos meia volta no carro, o cidadão tocou o cavalo no galope, emparelhou conosco e jogou uma nota de 500$000 contos no meu colo. Nem deu tempo de agradecer, Ele rodopiou nas patas do cavalo e sumiu na estrada arenosa. Divida 500 por 30 e veja quanto me deu a mais." (sorrindo). "500 era meio milhão, na época. Muito dinheiro".
O parto
mais difícil - "Uma noite o abnegado Belim Carollo
encostou a camionete junto com um caboclo, na minha casa. Pediram e fui atender
um parto dificílimo. Chegamos no rancho. Entrei. Luz de lampião. Fumaça preta. Vi uma mulher
deitada no chão de terra. Quase morri de pena. A parteira estava ali. A criança
demorou, mas nasceu. Porém houve retenção da placenta. Aqui não tinha recursos.
Era morte certa. Levar à Maringá não dava tempo. Tinha que arriscar. Isso se
faz com anestesia geral porque a dor é muito grande. Só tinha uma ampola de
morfina na valise e apliquei. Pedi sabonete e me deram sabão bruto. Pedi álcool
e me deram cachaça. Lavei, escovei bem a mão e o braço direito e mandei a
parteira segurar as pernas e o marido a cabeça e os braços da mulher.
Pedi: não deixem ela
por as mãos em mim de jeito nenhum, senão ela me tira o movimento. Não posso errar!
Iniciei o trabalho.
Com dificuldade abri o útero com os dedos. Pensei: o caboclo vai me pagar bem!
A mulher gritava de
dor e ele a consolava: callmaaa... este é o médico dos pobres, nem vai cobrar!
Aí percebi tudo. Ia voltar duro.
Aí percebi tudo. Ia voltar duro.
Fiz o trabalho
perfeito, despedi-me e vim embora com seu Belim que esperou-me, pacientemente,
lá fora e não viu nada. Só perguntou se deu certo?! - Respondi que sim!
Passados dias o pai da criança veio nos visitar e trouxe um frango de presente”, recorda, rindo muito.
"Vim lhe pagar, doutor!" Agradeci e ele se foi.
Soltei o galo, nossa casa ainda não tinha cerca e meu ‘pagamento’ sumiu ou comeram. Não o ví mais.” (risadas).
Passados dias o pai da criança veio nos visitar e trouxe um frango de presente”, recorda, rindo muito.
"Vim lhe pagar, doutor!" Agradeci e ele se foi.
Soltei o galo, nossa casa ainda não tinha cerca e meu ‘pagamento’ sumiu ou comeram. Não o ví mais.” (risadas).
Um frango naquele tempo custava um cruzeiro a dúzia.
Durante a dieta - 40 dias - a mulher só tomava canja de galinha.
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