10/11/2018

Legardeth 1º Presidente da Santa Casa de Campo Mourão

 
Legardeth Consolmagno

"Sem qualquer conotação política, mas sim, com o propósito altruístico de dar uma palavra de conforto, curar feridas e salvar vidas, principalmente das pessoas não bafejadas pelos recursos fartos, é que agregamos um grupo de 32 abnegados moradores da Campo Mourão, liderados pelos médicos pioneiros do Centro Oeste do Paraná, desencadeamos campanha que culminou na arrecadação de valores aplicados na construção (de madeira) e inauguração da Santa Casa de Campo Mourão, dia 15 de janeiro de 1955, na Rua Brasil, entre as avenidas Capitão Índio Bandeira e Manoel Mendes de Camargo, anexa ao Hospital Municipal onde já atendiam os médicos; Manoel Andrade e José Carlos Ferreira, os quais prontamente, se aliaram ao nosso chamamento". 

 
Hospital Municipal e Santa Casa de Campo Mourão anos 50

Formada a diretoria para gerir os destinos e fins da entidade filantrópica, Dr. Legardeth foi eleito primeiro presidente da Santa Casa de Misericórdia na cidade que começava a se desenvolver, com apenas oito anos de existência, desde a sua emancipação.

Recentemente a Direção do Hospital Santa Casa prestou  homenagens aos dois sócios fundadores remanescentes do grupo de 32 adeptos iniciais da Santa Casa de Misericórdia de Campo Mourão, doutores: Manoel Andrade e Legardeth Consolmagno. Na ocasião, Letícia Beltrão, representou seu tio, Dr. Manoel Andrade.


 
Dr Legardeth, Dr Elmo e Letícia

Durante a cerimônia Legardeth chorou e disse estar muito feliz “não pelo que eu fiz, mas porque os colaboradores continuam a realizar este trabalho, do qual plantamos a semente e o produto é isso aqui. Esta  Santa Casa é uma referência regional e estadual. Não tenho mais nada a lhes dar, a não ser meu muito obrigado", concluiu enxugando as lágrimas. 
Letícia Beltrão elogiou a equipe do atual Hospital Santa Casa:  "Agradeço essa importante homenagem. Irei entregar em mãos a placa, que muito nos honra, nas mãos do meu tio."

1949 - Formado em medicina pela Universidade Federal do Paraná, em Curitiba, Legardeth Consolmagno, iniciou sua carreira como médico no sertão de Campo Mourão no início da década de 50 e participou diretamente das ações de combate à febre amarela (maleita) que ceifou muitas vidas na região inóspita e de pouquíssimos recursos medicamentosos. Anteriormente morou em Mamborê e depois de Campo Mourão, estabeleceu-se em Piracicaba.

1955 - A epidemia cessou com a vinda de equipe especializada do Ministério da Saúde que, aqui, contou com o engajamento do Dr. Manoel Andrade, primeiro médico a se fixar e clinicar em Campo Mourão, desde 1950.
A exemplo do Dr. Manoel, o Dr Legardth também gostava de realizar partos, dentre eles fez os de seus dois filhos.


 
Santa Casa e o primeiro hospital em Campo Mourão
Rua Brasil frente ao futuro Ed. Plaza

Legardeth, com ajuda de amigos da cidade, conseguiu construir a Santa Casa de Misericórdia, toda de madeira, da qual foi o primeiro presidente, com Dr. Manoel Andrade e, posteriormente, Dr. José Carlos Ferreira, seus aliados.  “Nós só cobrávamos de quem podia pagar. Quem não podia dávamos a mesma atenção, porque a vida não tem preço. Muitas vezes pagamos para ser médico”, revelou Legardeth. A maior parte da arrecadação era aplicada na manutenção, na alimentação, contratação de colaboradores e roupas de cama.

1955 – A Associação Beneficente Hospitalar Santa Casa de Misericórdia de Campo Mourão, foi fundada dia 15 de janeiro, por iniciativa de uma plêiade abnegada dos médicos de então, apoiada por um grupo idealista da sociedade local. 
Legardeth foi o primeiro Diretor Clínico da Santa Casa de Campo Mourão – hoje Hospital Santa Casa HSC – que oferece atendimentos com a qualidade dos grandes centros, em: Pediatria, Ortopedia, Maternidade, partos de alto risco, Uti adulto, Uti neonatal e pediátrica; Centro Cirúrgico que disponibiliza oito salas de cirurgias, internações clínicas, exames laboratoriais, farmácia, Raios-X, Tomografia, Mamógrafo e Ultrassom. Na área Oncológica disponibiliza atendimento amplo em consultas, prevenção, tratamento, cirurgias, radioterapia, quimioterapia e uma gama completa de vários serviços do setor.

1959 - De clínico-geral, mais tarde optou por tornar-se oftalmologista no ano em que se fixou em Piracicaba onde instalou a Ótica e Relojoaria Consolmagno. Depois de quase dez anos pelo interior do Paraná, passou a clinicar em consultório próprio no mesmo endereço do seu ponto comercial, onde trabalhou por 43 anos.


1987 - devido à sua notável atuação dentro da classe médica, participou do Primeiro Congresso de Ética Médica, ocasião em que foi elaborada a terceira reforma do Código de Ética Médica, que contou com a participação de 200 profissionais divididos em blocos de 20.

2001 - recebeu da Associação Paulista de Medicina o título de "Médico do Ano".

 
Legardeth é Cidadão Piracicabano

2002 - recebeu o título de Cidadão Piracicabano, da Câmara de Vereadores. Legardeth Consolmagno agradeceu a homenagem. Disse que faz o trabalho a que se propôs, quando tornou-se médico, "da melhor forma possível, sempre pensando no bem do próximo”.

Legardeth Consolmagno 
entrevista: terça-feira, 9 - 9 - 2008, 10:00

Nasci dia 19 de janeiro de 1924, em Rio das Pedras - SP, filho de Olympio Consolmagno, que era ótico, ourives e relojoeiro, de origem italiana, nascido em 1908. Minha mãe é  Cristhina Caravita, nascida em 1900, na cidade de Capivari. 
Meu pai, em 1916, com apenas 18 anos, estabeleceu-se profissionalmente em Rio das Pedras, na Rua Prudente de Moraes, 22. Em 1933 transferiu-se para Piracicaba, onde montou a Ótica e Relojoaria Consolmagno. Naquele tempo os comerciantes tinham muito orgulho em colocar seus nomes ou sobrenomes, na fachada do seu estabelecimento comercial, nas notas fiscais e nas embalagens. A propaganda era visual.  
Meu avô já tinha levado meu pai duas vezes para a Itália quando ele completou 13 anos de idade e, lá, aprendeu a arte da ourivesaria com o mestre Alleoni e, também, com ourives e relojoeiros italianos estabelecidos em Capivari".



Pai apaixonado -"Na praça central de Capivari tinha  um fotógrafo de câmera de caixote, daqueles chamados 'lambe-lambe'. Meu pai viu ali exposta a fotografia de uma menina que ele gostou. Com muito empenho adquiriu o retrato e procurou, procurou, até encontrar a moça. Daí começou o namoro que durou sete anos, afinal ele tinha apenas 13 anos de idade, casou com 20". 
"Durante idas e vindas para namorar, as viagens de trem que duravam mais de seis horas entre Rio das Pedras e Capivari, somadas ao dinheiro gasto com longos telefonemas - segundo dizia meu pai - daria para ter feito mais do que uma boa casa... uma mansão. Quando eles conversavam ao telefone, estendiam seus colóquios por horas a fio, inclusive cantavam um para o outro!" segredou.

Reprovado"O primeiro ano do curso primário estudei em Rio das Pedras, isso foi em 1932. Fui reprovado, levei bomba. Eu não sabia que era míope! 
1932 foi um ano tumultuado por causa da Revolução Constitucionalista e quase não tivemos aulas por causa dos entreveros militares. Ninguém saia na rua com medo de ser preso ou levar um tiro. Quem falasse mal do Getúlio podia ser denunciado e morto. Ele encabeçou o golpe e era ditador." relembra.
Corria o ano de 1933 e, em janeiro, viemos morar na linda Piracicaba, na Rua Governador Pedro de Toledo, 126, calçada com paralelepípedos. Os caminhões trafegavam por ali em ambos os sentidos, não havia mão nem contramão, com muito barulho de trepidação, principalmente os de carrocerias vazias que tiravam o sono da vizinhança. As carroças e gaiotas de tração animal possuíam rodas de madeira revestidas com um aro de ferro; os cavalos usavam cincerros que tilintavam suaves  iguais sininhos de natal e quebravam o silencio da madrugada com o tropel dos cascos ferrados que batiam nas pedras irregulares, conduzidos pelos entregadores de leite, galinhas,  verduras, pão e outros alimentos caseiros da roça, de porta em porta." 


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As cabritas - "Existiam sitiantes que desciam a Rua Governador conduzindo cinco ou seis cabras, cada uma com seu sininho soando suave no pescoço. Era para chamar a criançada a fim de tomar leite na caneca tirado na hora, quentinho e espumoso, enquanto que, o de vaca, era entregue em litros comuns arrolhados com palha ou sabugo de milho. Isso antes da pasteurização ser adotada como procedimento regular. Hoje você compra água cor de leite com conservantes, embalada em caixinhas de papelão aluminizados... um veneno!" alerta. 

Estudos"Comecei estudar na Escola Normal, hoje Sud Mennucci. Fiz o primário lá. Concluí o quarto ano no Sétimo Grupo, hoje Grupo Escolar Dr. Prudente de Moraes que ficava na casa onde morou Prudente de Moraes. Lá é que foi criado o Sétimo Grupo Escolar de Piracicaba, dirigido pelo professor Nestor Pinto César. Para viabilizar a escola, eles pegaram alunos de diversas séries, de várias escolas mais centrais a fim de compor o número necessário de alunos e fazer funcionar o Sétimo. O ginásio eu cursei no Externato São José, que era a ala  masculina do Colégio Assunção, na Rua Alferes José Caetano, no prédio em que depois funcionou a Faculdade de Odontologia. Dali eu fui fazer o curso pré-médico em Curitiba, na UFPR".

 
Chaveiro do Hotel América - anos 40

Curitiba - "Na capital do Paraná eu morava em repúblicas, sempre no centro. A primeira em que morei ficava na Praça Tiradentes, ao lado da catedral. Passei por lá dois meses e pude verificar que a casa em que morei permanece ali. 
Ainda como estudante, me hospedei no Hotel América, que ficava na Rua XV de Novembro, atual Rua das Flores".

Fofocas - "Curitiba, a exemplo de Campo Mourão, tem um ponto folclórico onde se reúnem muitos amigos. É a chamada “Boca Maldita”. Ali os fofoqueiros de carteirinha se reúnem para o tradicional cafezinho Alvorada e falar de políticos, de futebol e de tudo um pouco. Fica na antiga Rua XV de Novembro, uma quadra da Praça Osório.
Os duros - "Existia, também, a 'Gleba dos Apertados'. Quando você precisava de dinheiro sempre havia um agiota que te socorria. Os que necessitavam vender com urgência algum objeto para fazer dinheiro, ali era o desaperto. O aproveitador comprava pela metade ou menos até do valor e vendia, minimamente, pelo dobro". 

1950 - "Fui a Mamborê e dali a Campo Mourão, no bravio centro-oeste do Paraná. Quando iniciei era médico de sertão bruto, aquele que faz tudo sem raio-x, sem laboratório, sem luz. Estimo que existia na região toda, entre os rios Ivaí e Piquiri, um universo de 150 mil pessoas e apenas três médicos. Eu, Dr Manoel e Dr José Carlos. Era comum a gente ficar sem almoço dois ou três dias ou duas noites sem dormir, sem parar de atender os pacientes! 


MaleitaNo grande surto de febre amarela, eu estava lá. Na primeira leva tive 32 doentes dos quais 14 sobreviveram e 18 vieram a óbito. E eu não era vacinado, por sorte escapei. Muitas mulheres morriam no parto e uma das causas mais comum era o tétano que matava em sete dias. Morriam muitas crianças com difteria. Sarampo matava até adultos! Hoje com a vacinação ninguém mais se lembra dessas doenças. Tudo isso ficou para a história da medicina. Naquela época não se vacinava ninguém. Tenho dois filhos e eu mesmo realizei os partos deles sem problema algum e sem aquelas doenças".

Mamburê - "A região de Campo Mourão era bem para lá dos recursos. Longe de grandes centros! Começava  a ser ocupada por pessoas corajosas. Famílias chegavam a cavalo, em carroças a toda hora e aventureiros solitários tentavam, sempre bem armados, a sorte de dias melhores. A sede era pequena, poucas casas de madeiras. Um vilarejo longe de tudo, que estava entrando em uma fase indefinida de progresso. Plantava-se muita cana e café. Fica cerca de 100 quilômetros de Maringá e 250 de Guarapuava por estradas de terra e muito pó ou lama quando chovia. Antes de Campo Mourão comecei a trabalhar no distrito de Mamburê (Mamborê quando emancipou) por onde andava e medicava o nazista Joseph Mengelle, com um projeto de parto duplo (nascimento de gêmeos) que iniciou na Alemanha, durante a segunda guerra mundial. Seu ponto de parada era no lugar conhecido por Guarani. Muitos dos seus pertences e construções foram encontrados depois - segundo dizem - de ter fugido para o Paraguai" revelou. 


Os paraguaios - 'escravos' do argentino Allica - vinham roubar erva-mate no Brasil e tinham depósito ali onde é a Praça das Flores. "Avançaram pela região de Campo Mourão até chegar a Mamborê e provocar a reação dos brasileiros. Durante muito tempo foram encontradas peças, armas e ferramentas deixadas quando tiveram que fugir das milícias do Brasil. Depois passei a atuar na área de oftalmologia, foi quando me fixei em Piracicaba, tão logo deixei o Paraná".


Piracicaba - "Meu consultório e a Ótica Consolmagno ficavam no prédio onde hoje existe a loja De Manos. Permaneci com meu consultório ali, por 43 anos". 

Ética - "Em 1987 participei do Primeiro Congresso de Ética Médica, quando se elaborou a terceira reforma do Código de Ética. Fui do Grupo 9. Esse código foi feito com a participação de toda a comunidade. Éramos em 200 pessoas presentes e cada bloco era composto por 20 especialistas". 


Quem cura"Apesar de todos os avanços o médico não satisfaz todas as necessidades da medicina. O médico não tem vara de condão para resolver problemas. Ele tem que minorar a situação e aliviar a dor, mas não tem o compromisso de cura, não tem esse dom. Ele pode aplicar a sua arte, o seu conhecimento, a sua solidariedade e amenizar. Ás vezes ele cura. Nem sempre é o médico e o remédio que curam. Na maioria dos casos é o próprio organismo que se cura com seus reagentes naturais. Ás vezes o corpo está tão debilitado que não há mais o que fazer. Há uma situação final". 


Medicina livre - "Creio que não existe corporativismo na medicina. Tanto que são eleitos os representantes legais. Permaneci no CREMESP - Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, por 10 anos. Na APM - Associação Paulista de Medicina fui do quadro de direção e conselho por 26 anos e tudo se decidia com democracia e consenso da maioria, ou unanimidade". 

Saúde pobre - "O problema da medicina, não só no Brasil como em outros países, é caso de carência. Falta verba pública. Tendo dinheiro não fica difícil. O problema é que tem que ser feito muito com pouco dinheiro. Não dá para fazer quase nada! Se houvesse recursos suficientes não haveria filas. Para o doente particular, que tem poder aquisitivo, as coisas ficam mais fáceis. Mas veja que nem sempre seu médico está disponível. Quando você telefona no consultório a secretária irá marcar consulta para dali três ou cinco dias. Não é de imediato. Ele também tem uma capacidade de trabalho, tem agenda e seu limite. Urgência é outra história. Urgência é para ser atendida com urgência".

Não falta médico - "Não há carência de médicos! Há má distribuição de profissionais! Ninguém quer ir para um local onde não há recursos, conforto, estabilidade e meio de vida bom. Nos grandes centros, nas cidades existe uma superlotação de médicos. Nas cidades pequenas, nos lugares do interior onde não existem condições de vida favorável, onde não há condições de criar e educar os filhos, ai há carência de médicos, além do que o Estado e os Municípios pagam mal. Um técnico, um encanador, um eletricista ganha mais que médico e não fizeram Faculdade de cinco a seis anos igual a nós".


Atualização - "Entre a medicina anterior e a atual é difícil estabelecer um paralelo porque as coisas são muito diferentes e evoluem rapidamente. Hoje é outra medicina. Aquilo que aprendi na faculdade ficou para a história. Isso no aspecto técnico- profissional. No relacionamento humano também houve modificações. Hoje existe o intermediário. O Estado é um intermediário, ele trata um serviço com o médico para atender a população. Existe a medicina de grupo, que também dá a assistência médica, mas não diretamente. O paciente realiza um contrato com uma empresa que vai lhe prestar serviço através do médico. Assim como também existem as cooperativas médicas. Todas as prestadoras de serviços médicos são intermediárias entre médicos e pacientes. O médico quase já não tem o seu cliente. O cliente é da empresa", observou.
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O estudante de medicina presta um juramento ao formar-se como médico. Transcrevemos aqui, a forma simplificada do juramento de Hipócrates nas cerimônias de formatura: 
“Prometo que, ao exercer a arte de curar, mostrar-me-ei sempre fiel aos preceitos da honestidade, da caridade e da ciência. Penetrando no interior dos lares, meus olhos serão cegos, minha língua calará os segredos que me forem revelados, o que terei como preceito de honra. Nunca me servirei da profissão para corromper os costumes ou favorecer o crime. Se eu cumprir este juramento com fidelidade, goze eu, para sempre, a minha vida e a minha arte, com boa reputação entre os homens. Se o infringir ou dele afastar-me, suceda-me o contrário”.

Dos contra - "Boa parte da classe médica entende que deve-se acabar com o ritual do Juramento de Hipócrates nas cerimônias de formatura. É uma hipocrisia!

Os advogados, por acaso, juram que defenderão a justiça? Engenheiros e arquitetos precisam jurar construir casas que não caiam? Aos olhos da sociedade, a mera existência de um juramento solene dá a impressão de que médicos são sacerdotes e devem dedicação total aos pacientes, sem manifestar preocupação com aspectos materiais, com ás condições de trabalho ou a remuneração pelos serviços prestados"

Medicina é arte - "O exercício da medicina envolve a arte de ouvir atentamente as pessoas doentes, de observá-las, de examiná-las, interpretar-lhes as palavras e de discutir com elas as opções mais adequadas de cura. O tempo dos que impunham suas condutas sem dar explicações, em receituários cheios de garranchos, já passou e não voltará. Estamos na era da informática".



Salvadores - "A falta de tempo não serve como desculpa para deixarmos de escutar a história que os doentes contam. A arte da medicina está em observar. Muitos procuram na medicina a sua profissão, imbuídos do desejo altruístico de salvar vidas. Nesse caso, encontrariam mais realização no Corpo de Bombeiros, porque a lista de doenças para as quais não existe cura é interminável. Curar é finalidade secundária da medicina... o objetivo fundamental da profissão é aliviar o sofrimento humano".

RespeitoO Dr. Legardeth Consolmagno é um dos profissionais para quem o juramento de Hipócrates deve ter sido mais uma etapa da solenidade de formatura. Altamente carismático, ele conquista de imediato a confiança do interlocutor, seja paciente ou não. Respeitado por sua conduta ética e sua estatura moral tem uma forte atuação no meio social em que convive. É do tipo de pessoa que não vê a vida como um espectador! Ele participa em toda causa que julga poder colaborar. 

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Meu nome? - “Meu pai dizia que quando eu estava para nascer, leu em uma revista chamada 'Eu Sei Tudo', editada pela Companhia Editora Americana, entre 1917 e 1958, com enfoque sobre ciência, arte, literatura e história. Nessa revista viu um conto onde havia um audaz personagem chamado Legardeth o qual ele passou a admirar. Era um romance em série, com um capítulo, a cada exemplar mensal da revista. Hoje chamam série de novela".

Qual origem? - "Quando eu já estava no curso pré-médico em Curitiba, perguntei ao professor Mansur Guerius, que era um linguista que havia publicado várias gramáticas de línguas indígenas: kaingang e guarani, 'qual a origem do meu nome?' Ele era nosso professor de português e disse-me que iria procurar o porque do nome Legardeth. Quando eu já estava para me formar fui procurá-lo para ver se havia encontrado alguma referência sobre Legardeth. Então ele me disse: 'Não encontrei, mas tenho os seus dados, sei que você mora em Piracicaba; irei fazer esse histórico que irá constar no meu dicionário de nomes próprios e te mando'
Eu lhe indaguei: “Ah professor, o senhor vai publicar?” 
Ele me disse: “Sim, será uma publicação póstuma, se encontrar editor!” 
"Pensei. Ele publicara um livro que nem existe - vai ser escrito em publicação póstuma (após a sua morte), mas somente se encontrar editor?! - Não entendi.
-Como a obra não saiu, presumo que não foi encontrado um editor e faleceu o professor. É a vida!” – finalizou Dr. Legardeth, sorrindo.


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Legardth e os remédios: "A bula é uma burla."

“Temos aí milhões de remédios. Este país é uma vergonha”  disse o médico Legardeth Consolmagno, ao observar que muitos medicamentos são os mesmos. “A maioria dos remédios para gripe é assim. Eles mudam apenas a dosagem, o nome e a embalagem”, afirmou.
A venda de remédios sem receita médica é vista pelo médico como uma coisa séria. Segundo ele, teoricamente os remédios que contém tarja vermelha "só devem ser vendidos com receita, mas alguns deles não são obrigatórios",  esclarece. 

A bula parece que é feita para as pessoas não lerem, é quase impossível. “Não deveria existir. A bula é uma burla burra. É uma maneira de induzir a população a tomar remédios sem necessidade e com efeitos colaterais negativos, a maioria muito danoso à saúde.”, adverte Legardeth.
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LEGARDETH CONSOLMAGNO - 95 ANOS

AINDA DIRIGE E EXERCE A MEDICINA


O médico oftalmologista trabalha três vezes por semana e renovou sua habilitação sem o uso de óculos. 

"Atualmente trabalho três vezes por semana. Vou na parte da manhã ao consultório às terças e sextas-feiras, e à tarde às segundas-feiras. Trabalho com meu filho em um prédio em conjunto com outros médicos, aqui em Piracicaba/SP.


Por quê oftalmologista? 

"Primeiro porque eu já tinha antecedência familiar, meu pai tinha casa de ótica. Eu já gostava da especialidade, mas precisa de subsídio para montar um consultório. Naquele tempo, além de ser caro, não havia financiamento. Não tinha residência médica para trabalhar ganhando desde o início. Tinha que ter um meio de subsistência e o dinheiro para montar um consultório. Então, primeiro fui ganhar o dinheiro, fiz um pé-de-meia durante cinco anos em Mamborê e Campo Mourão. Em 1956 voltei me especializei na Santa Casa de São Paulo. e após dois anos, me fixei em Piracicaba, com minha família".

"Aprendi sobre oftalmologia no Instituto da Santa Casa de São Paulo, com o doutor Durval Prado. Esse período de dois anos foi sem remuneração alguma. Até brinco com o pessoal que, eu ficava das sete e meia da manhã até meio-dia e meia ou mais tarde, e depois de seis meses me deram um prêmio: tinha um almoço no bandejão. Não precisava pagar!" relembras as dificuldades.

"Quando chegamos em Piracicaba, a cidade era carente em oftalmologia. Não tive dificuldade em fazer clínica. Lá no Paraná, quando trabalhei em Campo Mourão, também era carente. Atualmente, não é assim, a concorrência é grande. Cheguei em Piracicaba, em 1958, eram três médicos em oftalmologia. Comecei a trabalhar em janeiro de 1959. Eu fui o oftalmologista número 50. Hoje tem mil médicos! Havia uma demanda reprimida, o pessoal precisava de médico". 

"Quando comecei a exercer a medicina em Mamborê, depois em Campo Mourão, muita coisa era nova. Vi nascer o medicamento sulfa (colírio) que acabou com o tracoma (doença infecciosa e altamente contagiosa, que pode causar cegueira) que afetava a humanidade inteira. Tuberculose: não tinha tratamento. Aí veio a penicilina. Aquelas doenças que matavam, como febre tifoide, vi nascer medicamentos para tudo isso. Sou privilegiado! Antibiótico começou pequenino e hoje, qual médico que pode trabalhar ou viver sem?"

"Até pouco tempo, tudo isso era lenda, mas depois veio a evolução. No começo também, o grande problema do transplante era a rejeição e, em primeiro lugar, era conseguir o material humano. As doações eram restritas e depois veio a conscientização do pessoal a exemplo do banco de olho".

"Como eu tive um bom mestre, eu me destaquei, me dediquei em tratamentos da visão. Já tinha um pai e um irmão óticos, que trabalhavam  juntos na Ótica Consolmagno. Então, me dediquei à refração (exame realizado para identificar a acuidade visual e o grau de óculos do paciente). Meu grande mestre na oftalmologia, na Santa Casa de São Paulo, foi doutor Durval Prado, que era especialista em refração. Especializei-me e me dediquei muito a isso, mas veja como é interessante nossa vida. Eu sou míope". (risadas). 

"Fiz o primeiro ano do grupo escolar em Rio das Pedras, em 1932. Quando viemos para Piracicaba meu pai me matriculou na Escola Normal, hoje Sud Mennucci. Eu não pude ser matriculado no segundo ano, porque não havia me alfabetizado. Eu faria sete anos em janeiro e naquele tempo tinha que ter a idade completa. Tive que esperar. Entrei para fazer novamente o primeiro ano. Uma professora percebeu minha dificuldade e pediu que meu pai verificasse se eu não enxergava. Ele ficou desesperado. Fomos para São Paulo e o doutor Pereira Gomes descobriu que eu era míope e comecei a usar óculos. Aí me alfabetizei! Usei óculos até os 74 anos. Operei a catarata e uso lentes introoculares, uma maravilha. Admiro o doutor Pereira Gomes do qual sou e serei fã, pela vida toda. Tanto que quando me formei logo optei por oftalmologia em homenagem a ele".

"Eu dirijo e revalidei, com 95 anos, a minha carta de motorista, sem óculos. Uso óculos, eventualmente, quando eu vou ler muito ou fazer minhas pinturas. Uso óculos de sol para proteger, depois de ter tirado o cristalino, quando fui operado. Em relação à alimentação, como de tudo e muito bem, porém pouco. Tomo minha pinguinha, meu vinho, minha cervejinha, faço exercícios  duas vezes por semana".
"Aprendi que para viver bem é preciso ter paz de espírito. Estou casado há 70 anos com a mesma mulher que amo e e sempre nos demos bem. Tivemos cinco filhos, todos eles formados. Não tenho motivo para não ser tranqüilo. O tempo é um remédio. Muita coisa que a gente não consegue resolver é porque não chegou o tempo e temos que esperar".
"O mais difícil para mim hoje é exercer  a medicina. Mudou tanto que não sei mais operar e nem tenho condições para tal porque não sei manipular o instrumental moderno. Todo o meu instrumental de oftalmologia eu dei ao meu filho. Nem para museu aquilo serve! Virou relíquia. Eu digo aos meus colegas: não seja o primeiro a aceitar o novo, mas não seja o último para largar o velho". (rindo) "Médico nunca está atualizado, sempre tem novidades".

-Parou ou continua a clinicar?

"Desde os 75 anos parei porque bastava eu ficar emocionado, e eu sou muito emotivo. Quando algo durante a cirurgia não ia bem, o coração começava a se agitar. Hoje, realizo consultas, diagnósticos, receito óculos e converso. Tenho clientes que são heranças de avós, pais, que eram meus pacientes, que vão ao consultório por indicações e pelos sobrenomes já identifico".


- O quê é a medicina para o senhor?

"A medicina tem capacidade imensa, com todos os recursos e ainda terá muito mais. A medicina vai evoluir de tal forma que vai ser preventiva. Ainda não é. Vai uns 20 anos ou mais para chegar a esse ponto. As pesquisas com células tronco vão deixar de ser experimentais. A qualidade de vida será muito melhor e quem nasce agora, chegará aos 100 anos, ou mais, forte e saudável".

-Quando pretende se aposentar? 

"Acho que já estou aposentado, porque estou trabalhando pouco. Devagarzinho, estou parando, Só não parei de vez porque a gente sente falta do trabalho. Estou diminuindo minha rotina. Atendo três dias na semana e vou passar para dois. Estou me programando, porque não sabia que eu iria chegar até aqui. Agora, é cuidar da minha esposa, porque ela merece. Ela foi meu braço direito. Ainda há tempo para curtirmos a vida a dois e desfrutar do bem maior que Deus nos deu: a vida!" concluiu sorrindo.


(Eliana Teixeira) - 4 de fevereiro de 2019


ººº


Origem das Santas Casas
Breve Histórico


 
Portugal - A primeira Santa Casa do mundo foi criada em 15 de agosto de 1498, em Lisboa - PT, pela rainha Leonor de Lencastre, esposa de Dom João II, que originou a "Confraria de Nossa Senhora da Misericórdia", em um período da história marcado por tragédias, guerras e as grandes navegações.
Nesse cenário, o surgimento das Santas Casas ficou marcado pela retomada de sentimentos de fraternidade e solidariedade humana. Prova disso é que, muitas vezes, a irmandade não precisou de uma instituição física: ela foi ao encontro dos enfermos e inválidos, onde quer que estivessem. Assim, chegou à Ásia, África, Europa e às Américas.
No Brasil, as primeiras santas casas surgiram logo após o descobrimento, precedendo a própria organização jurídica do Estado brasileiro, criado através da Constituição Imperial de 25 de março de 1824. Até esta data já haviam sido fundadas as Santas Casas de Santos (1543); Salvador (1549); Rio de Janeiro (1567); São Paulo (1599); João Pessoa (1602);   Belém (1619); São Luís (1657), Campos (1792); Porto Alegre (1803) e Vitória (1818). Destas derivaram outras entidades similares, como as Beneficências Portuguesas, Hospitais Filantrópicos das comunidades: Judaica, Japonesa, Sírio-Libanesa, ou mesmo ligadas a movimentos das igrejas:  Católica, Protestante, Evangélica e Espírita totalizando, até os dias atuais, mais de 2 mil estabelecimentos de saúde espalhados por todo o território brasileiro, inclusive em Campo Mourão, no Centro Oeste do Paraná, desde 15 de janeiro de 1955, data da sua fundação. Uma vez criada, passou a atender toda Microrregião 12, enfermos de todos os males, provida com ajuda de alguns municípios, da comunidade e do Estado.
As Misericórdias se anteciparam às atividades estatais de assistência social e à saúde no Brasil. Também foram as responsáveis pela criação de alguns dos primeiros cursos de Medicina e Enfermagem, como é o caso daquelas fundadas na Bahia, São Paulo, Rio de Janeiro, Vitória e Porto Alegre. Atualmente as Santas Casas são responsáveis pelo maior número de residências médicas, contribuindo com a formação de profissionais da Medicina.
No Brasil, a atuação dessas instituições apresentou duas fases: a primeira compreendeu o período de meados do século XVIII até 1837, de natureza caritativa; a segunda, o período de 1838 a 1940, com preocupações de natureza filantrópicaA filantropia distingue-se da caridade pelos seus objetivos. 
A fim de tornar a ajuda útil àqueles que dela necessitam, os filantropos acreditam ser necessário mudar-lhes a natureza, dar mais conselhos do que bens. É preciso não só recolher as pessoas, mas dar-lhes orientações que promovam o reerguimento da família e, conseqüentemente, da sociedade. Portanto, ao assistir enjeitados e marginalizados, há a preocupação com o destino destes indivíduos, em torná-los reintegrados. Assim, a caridade cede lugar à filantropia.
Desde sua origem, até o início das relações com os governos (especialmente na década de 1960), as Santas Casas foram criadas e mantidas pelas doações das comunidades, vivendo períodos áureos, em que construíram seus patrimônios, sendo boa parte destes tombados como patrimônio histórico.
Em 1966, com a substituição das funções sociais, previdenciárias e de saúde dos instituídos pelo Governo Brasileiro, através do INPS - Instituto Nacional de Previdência Social -  começou a fase de atendimento e de participação nas políticas publicas pelo setor filantrópico.
O Sistema Único de Saúde - SUS, oficializado pela Constituição Federal de 1988, recebeu os patrimônios e encargos do INAMPS como “herança”. O SUS é considerado um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo que, segundo a Carta Magna, garante acesso integral, universal e igualitário à população brasileira, do simples atendimento ambulatorial aos transplantes de órgãos, regulado pela Lei Orgânica da Saúde (8.080/1990).
Para os hospitais sem fins lucrativos, em sua maioria responsável pelo atendimento de Alta e Média Complexidade, essa ligação com o sistema público passou a representar um problema, já que seu financiamento é deficitário. Atrelados à Saúde Pública, por força constitucional, os hospitais dependem da vontade política para aumentar os recursos da Saúde. Enquanto isso, os hospitais estão endividados e junto à Confederação das Santas Casas e Hospitais Filantrópicos (CMB), buscam uma solução.
O vocábulo “misericórdia” tem sua origem no latim e significa: “doar seu coração a outrem” (“misere” e “cordis”). Em sentido mais amplo quer dizer “doar a quem necessita”. As Santas Casas de Misericórdia trabalham com o objetivo de atender este princípio, recebendo os mais necessitados que padecem de todos os tipos de males e doenças.

Objetivos e Finalidades
No Princípio. 
 
Atual Hospital Santa Casa em Campo Mourão

Santa Casa da Misericórdia é uma irmandade que surgiu com a missão de dar tratamento e sustento a enfermos e inválidos, além de assistência a recém nascidos abandonados na instituição. Sua orientação remonta ao Compromisso da Misericórdia de Lisboa, composto por 14 obras de misericórdia, sendo sete delas espirituais: ensinar os simples, dar bons conselhos, consolar os tristes, perdoar as ofensas, sofrer com paciência, orar pelos vivos e pelos mortos - e sete corporais:  visitar os enfermos e os presos, libertar os cativos, vestir os nus, dar de comer aos famintos e de beber aos sedentos, abrigar os viajantes e enterrar os mortos.

A princípio, todas as obras possuem fundamentos na doutrina cristã, tal qual encontramos nos textos bíblicos do Evangelho de São Mateus e nas Epístolas de São Paulo, ou provêm de tradições, de povos antigos, incorporadas ao Cristianismo. 

A Administração de uma Santa Casa consiste, basicamente, em: Diretoria e Gerência Administrativa; Recursos Humanos; Compras; Financeiro/Contábil; Prestação de Contas; Jurídico; Segurança no Trabalho; Provedoria e Captação de Recursos; Ouvidoria; Assessoria de Imprensa; SAME; Tecnologia de Informação e Sistema Único de Saúde - SUS.


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