04/11/2018

A Lua de Mel Mais Longa e Sofrida de Campo Mourão

 
Waldyra e Elias em Campo Mourão - PR

O Pretendente Waldyra Gaertner era mocinha e teve vários paquerinhas, mas o Dr. Elias Faraht (engenheiro) queria ser seu namorado, "mesmo com bem mais idade que eu", nos segredou a jovem carioca Valdé, eleita Miss Broto do Clube 10 quando em Campo Mourão, ocasião em que viu e dançou pela primeira vez com o ciumento pretendente e futuro marido. "Falei que estava cansada de dançar, me sentei e ele foi embora bravo"
Logo vieram outros rapazes e ela dançou com todos (Joel Albuquerque, Augusto Carneiro, Zamir Teixeira...) "pois nunca dei balaio em moço nenhum"
Quando não queria dançar com alguém, discretamente fazia de conta que o convite não era com ela. Nesse baile ela marcou encontro para depois da missa das 10, de domingo, com três moços. Foi, mas antes da missa acabar - eles a esperavam na porta da frente - "eu sai rapidinha pela lateral " e... evaporou.

Cadê? - Nesse clima, de namoro não namoro, um dia Elias, sem falar nada, viajou ao Paraguai e ficou uns 15 dias ausente de Campo Mourão. 
Me falavam mal dele. Que era cheio de problemas e que tinha mulher até no Paraguai. Eu pouca bola dava às fofocas. Sempre fui segura. 
Pensei ir embora para o Rio porque tinha chegado uma carta de mamãe me chamando. Não ia por causa dele, é que a Walkyria, minha irmã, não deixou eu partir. Ela precisava de mim para cuidar do Junior".

"Numa bela tarde quente e poeirenta, duas semanas depois, o Elias voltou e foi direto lá em casa. Estava de chapéu, óculos escuros, imundo de pó. Logo foi se cuidar e deixou duas malas na sala. Saiu, foi tomar banho não sei aonde e voltou à noitinha, bem arrumadinho. Uma das malas ele deu com presentes para minha irmã e as crianças e a outra, cheia de presentes, para mim. Tinha cortes de tecidos finos, jóias, maquiagem e perfumes”, conta sorridente.
“Eu reclamei da demora e disse a ele que já estava indo embora”.
- "Se você tivesse ido, eu ia te buscar", respondeu, sério. 
- "Ai me senti segura. Percebi que ele gostava mesmo de mim”, considerou a bela carioca.
"Ele explicou que foi a caça de um caminhão, com café, que tinham roubado dele e levado ao Paraguai; recuperou e vendeu a carga lá mesmo. 
Admirava o Elias pela inteligência, postura, presença... um homem muito digno e correto, tanto que depois fui gostando dele pela sua sinceridade e caráter para comigo”, elogia Waldyra.

Casamento - "Namorados então, com maior respeito, fomos ao Rio de Janeiro. Elias falou com mamãe sobre nosso casamento e ela aquiesceu. Visitamos a mãe dele lá, que também concordou. Noivamos, e no dia 18 de janeiro de 1964 casamos na Catedral de São José de Campo Mourão. 
Quem fez meu casamento civil, em casa, foi o escrivão Ville Bathke, numa festa mais linda do mundo, na Rua Santa Catarina, 534, perto da Av. Irmãos Pereira, residência da Walkyria, quase em frente a casa do Bispo. A casa de madeira, verde, modesta, ainda está ali, bastante castigada pelas marcas do tempo".


Lua de Mel difícil - "Agora escute essa. Preste atenção... 
- Unidos pelas leis da igreja e dos homens, à noite, viajamos rumo ao 'sacramento' tradicional da badalada lua de mel, embarcados numa camioneta Ford, em roupas elegantes de núpcias mesmo, do jeito que casamos. Tempo feio e preto. Escuridão de filme de terror cortada por dezenas de relâmpagos. A estrada que ia do Campo à  Maringá estava em construção. Muita terra solta, atoleiros e desvios. Era verão bem quente e abafado. Chovia pesado. Raio de todo lado iluminava  a estrada, num relance. Cegava a gente na cabine com os vidros embaçados. Parece que a camioneta chorava e as lágrimas escorriam pelo para-brisa. Estrondos violentos me abalavam. Via o esforço do Elias agarrado ao volante. Estava difícil dirigir e enxergar onde o carro ia. A camioneta dançava na lama, rabeava, até que o Elias  escorregou para dentro de um desvio que nos engoliu. Atolou feio... o carro bateu e encostou de lado no barranco... Ficou preso. Ele me pediu muita calma e disse que ia buscar socorro, a pé. Pense bem a minha situação e na dele!”
“Me deixou dinheiro e um revólver 38 carregado (6 balas). Nunca tinha pegado uma arma e nunca dei um tiro. Ele saiu pela janela do motorista, subiu na cabine, pulou no barranco e sumiu na escuridão. A porta não abria. Fechei o vidro. Suava. Fiquei ali, só eu e Deus, encolhidinha. Cada luz que passava na estrada, eu me agachava, morta de medo. 
Lá pelas duas... três horas da madrugada o Elias voltou com um jeep e motorista. Dei os braços e ele me tirou pela janela, me puxou para cima do barranco sem abrir a porta que estava presa. Quando pisei na terra minhas pernas atolaram naquela lama grudenta. Fiquei com botas de barro acima dos joelhos.  Fui toda suja até Maringá com o carona que ele conseguiu e ajudou a me resgatar. 
Entramos no Hotel (Indaiá) bem iluminado. Havia um Baile de Gala no hall de entrada. 
Dá para imaginar minha situação ao entrar naquele ambiente chic e atravessar o salão de dança, todo espelhado?... 
Aí que vi minhas pernas, pés, sapatos... cabelos... o vestido de noiva, um barro... uma sujeira só... parecia uma louca... todo mundo me olhava, com aquelas caras, sabe?
Seguimos até nosso quarto, reservado desde dias antes. O Elias pediu uma bebida e eu um Toddy quente"... (risos). 
"Em seguida tomei um belo banho quentinho, sozinha. Ainda era virgem, recatada (rindo). Me vesti, me senti nova de novo, toda cheirosa... poderosa". 

"Não seja indiscreto, engraçadinho". 
Cama? Nada!... só repousamos do cansaço da “epopeia" e nada mais, viu? -Ninguém é de ferro"... disse meio zangada

Vamos lá então... querido diário:.. 
- Lembra que casamos dia 18? 
- Pois é. Ficamos o resto da madrugada no hotel e dia seguinte (19) o Elias buscou a camioneta intacta no atoleiro. Mandou lavar a lataria e tudo. Ficamos uma diária a mais no hotel. Fizemos as refeições, conversamos bastante e... dormimos. 
Eu como uma anja. Ele?.. Não sei!.. Camas separadas, ué!  
Dia seguinte (20) tomamos o café da manhã, arrumamos as malas e viajamos rumo a Ponta Grossa onde eu tinha parentes, mas não os visitamos O Elias estava apressado, não sei porque. (rss)
Dia 21 chegamos a bela Curitiba. 
Tinha um congresso religioso, lá. Hotéis lotados. Ficamos no tradicional Palace Hotel, da Rio Branco esquina com a XV.  Até aí nada. Estava invicta. (rindo)
Dia 22 ficamos em Lajes (SC) e, à noite, do dia 23... paran pan pan... dormimos juntos em Porto Alegre (RS) pela primeira vez, casados... Aí aconteceu a tal lua de mel, propriamente dita e acabou o mistério. Para mim era tabu. Agora sou mulher de verdade (sorrindo). Meu sonho era ser mãe e sou, de um casal maravilhoso", confidenciou feliz.

“Do Rio Grande voltamos até São Paulo, via Piracicaba... passamos por várias cidades (a passeio) e retornamos a Campo Mourão direto à nossa casa cheirando nova. Era a mais bonita da cidade, em alvenaria, bem acabada por fora e por dentro, na Av. Irmãos Pereira quase esquina com a praça Munhoz da Rocha. Depois vendemos e deve estar lá até hoje. Moramos ali cerca de um ano. A mobília, que escolhi, do meu gosto, veio toda de São Paulo, em madeira maciça”, conta feliz do seu tempo dedicado à família em Campo Mourão, “um lugar abençoado que amo muito”, concluiu Valdé a narrativa da sua vida e da 'amarga' Lua de Mel a qual, com sua permissão, tentei transcrevê-la aqui, usando suas próprias palavras, assistidos por sua amávelfilha, Karime, sempre sorridente e rindo das passagens pitorescas da mãe. 
-"A senhora nunca me contou isso, né mãe. Gostei muito, tá ?!
- Já pensou sair casada de Campo Mourão para fazer lua de mel em Porto Alegre? -Mais um pouco seria no Uruguai (rss). Demorou praticamente uma semana! Já viu algo parecido?", comentou Karime, sorrindo.


A história de vida completa desta corajosa moça-mulher está em:
https://wibajucm.blogspot.com/2011/03/waldyra-gaertner-farhat.html
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