Queimou quase 50% da produção
As queimadas e
incêndios catastróficos que estão ocorrendo e assistimos perplexos, pelo Brasil
e no Mundo quase que diariamente, nos arremetem ao fato acontecido em Campo Mourão e no Paraná há cerca de meio século atrás.
Foi incrível o que aconteceu naquele
tempo seco entre agosto e setembro de 1963. Esse desastre ecológico é
considerado um dos maiores registrados no Brasil e no Mundo. Devastou cerca
de 10% de toda vegetação do estado.
Era então prefeito de Campo Mourão, em seu primeiro ano de mandato: Milton Luiz Pereira, que declarou o Município Modelo 'em estado de alerta'. Nessa época a cidade não tinha Corpo de Bombeiros.
Milton Luiz Pereira
Lembro-me bem que da varanda da nossa casa simples, de tábuas, no pátio da Madeireira Slompinho Ltda (Lar Paraná), em companhia do patrão Romildo Slompo e se sua esposa Anita, assistimos, por vários dias e noites, estarrecidos e temerosos, as labaredas que subiam rápidas, insaciáveis a devorar as copas dos pinheiros, das palmeiras e demais árvores frondosas, fazendo as taquaras darem altos estalos, verdadeiros estouros que espalhavam bolas de fagulhas para todos os lados, sem poupar nada da arborização e da vegetação rasteira esturricada. Era um mar flutuante de fogo.
Estava eu com 23 anos, pai dos dois primeiros filhos (Rodolfo e Carlos), um de 20
meses e o segundo com 6 meses de idade. Eu temia pela segurança deles e da mãe Dolores. Via também seu Romildo e os empregados da colônia, assustados e preocupados.
O fogaréu
que grassava por quase todo o Paraná, estava ali bem perto de nós, agitado,
querendo transpor o Rio do Campo e se espalhar pelo capim seco dos imensos
campos do cerrado mourãoense, bem amarelos devido às intensas geadas e
prolongada estiagem de dias anteriores.
A fumaça era intensa. Não se via o céu. Durante o dia a visibilidade era pouca – quase nula - e se misturava à poeira natural das estradas e carreadores por onde alguns motoristas se arriscavam a transitar, por necessidade ou a trabalho, desafiando as labaredas nas beiras da vias de rodagem.
As matas, o ar e
os campos estavam secos por demais em razão das fortes geadas do
rigoroso inverno de junho, julho e primórdios de agosto daquele ano fatídico.
Era hábito – e é até hoje – os pequenos agricultores fazerem queimadas (coivara) a fim de
preparar o terreno e lançar novo plantio. Assim, não demorou nada, o fogo se
espalhou de forma descontrolada.
Pequena porção do cerrado mourãoense foi atingida
na Laje Grande perto da Bica
Em 14 de agosto de 1963 foram noticiados os primeiros
focos de incêndios em Guaravera, Paiquerê e Tamarana, ex-distritos de
Londrina.
O Incêndio florestal no Paraná, que atingiu a região de Campo Mourão começou pelo norte pioneiro, depois os campos gerais e chegou célere ao oeste e centro oeste do estado. Avançou rapidamente por áreas agrícolas e queimou a metade dos cafezais que já estavam secos. mortos pelas geadas.
O grande incêndio atingiu 128 municípios paranaenses o
que levou o governador Ney Braga a decretar estado de calamidade pública.
Logo foram enviados: medicamentos, ferramentas agrícolas, roupas,
médicos, enfermeiros e alimentos oriundos de alguns países solidários, dentre
eles: Estados Unidos, Itália, Japão, China, Suíça, Grã-Bretanha, Canadá, Israel e
Vaticano.
Aproximadamente 8
mil imóveis, casas, tuias, galpões e silos viraram cinzas. Mais de 6 mil famílias
– a grande maioria de trabalhadores rurais – ficaram desabrigadas. Numerosas
pessoas vítimas de horríveis queimaduras foram socorridas em Tibagi-PR.
O Hospital Luíza Borba Carneiro se estruturou para tratar as vítimas dos incêndios. Uma central de queimados foi instalada e acolhia as pessoas atingidas, inclusive as de Campo Mourão e região que recebiam os primeiros socorros dos médicos mourãoenses Manoel Andrade e José Carlos Ferreira, no Hospital São Pedro.
O Hospital Luíza Borba Carneiro se estruturou para tratar as vítimas dos incêndios. Uma central de queimados foi instalada e acolhia as pessoas atingidas, inclusive as de Campo Mourão e região que recebiam os primeiros socorros dos médicos mourãoenses Manoel Andrade e José Carlos Ferreira, no Hospital São Pedro.
Em Campo Mourão o fogaréu chegou bem perto da periferia da
cidade. Notava-se uma população assustada. Novenas foram celebradas nas igrejas
católicas, principalmente nas de São José e Nossa Senhora do Caravaggio do Lar Paraná clamando
a proteção Divina.
Naquela
triste ocasião, não tinha televisão em Campo Mourão. Ouvíamos emissoras de
rádio de Curitiba (PRB-2), a maioria de outras capitais, que noticiavam a toda
hora que “o Paraná estava uma fogueira”. Os jornais mais lidos por aqui
eram a Gazeta do Povo, Estado do Paraná, Folha de Londrina e até a revista O Cruzeiro, que se
adquiria na Banca do Jonas. Todos informativos estampavam as piores e imagináveis notícias sobre as queimadas.
Pelo rádio ouvia-se com
muita apreensão que: “uma frente de fogo com 80 quilômetros de extensão
aproximava-se das plantações da Fazenda Monte Alegre; o mato inteiro parece
arder. Na fábrica, cerca de trezentos tambores de óleo combustível estão
armazenados, entre muitos outros materiais facilmente inflamáveis. Não ha para
onde transportá-los com tudo queimando ao redor” enfatizava o locutor.
Por toda parte
via-se tratores, equipamentos agrícolas, serrarias e incontáveis veículos
atingidos pelo fogo a ponto de retorcer suas ferragens, tal foram os graus
elevados de calor.
O relatório do
governo estadual revelou que o município de Ortigueira teve 90% da área queimada. Mais
de 70% das reservas florestais das Indústrias Klabin de
Papel e Celulose cultivadas, perto de Tibagi,
se perderam. Só nesse local milhões de araucárias foram
destruídas. Mas os incalculáveis prejuízos não pararam por aí. Provocou
a perda de pelo menos 15 milhões de árvores adultas dos pinheirais nativos que viraram cinzas.
Ao todo 128 municípios das regiões Norte,
Central, Campos Gerais e Oeste foram afetadas. Milhões de hectares foram
completamente devastados ao longo dos meses de queimas incessantes.
"Foram sacrificados 20 mil hectares de plantações, 500 mil de florestas nativas e 1,5 milhão de campos e matas secundárias”, relatou Antônio Carlos Batista, professor de Engenharia Florestal da Universidade Federal do Paraná.
"Foram sacrificados 20 mil hectares de plantações, 500 mil de florestas nativas e 1,5 milhão de campos e matas secundárias”, relatou Antônio Carlos Batista, professor de Engenharia Florestal da Universidade Federal do Paraná.
Houve uma explosão de
combustíveis em Campo Mourão, na região da Serraria Cama Patente perto de Ranchinho e da Serraria Guarani e em um só dia quatro
ambulâncias cheias de queimados foram enviadas, com as vítimas, ao hospital de
Tibagi. Os queimados eram muitos, entre eles: crianças e idosos.
Quando o governador Ney Braga declarou “estado de calamidade pública” no Paraná, já existiam grandes focos de incêndios distribuídos por 21 mil km2 entremeados nas matas nativas de pinheiros, cedros, perobas, eucaliptos, plantações de café e pastagens, além dos reflorestamentos formados, em grande parte por Pinus elliottii (pinheiro americano).
Quando o governador Ney Braga declarou “estado de calamidade pública” no Paraná, já existiam grandes focos de incêndios distribuídos por 21 mil km2 entremeados nas matas nativas de pinheiros, cedros, perobas, eucaliptos, plantações de café e pastagens, além dos reflorestamentos formados, em grande parte por Pinus elliottii (pinheiro americano).
Algumas cidades foram atingidas pelo fogo e a população corria apavorada, sem rumo. Não tinha saída. Casos de Ortigueira e Tibagi que se obrigaram a enfrentar uma seca de oito meses que, atingida pelo fogo, transformou o Paraná em uma gigantesca bomba de pavio curto.
O estado produzia 45% do café do Brasil, 80% do papel de imprensa e grande quantidade de milho, algodão e feijão e demorou a refazer suas culturas agrícolas.
O estado produzia 45% do café do Brasil, 80% do papel de imprensa e grande quantidade de milho, algodão e feijão e demorou a refazer suas culturas agrícolas.
Mais de 10 mil brasileiros voluntários responderam ao pedido de ajuda
do governador Ney Braga; bombeiros de diversos estados, militares e tropas federais seguiram o exemplo. Os esforços se concentraram prioritariamente em atender as áreas
povoadas do que lutar contra o fogo. O empenho era salvar vidas, a mata estava condenada.
O presidente João Goulart, acompanhado por vários membros do gabinete esteve em Curitiba e determinou que medidas urgentes fossem tomadas com o fito de amenizar o desastre. De imediato liberou um bilhão de cruzeiros de fundos federais ao governo do Paraná para enfrentar a crise.
O presidente João Goulart, acompanhado por vários membros do gabinete esteve em Curitiba e determinou que medidas urgentes fossem tomadas com o fito de amenizar o desastre. De imediato liberou um bilhão de cruzeiros de fundos federais ao governo do Paraná para enfrentar a crise.
Cerca de 22
horas após o apelo de ajuda aos Estados Unidos, três aviões e
helicópteros (US Army) pousaram no Paraná carregados de alimentos, medicamentos, tendas,
bombeiros, médicos e enfermeiros numa verdadeira manobra de guerra. Um navio da Força Tarefa da Marinha Norte Americana foi
enviado para entregar suprimentos e equipamentos médicos descarregados no porto de Paranaguá.
Na cidade de Tibagi, equipes do Corpo da Paz Internacional, com médicos e enfermeiros sob a direção do Dr. Gordon Mein, Conselheiro da Embaixada dos EUA, montaram um hospital de campanha com 100 leitos. O representante da Cruz Vermelha, Enso Bighinatti foi enviado de Nova York até o Paraná, com a missão de salvar vidas.
Os alimentos em sacos plásticos brancos destinados a Campo Mourão, tinham a bandeira dos EEUU e ficaram depositados (uma pequena quantidade) no térreo do Ed. Castelli onde hoje está a TIM da Irmãos Pereira. O responsável pela guarda era o jovem Edir Castelli. Em uma faixa, na parede, lia-se "Alimentos Pela Paz".
O Banco do Brasil e bancos privados contribuíram com cerca de 400 mil dólares para aquisição de sementes, enquanto que o Grupo Executivo de Racionalização da Cafeicultura acenou com mais de 500 mil dólares para financiar a produção e distribuição de mudas de café destinadas as áreas devastadas.
Na cidade de Tibagi, equipes do Corpo da Paz Internacional, com médicos e enfermeiros sob a direção do Dr. Gordon Mein, Conselheiro da Embaixada dos EUA, montaram um hospital de campanha com 100 leitos. O representante da Cruz Vermelha, Enso Bighinatti foi enviado de Nova York até o Paraná, com a missão de salvar vidas.
Os alimentos em sacos plásticos brancos destinados a Campo Mourão, tinham a bandeira dos EEUU e ficaram depositados (uma pequena quantidade) no térreo do Ed. Castelli onde hoje está a TIM da Irmãos Pereira. O responsável pela guarda era o jovem Edir Castelli. Em uma faixa, na parede, lia-se "Alimentos Pela Paz".
Milhares de famílias perderam seus empregos
Depois
que os últimos focos de incêndio foram extintos pela chuva natural de setembro, projetos
começaram a ser traçados a fim de recuperar a imensa área queimada. Era
evidente que o realojamento imediato dos desabrigados seria necessário para
evitar o fluxo em massa para as grandes cidades e povoar favelas.
O Banco do Brasil e bancos privados contribuíram com cerca de 400 mil dólares para aquisição de sementes, enquanto que o Grupo Executivo de Racionalização da Cafeicultura acenou com mais de 500 mil dólares para financiar a produção e distribuição de mudas de café destinadas as áreas devastadas.
Naquele momento sinistro o programa da diversificação de culturas
tornou-se um passo vital, assim como a solução do problema econômico do
intervalo entre o plantio e a produção.
Geada, seca e fogo eram combustíveis.
Triste cenário no Paraná
Autoridades competentes estimaram que o fogo, sem controle, transformou em cinzas mais de dois
milhões de hectares dos quais 20 mil de plantações, 500 mil de florestas
nativas e quase 2 milhões de campos, pastos, cerrado, reflorestamentos e matas ciliares.
Junto com a flora foi-se grande parte da fauna que morreu queimada.
A estatística
mais sentida foi a morte de quase 150 pessoas com graves queimaduras de todos os graus, além de milhares de feridos,
desalojados e desabrigados que tiveram suas casas e propriedades incendiadas.
Milhares de animais também sucumbiram nas chamas entre os silvestres e os de
criação, lamentavelmente.
O fato inusitado inspirou o médico-escritor mourãoense, Aracyldo Marques, a escrever o livro: “E o Verde Voltará”, como de fato voltou.
O fogo apagou naturalmente com a volta das chuvas e moções da Primavera.
-.-
Emilia Schwab Eu vi esta história acontecer em Luiziânia.
Toninha Melo Me lembro dessa tragédia. Não morava no Paraná, mas acompanhávamos as notícias pelo radio. Foram dias de incêndio incontrolável. Muito triste.
-.-
Coments:
Valter Borino Neste ano eu tinha
apenas 7 de idade, morava no sítio próximo do campo de aviação (Iretama), maior desespero . Lavoura de café que ficava no alto da propriedade ( tudo em chamas ) casa de
madeira coberta de tabuinha, até eu e minhas irmãs ainda criança, Vera tinha 8
anos, a Nii tinha perto de 6 anos, com uma pequena vasilha na mão, indo até a
mina buscar água, para que meu pai meus tios e avós jogassem água em cima da
casa para não pegar fogo, devido as fagulhas acesas que o vento carregava e
caia sobre ela, maior desespero, Graças a Deus, prejuízo ficou só na perca da
lavoura, mas a esperança a fé e a força de vencer permaneceu. Sobrevivemos
todos para contar essa história.
Emilia Schwab Eu vi esta história acontecer em Luiziânia.
Neusa Naldi Wille eu me lembro que pegava fogo nos terrenos baldios dentro da
cidade. Nessa época eu morava perto do mercadão municipal.
Alcione Alves de Lima Eu tinha 10 anos, e
lembro as matas nas saídas para Curitiba e Cascavel, o fogo pegava nas taquaras
e as labaredas atingiam as copas dos pinheiros. Coisa horrível e muitos queimados.
Toninha Melo Me lembro dessa tragédia. Não morava no Paraná, mas acompanhávamos as notícias pelo radio. Foram dias de incêndio incontrolável. Muito triste.
DEUS É BOM
Ele sabe o que faz, mas nem sempre sabemos o que falamos.
Que fique o alerta para conservação do meio ambiente
ou a Natureza reage com violência para tentar sobreviver.
Ele sabe o que faz, mas nem sempre sabemos o que falamos.
Que fique o alerta para conservação do meio ambiente
ou a Natureza reage com violência para tentar sobreviver.
Madeiras Slompinho, onde trabalhei por 2 anos (76 e 77), muito bom "ouvir" sobre meu saudoso tio Romildo Slompo. Não sabia desse fato e fiquei surpreso.
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