Campo Mourão: o vasto cerrado invadido pelo 'progresso'
Cerrado de Campo Mourão pede socorro
Cesar Sanson - 27 Junho 2016
Angico do cerrado mourãoense é medicinal
Há
em Campo Mourão,
no centro-oeste paranaense, árvores e plantas tão antigas que correm grande risco de sumirem do mapa bem logo, concluíram pesquisadores da Universidade Estadual do Paraná (Unespar), em parceira com
a Universidade Estadual de
Maringá (UEM).
A área
de cerrado em Campo Mourão é quase 14 vezes mais antiga
do que a "descoberta" do Brasil, encontrado por desbravadores
portugueses em 1.500 — amostras apontam que a vegetação presente no local tem
mais de 7 mil anos de existência — pode sumir em menos de três décadas, se
não houver mudanças drásticas de comportamento humano, conforme os estudos.
No
entanto, vestígios do passado ainda estão presentes em um bioma cada vez mais raro, e
foram usados para as pesquisa feitas no Laboratório de Estudos Paleoambentais da Fecilcam (Lepafe), pertencente à Universidade Paranaense.
As palmeirinhas eram abundantes em Campo Mourão
O estudo
foi feito a partir do pólen de um pequi e demonstra que a região, que era predominantemente de cerrado,
bioma brasileiro importantíssimo para o desenvolvimento de soluções medicinais,
está desaparecendo rápido demais.
O material
colhido, diz o professor Mauro
Parolin, coordenador do Lepafe, pode revelar importantes
respostas (e novos questionamentos) sobre clima, vegetação e condições
ambientais. "Essas pesquisas, numa época em que temos tantos extremos
climáticos e discutimos tanto o aquecimento global, são extremamente
importantes. O entendimento de processos do passado podem nos dar respostas
para o presente e para o futuro", afirma o pesquisador.
Pequizeiro do cerrado é uma árvore com tronco tortuoso
e casca suberosa (rachada)
é madeira pesada, porém macia e longa durabilidade,
atinge até 10 m de altura. Seus frutos são alimento.
atinge até 10 m de altura. Seus frutos são alimento.
O descampado de Campo Mourão tem dado espaço a
urbanização e à agricultura. O problema é que, com a mudança, morre também a
biodiversidade. "Com a perda da área de cerrado, perdemos também a
biodiversidade. Isso é péssimo. Perder biodiversidade significa perder
espécies. Precisamos mantê-las, para que tenhamos o conhecimento mais profundo
de alguma plantas que podem virar princípios medicinais", comenta o
professor.
Atualmente o cerrado na região de Campo Mourão é aproximadamente quatro vezes menor do que
há 5 mil anos. A área ainda é grande, apesar da redução em cerca de 102
quilômetros quadrados. Mesmo assim, isso não a impede a médio prazo. Para o professor do Lepafe, as
pesquisas são o primeiro passo para que consigamos preservar o meio ambiente e
os biomas importantes aos seres humanos. Entretanto, é preciso que existam
políticas públicas que mantenham, efetivamente, a natureza preservada.
"Tem
que existir mais vontade política para mudar a situação, no sentido de dar mais
atenção àquilo que as universidades têm produzido. As pesquisas só são efetivas
se houver ação. Precisamos, urgentemente, de políticas públicas voltadas,
efetivamente, à preservação do meio ambiente", comenta Parolin.
Mercúrio-do-campo
Tucano nativo de Campo Mourão - sumiu
Porque as árvores são tortas
- No Cerrado?
- É devido a uma combinação de fatores naturais!
A flora do Cerrado possui características biológicas que a
protegem da morte em caso de queimadas, fenômeno comum na região devido aos
raios e a vegetação seca, conforme a estação climática.
Mas o fogo mata alguns brotos de modo que os galhos estão
sempre crescendo numa direção diferente.
Vale lembrar que o Cerrado é um bioma do tipo savana, com
árvores espaçadas o suficiente para deixar que a luz solar chegue ao solo e
permita o crescimento de grama e capim, alimento básico dos animais que nele
vivem. Esta vegetação é típica de climas secos e se compõe de arbustos e
pequenas árvores com troncos tortuosos, casca e folhas grossas.
Pau-terra casca grossa no cerrado de Campo Mourão
1) CASCA
GROSSA
A casca
que recobre e protege plantas e árvores, é um tecido formado por células que
envolve troncos e galhos, adaptada a suportar o fogo. Agindo como isolante
térmico, a casca (súber) impede que as altas temperaturas atinjam os tecidos
mais internos dos caules
2) TERRA FRACA
O solo é naturalmente rico em alumínio e pobre em nutrientes, o que faz com que a vegetação não cresça muito. Por isso, é comum ver árvores baixas no Cerrado, entre 2 e 6 m.
O solo é naturalmente rico em alumínio e pobre em nutrientes, o que faz com que a vegetação não cresça muito. Por isso, é comum ver árvores baixas no Cerrado, entre 2 e 6 m.
3) DEBAIXO DA TERRA
Raízes e outras estruturas subterrâneas, como tubérculos, são muito bem desenvolvidas nas plantas do Cerrado – em parte para buscar água em lençóis até 20 m, ou mais, abaixo do solo. Com isso, a vegetação pode rebrotar com rapidez após intempéries climáticas.
4) VIDA APÓS AS CHAMAS
Brotos de cima queimam, então o jeito é ir para os lados. O fogo, resultante de descargas elétricas naturais é comum na região. Ele queima o broto apical, uma concentração celular no ápice do caule. Por isso, a árvore cresce desengonçada para cima e seu tronco ganha nuances tortuosas.
Brotos de cima queimam, então o jeito é ir para os lados. O fogo, resultante de descargas elétricas naturais é comum na região. Ele queima o broto apical, uma concentração celular no ápice do caule. Por isso, a árvore cresce desengonçada para cima e seu tronco ganha nuances tortuosas.
Folhas e frutos do Barbatimão do cerrado
planta medicinal usada na higiene íntima.
A árvore não morre por que tem a proteção da casca grossa e das raízes fundas. Com isso as gemas axilares que ficam nas laterais do caule germinam, fazendo com que a árvore cresça para os lados e para o alto desordenadamente após cada queimada. O processo de morte é contínuo, de modo que os galhos ganham sequências de curvas e ficam tortos naturalmente. É uma das formas de identificar uma região de cerrado, com exuberantes campos de pastagens que alimentam a fauna nativa e produzem plantas frutíferas de variadas espécies.
Cambará
Araras e dezenas de outras aves eram comuns no cerrado
Alvorada no Cerrado
Neste cerrado foi traçado o quadro urbano de Campo Mourão
(foto eng. Carlos Coelho Jr)
Tatu era comum no Cerrado de Campo Mourão
Ipê Amarelo nativo do Cerrado Mourãoense
Bromélia solitária - Foto Thiko Bathke, na pedreira municipal
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