Tio Chico conta a História
da Usina de Campo Mourão
O Jornal Correio de Campo Mourão,
edição do dia 2 de fevereiro de 1952, propriedade do capitão Renato Romeiro de
Mello, publicou vários artigos escritos por mourãoenses, dentre eles: Nelson
Bittencourt Prado, com o título, Um Dos ‘Porques’ Da Deficiência
Administrativa; Amauri Cortes abordou o tema O Paraná no Concêrto da
Federação; Manoel Alves Quadrado enfocou: A POLÍTICA DO TRABALHO com
o sub-título, Um problema do Povo brasileiro e sua solução, e na página
9, com publicidades do Expresso Campo Mourão, Instituto Santa Cruz e a coluna
Tribuna Livre, nos deparamos com o texto primoroso de Francisco Ferreira
Albuquerque – o inesquecível Tio Chico - que, nele, demonstra seu grau de
instrução, o amor por Campo Mourão e a importância da “Usina Hidro-Elétrica
do Salto São João” mais conhecida por Usina Mourão I. Esta
foi a primeira das grandes conquistas do pioneiro prefeito Pedro Viriato de
Souza Filho (Pedro Parigot) em benefício do nascente município de Campo Mourão
na qual, também esteve presente o atuante Tio Chico, e demais lideranças, junto com o governador Moysés Lupion.
O texto impressionante tem um
detalhe: mantivemos a ortografia vigente em 1952. Não existem erros de
português neste oportuno e histórico apelo de um humilde, mas ferrenho
mourãoense, quando eram novidades as perseguições políticas e os desmandos que,
na gestão de Bento Munhoz da Rocha Neto, paralisou o recém criado Campo Mourão
e considerável parte do norte do Paraná, por quatro anos. Vejamos porque:
Moysés Lupion e Pedro Viriato no Salto São João
Campo Mourão - PR
“Quando de uma feita, S.Excia. o Sr. Governador
Moysés Lupion visitou este Muncipio, a colher dados e ver com seus próprios
olhos os problemas administrativos mais importantes para o bem e a felicidades
coletiva, acompanhamos S. Excia.no Salto São João, no rio Mourão.
Andamos a pé por uma picada até atingirmos os pontos
mais críticos das pirambeiras, próprias dos desníveis das quedas de água, em
pleno sertão com suas matas virgens como lhe dotára a natureza. A certa altura
paramos para um pequeno descanso.
Depois de tirar um alvo lenço (do bolso) e enxugar o
suor, S. Excia.exclamou: ‘vamos construir uma Usina hidro-elétrica para
beneficiar todas as cidades e patrimônios, daqui até Apucarana, e a sua cidade
(Campo Mourão) entretanto, será iluminada dentro de um ano’.
A essas últimas palavras de S. Excia., correu-nos
por todo o corpo um calafrio de satisfação, que, por fim veio alojar-se em
nosso coração.
Continuamos a caminhada, mas em nosso intimo
permanecia bem viva aquela impressão maravilhosa da correnteza d’água a
precipitar-se no alto e a formar lá embaixo aquela esteira de bolhas brancas
como neve que a pouca distância se desfaziam.
Assim pareceu-nos que aquelas palavras de S. Excia.
a medida que ele se distanciasse de nós, iriam desaparecendo e não passariam de
um sonho.
Essa impressão de dúvida e incredulidade se
justificava em nossa descrença porque até então não conhecíamos, nunca vimos em
nosso Estado um governo realizador, dinâmico, um governo que trabalha.
Mas tão logo
S. Excia. regressou a Curitiba, as providências foram postas em prática,
destacando engenheiros competentes e auxiliares sob a direção inconfundível do
ex-Diretor do Departamento de Água e Energia Elétrica, Dr. Luiz Orlando.
Estes
imediatamente mobilizaram máquinas, materiais e o necessário e puzeram mãos a
obra. Salientado seja, por justiça, o engenheiro, dr. (Alcides)Bergamini, que
dirigiu ‘in loco’ todos os trabalhos técnicos que lhe eram distribuídos, quando
testemunhamos a sua competência, dedicação e amor ao trabalho.
No dia 17 de
agosto de 1950, Campo Mourão testemunhou a maior festa já assistida em sua
cidade, com a presença de S. Excia. Governador Moysés Lupion e sua comitiva
quando foi inaugurada oficialmente a fôrça e luz nesta cidade, com um conjunto
de emergência, no salto São João.
Tudo nos conformes -
S. Excia. após visitar
e fiscalizar as obras em andamento, determinou o aceleramento dos serviços que
passaram a ser movidos a fôrça elétrica, facilitando assim o manejo das
máquinas, britadores, minas, etc., para o termino dos dois grandes túneis,
escavados na rocha, e represa, a construção do prédio onde seriam assentados os
grandes conjuntos e outros serviços a concluir e, consequentemente, a linha de
alta tensão até a cidade de Apucarana.
Tudo em ordem, os
trabalhos com toda organização seguiram seu curso normal, para dentro de pouco
tempo ficar terminado.
Bento parou tudo! - Nessa altura dos acontecimentos assume o Governo do Paraná, o Dr. Bento Munhoz da Rocha Neto, para que o povo desta região, isto é, até Apucarana, como uma provação, premio de sua própria ingratidão, sinta, decepcionado, os efeitos da nova orientação. E eis as suas providências imediatas: afastou do Departamento de Água e Energia Elétrica o grande construtor de usinas, dr. Luiz Orlando, suspendeu dos trabalhos o dr. Bergamini; desmantelou toda a organização das obras e não foi o pior.
Não entendemos dos
manejos administrativos, mas há coisas que nos causam surpresas. Foram
CONGELADOS todos os pagamentos destinados as obras da Usina e não se via mais
um níquel de tostão. A situação aflita em que S. Excia. pôs à prova os
empreiteiros, sub-empreiteiros e os humildes operários chegou ao auge e em
conseqüência, ainda há poucos dias, correu pelo Foro desta Comarca uma Ação
Judicial Trabalhista, movida pelos operários da Usina, que se achavam em
greve há cerca de um mês, por não receberem os seus salários. Em resumo, as
obras estão completamente paradas, notando-se um panorama desolador ao
visitarmos as obras onde, por toda parte, se encontram ferramentas jogadas,
máquinas e materiais enferrujando e tudo que possa traduzir o fim triste de uma
iniciativa.
ILUMINAÇÃO PARCIAL DA CIDADE
Contamos até agora com
a iluminação e instalações que Moysés Lupion inaugurou, sendo que o processo
desta cidade, no que diz respeito às construções, parece até fantástico,
estendendo-se em todos os rumos, com ruas repletas de edificações,
destacando-se várias indústrias, cinema, casas comerciais, hotéis e as
Sociedades Recreativas ‘1º de Maio’ e ’10 de Outubro’.
Daí a necessidade do
prosseguimento de novas instalações. Existe, porém, ordem superior para que não
se faça mais uma única instalação. E isto não se sabe porque.
Temos, assim, uma
pequena parte da cidade maravilhosamente iluminada com suas aprasiveis
residências, etc., e outra parte, isto é, a maior parte da cidade às
escuras, porque não se pode fazer novas
instalações.
Política? Não. Não,
porque?
Será isso uma desforra
s. Excia. o Sr. Bento Munhoz da Rocha Neto venceu em nosso município por grande
maioria de votos no pleito que o elegeu a Governador do Estado do Paraná.
Queremos e
necessitamos o prosseguimento das obras, fator preponderante e primordial do
bem estar social e do desenvolvimento econômico e industrial de uma região riquíssima do Noroeste do
Paraná.
A energia elétrica que
será irradiada pela Usina do Salto São João irá beneficiar, como disse o
Governador Lupion, Campo Mourão, Araruna, Peabiru, Engenheiro Beltrão,
Ivailândia, Floriano, Marialva, Mandaguari, Jandaia, Cambira, Pirapó e
Apucarana.
Dai o valor da
iniciativa e a soma enorme de responsabilidades que atribuímos saber ao atual
Governador, pela paralização dos trabalhos de construção da Usina.
O Paraná, que está em
sua fase máxima de progresso, até hoje clama em alta voz aos seus filhos para
que o ajudem em sua ascenção, quando não seja com o sacrifício de cada um, ao
menos com um pouco de PATRIOTISMO.
É absurdo e chocante o
que se vê em Campo Mourão no que diz respeito a administração pública, o que
faz crer que o Governo, premeditadamente, procura entravar ou brecar
o vertiginoso progresso desta terra, paralisando as obras desta usina,
suspendendo as construções do Grupo Escolar e da Cadeia Pública; do Posto de
Monta e a Escola de Trabalhadores Rurais não se tem mais noticias. A ponte sobre
o Rio Ivaí e muitas obras imprescindíveis e urgentes, são hoje assunto
liquidado.
A este apelo humano e
justo que parte de Campo Mourão, sem dúvida, associar-se-ão as demais
comunidades ameaçadas de serem preteridas de receber o ’MILAGRE’, como bem se
poderia interpretar, as realizações da FORÇA E LUZ abundante. Este nosso
modesto, real e verídico comentário tem por objetivo expor à análise com fatos,
tal como na realidade eles se nos apresentam.
(Ass) - Francisco Albuquerque
1936 - Francisco Ferreira Albuquerque
e Anita Gaspari Albuquerque em Campo Mourão
Um motor de submarino, a diesel, foi utilizado precariamente
para gerar energia elétrica, até a retomada das obras da Usina
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