09/10/2017

Casos e Causos da Profª Mariza de Campo Mourão



Filha de Isaura Neves e Valfrido Ferreira Padilha, irmã de: Edgar, Odival e Adalgisa, nasceu em Marechal Mallet – PR, dia 7 de dezembro de 1949, registrada no Cartório Civil de Roberto Brzezinski. 
“Nasci bem num dia festivo em que o governador Moysés Lupion visitava Marechal Malet cidade onde nasci e fui registrada. Vim ao mundo pelas mãos abençoadas do médico Ernani Bengel e fui honrada em meu documento, de brasileira, pelo cartorário, depois inesquecível prefeito de Campo Mourão, Roberto Brzezinski, cidade que mais tarde nos acolheu. Aqui passamos a morar, por graça do destino” fala orgulhosa, Mariza Ferreira.

Isaura Nunes e Valfrido Ferreira Padilha, pais de Mariza
comerciantes em Campo Mourão

Estudos - “Estudei os três primeiros anos na Escola Isolada Cama Patente, com as professoras: Maria e Algemira, pessoas que eu amava. Concluí o curso primário no Educandário Cristo Rei (ucraíno) de Campo Mourão, com as queridas irmãs Rita e Tarcisia. E só depois de adulta, quando já morava em Araucária, concluí o ensino médio e fui professora de ensino primário, com muito orgulho”.

Camas torneadas - “Ainda bebê minha família morou em Guarapuava, depois Campo Mourão onde cheguei com três anos de idade”. 
Seu Valfrido foi trabalhar nas proximidades da Indústria Cama Patente, empresa proprietária da Serraria Santa Maria, “que fabricava e vendia ao Brasil todo, as famosas camas de molas com a armação toda roliça, de madeira de pinho envernizada. Eram camas muito bonitas na época. O colchão era padronizado, de brim grosso, recheado de um capim especial, pano listrado em azul e rosa, tanto para solteiro como para casados”, relembra a maletense sorridente.

 
Serraria e colônia da Cama Patente 
em Campo Mourão - PR
Quase Vila - "A colônia de empregados da indústria na serraria era bem numerosa e formava um patrimônio. Faltava um pouco mais de população para ser um distrito administrativo ou uma vila quase cidade. Os pinheirais se perdiam de vista e o pessoal encarregado do corte, assim, igual os trabalhadores na serraria, encaravam jornadas de, praticamente, dia e noite. Folga mesmo, só aos domingos. Não havia o tal do sábado inglês (meio expediente). Lá existia de tudo que se precisava: armazém, escola, capela, futebol e muitas festas, geralmente de santos e santas. Tinha de tudo, entende? - Inclusive meu pai negociava e vendia mercadorias, bem próximo dali. Ele sempre foi comerciante bem ativo, comunicativo e de muitos amigos", recorda Mariza.

Lombrigas - “Chegamos a Campo Mourão em 1953. Eu tinha quatro anos. Até vir morar na cidade eu acreditava em cegonha. Olha só! (risadinha encabulada). Minha mãe aprendeu fazer benzimentos e simpatias para curar sapinhos, cortar íngua, com faca na cinza, mas o forte mesmo era cortar lombriga. Vinha gente de longe em busca desta cura. Era um ritual para fazer isso e sempre na lua minguante. Ela usava o sangue de galinha ou frango. Colocava-se o galináceo entre as pernas, com a cabeça para baixo e prendia bem para o sangue não espalhar... aí cortava o pescoço da ave, escorria aquele sangue no prato sem deixar o frango se debater... aparava o sangue em um prato ou tigela... a pessoa ou criança ficava de bruços em uma cadeira se fosse adulto, e se passava aquele sangue ainda quentinho nas costas e na região lombar em forma de um circulo pequeno; assim que passava ela limpava com água e ficavam as cabecinhas vermelhinhas sobre a pele, em grupinhos e não saiam só com água, tinha que passar uma navalha velha só para afastar as cabeças vermelhas... raspava tudo e lavava o local e assim as lombrigas sem cabeça que ficavam na pessoa eram expelidas naturalmente. O frango a gente comia depois, já que minha mãe nunca cobrou nada pelos trabalhos de cura", explica.

  O Lobisomem - "Onde morei tinha até lobisomem (risadas). Você não acredita, pode rir, mas é verdade porque eu vi em foto”, e entra em detalhes: 
“Eu tinha 6 anos. Meu pai era dono de armazém na região da Fazenda Santa Maria/Cama Patente, 11 quilômetros de Campo Mourão. Existia um pinheiral imenso naquela vastidão. Era Quaresma. Noite de Sexta-Feira. Lua-cheia. A cachorrada da colônia latia endiabrada e atacava um cachorrão esquisito. Ele rodeou as casas, fungou feio e soprava forte nas frestas das paredes do nosso rancho sem mata-juntas, bem próximo de onde eu dormia. Não tive medo. Pegamos e acendemos o lampião a querosene. A gente espiava pelas frestas para localizar o bicho, mas lá fora não se via nada, só se ouvia. Estava tudo embaçado. Era tudo assustador debaixo de um luar lindo.
Isso acontecia só na Sexta da Quaresma. Certo? 
Como te disse, sempre trabalhei com meu pai no armazém e ouvi muitas histórias assim, contadas pelos fregueses, a maioria matutos, gente boa e muito simples, as quais somadas e copiladas dão um livro bem interessante... de arrepiar”, garante Mariza. 
"Não sei se era o mesmo, mas um lobisomem reapareceu na colônia em 1960. Já estava moça. Ele foi visto comendo os cachorrinhos, crias de uma cadela dali. Os cachorros latiam e avançavam nele até que seu Dadinho (Eduardo) acudiu e atirou naquela coisa horrível, que ficou ali estirada. Mas quando começou a clarear o dia e a lua sumiu, ele se transformou em homem. Eu vi foto dele". 
Obs: O caso foi registrado pela policia de Campo Mourão e a notícia saiu nos jornais da época, "só que o tal 'coisa' nunca mais foi visto por ali", afirma.

Infância - "Lembro com saudade da minha infância na região da Cama Patente, onde meu pai era comerciante. Todo dia 26 de julho tinha festa no Sitio dos Cafurnas. Ali morava uma família numerosa, formada por filhos e netos de João Cafurna (filho de escravos) já bem idoso, homenageava Santa Ana. 

A festa tinha muito churrasco feito em espetos de paus verdes tirados do mato, bolos caseiros, guaraná, sodinha... era muita fartura e tudo grátis. Tinha oração e cantoria dentro de uma casa toda enfeitada de papel crepom de várias cores, com flores e fitas, pelegos de carneiros firrando o chão para os rezadores. Desta casa saia a procissão. As crianças, até 7, anos se vestiam de anjos e la ia eu com aquelas asas que minha mãe fazia de papelão cobertas de algodão e papel crepom branco, que imitava penas. Era levado um mastro enorme de madeira com a bandeira da Santa no topo, e os homens colocavam ao lado do mastro anterior seguido de muito foguetório. Participavam, nunca menos que duzentas pessoas. Dos Cafurna, até hoje, existe uma terceira e quarta geração em Campo Mourão", garante. 

 
Primeira comunhão de Mariza Ferreira

Petróleo - “Ainda próximo a Cama Patente tivemos um vizinho de nome Alexandre. Na terra dele, bem próxima de onde nós estávamos, surgiu a notícia que ali existia petróleo. Foi cerca de um ano aquele barulho infernal de máquinas e brocas durante as perfurações que faziam as turmas da Petrobrás. Não deu um mês lacraram os buracos e informaram que iam embora por causa da broca que quebrou. Minha mãe sabia de tudo que se passava, inclusive as conversas no acampamento. Os americanos e engenheiros da estatal brasileira que faziam os trabalhos de sondagem na região, almoçavam em nossa casa. Pena que hoje a milionária Petrobrás só dá vexames com essas prisões devido as propinas incalculáveis desvendadas pela gloriosa Policia Federal, no caso Lavajato, também conhecido por Petrolão. 
Minha mãe dizia que ouvia, sempre, os encarregados dizerem que ali tinha o que eles 'queriam'", revela Mariza. A propriedade, mais tarde, foi adquirida pelo seu Manoel Castanheira, o qual confirma a existência das perfurações, ali lacradas, pela Petrobrás.

Juventude
- "Tive uma juventude muito boa, principalmente quando mudamos para o Rio da Várzea, onde tínhamos  armazém (venda) na beira da estrada há 23 km de Campo Mourão,  bem perto da Ponte das Sete Cruzes,  na serraria de Belim Carolo, com muita gente que como se fossemos uma só família. Ali era uma espécie de colônia italiana, a maioria vinda do Rio Grande do Sul, a convite do seu Belim, homem de bom coração e que ajudava a todos que a ele recorriam. Lembro bem das serrarias e das lavouras das famílias: Tonet, Ferri, Brunhonie e  Tramujas. Nesta localidade a gente se reunia seguidamente em pic-nics e, principalmente, nos aniversários, ocasião em que era servido o famoso brodo (caldo de galinha). Bolo nem era surpresa mais pois todo o aniversariante sabia que a turma ia lá matar as galinhas para o brodo e sorver um bom vinho. 

Nas via sacras que tinha na escolinha,  íamos todos juntos as moças e os rapazes no maior respeito. Aos domingos fazíamos churrasco a beira da represa, onde levávamos nosso toca-disco parecido a uma maletinha com auto falante embutido na tampa. Levávamos latas de bolachas caseiras e sempre tinha na casa de todos muita compota e musicas do Teixeirinha e Irmãos Bertussi. Para os mais velhos Aguinaldo Rayol, e os da Jovem Guarda ouviam Jerry Adriani, Roberto Carlos, Vanderleia. Eu gostava muito de fazer teatro e alegrar a turma junto com minhas amigas Cleci, Lurdes, Beusa Brinhoni sobrinhas do seu Belim e da família Tonet. 



Voz da Rodoviária - "Um belo dia estava eu cuidando do armazém dos meus pais e anunciaram que tinha um teste para locutora na Radio Colmeia. Meus pais estavam no sitio longe dali, então fechei o comercio, me arrumei, peguei carona com um conhecido e fui até a cidade. Lá estavam muitas candidatas... me senti incapaz diante daquelas moças lindas da cidade e quase dei meia volta.  Mas não deu tempo. 
Me deram um empurrão e fui a primeira a fazer o teste. Fiz confiante e muito bem as leituras dos textos. Retornei para casa, feliz, e contei aos meus pais a aventura vitoriosa. Se zangaram comigo, mas foi de leve. Para minha surpresa uma semana depois, me chamaram. Passei em primeiro lugar. O difícil foi convencer meus pais para eu ir morar na casa dos outros para trabalhar pois eu ajudava eles e tinha tudo. Não era por salario, mas sim, por gostar da comunicação. Finalmente consentiram e fui morar com a família do advogado Horácio Amaral e da sua esposa, professora Dea Amaral, uma família linda, super querida que me tratava muito bem. 

Ilustração
Em 1967 aconteceu a inauguração da nova rodoviária, pelo senhor Rosalino Salvadori - prefeito em exercício - próxima a praça Getúlio Vargas, de Campo Mourão. Sai da rádio e fui fazer os serviços de auto falantes contratada por Doraci Scorsato, gerente da Radio Colmeia. 
Fui a primeira locutora que anunciava os embarques, rodava músicas e fazia comerciais. Esse período foi muito bom. Fiz muitas amizades ali, mas meu pai sempre pedia-me tanto para sair de lá. Depois de dois anos, por ele, saí". 


 
Mariza casou em Campo Mourão

Casamento - "Fui embora da rádio e da rodoviária, muito triste, para um lugarejo, na casa de uma tia, passar uns meses lá. Conheci a família Ghiraldelli e em seis meses conheci e namorei um viúvo pai de dois filhos e 'me casaram' com ele. Foi contra minha vontade. A cerimonia simples aconteceu na matriz de São José de Campo Mourão, celebrada pelo padre Dionizio. O amigo Guido Castelli e meu cunhado Armando foram meus padrinhos. Foram três dias de festa no Sítio Padilha da nossa família, com ampla divulgação através da Radio Colmeia, pelos colegas que lá deixei: Coronel Bastião, Rodrigues Correia e Carlos Matos".

Sacrifícios - "Um ano depois ganhei a minha filha Joelma, no Hospital e Maternidade São José, de Campo Mourão. Meu casamento durou 12 anos com muitas incompatibilidades e diferença de idade pois eu era bem mais nova que meu marido. Ele gostava de ficar só na beira do Rio Piquiri pescando e eu ficava muito só com minha filhinha que era muito doente até os dois anos de idade. Desde que nasceu me dedicava totalmente a ela tendo que atravessar o Rio Piquiri, em tempos de tempestades e enchentes, com ela nos braços, sozinha. O perigo era grande ao atravessar o rio cheio pois a balsa não funcionava. O barqueiro se recusava a atravessar a remo, mas eu  insistia, falava do perigo da minha filha morrer e ele, então, remava até chegar na outra margem. A canoa não parava direito na correnteza e balançava demais. Mas todo esse sacrifício e riscos foi para salvar minha filha, que graças a Deus foi curada". 


Luta pela vida - "Logo mudamos para Bandeirantes do Oeste e de lá voltamos a Campo Mourão. Novamente Joelma adoeceu. Pegou meningite que os médicos lá de Nova Aurora tratavam como se fosse dor de ouvido. Foi salva por um milagre porque Deus me deu forças para aquele começo de noite atravessar o rio com água revolta no barco e o barqueiro querendo desistir de cruzar o rio. Cheguei no Hospital em Campo Mourão e logo constataram a doença: meningite. 


 
"Nosso cafezal torrou com a geada negra de 17/07/75" 
conta Mariza Ferreira

Geada negra - "Ainda lá nas barrancas do Rio Piquiri, moramos em Marajó, pequeno distrito de Nova Aurora. Meu marido tinha um sitio de café, e quando estava para vender por um bom preço, a noite de 17 de julho de 1975 veio a geada negra e torrou até o caule todo o cafezal. Varreu todo o Paraná. Foi aí que entrou o feijão japonês (soja) em nossa economia. Por consequência da geada sem gelo, apenas o ar e o vento gelado, as propriedades perderam o valor de mercado. mas mesmo assim sobrou um pouco de dinheiro e compramos um bar e lanchonete com parada de ônibus em Bandeirantes do Oeste, próximo a Goioerê. Ali trabalhei muito para dar conta do bar, a freguesia compensava", contabiliza Mariza. 

Bebedeira - "Enquanto eu trabalhava e cuidava da casa e da família, meu marido ia para lugares de baixo meretricio. Em uma destas noitadas, bebeu demais e, embriagado, assinou documentos de venda do local onde morávamos e torrou outros bem adquiridos... deu tudo... nosso Jeep, a casa, a lanchonete, o ponto comercial a troco de uma uma loja de tecidos em Nova Aurora. Pagou o valor de 60 milhão na época e assinou duplicatas de 190 mil cada uma para o trambiqueiro que armou tudo Meu sogro era avalista. se nos não pagássemos ele iria perder o sitio e a casa dele, também. Fomos ver a loja e constatei que não tinha nem a metade da mercadoria no valor da entrada que demos, e assim, perdemos tudo. Devolvemos a loja e ficamos sem casa para morar. Meu marido se entregou a bebida e a nossa vida virou um inferno. Ai fiquei gravida do meu filho que nasceu lá em 75. Foi difícil essa derrocada. Passei minha gravidez vendendo Avon. Minhas clientes principais eram as mulheres que vinham nas charretes comprar na janela de minha casa onde eu pagava aluguel. Vendi Avon até bem depois que meu filho nasceu e o marido sempre agressivo e bebendo, desanimado da vida". 


Aventura - "Piorava tudo até que um dia um amigo que morava perto de nós, me convidou para ir embora com ele para Rondônia onde ele sempre ver as terras dele. Foram poucos dias para eu me decidir. Acabei indo. Viajamos em uma camioneta muito ruim. Levei meu casal de filhos. Passamos muitos apertos. A estrada era longa. A  camionete quebrou... queimava muita gasolina. O mau jeito e solavancos na viagem me atacou os rins a ponto de querer voltar de tanta dor que sentia. Mas conseguimos chegar até lá. depois de quinze dias. Encaramos muitos problemas naquele matão, inclusive ataque de febre amarela que me pegou feio". 


Ameaças -"Recebi  carta do meu marido seis meses depois. Fiquei com pena dele. Pedia para trazer as crianças porque ele sentia saudade delas. Nessa carta ele ameaçou de morte meu companheiro se eu não largasse dele e voltasse para casa. Fiquei com medo e voltei. No dia que íamos retornar a Rondônia buscar nossas coisas,  a camionete e fechar o negocio das terras com um comprador, meu companheiro sofreu um infarto fulminante, na rodoviária de Nova Aurora. Voltamos a Campo Mourão. Aí sofri muito mesmo, pois o falecido era maravilhoso. Foi o único homem que me tratou como uma deusa. Morreu falando em mim, com uma amiga,  dizendo que estava realizado e feliz comigo. Alguns dias depois,  passando na casa de meus pais, me convenceram a voltar com meu marido porque era pai dos meus filhos. Voltei e fui morar em Goioerê  criar bicho-da-seda. Era triste morar ali. Minha filha tinha que sair no escuro bem cedinho e andar no meio do cafezal uns cinco quilômetros até a escola, com os primos. Foi aí que comecei dar catequese na escolinha da colônia dos italianos. Fiz muitas amizades com os colonos e logo começamos uma capela no local. Eu organizava cultos e, uma vez por mês, o padre ia rezar missa. Aí aconteceu uma tragédia. Meu marido de tanto desinfetar os barracões de produção de casulos do  bicho-da-seda pegou uma ferida na garganta e teve que abandonar o serviço e vir se tratar em Curitiba. Fiquei no sitio com as crianças até que ele conseguiu uma casa em Araucária - PR,  onde meus já moravam e viemos embora". 

 
Mariza Ferreira professora em Araucária 
foi de Campo Mourão

Mudanças - "Ai sim comecei a trabalhar em lojas, estudei, fui aprovada em concurso público na sagrada função de professora e, nessa profissão que   adoro, trabalhei dez anos. Morava pertinho da escola. Porém, mais uma vez meu marido aprontou muito na véspera de ano novo e e na minha formatura. Tomei uma decisão definitiva. Pedi a ele para ir embora para Goioerê e ele concordou. Ele não gostava de morar aqui (Araucária). Fizemos o desquite legalmente e eu criei os meus filhos sozinha, sem pensão e nenhuma ajuda dele. Lutei com a benção de Deus e venci !"

Mulher Aranha - "Estava eu passando o Natal com minha mãe, por quanto meu pai já havia falecido. Como presente fui picada por uma aranha marrom que estava em uma buchinha vegetal e eu a esfreguei no peito do pé. Senti muita dor, alergia pelo corpo e dor tipo cólica de figado. Vomitava quase as tripas. Voltei rapidamente a Curitiba, onde residia, e fui diretamente ao hospital. Minha perna ficou enorme, preta, reluzente, mas muito inchada mesmo. Chorava pois as ferroadas do veneno doíam demais, latejavam sem parar. Quando chegou minha vez de ser atendida no Hospital das Clínicas, os médicos olharam e disseram, sem rodeios, que tinha que amputar pois deu gangrena. Apavorei. Saltei da maca e pedi para  ir pra casa onde cheguei e fiz um remédio caseiro: urina e fumo de corda. Fervi bem em uma vasilha e misturei com um pouco de álcool. Fiz compressas com um paninho em cima do local necrosado. Senti um alivio e a dor começou a sumir em meia hora. No dia seguinte notei que começou a desinchar  e, graças a Deus, sarei completamente. Esta experiência passo a quem sofreu ou venha a sofrer o mesmo episódio que eu. Fiz o remédio e deu ótimo resultado. Minha perna continua como Deus a me deu", recomenda Mariza.

Liderança e politica - "Em Araucária morei na vila Angelica e sempre participei de tudo para o bem do lugar. Fazia abaixo assinados para conseguir desde água encanada, posto de saúde, melhorias na escola, participação nos eventos do município,  instalação de terminais de ônibus... participei da fundação da Associação de Moradores e conseguimos a sede desta entidade. Presidi a Associação de Pais e Mestres e conquistamos vários benefícios para a escola. Ganhei medalhas como a pessoa mais querida do bairro através de votos abertos e manuscritos, dos quais tenho copias guardadas como grata recordação. Ajudei fundar outras associações em bairros próximos. Trabalhei no governo Requião, no Centro Comunitário, quando ele ainda era deputado e em seguida se elegeu prefeito de Curitiba. Participei, em Brasilia, da Assembleia Constituinte e do Congresso das Associações de Moradores em Salvador - BA. Encabecei e realizamos eventos culturais e festas na comunidade, entre elas: festa de patronos, de padroeiro, gincanas, fazia teatros com peças infantis as quais apresentávamos, também, em vários lugares. Concluí muitos cursos práticos que muito me ajudaram em minhas atividades profissionais e voluntárias. Auxiliava a comunidade até como assistente social. Minha casa sempre tinha gente me esperando e quando eu chegava, atendia a todos com a mesma dedicação e carinho", registra Mariza. 

Vendedora e vereadora - "Nos meus períodos de férias eu fazia 'bicos'. Sempre fui boa vendedora. Trabalhei em vários sensos de pesquisas do IBGE e coordenei campanhas politicas, até que me animei e saí candidata a vereadora em 1988. Só não me elegi porque concorri com mais cinco candidatos do meu bairro, fato que dispersou muito os eleitores. Mesmo assim fui a mais votada pelo PTB, mas pela somatória não me elegi. Continuei na politica assessorando vereador em Curitiba, entre 1986 e 1993. Na Assembléia Legislativa do Paraná, assessorei  dois deputados em anos diferentes. e por último era assessora  de gabinete do prefeito de Araucária,  Rizio Wachovsccki. Saí do gabinete designada diretora do Centro de Convivência da Melhor Idade que para mim, foi uma experiência muito gratificante. Trabalhamos com mais de 600 idosos, divididos em grupos de 100. Era muita diversão, brincadeiras, jogos, dança, teatro e viagens turísticas. Promovemos até desfiles de modas e as modelos eram do grupo, todas lindas.  Na eleição seguinte o prefeito não se reelegeu e, infelizmente, meu cargo era de CC (comissionada) e tive que me demitir, automaticamente, é de lei", explica.

 
Mariza Ferreira (de rosa) 
no Centro de Convivência da Melhor Idade

Segundo matrimonio - "Após 20 anos legalmente desquitada do meu marido, escolhi morar em Curitiba e saí de Araucária onde criei meus filhos com muita luta e dignidade. Passado um tempo, era Natal. Fui participar de um culto da Igreja Quadrangular e lá conheci um senhor elegante que não tirava os olhos de mim. Pensei: deve ser o prometido (risos). Terminada a cerimônia, nos aproximamos e conversamos. Ele contou que estava separado há poucos meses e, de cara, gostei do jeito educado dele e ele de mim. Dias depois nos encontramos de novo, passamos o ano novo juntos, ele conheceu minha família e três meses depois foi morar na minha casa. Isso deu um transtorno danado com meu filho que morava comigo, mas logo isso foi superado. Todavia, em pouco tempo veio a decepção: ele mentia demais e eu descobria as verdades. Começou ter dupla personalidade, mas mesmo assim casamos.  Eu já era evangélica antes de conhecer meu segundo marido, por isso tolerava os mal feitos dele. Fingia que não via e não sabia, na tentativa de melhorar nosso relacionamento e o resultado foi nossa separação. Desde então não pensei mais em casamento, optei por viver só. tranquila e sob a proteção Divina".

   
Nataly bisneta de Marisa Ferreira

"Ela é o meu sol, minha vida. Sinto muito a falta deles, de todos e, principalmente da minha parceirinha linda... das nossas brincadeiras e de todos os momentos felizes que vivemos juntas", lamenta a vovó coruja. 

Pastora -  "Eu já havia feito o curso para pastora, mas  e a fim de poder exercer esse mister sagrado  tive que regularizar nossa  união perante a lei e a igreja. Casamos no civil e no religioso. Me esforcei bastante para ter uma vida de casada com ele até a eternidade, pois não adianta se unir na terra e não se ligar no céu. Poucos meses depois além de me ofender verbalmente começou a me agredir fisicamente. Cheguei ao ponto de fazer exame de delito, pois andava machucada de tanto apanhar sem motivo. Mesmo quando estava eu a ler a Bíblia ele, do nada, me atacava; depois chorava, pedia perdão e continuava com as mentiras. Parecia um psicopata. Orei muito e pedi a Deus uma solução. A situação chegou a tal ponto que não deu mais para suportar as loucuras desse homem. Agradeço por não ter uma arma de fogo  em casa pois tinha horas que se tivesse eu teria feito a desgraça. Então me enchi de coragem e pedi para ele ir embora como de fato foi. Sofri muito, de novo, com a separação. Ele se humilhou, pediu para ficar, tive dó, mas dei um basta. Mesmo separados ajudei muito ele. Mais tarde reatamos amizade de novo mas sem morar juntos. O tempo voa e já se passaram quinze anos que estou só com Deus e em paz. A pesar da solidão, tenho medo de me relacionar de novo. Finalmente aprendi a gostar de mim", fala com seriedade no olhar.
   
Mariza tranquila em Curitiba, com Deus e Paz 

Atualmente - "Sou uma mulher realizada, pacata, caseira, aposentada, sem cumprir horário para nada. Fiz cirurgia bariátrica há onze anos atrás e mais umas outras por estética, menos no rosto (risos). Meu filho mora e trabalha na Irlanda do Norte e, modéstia à parte, é um gênio em informática, mora só e é solteiro por  opção. Meu neto Alexandre, com 27 anos, está na Itália e breve deve ir para a Inglaterra com a esposa e minha amada bisneta Nataly". 


  
Incrível semelhança entre Mariza e a filha Joelma Ferreira 

Aqui tenho, em outro município vizinho da região metropolitana de Curitiba, minha filha que também está sozinha depois que o filho, a nora e a netinha foram para a Itália. É a vida!  Ela é enfermeira exemplar, super competente. 
Mas criamos nossos filhos, damos o máximo de amor e depois eles voam do ninho e tudo fica um vazio. Também deixamos nossos pais, saímos de casa em busca de vida própria. Assim caminha a humanidade! Contudo, apesar dos meus 67 anos, ainda tenho sonhos e muita saúde: quero escrever meu livro, viajar e morar em Portugal". revela Mariza.

Decepcionada - "Hoje, confesso que estou decepcionada. Triste  com as falcatruas  politicas e a impunidade neste país, inclusive ter uma suprema corte em que mais parece nossa inimiga do que homens e mulheres da justiça. Mas com Deus eu rumo para o alto, respondo com perdão aos meus poucos inimigos e não guardo mágoa dos que me machucaram. Com fé vamos em frente, pois ela não costuma falhar, é a essência divina". concluiu Mariza.


Até breve, Mariza Ferreira

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Cama Patente: quem não dormiu em uma? 

Este modelo de cama já foi popularíssimo no Brasil. Na casa da minha avó, nos idos de 1970 tinha algumas destas, que deveriam estar ali há um bom tempo, que até hoje não sai da minha memória. Ela foi criada em 1915 e se tornou um marco na história do mobiliário brasileiro pelo seu design diferenciado do padrão quadrado da época.


 
1956 frente a catedral São Jose de Campo Mourão. 
José G. Terezio Camargo - caminhão carregado de madeira da Cama Patente 

Idealizador - Foi projetada pelo espanhol Celso Martínez Carrera (1883-1955) emigrante da Galícia que veio morar no Brasil em 1906. Trabalhou na marcenaria da Companhia Estrada de Ferro Araraquara, antes de abrir sua própria oficina. Criou uma cama montada com madeiras torneadas, composta basicamente por três partes: cabeceira alta e cabeceira baixa nos pés e estrado com molas flutuantes, dentro de um conceito funcional e eficiente, que permitiu sua industrialização em série e a preços populares.

Guerra - A primeira cama patente foi fabricada em Araraquara – SP, a pedido de uma clínica médica que importava leitos de ferro da Inglaterra. A primeira guerra mundial dificultou as importações e favoreceu as vendas das camas patentes fabricadas no Brasil. Celso não teve o cuidado de patentear sua invenção, o que acabou sendo feito pelo imigrante italiano, Luigi Liscio (1884 1974) chegado ao Brasil em 1894, e assim, por força da  lei, Celso deixou de fabricar camas que ele inventou.

Transporte de Toras da Cama Patente

Indústria Cama Patente L. Liscio S.A foi fundada em Araraquara - SP e depois transferida para São Paulo capital, onde funcionou até 1968, com corte e transporte  de pinheiros nativos de Campo Mourão - PR. Essa empresa foi a precursora da produção de móveis em série no Brasil e conquistou todo o mercado nacional.

Onde encontrar - A cama patente, clássico do mobiliário brasileiro, voltou a ter espaço no mercado, inclusive em versões contemporâneas, com um novo modelo - Cama Patente - do designer Fernando Jaegger, ou a versão comercializada pela Tok & Stok. Assim, muitos brasileiros que ainda não tiveram a satisfação relaxante de dormir numa confortável e arejada cama patente como nós, agora tem essa rara e prazerosa oportunidade. Bom repouso !!

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Comunicação não é magia, é Sabedoria

Galeria de Fotos 


Mariza em visita Campo Mourão


Escritório da Ind Cama Patente em Campo Mourão

 Clube Atlético Cama Patente - 1950

 
"Se precisar dirijo até trator" - 2014

Luxuoso Mix de Flores no Vaso 
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