Casamento de Zélia e Geraldo Borino de Iretama
Lá pelos anos 70 – eu, ainda moçoilo, estava no bar do Tião Correia - quando testemunhei um fato até interessante na casa do senhor Geraldo Borino, marido da bondosa dona Zélia.
Aos que não sabem, ele foi honrado Juiz de Paz em Iretama/PR, por muitos anos. Era ele quem resolvia demandas, intermediava casamentos. O próprio contava que: “quando os jovens fugiam, o casalzinho corria lá pra minha casa pedir guarida e proteção de medo do sogro”.
Seu Borino também resolvia algumas pendências quando, por exemplo: um animal do vizinho destruía a plantação do outro; mulher querendo largar do marido; agressão familiar; dívidas vencidas... ele intermediava. Todos o acatavam e no final dava tudo certo.
Seu Borino também resolvia algumas pendências quando, por exemplo: um animal do vizinho destruía a plantação do outro; mulher querendo largar do marido; agressão familiar; dívidas vencidas... ele intermediava. Todos o acatavam e no final dava tudo certo.
Mas o que me leva a escrever sobre ele, é a fim de que, principalmente os mais jovens, saibam o respeito que todos tinham uns com
outros... nas escolas, em família... vizinhos com vizinhos, tipo: quem não ajudava, não atrapalhava !! -Não tem o quê fazer? Não faça aqui !!
Existia, principalmente, um respeito grande com as autoridades, mesmo com um simples roceiro, trabalhador honesto, juiz de paz. Na investidura de autoridade distrital, seu Borino, era super considerado e respeitado em Iretama.
Existia, principalmente, um respeito grande com as autoridades, mesmo com um simples roceiro, trabalhador honesto, juiz de paz. Na investidura de autoridade distrital, seu Borino, era super considerado e respeitado em Iretama.
Agora, com o máximo
respeito, data vênia, me permitam narrar aqui, um dialogo que os mais antigos
de Iretama – contemporâneos do justo Geraldo Borino - jamais esquecerão.
Casório com Juiz de Paz vi muitos em Campo Mourão
Uma bela tarde um cidadão, lá das bandas do Esplanado bateu palma na frente da casa do senhor Borino. Dona Zélia, mulher simples da roça, esposa do
juiz, saiu e atendeu o visitante que lhe indagou:
-
Boa tarde minha senhora... por favor, o dotô juiz di paiz, tá ??
Dona Zélia, na maior
simplicidade, respondeu:
-
0lha meu senhor. O Gerardo tá no sítio, lá na
Santa Luzia... Ele foi capina um arroz que o mato tá tomano conta. O senhor
pode vorta amanhã cedo ou esperá ele, que, lá pelas seis (da tarde) vai tá aqui para lhe atende!
- Muito agradecido, dona. Vorto amanhã. Já vai
anoitecê e moro longe. Té manhã, intão!
-
Até amanhã. Que Deus lhe acompanhe !!
- Amém! - Fique com Ele, também!
- Amém! - Fique com Ele, também!
Dona Zélia e seu Geraldo casal querido de Iretama
Dia seguinte, seis
horas da manhã, o cidadão já estava na frente da casa e, sem maiores delongas,
foi prontamente atendido pelo senhor Geraldo Borino. Sua esposa cuidava da agenda, de memória, não sabia escrever.
O que o cidadão tratou ou
pediu eu não sei, porque a oitiva foi na sala de visitas, com porta fechada.
Mas da maneira como saiu, sorridente, acredito que o ‘caso’ do cortês cidadão chegou a bom termo, educadamente, etecetéra e tal.
SIMPLICIDADE, HUMILDADE, RESPEITO
É O QUE REINAVA NESSA ÉPOCA.
HOJE NÃO SE OUVE MAIS UM DIALOGO TÃO A NÍVEL, ASSIM.
QUAL É A RELIGIÃO CERTA
SEGUNDO DONA ZÉLIA -
Um dia não muito distante, dona Zélia Borino foi indagada por uma pessoa, de o porque dela não conhecer uma outra igreja além da católica? Ela, na sua simplicidade cabocla, perguntou: ‘mas por que mudar?’
Um dia não muito distante, dona Zélia Borino foi indagada por uma pessoa, de o porque dela não conhecer uma outra igreja além da católica? Ela, na sua simplicidade cabocla, perguntou: ‘mas por que mudar?’
“Sabe
dona Zélia é que a senhora precisa conhecer a maneira certa que é pregado o
evangelho, afinal a igreja católica faz de maneira errada, pois fala muito de
Maria, e ela não é deusa; alem do mais fica aí
adorando santo, e isso não é aceito dentro da interpretação da Bíblia”, e mais
alguns comentários...
Aíii, dona Zélia, na sua sabedoria de vida simples, respondeu:
Aíii, dona Zélia, na sua sabedoria de vida simples, respondeu:
“Moço - vou tentar lhe explicar o que
é religião: ler a Bíblia para entender assim do seu modo, você sabe que é impossível, pois eu
nem ler sei, mas vou lhe falar do que já aprendi nesta vida e, pra mim, esta é a minha religião que sigo e me agrada. Ta vendo
a minha casa. Sempre cheia de gente. É filho, é neto, é comadre, irmãos,
sobrinhos e é gente de todo lado a semana inteira. Eu acredito que fui boa mãe
para os meus filhos, boa esposa para meu marido e boa amiga de todos com quem
temos contato. Veja bem, aqui na minha casa vem: João 'cego', Izabel e até a Zaíra
já parou aqui pra conversar, bem como até este Roberto Requião e um tar Osmar Dias e
eu sempre os tratei da mesma maneira, afinal pra mim, somos todos iguais; agora ir em outra igreja, posso lhe garantir que já fui mais do que você imagina,
mas sempre vou como convidada por alguma família amiga, mas sem este tipo de cobrança para
eu mudar de religião. Estou bem no lugar que frequento a mais de 70 anos. Faço o bem e só recebemos de vorta muitos outros bens.
- Só vou lhe dar um exemplo de
fidelidade religiosa: sabe esta casa aqui do lado esquerdo da minha? Então, ai
morou a dona Maria Vita. Fomos vizinhas por mais de 30 anos, desde 1965. Ela é evangélica
da Congregação. A gente manteve este relacionamento de vizinhança, de comadre, por
todo este tempo e ela nunca me disse que a minha religião estava errada e nem
eu a dela. Era muito legal eu ver ela saindo para ir a igreja dela, eu comentava:
‘já indo para a igreja, comadre Maria?’, e ela respondia: ‘sim dona Zélia, vou
orar pela senhora também!’. Eu agradecia e quando eu estava saindo pra ir a
missa e ela me via, dizia: “tá indo pra a missa comadre?”, e eu respondia: “to
indo sim comadre, vou rezar e lembrar da senhora!”.
- Então meu querido amigo: rezar e orar é tudo a mesma coisa. Nossa Bíblia é a mesma, do mesmo Deus. O que mais vale pra mim é o que pratico aqui na terra, a minha fé e,
principalmente, o respeito que tenho por outras religiões. Portanto quero que
respeite a minha também!
- Aceita um cafezinho??
-
(narrativa
do filho Valter Borino)
História de Iretama
Início de Iretama - PR
Em 1950 o empresário da cafeicultura Jayme Watt Longo estava estabelecido na capital de São Paulo com a empresa JOMA.
Corria o ano de 1951 e, em Apucarana, Jayme negociava café com os demais sócios quando foi procurado por um corretor propondo-lhe negociar uma gleba de terra no sertão do centro-oeste paranaense, na região de Campo Mourão - PR. Mas ele não queria terra, seu interesse era somente o café.
Numa noite, entretanto, teve um sonho e uma visão: estava sobrevoando a gleba oferecida. No centro da selva surgia um povoado para o qual afluía gente de todas as partes do país. Viu que a terra era fértil, de excepcional qualidade, repleta de pinheirais e outras madeiras nobres, além da beleza natural, rios, cascatas e montanhas.
Nasce a futura cidade de Iretama - Dec 50
Movido pela curiosidade, na primeira oportunidade veio sobrevoar a região. Constatou pessoalmente que seu sonho correspondia a realidade. Entusiasmado foi ao Governo do Estado em Curitiba e adquiriu a referida Gleba, com a extensão de 32.000 alqueires. Uma semana após iniciou a titulação e foi a partir da sua visão que Jayme deu o nome de Iretama para a localidade que surgia. Ire tama em guarani significa casa de abelha (colméia).
Jayme percebeu que a topografia do solo montanhosa e quebrada era semelhante as de Minas Gerais e tratou logo de fazer a divulgação de vendas nas alterosas. A estratégia deu certo. Assim é que a maior parte da população iretamense é composta por mineiros.
Para atrair ainda mais o fluxo de moradores que chegavam à região, providenciou a abertura de uma estrada natural em direção ao Norte do Paraná (via Paraíso do Sul) e Barbosa Ferraz.
Um ano depois, já contava com diversas casas residenciais e os estabelecimentos comerciais de Wassilio, Napoleão e Oscar.
Em 30 de agosto de 1954 foi lavrada a ata de fundação de Iretama. A solenidade de emancipação e instalação do novo Município desmembrado de Campo Mourão – PR foi presidida pelo Juiz Hércules de Macedo Rocha, da 31ª Zona Eleitoral da Comarca de Campo Mourão, na presença de autoridades entre as quais: José Dutra de Almeida Lira, Promotor Público da Comarca e do prefeito de Campo Mourão, médico Daniel Portela, além de Francisco Ruiz (Procurador Geral de Jayme Watt Longo), Euclides Pepino, Manoel Proença, Walter Pepino, Vicente Correa, Zé Caqui, Isidoro Padilha e grande número de moradores locais.
Paralelo ao progresso e desenvolvimento urbano, as montanhas iretamenses eram recobertas com lavouras cafeeiras, cereais - principalmente o milho - como forças propulsoras da sua economia.
A primeira conquista no campo político foi a elevação a Distrito Administrativo pertencente a Campo Mourão, em 3 de maio de 1955, conforme Lei n. 2.472.
Nessa época passou a contar na Câmara Municipal de Vereadores de Campo Mourão com dois representantes: Wassilio Mamus e Napoleão Batista Sobrinho.
Em 1956, mais precisamente dia 1 de outubro, foi criada a Paróquia de Santa Rosa de Lima, por Decreto do Segundo Prelado de Foz de Iguaçu, D. Manoel Koenner, da Congregação do Verbo Divino. Nesse mesmo decreto foi nomeado o primeiro pároco, Pe Pedro Poletto, que atuou de 1957 a 1968 na Paróquia de Iretama que, com sua pujança e progresso acentuado, em todos os setores, fazia por merecer sua elevação a município.
Bandeira e brasão de Iretama - PR
E foi através de iniciativa de Luiz Carlos Renzetti que nasceu a ideia da emancipação. Renzetti havia chegado de Curitiba onde contava com amizades de grande influencia política. Reuniu líderes locais e explanou os benefícios que adviriam da emancipação política e administração própria, independente. O movimento popular contou com apoio imediato de Francisco Ruiz e do Pe Poletto.
Renzetti viajou para Curitiba em um Jeep dirigido por Delfino Apólio de Araújo e, na capital, encaminhou reivindicações e documentações exigidas ao seu particular amigo o deputado Guataçara Borba Carneiro, que providenciou a inclusão de Iretama no projeto de emancipação de diversos municípios paranaenses elaborado pelo deputado estadual Anybal Cury (Guru).
Vista aérea de Iretama - PR
Através do Decreto-Lei 4.245, Iretama foi elevada a município, dia 25 de julho de 1960 e, para tanto, contou também com a valiosa participação do deputado Acyoli Filho.
A nomeação do prefeito interino recaiu na pessoa de Francisco Ruiz, um dos baluartes do progresso e que desde 1950 passou a ocupar o cargo de Procurador Geral da empresa colonizadora de Jayme Watt Longo.
A comissão que concretizou a posse do prefeito nomeado (interino) ficou constituída pelos senhores: Erotides Manoel de Matos, Wassilio Mamus, Napoleão Batista Sobrinho, Joaquim Correa Gonçalves e Luiz Carlos Renzetti.
Francisco Ruiz foi escolhido prefeito interino e empossado solenemente, dia 27/7/1960.
A instalação oficial do município ocorreu dia 10 de novembro de 1961, com a posse do primeiro prefeito eleito pelo voto popular: José Sarmento Filho. Nessa data também aconteceu a posse dos componentes da primeira Câmara Municipal de Vereadores: Wassilio Mamus, Euclides Pepino, Francisco de Paula Arantes, Eduardo de Alencar Mota, Domingos Morini, Ovidio Calegari, Alfredo Maceron, Luiz Carlos Renzetti e Braz Inácio Rezende.
Iretama tem área de 570,459 km².
Situa-se à latitude sul 24°25'26" e à longitude oeste 52°06'21".
Altitude 595 m acima do nível do mar.
População estimada: 17.621 habitantes.
(Dados do Censo - 2010)
Wassilio Mamus
Nasceu em 10 de setembro de 1926 e faleceu dia 26 de julho de
1996, em Iretama-PR. Filho de Pedro Mamus e Maria Mamus. Casado com Joana Kolinski
Mamus, pai de: Eugênio, Pedro, Lúcia, José, Antônio, Wilson, Terezinha e
Wassilio Filho.
Foi eleito primeiro suplente de vereador pela UDN, com 279
votos, quando o distrito pertencia a Campo Mourão – PR.
Em 17 de agosto de 1960, Wassílio Mamus, 1° Suplente de Vereador pelo PSD, solicitou licença por 60 dias.
Em 17 de agosto de 1960, Wassílio Mamus, 1° Suplente de Vereador pelo PSD, solicitou licença por 60 dias.
Com o advento da emancipação de Iretama, elevada à categoria de
Município, foi eleito vereador da primeira legislatura em 1961, sendo o mais
votado e posteriormente eleito presidente da Câmara Municipal.
Venceu eleições a prefeito por dois mandatos (1965 a 1969 e 1973
a 1976).
Desde sua chegada em Iretama, atuou na área do comércio de secos
e molhados. Foi presidente da Igreja Santa Rosa de Lima, por
diversas vezes.
Hino de Iretama - PR
(Estribilho)
Avante Iretama imortal
Teu filho não te esquecerá
És a razão de um ideal
Da força pujante do Paraná.
Tudo em ti nos encanta e seduz
Terra de amor de paz e de luz
Do pioneirismo de audazes bandeirantes
És hoje a mais esplêndida realidade
Iretama berço de felicidade.
E aos teus maiores, nosso pleito de saudade.
Corumbataí, Muquilão, Rio Formoso.
A cingir qual diadema este solo venturoso.
E a fonte sulfurosa presente da natureza
A mostrar qual generosa esta terra de riquezas.
Do Paraná que te ama e bendiz
És o recanto abençoado e feliz
Iretama plena de sucesso
Na caminhada para o progresso.
Na caminhada para o progresso.
Galeria de Fotos de Iretama
Mariano Romeiro e Jayme Canet Jr, Iretama - PR
Iretama visto do céu
Prefeitura de Iretama
Casa dos Vereadores de Iretama
Iretama montanhosa
Trevo de acesso à Iretama - PR
VistaIretama - PR
Thermas de Jurema em Iretama - PR
Coments:
Valter Borino, obrigado amigo pela homenagem, muito justa, meu pai na sua
simplicidade, sempre foi muito sábio, ajudou muita gente, sempre apaziguado situações
de desacerto seja ela entre casais, visinhos, contas vencidas, sem nunca
receber nada em troca, só agradecimento; e compadres, pois nesta vida de DOTO
JUIZ ele e dona ZÉLIA, sempre foram convidados a serem padrinhos de casamento
batizado, sei não mais é pra lá de 1.000 compadres que ele arrumou neste tempo
maravilhoso de nossas vidas.
Oilson
Hoffmann, parabéns pela matéria. Ao lê-la pude voltar no tempo e reviver o
primeiro encontro com o padre Polleto, ao depois lembrar de forma saudosa
aquele que foi meu avô, José Sarmento, assim como meu primeiro patrão, Luiz
Carlos Renzetti, ao depois Euclides Pepino, de forma que nessa caminhada pelo
passado lembrei de meu velho pai, delegado de polícia municipal, grande Amigo
do sr. Borino. Arrematei caminhando com pessoas conhecidas da comunidade, Wassilio
Mamus, Erotides Mattos, entre outros. Muito bom voltar ao passado através de
uma leitura tão gostosa como a realizada pelo articulista.
BEM VINDO À IRETAMA
01-12-15
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