12/07/2017

Campo Mourão e Yvy marã e'ỹ - Terra Sem Males

 
Terra Sem Males - o Paraíso

Por onde passava o Pe abe y u, o  solo era considerado sagrado pela grande nação Guarani que tinha, na vasta região de Campo Mourão, a sua maior concentração a época da chegada dos jesuítas, que estimaram, a população, em cerca de 250 mil habitantes, no mesopotâmico Vale do Ivaí/Piquiri. Os ameríndios acreditavam que o longo e primitivo caminho levava os seres terrenos, ainda com vida, a Yvy Marã, a Terra Sem Males (paraíso citado na bíblia, destino dos cristãos sem pecados, após a morte).


Paz Total - Segundo narrativas indígenas, neste lugar sagrado não havia guerras, nem fome, nem doença, nem mortos. Este paraíso era alcançado em vida pelos que buscavam Yvy marã e’y, através do Pe abe y u (caminho antigo de ir e voltar). O incentivo aos nativos tribais, em busca da Terra Sem Males, era apregoado, de geração a geração, pelos pajés, mais conhecidos por kara’y entre o povo Guarani. A fé sobre Yvy marã e’y foi um dos principais instrumentos de resistência utilizado pelos nativos,  ante o ferrenho domínio dos espanhóis e portugueses.

Holocausto - Um fato assustador registrou-se em 1549, quando uma leva humana, calculada em 15.000 ameríndios, partiu da costa brasileira, sob ataques de aventureiros europeus e fugiu em direção aos contrafortes andinos em busca da Terra Sem Males, numa jornada de aproximadamente 5.ooo km pelas trilhas do Pe abe y u. O destino dos habitantes de Pindorama (terra das palmeiras), que habitavam o litoral brasileiro, era Chachalpoyas, no Peru, onde apenas 300 chegaram e, ao invés de paz, foram presos e escravizados pelos poderosos Incas (Filhos do Sol) que, capitulo anterior da história, foram massacrados e quase exterminados pelo impiedoso exército espanhol comandado por Francisco Pizarro (1530), que depois de assassinar o imperador Atahualpa, em 26 de julho de 1533, em Cajamarca – Peru, se arvorou governador daquele império e, oito anos depois, foi assassinado, dia 26 de junho de 1541, em Lima – Peru, cidade por ele fundada.
Guarani – povo coletor e caçador. O espaço físico que habitam é denominado tekoha (terra). São indivíduos que se consideram extensão do lugar onde habitam. Migrar é um processo natural entre eles. Essa é a tática aplicada para permitir a renovação do solo e dos recursos naturais e, assim, garantir sua renovação e sobrevivência. 
Europeus - Esse traço cultural nativo foi interrompido pela colonização européia. Após a chegada dos exploradores e aventureiros, grupos Guarani iniciaram um processo de migração a fim de escaparem dos ataques, doenças, assassinatos e escravidão. Com a posse do território pelo ganancioso e impiedoso homem branco, não havia mais lugar para migrar, embora algumas tribos ainda tendem a persistir.

População - Os Guarani formavam o maior povo em quantidade de indivíduos a viver no Brasil. São originários do tronco tupi-guarani, nos estados do Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Pará, Santa Catarina e Tocantins, tal qual existem na Argentina, Bolívia e Paraguai, divididos em kaiowá, mbya e ñadeva. Somente no Brasil, há 57 mil nativos (IBGE). A maior parte vive na Bolívia, onde há mais de 78 mil indivíduos. No Paraguai mais de 41 mil e na Argentina cerca de 6 mil.
O Guarani também é conhecido por: avá, chiripá, kainguá, monteses, baticolá, apyteré, kaingang e tembukuá.


Marginalizado - Hoje, o reduzido povo  guarani remanescente, vive em pequenas reservas, acampamentos à beira de rodovias e na periferia urbana ou, habitam, ainda, espaços isolados a margem dos grandes centros. Suas principais atividades econômicas são: a confecção e a venda de artesanato: cestaria feita com taquara e cipó, estátuas em madeira e colares com sementes nativas. Ainda coletam raízes, ervas e frutos silvestres e praticam o plantio tradicional de suas sementes. Falam sua língua nativa e mantém escolas dedicadas às crianças, onde aprendem a sua cultura e tradições milenares.


Crença - O mito de Yvy marã e'y  sobrevive entre os poucos guaranis mais aguerridos em suas crenças e do que resta da sua antiga e rica cultura, hoje bastante depauperada.







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