Quando estudei em Castro - Pr
(Instituto Cristão), pela manhã tínhamos aulas e à tarde tarefas diversas. A
minha, principal, era transportar lenha picada da serraria até a cozinha que
ficava do lado das estudantes. Fazia o transporte em uma gaiota puxada por um
burro branco, velho, teimoso e coiceiro, igual ele só.
Mas o nosso assunto é a esquecida Gralha azul,
a principal ‘plantadora’ de pinhões que brotam e se transformam em árvores
majestosas. Depois da Gralha azul vem a Cotia que também ‘planta’.
Plantar é o modo de dizer, porque na realidade
ambas, após se fartarem com o delicioso pinhão, escondem o que podem a fim de
comer depois. Quase sempre a Cotia se lembra onde escondeu, mas a Gralha azul
raramente se recorda e a maioria dos pinhões que ela camufla, brotam e dão
origem ás imensas florestas de Araucárias do Paraná e Sul do Brasil.
A área mais afastada do imenso chão do
Instituto ia até a margem direita do Rio Iapó de onde, quando mandavam, eu
puxava areia na gaiota e havia grandes capões de pinheiros centenários que entre março e
maio davam muitos pinhões e eu catava pra assar na brasa e dividir com os
colegas internos. Nestas catanças várias vezes eu vi Gralha azul em atividade;
me escondia e as observava horas e horas a fio. Elas colocam o pinhão em pé,
com a ponta para cima e batem com o bico até sumir; em seguida cobrem com
folhas e gravetos. Fazem isso o dia todo na temporada das generosas sementes espalhadas pelo chão.
A lenda nos conta que certo dia uma Gralha
negra repousava no galho de um velho e enorme pinheiro, quando sentiu pancadas
fortes na árvore. Olhou para baixo e viu que um lenhador malvado aplicava
violentas machadadas no tronco, disposto a derrubar a magnífica espécie. Sentiu
que o pinheiro estava sendo sacrificado sem piedade. Voou o mais alto que pode
e se escondeu entre as nuvens para não ver seu querido amigo cair morto. Então
ouviu uma voz dos céus que lhe disse para voltar e continuar sua missão de
plantar e proteger os pinheirais. Assim ela fez e, ao retornar à floresta, sua
penagem passou da cor preta a azul-celeste, menos a cabeça e parte do peito que mantém a cor escura amarronzada.
A Gralha azul é uma ave linda, protegida por
lei, proibida de ser caçada ou presa, dada a sua relevante importância divina
junto à natureza.
Pinheiro me dá uma pinha.
Pinha me dá um pinhão.
Donzela me dá um abraço,
Que te dou meu coração !!
Existia aos bandos em Campo Mourão e
raramente são vistas, hoje.
A Gralha amarela é arauto das matas, mas não planta pinhão.
Prefere insetos e ovos de outras aves.
Nenhum comentário:
Postar um comentário