- “Vosmeces se lembram do menino com nome de russo, Demir, que saiu de Campo Mourão, foi pra Marinha e conta que até
aviãozinho de favela e boca de fumo ele foi no Rio de Janeiro, quando marinheiro? -Sabem aquelas estórias de ganhar dinheiro fácil? - Levam às drogas e ao crime, né?!
- "Mas a vida sofrida do Demir e o que ele passou -
deusmelivre – não quero nem pro meu pior inimigo,” lamentou seu Juca.
“Ele casou, gerou filhos, mas demorou sair dessa
vida de drogado. Ele me disse que muitas vezes sentava e conversava com o
diabo coisas muito estranhas e que boas não eram. Chegou uns tempos que a
droga consumia tanto o Demir que ele já não atinava bulhufas de nada. Perdeu a empresa de
reciclagem de lixo e a mulher mandou ele embora de casa, de mala e cuia. Não suportava mais ele chapado.
O coitado vagava pelas ruas, implorava por droga pra
fumar e cheirar, até que uma certa manhã, um moço bem apessoado, de ar
angelical, se aproximou dele e disse:
- Hey rapaz. Faz tempo que te observo, Demir. Você é um cara honesto. Nunca te vi roubar ou assaltar a fim de sustentar teu vício, mas cá entre nós, você está um caco, hein?! Se quiser sair desse inferno e sarar desse vício
do demônio, eu posso te ajudar. Se você quiser, claro!
- Pô meu, manda aí cara, é o que eu mais quero na minha
vida, acima de tudo resgatar o aconchego da família e das amizades da gente.
- Você já ouviu falar ou conhece a “Ervinha” de curar
drogados?
- Não cara. Explica aí coméquié?!
- Eu posso te levar onde está a Ervinha. Quer ir?
- Pô meu. Não embaça. Já te falei que quero sarar cara!
- Então, primeiro, vamos ali no Carrefur fazer umas compras.
Foram e o 'amigo' comprou duas super cestas básicas.
Pediu endereço da casa do Demir e mandou entregar uma lá. A outra ele colocou
no carro, o Demir entrou de boa e rodaram até perto
de Antonina, litoral do Paraná.
Quando lá chegaram, bela casa de praia, o
moço encostou o carrão, pegou a caixa de mantimentos e a colocou na lancha
que estava ancorada logo ali no trapiche, na beira do mar.
Embarcaram, o moço deu partida e a lancha foi pro alto
mar igual foguete.
Coisa de uma hora, tipo meio-dia, encostou numa pequena ilha e um
senhor veio recebe-los no ancoradouro. Era Tio Tonho, um caiçara parnanguara, que morava ali com a mulher (Antonia) e cuidava da
ilhota pertencente ao misterioso homem engravato.
Desceram, descarregaram as compras; o moço chamou o
pescador de canto, falou baixinho com ele, saiu, passou perto do Demir sem
falar nada, embarcou na lancha e se mandou mar adentro.
Anoiteceu e nada do moço voltar.
O Demir começou ficar nervoso, sentiu falta das
drogas, do baseado, mas ainda tinha uns cigarros made in paraguay (classic).
A bondosa Tonha chamou ele pra jantar.
Respondeu, emburrado, que não queria.
Lá pela meia-noite deu uns ataques no Demir que
começou gritar e rolar na areia igual um possesso tomado pelo
diabo. Urrava. Pedia droga. Ficou medonho. Caiu na síndrome.
O pescador pediu pra ele se acalmar senão ia lhe aplicar uma
sova. E não deu outra. Demir apanhou até ficar quieto num canto, com cara
de mau. Parecia o satanás quando chupa meia e baba.
Até o cigarro do Demir acabou logo. Acendia um atras do outro. O casal não
fumava. Aí piorou de vez. Cada ataque de histeria que dava nele, o pescador lhe
aplicava uma tunda de vara de taquara de pescar. Em seguida vinha a mulher, que
sempre deu uma de conselheira do bem, falava com carinho e estimulava o Demir a se manter calmo, enquanto cuidava dos ferimentos dele e o alimentava.
Quase seis meses se passaram, e o Demir já andava tranqüilo na
praia igual o Robson Crusoé. Aprendeu a pescar de tarrafa, ajudava Tio Tonho e
fazia todas tarefas que lhe pediam na maior boa vontade.
Uma coisa que ele nunca notou, é que no casebre tinha
telefone, o que só descobriu quando aquele moço da lancha e da ‘ervinha
curadora’ apareceu de volta e disse que telefonava diariamente, a fim de saber da sua situação. "O caseiro me informava que você estava bem e curado".
Aliás, o Demir nunca viu essa ‘ervinha’ e mesmo assim
sarou dos vícios das drogas e do fumo.
O moço se aproximou, educadamente o cumprimentou e
perguntou:
- E aí meu bom rapaz. Tudo pronto pra voltarmos a Curitiba?
- Pô meu, não via a hora. Pensei que ia morrer aqui, mas
agora está tudo bem... masss só me conte uma coisa que martela na minha cabeça esse
tempo todo: cadê a tal da ervinha que você disse que ia me mostrar... me dar, pra me curar?
- Meu jovem, veja bem: Ervinha é o nome dessa Ilha, não sabia?! riu e
acrescentou:
- Se você tiver síndrome ou recaída vou te mostrar a Ervinha,
outra vez !! Combinados ??
- Ooh loco meu, bora logo, quero ver minha
família... Ervinha??? Tôoo Fora!!!
E lá se foram com acenos felizes ao bondoso casal morador da bela “Ilha da
Ervinha”.
Demir não recaiu. Reconciliou com a família, fez concurso e hoje é servidor público. Trabalha na área da Educação Municipal. Mora bem e feliz, na região metropolitana de Curitiba.
Ele é meu sobrinho, com muito orgulho!
A bondosa Tonha chamou ele pra jantar.
Ele é meu sobrinho, com muito orgulho!
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