25/06/2015

O Pala Branco de Campo Mourãi - Lenda 10* Fatos e Mitos de Campo Mourão - 10

  
Ouça: Cavaleiros do Céu

O Misterioso Pala Branco

- Hey, nhô Juca. 
- Vosmecê  já ouviu falar num tal de Pala Branco? 
- Pelo que sei, veio fugido da região de Caçador (SC), depois de se meter em tiroteio com a volante daquela cidade, que o queria prender, acusado de ladrão de cavalo. Se escondeu no Paraná e veio morar no Pensamento, patrimônio de Mamboré (PR), Distrito de Campo Mourão. Tinha duas identidades. Uma com nome de Fermino Canaveze e outra de Augusto Cela. Era mais chamado de Pala Branco devido a usar, sempre, um especie de capa encardida desta cor, para se proteger a roupa do tempo, da poeira e cobrir os dois revólveres 38 que carregava no cinturão cheio de balas, além da Winchester de repetição com 25 toros no coldre do cepilho da sela que montava em seu burro e no cavalo preto ensinado. "Amigos?" - ele garantia que não tinha. "Conhecidos? Tenho um punhado. Trato bem, mas não confio em nenhum!", respondia.
Tinha três filhos e três filhas, muito educados e de pouca fala. Todos os membros de sua família eram acolhedores e bons hospedeiros, segundo seus conhecidos.
Nos seus de volteios longos pelos sertões, ao chegar ao anoitecer na casa de alguém, por mais que fosse conhecido, por educação, não incomodava. Dormia pra fora, perto da porta de entrada e só de manhã chamava os donos da casa para agradecer e se despedir depois de tomar um mate fervente ou café preto bem quente: "pra despertar do sono", dizia.
Era temido por aqueles que o conheciam ou sabiam de sua fama de bom no gatilho e sem medo de nada. Ao mesmo tempo, pros amigos, era um bom homem e tinham sua proteção. Não era difícil, pra ele, tirar a vida de outro. Bastava que o infeliz lhe provocasse ou prejudicasse um conhecido seu, era morte na certa. 

Casos - Numa festa, em Pensamento, um bêbado ameaçou ele com um facão tala larga. Pala Branco afastou-se lha mostrando as mãos limpas e disse que não queria briga, até que os galhos de uma árvore, às suas costas, o fizeram parar. O bêbado atacou e o feriu na cabeça. Pala Branco, com a cara cheia de sangue e um rasgo no chapelão preto de aba larga, sacou a arma esquerda e matou o bebinho, com um único tiro no meio das ventas (nariz) do agressor.

Companheiros - Entre seus comparsas, não menos valentes e matadores estavam Pezão, Cabeça de Onça e Camisa de Couro, pistoleiros de aluguel que odiavam jagunços e coronéis grileiros de terra. 

Na nuca - Numa outra ocasião chegou a entrar a cavalo num bar de Mamborê a cata de um jagunço matador de posseiros de terra que fugiu pelos fundos a pé, mas foi alcançado na carreira do cavalo pela estrada e morto por Pala Branco com um só tiro na nuca.
      
Rouba cavalo - Alguns donos de cavalos procuravam fazer amizade com Pala Branco porque, deste modo, acreditavam que ficariam tranquilos e os seus animais não seriam surrupiados. Pra quem o conheceu, ele não era “ladrão de cavalo”, mas houve casos nos quais ele e seus homens retiravam animais de propriedades só para prejudicar o dono,  se era inimigo. Estes animais não eram vendidos e nem utilizados por Pala Branco e seus bandoleiros. Eram distribuídos aos posseiros pobres ou a quem precisasse de cavalgadura.

Magia? - Um grande mistério o envolvia, também. Ninguém explicava como o nanico Pala Branco desaparecia nos momentos em que era encurralado. Casos como o de uma festa, com os amigos, numa casa de família, em Mamborê. Pelas tantas, apareceu a polícia, informada do seu paradeiro, à procura dele que, simplesmente desapareceu, mas reapareceu alguns minutos depois, tempo que a polícia levou pra ir embora. Ele disse que se escondeu no porão da casa e tocou a mula para correr. A polícia alcançou e prendeu a mula encilhada. 

Cadê? - Outro caso misterioso foi numa ida a Pensamento com um companheiro, em noite de lua cheia, a cavalo. Distante uns 5 quilômetros avistou 2 jeeps da polícia que vinham no seu encontro. Pala Branco disse para o parceiro seguir adiante, sozinho e ele ficou. Camisa de Couro foi, passou a ponte, os policiais o pararam e perguntaram ao dito cujo, por Pala Branco. Este disse não saber. A milicia tocou e se foi em sentido contrário. Minutos mais tarde Pala Branco, no galope, alcançou o companheiro. Estranho isso, porque acontece que naquele trecho a estrada se transformava num verdadeiro corredor sem saída, com mato e cerca de arame farpado dos dois lados. Não havia possibilidade nenhuma de se esconder fora da estrada. Mistério. 
- Como ele despareceu e reapareceu?! perguntou Amancio.
-Tempos depois ele contou que mandou o cavalo deitar na macega (capim alto) e ele agachou atrás do animal. Espiou até o jeep passar na mira dos seus dois 38, levantou, deu um tempo, montou e galopou até a ponte onde lhe esperava o Camisa de Couro.

Na Zona - "Numa outra feita Pala Branco e os amigos estavam na antiga casa de mulherada nas proximidades onde hoje é a esquina da Av. Paulino Messias e Rua Piraí, em Mamborê. A polícia apareceu na porta e no mesmo instante Pala Branco escafedeu-se. Os amigos juraram pros policiais que ele estava ali e que não viram para onde tinha ido. Por vingança levaram a sua mula (presa) pra delegacia. Menos de meia hora mais tarde, Pala Branco estava entre os amigos e as mulheres, na zona, e a mula amarrada na cerca, lá fora.
-Como ele fazia isso, nho Juca?? perguntou Tonico.
Nho Juca só sorriu e continuou:

Tiro nas costas - "Certa feita, soube que outros bandidos vinham matar todos da família na tapera de Juranda. Mandou a família se ajeitar e quando saía de mudança rumo ao Pinhão (PR) recebeu um balaço nas costas, que furou seu pulmão direito. Ferido, escondeu-se em Pensamento, com a família, onde tinha rancho pelo tempo necessário de se curar com ervas nativas, que conhecia, cuidado por sua mulher. Não foi um mês  estava nas lides outra vez, sarado".

 
Quirino Dorneles e o amigo  
Sgto Antonio Soriano (FEB) - 1945

Quirino Dornelles é um amigo nosso, que nasceu em Campo Mourão mesmo... morou em Mamborê, depois voltou ao Campo... conviveu com Pala Branco e, conta que:
 “Com o temido Pala Branco, eu trocava meio porco todo ano... uma vez eu matava e outra, ele. Esse homem virou lenda pela fama que tinha de  matador. Ele era bom, direito, mas não levava desaforo pra casa. Eu entregava a metade do capado (porco gordo) pra ele, lá no Pensamento, adiante de Mamborê, perto da Juranda. No outro ano ele trazia aqui no Campo. Andava armado e vestia um pala (capa de cavaleiro) meio branco, marronzeado pela poeira. Esse pala protegia ele e as armas, da chuva e da poeira nas viagens. Estava sempre bem armado e a roupa elegante coberta pelo pala, sempre limpa. O cavalo era ensinado. O cachorro era cego do olho esquerdo, que brilhava igual prata.

-   No fim, de medo dele, fizeram uma tocaia (emboscada) e mataram ele nos tiros, numa estradinha que ia das Barras pra Juranda, no rumo de Pensamento.
-  Ele era amigo da minha família e do pai da Cidália Guimarães (Araújo), que tinha uma venda na Juranda. Quem conhecia bem ele era o seu Bonifácio Carneiro, pai do professor Ephigênio (José Carneiro), desde lá de Caçador (SC)”,  lembra compadre Quirino.
“Contavam muitas histórias desse homem bom de tiro. Falavam até que ele sumia no meio da fumaça dos tiroteios, por encanto.
-   Diziam que não morria com os tiros porque tinha o corpo fechado por reza forte.
- Contavam que o cachorro (Zóio de Prata) avançava quando percebia a presença de um inimigo ou de alguém que queria matar o Pala Branco. 
- O cavalo se fingia de morto ou corria sozinho quando eram perseguidos pelos inimigos. O cavalo disparava e o Pala Branco se escondia no mato. Depois que o perigo passava, dava um assobio e o cavalo vinha. Mas acho que tudo isso era lenda do povo. Eu conheci bem ele, mas nunca vi nada disso e, também, nem nunca perguntei pra ele. Vai que ele não gostasse das minhas dúvidas e embrabecesse com eu, né?!”, observou seu Quirino, sorrindo.


Ouça: Gaúcho de Passo Fundo do Pala

Cidália Guimarães Araujo, conhecidíssima em Campo Mourão e na região, pelas suas ações sociais, conviveu com  Pala Branco.
“Quando viemos de Imbituva (PR) morar na região, nossa primeira tentativa de abrir fazenda no sertão foi no lugar chamado Macaco - Gleba de Roncador - mas fomos expulsos de lá por jagunços que matavam se a gente não obedecesse. Mudamos então pra Pensamento e depois pra Juranda que eram patrimônios de Mamborê, e o Pala Branco (ou Pala Branca como falavam) morava em Pensamento. Em Juranda meus pais, Laurentino Batista Guimarães e Catarina Fabri Guimarães abriram casa de comércio bem sortida, e um dos nossos fregueses era o famoso Pala Branco, que para nós era um homem do bem. Nunca pediu fiado e pagava no dinheiro, direitinho. Eu, menina, ouvia falar que ele matava jagunços que atacavam posseiros e vivia fugindo da polícia porque roubava cavalos e era muito misterioso. 
Viemos em 1947, eu tinha 11 anos, mas me recordo  que havia muitas mortes e banditismo por causa de brigas pela posse da terra devoluta. Meu pai foi morto assim, na fazenda, por grileiros que cobiçavam nossa propriedade. 
O Pala Branco tinha talvez, 1,70 m, uns 70 quilos e era tostado (moreno), cor de cuia, Andava bem vestido, chapéu preto de aba larga na cabeça, sempre armado, montava uma mula ou cavalo bem aperado e vestia uma capa clara, por cima, que usam muito no sul, e chamam de pala. Era uma figura inesquecível, casado e tinha quatro crianças".


Cidália Guimarães Araujo, casou com Francisco Cilião de Araújo Sobrinho (Chico Cilião) e tiveram duas filhas e um filho: Márcia, Adriane e Adriano. Abriram fazendas de café em Boa Esperança (antigo Barreirão d'Oeste) e depois em Bourbonia, município de Barbosa Ferraz (PR), entremeio Luiziana e Corumbataí do Sul.

Um comentário:

  1. eu via muito falar do pala branca quando era pequeno, mas não chequei a conhecer.

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