Lenda da Santa Cruz de Campo Mourão
- "Os pioneiros bem antigos, que nem eu, acreditam que a Santa Cruz de cedro da primeira capelinha nos Campos do Mourão foi fincada pelo apóstolo Thomé na beira do Caminho do Peaberu, igual a do Pinhalão d’Oeste (Farol - PR), no lugar chamado Cruzeirinho," revelou nho Juca.
- "Eu vi os dois cruzeiros, vivos, com casca e tudo que às vezes brotavam ramos e folhinhas no mês de maio. O de Cruzeirinho foi arrancado a mando do primeiro prefeito de Farol e sumiu. O de Campo Mourão queimou quase todo, no incêndio na tapera da capela causado por velas acesas ali. Altar era uma pranchão de pinho (5 X 12 pol). O resto dele foi recuperado pelo escrivão Ville Bathke, e está ali na aconchegante capela nova do Jardim Santa Cruz." explica nho Juca.
1900 - A outra história do Cruzeiro da Santa Cruz diz que quando os Pereira começaram firma pé nos Campos do Mourão, veio de caseiro do sertanejo Jozé, um velho soldado aposentado, seu Lauro, que trabalhou na abertura do Picadão de Pitanga – Campo Mourão – Fazenda Velha Bandeira - Rio Paraná, incorporado ao Batalhão de Engenharia de Curitiba.
Quando os Pereira vinham, faziam safra de ano em ano, depois iam pra Pitanga e Guarapuava e só retornavam no tempo das colheitas.
Fizeram ranchos por aqui, onde eram moradores meio visitas, e o seu Lauro ficava com uma espingarda chumbeira e dois cachorros (Ferrabras e Corta-vento) nesse cerradão, onde cuidava do gado e das roças, numa solidão de dar dó. Sozinho e Deus conversava com os cachorros, com as vacas, os cavalos, as galinhas, mas sofria demais pois era acostumado a viver com muita gente tagarela em volta, igual no quartel.
Pela sua idade avançada, já com dores nas juntas, devagar começou perder as vistas. Estava quase cego.
Garrou andar de bengala (pedaço de pau do mato) e já apalpava por onde andava pra se orientar pelo tato. Começou a definhar em direção da morte, pois pouco se alimentava. Estava difícil a situação. O tempo se arrastava e nada de algum Pereira aparecer pra lhe socorrer.
O velho Lauro era devoto de Santa Cruz (de Cristo). No desespero que estava, rezou e implorou pra ser curado. Prometeu que, se recuperasse as vistas e voltasse a enxergar, bem ou mal, plantaria um cruzeiro de cedro na primeira encruzilhada que encontrasse."
- Mas aqui não tinha estrada ainda. Encruzilhada onde, nhô Juca? Atalhou seu Amadeus.
- Calma compadre, já chegamos lá!
Promessa feita, não passou um mês seu Lauro começou desembaçar e a ver tudo de novo. Chorou de alegria e agradecia Jesus toda noite quando ia deitar no rancho perto do Ribeirão-19. Não esqueceu da promessa.
Um dia saiu cedinho e achou um cedro-rosa não muito grosso, bem reto e bonito de copa. Derrubou com o machado, depois serrou em duas medidas: uma mais comprida e outra mais curta. Pegou uma junta de bois e arrastou os dois pedaços de tronco do cedro e saiu pelo Campo a procura de uma encruzilhada.
Não tinha estrada - é verdade compadre - mas havia carreadores feitos pelo gado que descia beber água no 19 e subia pastar naquela vastidão onde é Campo Mourão.
Encontrou um encruzo de dois carreadores bem pisados e marcados pelas patas dos animais. A terra era fofa. Armou a cruz, pegou a pá, fez o buraco com mais de metro de fundura, colocou uma tábua em pé dentro dele, ajeitou o pé do cruzeiro na beirada, amarrou a corda na ponta de cima, mandou os bois puxar devagar... a armação subiu, escorregou na tabua e encaixou no buraco. Seu Lauro escorou o cruzeiro bem apontado pro céu, encheu e socou forte a terra em sua volta.
Encontrou um encruzo de dois carreadores bem pisados e marcados pelas patas dos animais. A terra era fofa. Armou a cruz, pegou a pá, fez o buraco com mais de metro de fundura, colocou uma tábua em pé dentro dele, ajeitou o pé do cruzeiro na beirada, amarrou a corda na ponta de cima, mandou os bois puxar devagar... a armação subiu, escorregou na tabua e encaixou no buraco. Seu Lauro escorou o cruzeiro bem apontado pro céu, encheu e socou forte a terra em sua volta.
Uns cinco anos depois disso, vinha o primeiro padre (a cavalo) rezar missa na Santa Cruz e já fazia os casamentos e batizados. Como demorava uns dois anos pra vir, a cavalo, de Guarapuava, acontecia de casar os pais e já batizar os filhos que nasciam nesse entremeio de tempo." explicou.
- Por quê os cruzeiros eram de cedro? Perguntou Tonico.
- Uai sô. Porque é madeira mole, levinha, cheirosa e nunca apodrece!
- Agora fiquei na dúvida – falou Pedro – Foi São Thomé ou seu Lauro que fincou o cruzeiro no Campo?
- Cada um pensa conforme sua fé, respondeu nhô Juca. Só sei que a Santa Cruz de cedro existia ali. Eu cansei de ir lá nas festas – tinha fandango a noite inteira – e agradecer as graças que sempre recebo!
- Oia gente. Quem quiser ver o que sobrou do cruzeiro queimado é só visitar a capela que está lá, na parede da gruta, perto da igreja, na praça do Jardim Santa Cruz. As pedras nas paredes da capela são de promessas das mulheres que ganhavam nenês sadios. De onde estivessem, carregavam a criança no colo e uma pedra na cabeça ou no outro braço e iam até a Santa Cruz, agradeciam e largavam a pedra ali. O povo também se curavam de dor de dente com pedrinhas que punham na boca e cuspiam ali no pé do Cruzeiro.
- Eita, nhô Juca. Não exagera né ?! falou Amâncio.
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