25/06/2015

Lendas e Mitos de Campo Mourão - Orquídea - 11

A lenda da Orquídea 

 

Nho Juca, bem de tardinha, encontrou os amigos na venda do Antonio Mascate, pouco pra lá do trevo de Roncador, perto da antiga capela de São José, pra uma rodada de pinga e outra de mate, pra arrematar o dia.

“Meus compadres têm idéia de como nasceu a Orquídea?

“Não, não, não? Então lá vai!... anunciou nho Juca, etilicamente inspirado.

“Na aldeia do cacique Jembrê, uma índia formosa – Luaracy - a cunhatai mais bela de todas, abusava da graça que Tupã lhe deu, e desfazia dos jovens guerreiros que tentavam conquistar seu amor.

Prometia casar com aqueles que lhe davam maravilhosos presentes, mas depois que recebia os agrados, mandava os enamorados embora e acabava com suas esperanças de ser o homem da vida dela.

Alguns desesperados, pelo desprezo da bela índia, se matavam, sumiam pelas matas e desapareciam pra sempre.

Num certo dia de Kuarupe apareceu um índio de rara beleza e força. Amany era bravo e guerreiro. Competia nestas festas de aldeia e vencia todos adversários. Era respeitado igual um semi deus.

A primeira vista, Luaracy sentiu-se atraída por Amany, que amava Arani.

Foi ao Rio Mourão, se banhou e se enfeitou com os mais lindos presentes que havia ganhado dos desafortunados apaixonados. Durante a dança, dos jovens prontos pra casar, ela tentou fazer par com ele, que a rejeitou porque sabia dos males que ela causava, levada pela vaidade e coração endurecido.

Amany disse que o amor dele era outra, “não tão bonita, mas meiga e amorosa.” Abraçou sua Arani e se foi.

Luaracy não se conformou. Procurou a bruxa má na montanha de prata. A malvada sabia porque ela foi lá e lhe disse: “se ele não te aceitar, nunca será de outra, isso te prometo, se você me der tua alma.”

A linda índia nem pensou na proposta. Concordou, certa que agora, com a promessa da bruxa, o formoso índio seria dela.

Correu pra aldeia e foi logo em direção de Amany. Tentou abraçar o índio que amava, mas este se afastou e mandou ela sumir dali.

A bruxa apareceu e transformou o índio bravo numa majestosa árvore, e falou:

“Como te disse - veja bem - ele nunca vai ser de ninguém. Agora tua alma me pertence. No dia que você morrer, venho te buscar pra te queimar eternamente no meu inferno!”  e despareceu.

Luaracy apavorou. Com medo do inferno, se agarrou com todas forças no tronco da árvore e implorava pra Amany  voltar. Gritava me salva e jurava que o amava de verdade.

Nisso passava por ali o Deus das Flores que se compadeceu de Luaracy. Disse que por se arrepender dos males que fez, e pelo sofrimento de amor que passava, ia lhe conceder “o prazer de viver eternamente bem junto do seu amado, mas não no inferno.”

Fez um corrupio largo e elegante. De imediato, as pernas e braços da índia foram se agarrando na casca da árvore encantada e se transformaram em finas raízes esbranquiçadas. Seu corpo escultural se modificou em folhas de um verde intenso, com formato de palmas nunca vistas. De seus olhos surgiram duas flores maravilhosas de forte cor branca, rosa, bordada de carmim, que o Deus da Mata batizou de: Orquídea.

“A flor mais cobiçada, misteriosa, bela e duradoura do mundo.” garantiu.

“Seja feliz com teu amado Tronco, maravilhosa Orquídea... Adeus!”

“E lá se foi o Deus das Flores. E, eu, vou também!” despediu-se nho Juca, meio zureta das pingas.


 

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