Nho Juca, bem de tardinha,
encontrou os amigos na venda do Antonio Mascate, pouco pra lá do trevo de Roncador, perto da antiga capela de São José, pra uma rodada de pinga e outra de
mate, pra arrematar o dia.
“Meus compadres têm idéia
de como nasceu a Orquídea?
“Não, não, não? Então lá
vai!... anunciou nho Juca, etilicamente inspirado.
“Na aldeia do cacique
Jembrê, uma índia formosa – Luaracy - a cunhatai mais bela de todas, abusava da
graça que Tupã lhe deu, e desfazia dos jovens guerreiros que tentavam
conquistar seu amor.
Prometia casar com aqueles
que lhe davam maravilhosos presentes, mas depois que recebia os agrados,
mandava os enamorados embora e acabava com suas esperanças de ser o homem da
vida dela.
Alguns desesperados, pelo
desprezo da bela índia, se matavam, sumiam pelas matas e desapareciam pra sempre.
Num certo dia de Kuarupe
apareceu um índio de rara beleza e força. Amany era bravo e guerreiro.
Competia nestas festas de aldeia e vencia todos adversários. Era respeitado
igual um semi deus.
A primeira vista, Luaracy
sentiu-se atraída por Amany, que amava Arani.
Foi ao Rio Mourão, se
banhou e se enfeitou com os mais lindos presentes que havia ganhado dos
desafortunados apaixonados. Durante a dança, dos jovens prontos pra casar, ela
tentou fazer par com ele, que a rejeitou porque sabia dos males que ela
causava, levada pela vaidade e coração endurecido.
Amany disse que o amor
dele era outra, “não tão bonita, mas meiga e amorosa.” Abraçou sua
Arani e se foi.
Luaracy não se conformou.
Procurou a bruxa má na montanha de prata. A malvada sabia porque ela foi lá e
lhe disse: “se ele não te aceitar, nunca será de outra, isso te prometo, se
você me der tua alma.”
A linda índia nem pensou na proposta. Concordou,
certa que agora, com a promessa da bruxa, o formoso índio seria dela.
Correu pra aldeia e foi
logo em direção de Amany. Tentou abraçar o índio que amava, mas este se
afastou e mandou ela sumir dali.
A bruxa apareceu e
transformou o índio bravo numa majestosa árvore, e falou:
“Como te disse - veja bem - ele nunca vai ser de ninguém.
Agora tua alma me pertence. No dia que você morrer, venho te buscar pra te
queimar eternamente no meu inferno!” e despareceu.
Luaracy apavorou. Com medo do inferno, se
agarrou com todas forças no tronco da árvore e implorava pra Amany voltar. Gritava me salva e jurava que o amava de
verdade.
Nisso passava por ali o
Deus das Flores que se compadeceu de Luaracy. Disse que por se arrepender dos
males que fez, e pelo sofrimento de amor que passava, ia lhe conceder “o prazer
de viver eternamente bem junto do seu amado, mas não no inferno.”
Fez um corrupio largo e
elegante. De imediato, as pernas e braços da índia foram se agarrando na casca
da árvore encantada e se transformaram em finas raízes esbranquiçadas. Seu
corpo escultural se modificou em folhas de um verde intenso, com formato de
palmas nunca vistas. De seus olhos surgiram duas flores maravilhosas de forte
cor branca, rosa, bordada de carmim, que o Deus da Mata batizou de: Orquídea.
“A flor mais cobiçada, misteriosa, bela e duradoura do mundo.” garantiu.
“Seja feliz com teu amado Tronco, maravilhosa Orquídea...
Adeus!”
“E lá se foi o Deus das Flores. E, eu, vou também!”
despediu-se nho Juca, meio zureta das pingas.
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