1900 – No limiar deste ano, o argentino Júlio Tomás Allica formou um verdadeiro império ervateiro que abrangia a imensa região dos Campos do Mourão no mesopotâmico vale entre o rio Ivai e, estendido, mais ao longo do rio Piquiri, pelo qual se faziam as travessias por barcos e balsas e também os maiores transportes fluviais das mercadorias colhidas, pelas divisas do Brasil com Paraguai e Argentina, até o Porto de Buenos Aires onde, depois de processadas, eram comercializadas e exportadas ao exterior por navios mercantes.
Os invasores argentinos - sem autorização brasileira - realizaram atividades intensas na extração e contrabando de erva-mate, com a formação de vários acampamentos estratégicos, dentre os quais: Memória, Lupái, Boicai, Central Santa Cruz e Porto Piquiri. Na margem esquerda do Piquiri surgiram: Ronquita, Catatumba de Folhas, Inhampecê, Pensamento, Don Canuto, Sununu e Natividad. Este último recebeu tal nome pelo fato de ter sido montado durante o Natal. Era o principal povoado, onde havia armazéns e a maior concentração de ranchos e que, mais tarde, deu lugar a Mamborê, ex-distrito de Campo Mourão.
Era de Natividad que saíam picadas na
direção de acampamentos menores, todos empenhados na extração da erva-mate, que
depois de sapecada era enviada aos portos do Piquiri e do rio Paraná,
comercializadas e exportadas em larga escala, transações que duraram até 1926 com a chegada dos revoltosos do Ten. Cabanas, que acamparam pela região, mas logo debandaram, perseguidos pelos federalistas que não deram tréguas ao
acampamento de Natividad.
A localidade conhecida como Campina do Amoral, na época era chamada de Tapera de Sinhá Ana Coita (nome de uma senhora que residia no local). Havia uma picada de Natividad a esse lugar e a partir daí era possível seguir até Pitanga e Campo Mourão, pelo Picadão. Os ervateiros tinham mais contato com moradores de Campo Mourão que iam a Natividad vender seus produtos pelo caminho de sinhá Coita.
Tentativa de fuga - Devido
aos maus tratos e a situação de miséria em que viviam os empregados ervateiros, decidiram fugir. Após se
organizarem, foram até sinhá Coita. Alguns debandaram na direção de Campo Mourão e
não foram alcançados pela patrulha do sanguinário feitor Santa Cruz (cunhado de Allica). Apenas dois
ou três seguiram por Pitanga e não tiveram a mesma sorte. Foram massacrados
pelos homens leais ao cruel Santa Cruz. O lugar ficou conhecido por “Las
Cruces”. Os corpos ficaram abandonados ao relento e aos urubus. Foram sepultados quando brasileiros passaram por ali e sentiram o mau cheiro.
A
força tarefa, do argentino Allica, chegou na região através das “picadas”
abertas pelos paraguaios e índios, com mesmo interesse de monopolizar o
comercio dos capões de erva-mate a perder de vista, que se aglomeravam pelas
imensas campinas entre Mambore, Campo Mourão e sul do Paraná afora.
1924 - Acontece a Revolução Paulista e as tropas legalistas
de Arthur Bernardes se defrontam com as tropas de resistência comandadas pelo
general Izidoro Dias Lopes e pelo tenente João Cabanas.
Uma
das batalhas mais sangrentas aconteceu na serra dos Medeiros, entre Cascavel e
Laranjeiras do Sul, com as tropas da resistência derrotadas. O tenente Cabanas
e seus homens, após a derrota, se refugiaram pelos acampamentos Central Santa Cruz,
Pensamento e Haamam Amburê na tentativa de alcançar Campo Mourão e seguir a
Mato Grosso através da estrada conhecida como: do Camargo ou Boiadeira. O
plano fracassou porque antes de chegarem a Campo Mourão foram surpreendidos
pelas forças do governo, que os cercaram no Picadão de Pitanga.
O
tenente Cabanas retornou a Haamam Amburê e tomou o rumo do Paraguai, via Foz do
Iguaçu. Com ele foram os paraguaios e argentinos expulsos do Brasil. Na
fuga destruíram pontes, afundaram canoas e balsas para evitar perseguição. Nesses entreveros, os depósitos com milhares de quilos de erva-mate estocada, ficaram abandonados, onde hoje é a Praça das Flores de Mamborê.
Após
anos de exploração Júlio Allica foi perseguido e deixou a região. Seu truculento cunhado e capataz, Santa Cruz, foi morto numa emboscada, na região de Quatro Pontes. Ficaram apenas algumas evidências
das atividades pelos arredores de Mambore. No posterior cultivo da terra foram
encontradas trincheiras, munições e armas. Na região do Gavião, até
poucos anos, havia sinais da existência de um “carijo” (tipo forno aberto)
usado na sapecação das folhas de erva-mate.
O
Império Verde da Erva-Mate, com sede em Mamborê, que dominava a imensa região de Campo Mourão, entrou em decadência devido à revolução paulista. Os federalistas atacaram os
paraguaios e argentinos nos acampamentos e os perseguiram, em insana matança, até a
margem direita do rio Piquiri. A maioria dos ervateiros enfraquecidos foi morta. Alguns
conseguiram escapar. Outros embrenharam-se nas matas.
Hammam Amburê (Natividad) deu origem a Mambore.
Mamborê se refez em anos mais tarde, com as primeiras casas
construídas em volta da praça Central Santa Cruz - hoje Praça das Flores - onde ficava o principal e maior barracão da Empresa Allica. Quase 80 anos depois, os
novos habitantes foram atraídos pela floresta das araucárias e dezenas de
serrarias foram instaladas, o que marcou o primeiro real ciclo econômico de
Mamborê.
1900 – A
partir deste ano e até por volta de 1910, foram abertas regulares picadas e
estradas que tiveram como principais trechos: o do Picadão (BR-158)
Pitanga/Campo Mourão, e a mais conhecida Estrada Boiadeira sob orientação do
engenheiro Manoel Mendes de Camargo, entre Guarapuava/Campo Mourão/Mato
Grosso.
Além do comércio, estas picadas e estradas vicinais tinham a
intenção de facilitar a entrada de moradores e aumentar a população pelos
sertões do Oeste e Centro-Oeste do Paraná, com ponto de referência Campo
Mourão.
1940 - O poder público estadual implementou um plano geral de colonização que resultou na criação de varias colônias na região, sendo as principais as de Campo Mourão, Colônia Muquilão, São Domingos, Sem Passo e Colônia Goio-bang. Eram fiscalizadas e atendidas pela 5ª Inspetoria de Terras, com sede em Campo Mourão.
O
tenente Cabanas retornou a Haamam Amburê e tomou o rumo do Paraguai, via Foz do
Iguaçu. Com ele foram os paraguaios e argentinos expulsos do Brasil. Na
fuga destruíram pontes, afundaram canoas e balsas para evitar perseguição. Nesses entreveros, os depósitos com milhares de quilos de erva-mate estocada, ficaram abandonados, onde hoje é a Praça das Flores de Mamborê.
Após
anos de exploração Júlio Allica foi perseguido e deixou a região. Seu truculento cunhado e capataz, Santa Cruz, foi morto numa emboscada, na região de Quatro Pontes. Ficaram apenas algumas evidências
das atividades pelos arredores de Mambore. No posterior cultivo da terra foram
encontradas trincheiras, munições e armas. Na região do Gavião, até
poucos anos, havia sinais da existência de um “carijo” (tipo forno aberto)
usado na sapecação das folhas de erva-mate.
O
Império Verde da Erva-Mate, com sede em Mamborê, que dominava a imensa região de Campo Mourão, entrou em decadência devido à revolução paulista. Os federalistas atacaram os
paraguaios e argentinos nos acampamentos e os perseguiram, em insana matança, até a
margem direita do rio Piquiri. A maioria dos ervateiros enfraquecidos foi morta. Alguns
conseguiram escapar. Outros embrenharam-se nas matas.
Hammam Amburê (Natividad) deu origem a Mambore.
Mamborê se refez em anos mais tarde, com as primeiras casas
construídas em volta da praça Central Santa Cruz - hoje Praça das Flores - onde ficava o principal e maior barracão da Empresa Allica. Quase 80 anos depois, os
novos habitantes foram atraídos pela floresta das araucárias e dezenas de
serrarias foram instaladas, o que marcou o primeiro real ciclo econômico de
Mamborê.
1900 – A
partir deste ano e até por volta de 1910, foram abertas regulares picadas e
estradas que tiveram como principais trechos: o do Picadão (BR-158)
Pitanga/Campo Mourão, e a mais conhecida Estrada Boiadeira sob orientação do
engenheiro Manoel Mendes de Camargo, entre Guarapuava/Campo Mourão/Mato
Grosso.
Além do comércio, estas picadas e estradas vicinais tinham a
intenção de facilitar a entrada de moradores e aumentar a população pelos
sertões do Oeste e Centro-Oeste do Paraná, com ponto de referência Campo
Mourão.
1940 - O poder público estadual implementou um plano geral de colonização que resultou na criação de varias colônias na região, sendo as principais as de Campo Mourão, Colônia Muquilão, São Domingos, Sem Passo e Colônia Goio-bang. Eram fiscalizadas e atendidas pela 5ª Inspetoria de Terras, com sede em Campo Mourão.
1947 - Foi fundado o município de Campo Mourão que, até o início da década de 1955, detinha grande área territorial entre os rios Piquiri e Ivaí que divisava com Pitanga, Laranjeiras do Sul, Mandaguari, Apucarana e Foz do Iguaçu.
1960 - A região, outrora ervateira, de Mambore separou-se de Campo Mourão em 1960, com população de 10.276 habitantes, sendo 80% na área rural.
1970
- A derrubada desenfreada das matas seguiu-se por vários ciclos econômicos na
região que, muitos anos depois da febre verde da erva-mate, se iniciou com
extração da madeira e, logo substituída pelo plantio de café e, por volta de
1975, pela agricultura mecanizada e, em
escala bem menor, pela pecuária em locais de morros e pedras, impróprios à
lavoura.
1947 - Foi fundado o município de Campo Mourão que, até o início da década de 1955, detinha grande área territorial entre os rios Piquiri e Ivaí que divisava com Pitanga, Laranjeiras do Sul, Mandaguari, Apucarana e Foz do Iguaçu.
1960 - A região, outrora ervateira, de Mambore separou-se de Campo Mourão em 1960, com população de 10.276 habitantes, sendo 80% na área rural.
1970
- A derrubada desenfreada das matas seguiu-se por vários ciclos econômicos na
região que, muitos anos depois da febre verde da erva-mate, se iniciou com
extração da madeira e, logo substituída pelo plantio de café e, por volta de
1975, pela agricultura mecanizada e, em
escala bem menor, pela pecuária em locais de morros e pedras, impróprios à
lavoura.
N.A.
- A fim de enriquecer esta narrativa, leia também: http://wibajucm.blogspot.com.br/2011/03/mambore-fruto-da-erva-mate_23.html
Vejamos o arrepiante trecho descrito pelo Tenente Cabanas, quando chegou no acampamento Central de Mambore - PR.
Trata-se de uma passagem terrível que João Cabanas narra em seu livro - A Columna da Morte - com impressionantes detalhes sobre a situação sub-humana das miseráveis famílias escravizadas, colhedoras de erva mate que encontrou, em 1926, na região de Campo Mourão. Consta que ele ficou tão revoltado com a situação sub-humana dos ervateiros que deu uma surra, com a bainha met´palica da sua espada, no cunhado de Allica e capataz geral, de nome Santa Cruz.
“(...) determinei (...) aos capatazes
presentes, que fossem a todos os ranchos ervateiros e trouxessem (...) a
totalidade dos empregados (...) inclusive mulheres e crianças (...). Passados
quatro dias começou a chegar o pessoal, formando-se depois uma multidão de mais
de mil indivíduos andrajosos, tendo cada um em si, os característicos da vida
miserável que passavam sem os mais rudimentares cuidados de higiene; uns
bestializados pelos maus tratos riam alvarmente, olhar parado, em ponto fixo
imaginário.
A grande maioria com os joelhos deformados
pelos bichos de pé, faces entumecidas pela ancilostomíase ou pelo mal de
Chagas, moviam-se lentamente; mulheres cabisbaixas, quase inconscientes
sofrendo idênticos males, deixando aparecer pelos rasgões das saias, pernas
esquálidas; sentavam-se aos grupos pelo povoado, tendo ao redor crianças cor de
âmbar, ventres crescidos, sonolentas e tristes como velhos chineses desesperançados
da vida.
No meio desse rebanho humano que parecia ter
surgido de ignotas paragens onde o sol não penetra, e não existe civilização,
destacam-se arrogantes, supurando saúde, bem vestidos, finíssimos e franjados
ponchos ao ombro, vistoso lenço de seda ao pescoço, botas de estilo
carnavalesco, retinindo as esporas de prata, os famosos capatazes, modernos e
sanhudos feitores, sem alma e sem consciência, brutais até a violência,
encarregados de exaurir as forças daqueles escravos até o aniquilamento, para
extrair da mata bruta, a preciosa folha que remetida aos moinhos de Buenos
Aires, se transformava em ouro. O trabalhador do Herval é sem dúvida alguma um
verdadeiro escravo olvidado pela lei de 13 de maio de 1888, que dele não
cogitou. Na generalidade, nasceu ele na hospitaleira
República do Paraguai, onde a fortes quantias adiantadas, é arrebanhado
para além das fronteiras da sua pátria e internado nos ervais do Oeste do Paraná,
sendo depois entregue a um capataz que o recebe, mostrando ao desventurado, as
insígnias de mando a que tem de sujeitar-se, conforme o caso: um chicote e um
revolver calibre 44. De aí em diante o estrangeiro a quem acenaram com as libérrimas
leis brasileiras, perde a sua individualidade nas mãos de estranhos gentes.
O capataz em matéria de autoridade é um ser único,
sui generis; nele se concentram as atribuições que vão desde um soldado de polícia
até o Supremo Tribunal Federal e possui dentro do cérebro estúpido, um código
de castigos que começa no pontapé e segue até o fuzilamento, e às vezes a
autoridade do brutamonte estende-se também pelos domínios da religião, impondo
ao escravo a sua própria crença (...) o sistema de
escravatura nos referidos ervais toca o auge quando o escravo tem família; pois
as premissas da virgindade de suas filhas são o fruto opimo que permeia a
atividade do capataz e mesmo a esposa ou companheira, não é jamais respeitada,
tendo o desafortunado trabalhador de aceitar tudo isto sorrindo ao seu algoz,
como agradecido pela preferência que deu à sua família, distinguindo-a com a
desonra. Se, com humildade, o escravo reclama contra a má alimentação; se na
hora do acesso da malária ergue os olhos súplices ao capataz implorando um
descanso; se de seu peito oprimido brota um suspiro, traindo a nostalgia que
lhe vem na alma, em qualquer desses casos, sente imediatamente no dorso nu e encurvado,
caírem as correias causticantes do vil instrumento de suplício empunhado
pelo impiedoso capataz; e, se revolta-se contra o vergonhoso cativeiro a que o
sujeitaram (...) rápido como um raio, um tiro o abate." (Cabanas, 1926).
O instinto Animal
“O homem na guerra adquire instintos ferozes e
seu maior prazer é matar o seu semelhante. E requinta essa ferocidade quando
surpreende o inimigo. Se na surpresa faz tombar muitas vítimas, então ri e
zombeteia. Não há religião que tenha força suficiente e bastante para deter o
homem no declive de suas inclinações perversas. Em tempo de paz é um mascarado.
Em tempo de guerra, arranca a máscara da face e apresenta-se tal qual é:
inimigo de seus semelhantes, feroz no extermínio, até de seus próprios amigos e
irmãos.”
(Cabanas, 1926)
CONSULTEI:
CORRÊA, R.L. O Espaço
Urbano. São Paulo, Ática, 2ª Ed, 1999.
FERREIRA, João Carlos
Vicente. Municípios
paranaenses : origens e significados de seus nomes. Curitiba: Secretaria
de Estado da Cultura, 2006.
FRESCA, Tânia Maria. Rede Urbana, Níveis
de Centralidade e Produção Industrial: Perspectivas para um Debate.
HESPANHOL, Antônio Nivaldo.
A Formação sócio-Espacial da região de Campo Mourão e dos Municípios de
Ubiratã, Campina da Lagoa e Nova Cantu-PR. In: Boletim de Geografia. Maringá, v
11, n° 01, p.67-88, dezembro de 1993.
MORAES, Osnir. Armando Alves
de Souza “Meu jovem”.
A história do eterno prefeito de Mamborê. 1ª Edição- Campo
Mourão. Sisgraf, 2003. BCDD 923.832
OLIPA, Vilson. História de Mamborê.
(Mamborê, s.n), 1998.
Formação
histórica da região de Campo Mourão-PR
Jonas
Henrique / 5 de
março de 2013 – Internet copy 2015.
...
Vejamos o arrepiante trecho descrito pelo Tenente Cabanas, quando chegou no acampamento Central de Mambore - PR.
Trata-se de uma passagem terrível que João Cabanas narra em seu livro - A Columna da Morte - com impressionantes detalhes sobre a situação sub-humana das miseráveis famílias escravizadas, colhedoras de erva mate que encontrou, em 1926, na região de Campo Mourão. Consta que ele ficou tão revoltado com a situação sub-humana dos ervateiros que deu uma surra, com a bainha met´palica da sua espada, no cunhado de Allica e capataz geral, de nome Santa Cruz.
“(...) determinei (...) aos capatazes
presentes, que fossem a todos os ranchos ervateiros e trouxessem (...) a
totalidade dos empregados (...) inclusive mulheres e crianças (...). Passados
quatro dias começou a chegar o pessoal, formando-se depois uma multidão de mais
de mil indivíduos andrajosos, tendo cada um em si, os característicos da vida
miserável que passavam sem os mais rudimentares cuidados de higiene; uns
bestializados pelos maus tratos riam alvarmente, olhar parado, em ponto fixo
imaginário.
A grande maioria com os joelhos deformados
pelos bichos de pé, faces entumecidas pela ancilostomíase ou pelo mal de
Chagas, moviam-se lentamente; mulheres cabisbaixas, quase inconscientes
sofrendo idênticos males, deixando aparecer pelos rasgões das saias, pernas
esquálidas; sentavam-se aos grupos pelo povoado, tendo ao redor crianças cor de
âmbar, ventres crescidos, sonolentas e tristes como velhos chineses desesperançados
da vida.
No meio desse rebanho humano que parecia ter
surgido de ignotas paragens onde o sol não penetra, e não existe civilização,
destacam-se arrogantes, supurando saúde, bem vestidos, finíssimos e franjados
ponchos ao ombro, vistoso lenço de seda ao pescoço, botas de estilo
carnavalesco, retinindo as esporas de prata, os famosos capatazes, modernos e
sanhudos feitores, sem alma e sem consciência, brutais até a violência,
encarregados de exaurir as forças daqueles escravos até o aniquilamento, para
extrair da mata bruta, a preciosa folha que remetida aos moinhos de Buenos
Aires, se transformava em ouro. O trabalhador do Herval é sem dúvida alguma um
verdadeiro escravo olvidado pela lei de 13 de maio de 1888, que dele não
cogitou. Na generalidade, nasceu ele na hospitaleira
República do Paraguai, onde a fortes quantias adiantadas, é arrebanhado
para além das fronteiras da sua pátria e internado nos ervais do Oeste do Paraná,
sendo depois entregue a um capataz que o recebe, mostrando ao desventurado, as
insígnias de mando a que tem de sujeitar-se, conforme o caso: um chicote e um
revolver calibre 44. De aí em diante o estrangeiro a quem acenaram com as libérrimas
leis brasileiras, perde a sua individualidade nas mãos de estranhos gentes.
O capataz em matéria de autoridade é um ser único,
sui generis; nele se concentram as atribuições que vão desde um soldado de polícia
até o Supremo Tribunal Federal e possui dentro do cérebro estúpido, um código
de castigos que começa no pontapé e segue até o fuzilamento, e às vezes a
autoridade do brutamonte estende-se também pelos domínios da religião, impondo
ao escravo a sua própria crença (...) o sistema de
escravatura nos referidos ervais toca o auge quando o escravo tem família; pois
as premissas da virgindade de suas filhas são o fruto opimo que permeia a
atividade do capataz e mesmo a esposa ou companheira, não é jamais respeitada,
tendo o desafortunado trabalhador de aceitar tudo isto sorrindo ao seu algoz,
como agradecido pela preferência que deu à sua família, distinguindo-a com a
desonra. Se, com humildade, o escravo reclama contra a má alimentação; se na
hora do acesso da malária ergue os olhos súplices ao capataz implorando um
descanso; se de seu peito oprimido brota um suspiro, traindo a nostalgia que
lhe vem na alma, em qualquer desses casos, sente imediatamente no dorso nu e encurvado,
caírem as correias causticantes do vil instrumento de suplício empunhado
pelo impiedoso capataz; e, se revolta-se contra o vergonhoso cativeiro a que o
sujeitaram (...) rápido como um raio, um tiro o abate." (Cabanas, 1926).
O instinto Animal
“O homem na guerra adquire instintos ferozes e seu maior prazer é matar o seu semelhante. E requinta essa ferocidade quando surpreende o inimigo. Se na surpresa faz tombar muitas vítimas, então ri e zombeteia. Não há religião que tenha força suficiente e bastante para deter o homem no declive de suas inclinações perversas. Em tempo de paz é um mascarado. Em tempo de guerra, arranca a máscara da face e apresenta-se tal qual é: inimigo de seus semelhantes, feroz no extermínio, até de seus próprios amigos e irmãos.” (Cabanas, 1926)
A história do eterno prefeito de Mamborê. 1ª Edição- Campo Mourão. Sisgraf, 2003. BCDD 923.832
Jonas Henrique / 5 de março de 2013 – Internet copy 2015.
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