03/07/2011

Gaúcho não conhecia erva-mate - Alfredo Ferrari


Viemos com destino a Campo Mourão. Mas, estava em Campo Mourão e não sabia. Onde e como chegar?!
Dia 14 de março de 1951, depois de dois dias e duas noites de estrada desde Carazinho-RS, paramos o caminhão com a mudança.. a filharada trepada em cima, na Campina do Amoral. Fomos recebidos pelo Fioravante João Ferri que tinha uma serraria ali.
Cozinhava e dormia no sótão, as duas famílias juntas. A cozinha era no paiol separado da casa por causa da fumaça.
O Ferri nos mostrou os ervais. A gente conhecia a erva de chimarrão. A árvore de erva-mate, não. Autorizou a gente explorar a colheita de folhas, secar e vender a erva socada. Eu não entendia nada desse negócio. Tive que aprender tudo! – confessa Alfredo Ferrari.
Eu, e os filhos Valdomiro, Osmar e Getúlio, cortava os galhos. Um dia um baita galho caiu em cima do meu ombro, me descaderou... por sorte não morri.

"Tinha muita erva-mate em roda de Campo Mourão"

Dos galhos a gente tirava as folhas, pelava tudo, mas primeiro amontoava os galhos, fazia os feixes, jogava nas costas e carregava até perto da casa. Era meio lonjote... a gente vinha devagarote!
Acendia o fogo... descançava quase nada. Aí segurava firme, pelos pés dos galhos e sapecava as pontas na fogueira. Depois derriçava (colhia) as folhas torradas, punha no pilão e socava até esfarelar e ficar bem miudinhas. Quando estava em ponto de mate (chimarrão), ensacava e vendia.

A Dozolina (esposa) e as filhas faziam pão todo dia. A família era grande. Comiam muito porque pegavam no pesado. Não tinha outra coisa que se fazer na Campina do Amoral. Era só comer, dormir e trabalhar duro... era um tédio... nem vizinho tinha!
Nossa diversão era campanha política. Quando iam fazer comício lá, era uma festa. A gente ia com a família pra se divertir e conhecer pessoas. Nem ouvia o que o político falava. A gente não votava mesmo – risos.
Isso foi na campanha do Daniel Portela, que se elegeu o segundo prefeito de Campo Mourão. O caminhão de transporte era uma caçamba dos Trombini, iam tudo trepado. Essa era a nossa diversão!

Não sabia que estava em Campo Mourão

Em outubro de 1951 deixamos a Campina do Amoral, e finalmente conhecemos a cidade de Campo Mourão, onde fui carpiteiro e madeireiro, toda vida, e me dei bem, aqui!  – narrou Alfredo Ferrari.

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