"Eu gostava de 'andar' de elevador e Campo Mourão não tinha. Então construí um prédinho do lado de lá, quase atrás da Catedral de São José. Daí fiz um hotel 5 estrelas e mandei instalar o primeiro elevador de Campo Mourão. Assim realizei meu desejo de juventude." contava, feliz, seu Belim, aos amigos.
Belim Carollo é descendente direto de italianos, filho de colonos: Luiza e
Valentim Carollo. Nasceu dia 16 de julho de 1896, no antigo distrito de Alfredo
Chaves, atual município de Veranópolis-RS. Tem quatro irmãos: Luiz, José,
Rosina e Lúcia.
Homem
de pouco estudo, mas dinâmico e de coração bondoso, se criou no trabalho duro,
batalhou a vida inteira na construção do seu patrimônio. “Quero
deixar um nome digno, exemplo de perseverança, um legado de honestidade e
companheirismo à minha geração, meus descendentes”, o que conseguiu não sem sacrifícios.
Campo
Mourão tem muito desfrute que ganhou de Belim Carollo e uma dívida eterna com
este destemido e pacífico desbravador do sertão do centro-oeste do Paraná.
Maria Ferri e Belim Carollo
Maria Ferri,
esposa de Belim, nasceu dia 27 de outubro de 1924, em Tapera-RS. Filha dos
lavradores italianos: Catarina e Luiz Ferri. Dona Maria cresceu no trabalho de
roça. Casaram-se em 8 de dezembro de 1905, na igreja de sua cidade
natal. “Sou de temperamento forte e
meiga; completamente dedicada ao meu marido e meus filhos". Deste
enlace nasceram: Ana Amantina, Valentina, Luiz Antonio e Rosa.
Ana Amantina casou com Antonio Tramujas Filho, pais de: Belmari, Otacílio,
Maria Aparecida e Ana Rosalie.
Valentina casou com Henrique Gustavo
Salonski, pais de: Marlene, Terezinha, Henrique Luiz, Maria Cristina e Carlos
Augusto.
Luiz Antonio casou com Mires Datanhol,
pais de Maria de Lourdes, Marcos e Lucila.
Rosa escolheu ser irmã de
caridade e foi freira Vicentina, deixou o ‘hábito’,
dedicou-se à família, com atuação nas pastorais de Londrina.
Família de Belim Carollo
Madeireiro – Então casado, Belim Carollo,
começou a trabalhar em serrarias e tomou gosto pelo ramo altamente rentável de comércio de
madeiras.
Em
1937 deixou o distrito de Boa Esperança, município de Colorado-RS, e foi
trabalhar em Matos Costa-SC. Neste ano de 37, entrou em terra paranaense e
montou sua primeira serraria (pica-pau) em Irati-PR. Em seguida adquiriu
residência em Curitiba, onde morou com a família, na rua Dr Pedrosa,
Transtorno - A mudança de ares se deu porque dona
Maria começou a ter problemas de artrose e os recursos e os melhores
médicos estavam na Capital. “Em Curitiba eu ouvia falar muito da rica região de Campo
do Mourão, famosa pela vastidão de terra devoluta e enormes quantidade de
pinheirais, a perder de vista.” Ficou pouco tempo em
Curitiba. Veio conhecer o promissor Campo do Mourão e suas colossais matas
nativas, em 1945, último ano da devastadora II Guerra Mundial.
Entre os amigos de Campo Mourão: Davi Perdoncini, Mignoso, Tonet,
Armelindo Trombini, Belim Carollo, Claudio Silveira Pinto e Bruno Ghering
Companheiros – Homem de muitos amigos, gostava de ajudar e dividir as coisas boas com os companheiros. Em 1945 deixou a família em Curitiba, deu um pulo ao Rio Grande do Sul e convidou seus conhecidos: João Baptista Perdoncine e Bruno Ghering que vieram juntos conhecer a imensidão inexplorada dos Campos do Mourão. Aqui ficaram e cresceram comercialmente, graças aos pinhais e madeiras de lei.
Fordeco valente - Viajaram em um caminhão Ford, bom de estrada. A primeira parada foi em Guarapuava, a cidade mais setentrional do Paraná, à qual pertenciam os patrimônios de Campos do Mourão Turvo e Pitanga. “As estradinhas eram carreadores carroçáveis... não tinha pontes, e os lugares desertos de gente, eram longe toda vida!” relembra o destemido Belim.
De Pitanga a Campo Mourão demoraram 'só' cinco dias. "Vieram no peito e na raça, roçavam e alargavam carreadores na foice, no machado e no braço... pra dar passagem ao ‘fordéco.” Paravam só pra comer e dormiam no caminhão.
Campo Mourão - Dia 24 de janeiro de 1946, Belim, João e Bruno chegaram nos
limites do local já conhecido por Campo do Mourão que, no ano seguinte foi emancipado e recebeu a denominação de Campo Mourão.
Na chegada, Improvisaram um acampamento
perto do rio Mourão, antes da gleba Santa Maria (Riosinho), cercanias da Campina do
Amoral, entremeio aos lugares chamados de rios Campina, Sem Passo e córrego da
Jararaca. Fizeram ranchos de paus, cobertos de ramos e folhas, por ali até 'sair' as primeiras madeiras serradas.
O começo difícil - Belim Carollo, sem perda de tempo, montou a pequena Serraria Santa
Terezinha aos poucos e com dificuldades. Instalou uma serra vertical Tissot (pica-pau), movida por correias
e roda d’água geradora de força.
O conforto - Com as primeiras tábuas, ripas e vigas construiu o barracão da serraria e
casas aos empregados, sem aluguél. Começou a formar uma colônia. Deu casas às famílias que
lhe prestavam serviços e instalou um armazém de secos e molhados (venda) destinado a fornecer-lhes alimentos, utensílios e etc..
A produção começou e com a comercialização da madeira de pinho
bruto em larga escala constituiu a firma Cia Industrial Guarapuavinha e instalou o escritório, inicialmente,
na Rua Harrison José Borges (antiga Rua Ceará), onde está o atual Hotel Santa
Maria (Edifício Carollo) e, posteriormente, o anexou "a escrita" na
sua residência, sito a Rua Roberto Brzezinski (antiga Rua Curitiba), 620.
Indústria de Madeira Guarapuavinha
no meio do imenso pinheiral de Campo Mourão
Progresso – Estabelecido, começou a desbravar a mata, serrar sem parar e progrediu rapidamente. Tudo que serrava, vendia a vista. A medida que abria clareiras no sertão bruto requeria a terra; convidava mais amigos a conhecer Campo do Mourão e a se estabelecer na terra que ele indicava e doava. Assim vieram os cunhados: Fioravante e Ildefonso Ferri, que também se fixaram na Campina do Amoral. Depois trouxe as famílias: Trombini, Miguinosso e Tonet.
Campo Mourão mandava madeira sem parar à Brasilia
Força de Brasilia - No auge do comércio de madeiras, impulsionado nos anos 60
durante a construção de Brasília-DF, todos serradores progrediram rapidamente.
Belim Carollo construiu casa para si e casas independentes da sua e as deu a
todos os filhos, filhas, e depois aos netos.
Cuidados com dona Maria - Durante o tratamento da esposa em Curitiba, ele morou sozinho na
rua Roberto Brzezinski, onde depois, se instalou a Imobiliária Nascimento.
Dona Maria não se dava bem com o calor e a poeira de Campo Mourão.
Depois de anos, sentiu-se forte, superou a doença, veio se incorporar à luta de
Belim Carollo e ‘matar’ a saudade que sentia da família.
Dedicado ao bem estar da esposa, Belim construiu uma casa bem
bonita e confortável, na rua Araruna, 615, defronte ao atual Colégio Vicentino
Santa Cruz, no mesmo local onde tinha a ‘república’ onde moraram os solteiros:
Egydio Martello e Luiz Tonet, que trabalhavam no escritório de Belim, e seu
advogado Nilton Bussi.
Vila Carollo – Sempre acreditou no
progresso de Campo Mourão. Tudo que ganhou dessa terra generosa,
aplicou em terrenos urbanos e áreas rurais. Adquiriu extensa faixa de
terra, à margem direita do rio do Campo e da Br-369, rodovia que ainda não
existia.
Mais próximo do conforto que despontava na cidade, fundou a
Indústria Guarani Ltda de madeiras brutas e beneficiadas, e instalou a Serraria
de Pasta Mecânica Santa Rosa, no Salto Natal do rio do Campo, região do
Barreiro das Frutas (depois Indústria Cristo Rei).
Em torno da serraria e beneficiamento (Guarapuavinha-Guarani)
construiu dezenas de casas boas, edificou uma escolinha destinada aos filhos e
pais que trabalhavam com ele: erigiu a Capela de Nossa Senhora do Pilar (da
qual foi devoto) e assim surgiu a Vila Carollo.
Padroeira da Vila Carollo de Campo Mourão
Festança - Dia 15 de agosto, dedicado à Nossa Senhora do Pilar, sua Santa Padroeira, Belim Carollo realizava missa de ação de graças, festa religiosa, casamentos e batizados na capela e nos barracões paroquiais da Vila Carollo. Essas comemorações eram famosas e marcaram época em Campo Mourão pelas churrascadas e leilões que atraiam um incontável número de pessoas, principalmente amigos, funcionários, trabalhadores, autoridades e familiares que aproveitavam a ocasião e reciclavam os velhos tempos, as boas lembranças em momentos de descontração e congraçamento. Aos domingos a Capela Nossa Senhora do Pilar se tornava pequena dada a grande presença de fiéis que assistiam missa celebrada pelo padre Pedro Poletto que ali residia e de onde ele partia em peregrinações evangélicas por todas as outras fazendas existentes na grande Campo Mourão/PR (hoje Comcam).
N S do Pilar em Campo Mourão/PR
Terço e Chimarrão - Belim Carollo, homem de muita fé e temente a Deus era extremamente religioso. Toda
tarde, às 17 hs, reunia a família e rezava um terço do rosário, que carregava
consigo, no bolso da calça.
Outro
hábito do gaúcho tradicional era a roda de chimarrão matinal, com os amigos, no
escritório ou ao sol quando estava frio, atrás da igreja de São José, todo dia, O ritual
do 'mate' era sagrado, durante o qual se falava de tudo, principalmente de negócios e das novidades da cidade.
Santo de tradição - Quando dona Maria veio de Curitiba, trouxe a estátua centenária do Coração de Jesus,
antigo bem de família desde a Itália, que doou à Matriz de São José onde pode ser vista em
altar ‘catedral’
confeccionado e doado à paróquia, por Belim Carollo.
Grandes Contribuições – Se a causa era nobre,
Belim Carollo não se fazia de rogado. Ajudava sem pensar duas vezes porque seu
desejo era ver Campo Mourão se tornar grande.
Doou
ao Município á área do Centro Esportivo Belim Carollo onde o prefeito Renato
Fernandes Silva construiu o majestoso Ginasião. Doou o terreno onde está a sede
da Associação dos Funcionários da Coamo – Arcam. Doou à diocese, na gestão de Dom Eliseu Simões Mendes os
terrenos que abrigam o Seminário São José e o Convento das Carmelitas. Ao padre
Poletto doou uma chácara que abrangia o ponto onde hoje esta o trevo ‘da morte’ das rodovias que demandam
a Roncador, Curitiba e Foz do Iguaçu. Esse terreno depois da partida do padre,
foi doado ao Lar do Menor Dom Bosco. O local se tornou perigoso pelo intenso
movimento de veículos e Belim Carollo doou outra área em local seguro e mais
tranqüilo onde está até hoje aquele orfanato. O terreno do padre Poletto foi vendido
e o dinheiro aplicado nas obras do Lar do Menor, construído na gestão da
abnegada diretora Marlene Guidi.
Bodas de Ouro – Em 1974, em meio as festas e honrarias, o casal Maria e Belim comemorou Bodas de Ouro na Capela Nossa Senhora do Pillar. A missa especial foi celebrada por Dom Eliseu Simões Mendes, coadjuvado por três vigários e abrilhantada pelo Coral Gregoriano de Guarapuava trazido pelo padre Henrique, um dos coadjuvantes. Um conjunto regional gaúcho animou o concorrido banquete realizado nos barracões da Vila Carollo.
Cidadão Honorário –
Durante as comemoração e o banquete, Belim Carollo recebeu o título de Cidadão
Honorário de Campo Mourão, entregue pelo juiz federal e ex-prefeito Milton Luiz Pereira,
outorgado pelo prefeito Renato Fernandes Silva e pelo presidente da Câmara de
Vereadores Jorge Garcia Arias. Em contra partida, foi nesta cerimônia festiva
que Belim Carollo “deu de presente” o terreno do majestoso "Ginasão (CEFET atual UTFR).
Belim Carollo e Renato Fernandes Silva
Ginasião –O
termo de doação da área do maior ginásio de esportes de Campo Mourão foi
entregue ao prefeito Renato Fernandes Silva, que em 1976 concluiu a gigantesca
obra e o Ginasinho JK (verba da Loteria Esportiva), ambos inaugurados em uma
das maiores edições dos Jogos Abertos do Paraná-Japs, realizada pela primeira
vez em Campo Mourão.
Edifício Belim Carollo - Hotel Sta Maria em Campo Mourão
Hotel Santa Maria – Foi inaugurado dia 9 de outubro de 1970, ano do tri da seleção brasileira no México, na decisão justamente com a esquadra ‘azzura’ da Itália, pais berço dos Carollo. Entre os discursantes, falaram sobre a importância da obra e da ‘coragem’ de Belim Carollo: o primeiro vice-prefeito eleito de Campo Mourão. Munir Karan, o ex-prefeito e Juiz Federal Milton Luiz Pereira, o prefeito da época Horácio Amaral e Dom Eliseu que abençoou as dependências do Hotel Santa Maria.
Agnaldo e Márcia em Campo Mourão
Agnaldo Rayol e Márcia – No dia da inauguração o
Hotel Santa Maria teve hospedes famosos e ilustres. Entre eles o ator e cantor
Agnaldo Raiol e a atriz Márcia Maria da novela As Pupilas do Senhor Reitor, na
qual ambos contracenavam, e vieram dar um show no Clube 10 de Outubro em comemoração
aos 23 anos de Campo Mourão. Por mais de uma década, o Edifício Carollo
predominou altaneiro na paisagem urbana mourãoense. Depois surgiram outros prédios mais altos.
Vítima de raio – Difícil encontrar um serrador-madeireiro com todos dedos das
mãos. Belim perdeu o dedo mínimo da mão esquerda numa serra circular. Outra
feita foi atingido por um raio, na mata, e desfaleceu. Quase morto pela
violenta descarga elétrica, o pessoal da serraria o enterrou num buraco de
terra até o pescoço, com correntões de ferro em torno de seu corpo inerte.
Cerca de cinco horas depois, Belim abriu os olhos e começou a mexer a cabeça.
Sinal que a descarga filtrou pela terra. Foi desenterrado são e salvo.
Mágoa e Revolta – A família Carollo não se conforma com a Prefeitura ter doado a área do Centro Espotivo, ao CEFET.
“Não pelo fato de termos
aqui a melhor faculdade técnica do Brasil, mas, sim, porque simplesmente
apagaram o nome do meu avô do Ginásio Belim Carollo. Já protestamos contra as
autoridades, inclusive o prefeito, porém nossa voz ainda não foi ouvida”
protesta energicamente a neta e professora estadual, Ana Rosalie, que vai mais
além: “nomes de pioneiros que
vieram depois do meu avô, inclusive trazidos por ele, constam em livros, ruas
importantes e prédios públicos, mas o nome Belim Carollo foi e continua
esquecido pelas autoridades, todavia lembrado com carinho pelo povo, pelo que
ele fez e representa no desenvimento de Campo Mourão”
enaltece e lamenta Ana Rosalie.
Morte prematura – Belim Carollo faleceu, circunstancialmente, em Cianorte, dia 24 de novembro de 1974 e sepultado no Cemitério São Judas Tadeu. Vítima de ‘cataratas’ nos olhos, já havia perdido uma vista e a outra parcialmente, quando decidiu submeter-se a delicada cirurgia. Na época não se exigia exames de saúde. Belim também sofria de infecção na bexiga (fato que os médicos desconheciam). O tratamento pós-operatório incluía remédios contra indicados à urologia. Depois de dez dias Belim foi vitima de infecção geral que o levou à morte.
A família e os amigos foram tomados de surpresa, pois aguardavam
seu retorno, bom da visão. Porém a sorte foi enganosa. Levou o homem, mas
deixou a sua marca de desbravador e grande artífice de obras que muito
contribuíram ao crescimento e orgulham Campo Mourão.
Depoimento – Esse relato e fotos pertencem à
professora do Colégio Estadual Marechal Rondon e artista plástica, Ana Rosalie,
neta do ‘nono’ Belim Carollo.
“Sou mãe e
avó, o que vale dizer que Maria e Belim têm, por enquanto, doze netos, três
bisnetos, quatorze tataranetos, a maioria nascida em Campo Mourão. Temos uma família maravilhosa que se
orgulha do passado de lutas, vive intensamente o agora, investe no presente e
acredita no grande futuro reservado ao Município Modelo do Estado do Paraná”, concluiu otimista a esposa de Artur
César, pais de Anelise e Ariane, e avós de Bruna.
Sou descendente da família Carollo com muito orgulho, amei a historia
ResponderExcluirSilvia Maria Silveira sou neta de Zeferino Carollo que era sobrinho de Belim Carollo, orgulho desta família que deixou história em Campo Mourão.
ResponderExcluirEle era amigo de meu pai Aido Meneghello e meu tio Raul Lupattelli sócios na Manasa Madeireira Nacional. Estive varias vezes na casa dele em Curitiba. Pessoa bonissima.
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