A MELHOR QUITUTEIRA DE CAMPO MOURÃO
"Quando fomos de Curitiba morar em Campo Mourão, em meados de 1950, não tínhamos casa e nos hospedávamos no Hotel Brasil da dona Dalva Boss. Fiquei muito amiga dela e da filha mais velha, a Ester, muito querida também".
"Certa vez, a Dalva precisou se ausentar por dois meses e solicitou que eu e meu esposo (dentista Álvaro Gomes) cuidássemos do famoso hotel. Como eu tenho muitos dotes culinários - herdados da tradicional família curitibana - resolvi me envolver também, com a cozinha. Comecei a preparar pratos diferentes, sofisticados e decorados que logo caíram no gosto dos hospedes, dos doutores e madames da jovem cidade, que lotavam o pequeno restaurante do hotel mais querido".
Saudoso Hotel Brasil de Campo Mourão (acervo Ester Boss)
Campo Mourão não tinha restaurantes específicos. Só churrascaria. Os hospedes comiam no hotel. O restaurante do Hotel Brasil era novidade e fez sucesso. Foi o mais frequentado por muitos anos. Tornou-se um ponto de encontro obrigatório de amigos e famílias que estavam se fixando em Campo Mourão", conta orgulhosa de suas habilidades de gourmet, dona Lourdes.
Nós na festinha da Creche Sagrada Família de Campo Mourão
Primeira creche - "Nos adaptamos à cidade que escolhemos a fim de morar e trabalhar e logo formamos logo um grupo de ótimas amizades. Só pessoas otimistas e que vieram de olho na vitória, numa cidadezinha que nascia e onde tudo estava por se fazer. Minhas amigas mais dinâmicas eram a Fifi (Josefina Nunes), a Lurdinha (Lourdes Marmontel), a Lucila Traple, a Áurea Carneiro e mais umas que não lembro no momento. A gente se reunia, planejava e, juntas fundamos a Creche Sagrada Família e desenvolvemos trabalhos voluntários de caridade. Nós mesmas cuidávamos das quase 100 crianças amparadas ali, enquanto as mães iam trabalhar fora de suas casas e ganhar seu dinheirinho".
"Era prefeito, super dinâmico, o doutor Milton Luiz Pereira (depois Ministro da corte suprema de Justiça) que nos deu grande apoio nessa caminhada. A creche era mantida e sustentada com doações que esse grupo de senhoras resolutas pedia às pessoas de posse e comércio e assim mantínhamos a escola, a alimentação, o vestir e a educar as crianças ali matriculadas em regime de semi-internato. Entravam às 8 e saiam às 18 hs, cuidadas com maior carinho, como se fossem nossos filhinhos", ressalta.
Lourdes Mercadante Marmontel musa da música em Campo Mourão
Primeira floricultura - "Além do apoio dos empresários e da comunidade de posses, as senhoras provedoras da Creche buscavam outras formas de subsistência. Uma destas maneiras era a venda de flores doadas pela Lourdes, mulher do (madeireiro) Luciano Marmontel. A Lurdinha era professora de Música e foi proprietária da primeira Floricultura de Campo Mourão. Ela é quem ensinava as crianças a cantar e cantava junto, uma maravilha", elogia a xará.
'Em Campo Mourão um baile era mais lindo que o outro,
principalmente o das Rosas e o das Debutantes. Vinha até artista famoso apresentar'
Bailões - "Também promovíamos grandes bailes beneficentes, muito chiques, no lindo salão do Clube 10 de Outubro, que nós mesmas decorávamos. O lucro era compensador e ia tudo a favor do bem estar das crianças da Creche Sagrada Família. O Clube lotava de casais, moças e moços elegantes e bem vestidos. Dentre tantos e todos, o mais famoso era o Baile das Rosas e o das Debutantes (baile branco), sempre embalados por grandes orquestras de São Paulo e do Rio de Janeiro. Lotava e ficava muita gente de fora. Não cabia mais. Os músicos custavam caro. As posses da Creche eram pequenas. Então as famílias se prontificavam a hospedar os artistas e músicos em suas casas. Assim se reduziam as despesas e aumentava-se a renda destinada às crianças carentes", contabiliza dona Lourdes.
Campo Mourão, Amélia de Almeida Hruschka foi vereadora e deputada estadual.
Dedicou sua vida às crianças e adultos carentes.
Solidariedade - "Já naquela época essas senhoras abnegadas realizavam Campanhas do Agasalho, bem organizadas. O resultado angariado era todo distribuído às famílias de baixa renda, sob a coordenação da incansável Amélinha (Amélia de Almeida Hruschka) mesmo antes de se eleger vereadora e depois deputada estadual, uma moça super lutadora e amorosa. Pela sua dedicação destacada e voluntária, no campo do social, a favor dos desfavorecidos, foi apelidada, carinhosamente, de A Mãe do Povo", destaca dona Lourdes.
Bazar e as madames - "As melhores peças de roupas, bem conservadas, nós as separávamos; organizávamos um Bazar Popular de Roupas Usadas, uma vez por ano, ali na praça ou mesmo na Creche. Vendíamos vestidos, saias, blusas, sapatos chics, tudo bem baratinho. Tinha muita roupa usada, boa e bonita que parecia nova. As madames não vinham comprar porque tinham vergonha dos possíveis comentários das amigas e da alta sociedade. Mas tinha umas que mandavam as empregadas ou parentes mais pobres comprar para elas e usavam sim. Mandavam a costureira fazer arranjos e pequenas modificações, e depois diziam que compraram em boutiques de Curitiba e São Paulo," revela rindo.
Campo Mourão: ' O 10 de Outubro
era feio por fora, mas acolhedor por dentro.'
era feio por fora, mas acolhedor por dentro.'
As candinhas - "Os bailes no Clube 10 pareciam desfiles de modas. Quando a mulher ou a moça entrava, desde a porta até sentar-se na cadeira junto às suas mesas, a mulherada começava a filmar (olhar sem parar)... reparavam o penteado, as jóias, o vestido, os sapatos... tuudoo... e ficavam naquele ti ti ti... a gente até perdia o rebolado porque isso incomodava, nos deixava sem graça. As ponderadas elogiavam, as invejosas punham defeitos e era assunto, entre elas, a semana inteira", ri dona Lourdes.
Nesse tempo fazia sucesso uma música do Roberto Carlos: mexericos da candinha.
Nesse tempo fazia sucesso uma música do Roberto Carlos: mexericos da candinha.
Primeiro Clube de Mães - "Também fundamos
o Clube de Mães que depois deram o nome de APMI-Associação de Proteção à
Maternidade e à Infância. Neste Clube as mães e as moças aprendiam as artes de
fazer tricô, crochê e prendas domésticas, principalmente cozinhar." lembra
dona Lourdes.
Natal - "A nossa maior recompensa pelo esforço e desprendimento no seio da comunidade mourãoense, vinha na época do Natal. As crianças, reunidas, cantavam lindas canções natalinas. Era um harmonioso coral de vozes infantis, ensaiado pela Lurdinha. As pessoas se emocionavam e eu, mais ainda", diz dona Lourdes enxugando os olhos.
Clube dos 50 - Lourdes Pinto Gomes participou de outras atividades sociais importantes de Campo Mourão, a exemplo do seu esposo que se dedicava ao futebol e clubes de serviço.
"Nas reuniões festivas do Clube dos 50, com ajuda de amigas, era nossa responsabilidade decorar os salões. O Clube dos 50 realizava um evento todo mês, por adesão. O custo era rateado entre os 50 casais que formavam o Clube. Era tudo bem organizado e todos se divertiam, felizes", conta dona Lourdes.
Faltou carne - "Um fato inédito que marcou a comunidade foi uma churrascada realizada na chácara do Miguel Giani (Coletor Federal). Foi abatida uma rês, mas o contingente de pessoas esteve acima da expectativa. Lotou porque o convite era extensivo aos filhos, filhas e namorados... Sobrou gente e faltou carne!! (risos). "Todavia o evento foi marcado por momentos mágicos. Momentos estes proporcionados, não só pelo elevado número de convivas, mas sim pela seleção musical brilhantemente executada, sem parar, pela magnifica Orquestra de Londrina. Os casais dançavam harmoniosamente no tablado armado e improvisado ao ar livre. Foi tudo muito lindo e inesquecível, apesar de algumas barrigas vazias", suspira e ri dona Lourdes.
Milton e Martello - "Dois fatos marcantes povoam nossas lembranças de Campo Mourão. Um foi quando da despedida do prefeito Milton Luiz Pereira, que assumiu cargo de Juiz Federal, em Curitiba. Ele foi bastante cumprimentado, homenageado e ganhou um fusca azul, presente da comunidade. Ele se emocionou muito e nós, mais ainda.
O Outro foi quando os estudantes do Colégio Estadual Campo Mourão repetiram o gesto. Economizaram o dinheiro da merenda e, com a contribuição financeira dos professores, compraram um Fusca e deram de presente ao diretor do Colégio, professor Egydio Martello, em plena praça pública, ali no centro da cidade (Praça São José). Foi outro momento de grande emoção, junto com os mourãoenses. Eu e o Álvaro vivemos estes e outros tantos momentos maravilhosos, de respeito e carinho, em Campo Mourão, cidade linda que gostamos... Amamos muito!! concluiu Lourdes Pinto Gomes, esposa de Álvaro Gomes, com um largo sorriso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário