10/04/2011

JOZÉ LUIS PEREIRA, O Bravo Sertanejo abriu Campo Mourão



ASSIM COMEÇOU CAMPO MOURÃO


Jozé Luís Pereira

... era proprietário da Fazenda Cachoeira, situada no patrimônio de Ilha Grande (SP), que recebeu na partilha da herança deixada por seu finado pai, José Luiz Correia.
A “cachaça” do sertanejo era caçada nas florestas bravias de então, dançar fandango, cantar com viola, ouvir cantorias e, enfim, viajar, lentamente, em carro de bois, pelas enguias e acanhadas estradas de terra daquela época.

Em 1897, na qualidade de sertanejo que era, resolveu embrenhar-se para o Sul do Brasil. Assim, deixou Ilha Grande e conduziu, em carros de bois, a sua mudança e os familiares. O acompanharam nessa aventura, rumo ao desconhecido, a sua veneranda e adoentada mãe Maria Teodora Pereira e o filho, que a cuidava, Ignácio Luiz Pereira.
Juntos seguiram longa e penosa viagem, em demanda ao Paraná. A caravana passou pelas cidades paulistas de: Piraju, Rio Verde e São José da Boa Vista, dentre outras. 
Já em território paranaense, por: Jaguariaíva, Pirai, Castro, Ponta Grossa (na época em que se achava em construção a Estrada de Ferro São Paulo/Rio Grande do Sul) e dali rumaram ao Oeste paranaense, passando por: Conchas, as margens do Rio Tibagi, onde transpunha-se o caudal, sobre uma perigosa ponte flutuante. Daí alcançaram: Imbituva Prudentópolis - onde já encontraram as primeiras famílias de origem polonesa, que povoaram e colonizaram aquela região - e chegaram, finalmente, em Guarapuava, que era a Cidade Comarca de todo o Oeste Paranaense.

Nesta jornada, de meses, desceram ao Planalto Guarapuavano e, logo depois da chegada da caravana do nosso Sertanejo a Guarapuava, a família Pereira colocou-se, provisoriamente, em uma velha fazenda do nobre comendador Manoel Norberto Marcondes (Norberto Mendes Cordeiro).
Uma parte da comitiva, encabeçada pelo nosso Sertanejo e sua digna esposa Maria Silvério Pereira, junto ainda com seus filhos e um genro, ou sejam: Maria Luiza Pereira e seu marido José Batista, José e Cândido Pereira, João Barnabé Pereira, Pedro Ovídio Pereira, Antonio Armonia Pereira, Luiz Pereira Silvério, Manoel Silvério Pereira e Sebastiana Silvério Pereira, todos em número de 11 pessoas, pais, genro e filhos respectivamente.

O Sertanejo ficou em uma casa velha de pedra, as margens do Rio São João, nas proximidades da fazenda e, ainda, uma outra parte da comitiva ficou em outra estância de nome Campo de Fora, na mesma fazenda.
Tendo o Sertanejo adquirido conhecimentos e contatos com os fazendeiros de Guarapuava, logo granjeou amizade e confiança com todo o pessoal, também, como ele, sertanejos daquela região. Foi assim que teve informações do Campos do Mourão, cuja terra era a sua mete a ser atengida.

Conseguiu convencer e formar uma comitiva para entrar no desconhecido sertão do Oeste do Paraná, típica aventura que lhe dava imenso prazer.
Auxiliado pelo grupo de sócios inscrito no Registro de Terras de Guarapuava, que contava com mais de 20 requerentes de terra do Campos do Mourão, preparou tudo e seguiu com a comitiva rumo Oeste.

Deixou, em Guarapuava, os seus familiares e embrenhou-se mata a dentro, por um picadão abandonado desde a revolução de 1893. Picadão esse, pelo qual o comendador e amansador de índios, Manoel Norberto Marcondes e outros sócios, tinham ido a Campos do Mourão, na época em que estavam amansando índios, mas só estiveram de passagem e ninguém se fixou na região.
Com o espaço de algum tempo conseguiu, o Sertanejo e comitiva, cruzar os rios Paequerê e Cantú, saiu nos faxinais (mata menos densa) e ai perderam o picadão.

Como o tempo estava numa estação chuvosa, o Sertanejo percebendo o perigo que o ameaçava, de uma enchente, deu ordens para voltar, pois quando chegaram, as margens do Rio Cantú, este transbordava de água o que tornava perigoso o seu cruzamento. Mas, como o Sertanejo era intrépido, mesmo assim, antes de perderem o fio da picada, mandou tocar a comitiva mesmo assim com o rio cheio. Nessa ocasião, um burro com toda a pesada carga que levava sobre o seu dorso, rodou sobre o rio abaixo, desapareceu nas águas turvas e não se aproveitou nada.
Perdido e impedido de seguir em frente com a comitiva, regressou para os seus em Guarapuava, onde, novamente, procurou algum lugar afim de se colocar com a família.

Nesse meio tempo teve informações que os primos: Manoel e José Freitas eram possuidores de um registro de terra em Pitanga. Depois de algumas diligencias e entendimentos com os Freitas, seguiu até Pitanga e colocou-se em ditas terras, porém, não sem o pensamento fixo de, mais uma vez, tornar na busca do ditoso Campos do Mourão.
Por esse tempo vieram do interior de São Paulo, mais dois irmãos e um cunhado do Sertanejo, afim de unir os seus entusiasmos ao de Jozé Luís Pereira, na procura de terra e posses visando um futuro melhor para os seus descendentes.

Em 1900 veio à Guarapuava, procedente de Curitiba, um Batalhão de Engenharia, sob as expensas do Governo do Estado, com ordens de fazer uma exploração, a partir da cidade-comarca de Guarapuava rumo ao Noroeste até atingir as barrancas do grande Rio Paraná, sob o comando do capitão de exército, Caetano Albuquerque de Faria, tendo como oficiais subalternos, dentre outros, os tenentes Amorim Aranha e Escobal. Como entendente e aprovisionador, o cidadão civil contratado, Antonio Feijó.
De forma que esse traçado passou por Pitanga, Borboletinha, Rio Corumbataí, Rio Antinhas, Rio Quinze, Rio Taquaruçú, Rio Liso, Rio Bonito, Rio Formoso, Rio Liseta, Rio Sem Passo, Rio da Campina, Rio Remanço este logo tomou o nome de Goio-erê, Rio Ivaí e, finalmente, por esta última via fluvial chegava-se ao Rio Paraná.

O bravo Sertanejo, por esse tempo, empregou o filho, João Barnabé Pereira, no ofício de carneador (açougueiro) a serviço das turmas do dito Batalhão. Nesta categoria, o jovem Barnabé, acompanhava a comitiva pelo traçado a fora e, certa feita, quando o traçado atingiu a Campina da Encruzilhada, onde a turma acampou, Barnabé escreveu ao seu pai Jozé Luís Pereira que, haviam cruzado umas campinas e consequentemente estavam próximo de Campos do Mourão, este ponto do picadão depois era chamado de Campina da Coita, hoje Campina do Amoral.

O Sertanejo, apesar de ser politizado, como prova seu Titulo de Eleitor Nº 15, expedido pelo Império do Brasil, em poder e mostrado pelo filho Manoel Silvério Pereira - relatante destes fatos - não lia muito bem.
Assim sendo, mandou um outro filho ler a dita carta quando, então, ficou ciente do conteúdo da mesma. Nesta hora, elevou seu pensamento aos céus e pediu a Deus que seus desejos fossem realizados, ou seja, se estabelecer no sonhado Campos do Mourão.
Imediatamente levou a boa nova contida na missiva, aos seus amigos e conhecidos, dentre os quais os primos Herculano e Joaquim Moreira, Manoel Norberto Marcondes e José Simão, de forma que os dois primeiros logo se prontificaram a acompanhar o Sertanejo nesta corrida para o Centro-Oeste, em busca da lendária terra de Campos do Mourão.

Sem perder tempo e sem maiores delongas preparam os cargueiros com o necessário à uma longa jornada e se puseram a caminho, embrenhando-se em mata fechada, porém, desta vez, pelo traçado que o referido Batalhão militar havia aberto. Além de Jozé Luís Pereira, dos primos Joaquim e Herculano, em companhia do bravo Sertanejo seguiram: seu filho Pedro e mais dois camaradas.
Em alguns dias, a cavalo, dentro em pouco, avistaram a citada Campina. Mas, agora, restava saber o rumo que deveriam seguir a partir do local atingido.

Onde está o Campos do Mourão?

O velho olhou para cima, como se para orientar-se pela bondade dos céus; olhou ainda para os lados e marcou um rumo à sua frente. A pé tocou, em seguida, o facão no mato, seguido pela turma e foram adiante alargando o traçado, para a passagem dos animais com os cargueiros que continham o precioso mantimento, tão necessário para a subsistência em paragens desconhecidas.
Rompendo o caminho chegaram, enfim, a margem de um rio bem volumoso de água ao qual o Sertanejo deu o nome de Rio da Várzea (atual Rio da Vargem) e ali acamparam, se alimentaram e repousaram junto com os animais descarregados de tanto peso e estropiados pela longa caminhada. Era temporada de muita chuva.
No dia seguinte bateu muita chuva e, então, ficaram alguns dias arranchados naquele local ermo.
Em um certo dia, quando as chuvas já estavam poucas, ainda uma manhã goroenta, o Sertanejo convidou o amigo Herculano a se tocarem no mato. Tomaram o rumo Sul e saíram logo na Campina, onde hoje está o Espólio do finado Guilherme de Paula Xavier e como é um campo de muitos capãozinhos, carrascais e não fazia sol naquele dia, eles ao invés de seguirem rumo certo, fizeram sem se darem por achados, uma volta completa, cruzando novamente onde haviam passado.

Ali perdidos, disse Jozé Luís ao seu companheiro:
- Por sorte a gente não se perdeu, olhe a nossa picada!
- Respondeu-lhe Herculano muito assustado:
- Não será vestígio de índios?
- Não, disse o Sertanejo, olhe aqui o golpe do meu facão!!

E dali voltaram para o acampamento, na margem direita do Rio da Várzea. Sem saber onde estavam e como o tempo continuava de chuvas, o alimento estava se esgotando. Diante dessa situação, no dia seguinte, decidiram e regressaram para Pitanga.

De volta à sua família se preveniu outra vez de todo o necessário, mal esperou o tempo firmar com a passagem das chuvas, pela terceira tentativa de achar Campos do Mourão, o Sertanejo adentrou para o sertão e, dessa vez, no cerrado de Campo Mourão.
Sem demora procurou fazer uma roça e depois de colher o que plantou no tempo de uma safra, saiu de volta para Pitanga, afim de contar tudo e se juntar a sua família e retornar ao Campos do Mourão.
Quando voltava para Pitanga, ainda a caminho, encontrou a mudança de seu irmão, Antonio Luiz Pereira que vinha entrando pelo picadão demarcado.

Por esse tempo o Capitão Caetano terminara de ligar o picadão de Guarapuava com o Rio Paraná.

Jozé Luís Pereira, achou que a gente que estava em Campo Mourão era insuficiente para conservar o picadão aberto pelo tráfego de ir e vir, desistiu do plano de conservaçao.
Sempre na ânsia de penetrar o sertão e conhecer mais e mais, Oeste adentro, queria alcançar o sul do estado de Mato Grosso, a partir de Campo Mourão. O Sertanejo seguiu até o Rio Ivaí, junto com dois filhos. Acamparam na margem esquerda deste rio, onde derrubaram uma árvore frondosa e fizeram uma grande canoa farquejada a mão, para explorar o curso do rio abaixo e assim, conseguir a mudança de lado para atingir o Mato Grosso.

Porém chegando ao conhecimento de seus amigos em Guarapuava, que encontraram Campos do Mourão e da empreitada difícil que iriam empreender, pessoas como Manoel Moreira de Campo e outras, lhes escreveram uma carta na qual dizia, que diversos homens que tinham posse em Campo Mourão, propunham-lhe de ajudá-lo para povoar a dita terra de Campos do Mourão e, posteriormente, com o trabalho de desbravamento, ocupação e a legitimação das posses, escriturariam certa quantidade de terra, bem como lhe ajudariam com algumas criações.
Diante desta proposta, de volta à Guarapuava, Jozé Luís Pereira, aderiu aos seus amigos e depois voltou para o sertão mourãoense, trouxe a mudança e boa parte da sua família para fazer roça e construiu a primeira casa tosca, toda de madeira, do chão batido à cobertura do teto, para morar definitivamente com os seus, à margem direita do Ribeirão 19 (região do Jardim Santa Cruz), onde chegou e se fixou em definitivo, no dia 16 de setembro de 1903.
Nas idas e vindas a Pitanga e Guarapuava, arrumou uma nova comitiva, ajustou dois camaradas: Luiz Baiano e Manoel Borges, chamou três filhos: Pedro, Luiz e Manoel, bem assim o seu amigo Herculano Moreira e juntos, com o Comendador Manoel Norberto Marcondes, seguiram rumo a Mato Grosso pelo picadão do Estado, afim de reconhecer o caminho sob o pretexto de cobrar uma conta devida por Antonio Feijó, que ficara devendo ao dito fazendeiro comendador, proveniente de gado fornecido ao Batalhão de Engenharia, que Feijó era fornecedor de alimento.
Foram e chegaram ao Sul de Mato Grosso. Herculano não voltou mais.
O comendador Manoel Norberto Marcondes na volta trouxe, junto com a comitiva, dois indiosinhos “caiuá” que habitavam a barra do Rio Ivaí, os quais batizou-os com os nomes de: Mato Grosso e Paraná.

Nesse tempo, saiu de Campo Mourão para Pitanga o irmão do Sertanejo, Antonio Luiz Pereira, quando soube que a sua senhora iria ganhar nenê.

Fazia companhia ao Sertanejo, quando este ficava em Campo Mourão, um senhor velhinho, mineiro, que fora soldado explorador do Batalhão de Engenharia, o qual dera baixa em Pitanga ao fim dos trabalhos de se estabelecer o traçado do picadão estadual.
Nestas idas e vindas da família Pereira, já fazia uns cinco ou seis meses que aquele velho solícito, achava-se sozinho nestas paragens, isolado do mundo e afastado de Pitanga, distante umas quase trinta léguas de Campo Mourão, com ordens de ficar e cuidar os pertences da família Pereira.
Quando o pessoal voltou com Jozé Luís Pereira a frente, o velhinho encontrou-se com a comitiva do Sertanejo na porteira da mangueira do gado, derramou lagrimas de saudades e felicidades pela volta de seu patrão.

Nessa ocasião foi, o Sertanejo, informado que existia outro Campo que deveria ser o verdadeiro Campos do Mourão e que o qual estavam nele seria o Campo de Abarracamento (Campo Bandeira). Por demais Interessado no descobrimento do verdadeiro Campos do Mourão, Jozé Luís Pereira informou-se com um índio conhecido por Capitão Bandeira, e este cacique do Campo do Abarrancamento, lhe deu um rumo errado sobre o Campos do Mourão, pois mais tarde verificou-se o fato do engano, e que o local sonhado já estava ocupado.
O velho antes ainda de fazer roça e a casa, na dúvida sobre a localização verdadeira e para seguir a direçao mostrada pelo índio Bandeira, preparou-se para uma nova busca, com uma boa quantidade de paçoca de carne de anta, uma barraca, machado e a companhia do seu destemido cachorro Tigreiro, considerado o mais terrível dos cães de caças às onças daquela época.

A onça - Contou o filho do bravo Sertanejo José Silvério Pereira - autor destas narrativas, que certa vez o cão Tigreiro estava acuando um pintado (onça) que estava trepado em uma árvore. Quando o Sertanejo, ao chegar próximo a árvore, o galho onde estava o enorme animal selvagem, quebrou-se e o tigre, caiu ao solo como um gato gigante. Porém, tão logo a fera caiu no chão da mata fechada, o cão pulou em cima e agarrou-a. O Sertanejo ouvia os rugidos das duas feras em luta e correu em direção ao local do que ouvia. Atravessou, sem fazer picada, por baixo do taquaral intrincado, e quando chegou o tigre tinha corrido da luta e estava novamente trepado em outra árvore fraca, uma espécie de pessegueiro bravo que tinha somente dois galhos, e o Tigreiro embaixo acuando a fera encurralada.
Jozé Luís Pereira se aproximou bem, cuidadosamente, viu o animal feroz, ergueu sua espingarda munida de cartucho com chumbo grosso, apontou e mirou sua arma de caça bem na “boca” do estômago da fera, e disparou um tiro certeiro.
A enorme onça, na ânsia da morte subiu mais alto, na parte fina do galho, que partiu-se. O animal mortalmente ferido, despencou do galho quebrado, em que se agarrava, e em seguida caiu na boca do cão Tigreiro que estava a espera e logo cravou os dentes na garganta da fera como se fosse um pedaço de carne atirado para ele devorar, tal era a fúria do cachorro, que só soltou quando a onça parou de se mexer.



Pensava que  o local que procurava era outro. Saiu do Campo verdadeiro, a pé, com o necessário carregado nas costas e depois de um dia abrindo picada, deram na margem direita de um rio de águas limpas, que denominou: Rio Claro (hoje divisa de Araruna com Campo Mourão) onde pernoitaram. No dia seguinte amanheceu chovendo e a falsa busca falhou. Nenhum outro  Campo foi avistado. Depois se tocaram na mata por seis longos dias, voltaram rasto atrás.
Não ficou convencido e dali uns dois dias mandou seu filho Pedro Luiz Pereira e dois camaradas, seguir a sua picada até o ponto do Rio Claro e dali pender à direita, rumo ao Rio Ivaí até sair no Picadão do Estado. Fizeram o que lhes fora mandado pelo persistente Sertanejo, e a nova busca não surtiu efeito na descoberta que tinham em vista, pois nem sinal de campo encontraram, só mata fechada.

Desse tempo em diante o velho Sertanejo vendo esgotar-se os dias de sua própria vida, sem ter feito qualquer coisa de positivo, começou então a fazer plantações e construiu uma casa e foi efetivar sua mudança de Pitanga e receber o que os amigos lhe haviam prometido em Guarapuava.
O primeiro ajutório que recebeu foi do Coronel Pedro Lustoza, que lhe vendeu 10 novilhas de dois anos de idade para pagamento no prazo de cinco anos, com outras 10 futuras crias com a mesma idade. O fazendeiro Manoel Lopez deu, a título de sociedade, dez éguas para pagar em cinco anos, um baguá e um burro com arreios para transportar sal grosso.
Os amigos e posseiros de terra em Campo Mourão: Manoel Moreira de Campos, Manoel Norberto Marcondes, Olímpio Marcondes, José Simão, Higíno Bittencourt, Rafael Pinto, Guilherme de Paula Xavier e outros deram-lhe uma novilha cada um. Assim somou um total de 21 uma novilhas, 10 vacas leiteiras, três touros, dois bois carreiros, que ao todo completaram 61 cabeças de gado bovino e 20 animais entre equinos e muares, enfim um bom começo para uma fazenda.

A Fixação - A mudança, com tudo, chegou a Campos do Mourão, no dia 16 de Setembro de 1903, sendo a família acomodada em seu rancho que bem que chamava de lar feliz, onde pelo espaço de cinco anos passou seu tempo de vida de Sertanejo e primeiro habitante de Campo Mourão.
Por este tempo entram de mudança em Campos do Mourão, seus irmãos Luiz Pereira e Miguel Luiz Pereira e mais três famílias, as de Américo Pereira Pinto, seu genro Luiz Silvério e Cezário de Tal. Logo em seguida seguiram-se mais duas famílias, dos irmãos Ananias e Euzébio.
Somente dali há quatro longos anos, por volta de 1907, é que entraram mais algumas mudanças, uma após outra, como as das famílias de Bento Gonçalves de Prudêncio - tio do Sertanejo, Jorge Walter e a família Custódio de Oliveira.

As importações das primeiras mudas de arvoredos de frutas, de cana-de-açúcar e outras, vieram da Colônia Velha do Ivaí. Quanto aos produtos que se exportavam de Campo Mourão, tinha seu escoamento em Guarapuava, ou sejam: rapadura, arroz, toucinho, queijo, couros de caça e de gado. Campo Mourão distava cerca de 44 léguas de Guarapuava.

Na época, um couro de anta custava R$ 5.000 (cinco mil reis) e trocava-se por uma peça de bom pano tecido de algodãozinho; arroz bom era R$ 4.500 a quarta, queijo R$ 1.500 o kilo e assim por diante. Gastava-se em media, 24 dias para ir e voltar de Campo Mourão a Guarapuava, isso com o tempo bom. Com o mau tempo e chuvas essa demora era gasta somente entre Pitanga e Campo Mourão. Quando chovia, na maioria das vezes, os viajantes e tropeiros ficavam ilhados entre um rio e outro.

Naquele tempo nem por sonho se passava em nossa idéia em como poderia ser um automóvel, quanto mais o avião, pois todas as viagens eram feitas quando não a pé, no lombo de um animal.

O desbravador de sertões, Jozé Luís Pereira e seus filhos sentiram a cruciante dor em ver o passamento da venerada esposa, companheira de tantos sacrifícios e mãe extremosa que não titubeava em proporcionar o amparo e carinho necessários para o alevantamento moral de uma família, que morreu de uma queda do cavalo.
Curtindo aquele desgosto que o acabrunhava, o velho Sertanejo abandonou tudo em Campo Mourão, realizou seu negócios e saiu para Guarapuava afim de se distrair de tantas preocupações, tendo ido nessa ocasião até sua terra natal, ou seja o Estado de São Paulo.

Pouco depois da morte de sua esposa, seu irmão mais novo também veio a falecer. Neste caso foi o velho Sertanejo que ficou cuidando dos negócios de sua cunhada e comadre.
Quando tudo já parecia normalizar-se com o passamento de sua esposa e de seu irmão, para alegria de sua alma de velho Sertanejo, soube em São Paulo que seus filhos Luiz Manoel e Sebastiana iriam se casar, cuja participação dos matrimônios foi feita por um deles.

Porém como o velho não queria mais voltar ao Paraná e nem ficar em São Paulo, rumou para Mato Grosso, levando consigo a cunhada e o filho dela de nome Miguel Pereira Sobrinho, sendo que este logo que lá chegara casou-se e cuidou da sua mãe até o fim vida dela.
O velho Sertanejo ainda que carregado já de anos, porém com a sua constituição forte, se casou novamente com uma viúva de nome Ana, a qual tinha duas filhas, que o padrasto fez logo casarem-se.

Falecimento - Mas, não durou muito a imigração e a nova vida do velho Sertanejo em outras plagas, vindo a falecer em 1925, com a idade de 74 anos.

Segundo notícias que de lá chegavam aos familiares, ele deixou certos haveres, como sejam: terrenos, cavalos, carros de bois e boiadas.
Alguns de seus filhos, como *Manoel Silvério Pereira, que narrou estes fatos, casou-se em 1913, ficaram residindo em Palmeirinha perto de Pitanga, município de Guarapuava, e sempre acompanhou de perto o progresso de Campo Mourão, iniciado pelo seu pai, o bravo Sertanejo Jozé Luís Pereira.



Texto original de Nelson Bittencourt Prado - primeiro advogado em CM
de acordo com narrativa de  Manoel Silvério Pereira, filho do Sertanejo 
(aqui reproduzida em parte)


Elias Farah e Nelson Bittencourt Prado (centro)

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