21/03/2011

Deolinda Luiza Pereira de Campo Mourão

“Olha moço. Tem muita coisa mal contada nas histórias de Campo Mourão. A mamãe se chamava Maria do Carmos. É isso mesmo que te falei: Carmos. Ela nunca nasceu Pereira e nem da Cruz.  Era analfabeta e nunca foi professora. Pois não há de ver que colocaram o nome dela, ainda por cima errado, na Escola Municipal Maria do Carmo Pereira, do Jardim Paulista? - Acho que deve ser outra Maria e ninguém das autoridades que mandam, nem se incomodaram em corrigir.” reclama dona Deolinda.

Protesto - “Algumas pessoas querem que eu conte histórias de antes de eu nascer. O que eu não sei, não falo, ué! Me lembro de muitas coisas do depois que eu nasci e quando já tinha mais de dez anos”, explica Deolinda Luíza Pereira, que nasceu em Campo Mourão, dia 26 de dezembro de 1914 é filha dos paulistas: Maria do Carmos e Luiz Pereira da Cruz.

Origem - “Meus pais eram lavradores. Vieram de tropa, em carros de duas juntas de bois, da região de Pirajú (SP) até o encantado Campos do Mourão, lá pelo ano de 1910. Eles contavam que depois de meses chegaram ao destino final, que já havia sido descoberto, no início de 1900, pelo tio Jozé Luiz Pereira, depois de duas tentativas dele, por caminhos e picadas que abriam no facão, por dentro da mata. Com outros irmãos Pereira, mudaram de vez prá cá, em 16 de setembro de 1903”, registra Deolinda com precisão.


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Comitiva rumo ao desconhecido

De São Paulo entraram por caminhos nunca vistos, através do Norte do Paraná. “A primeira vila de parada que tinha recurso era bem longe e chamava Guarapuava. Depois vinha Pitanga que só tinha nome, onde nasceu meu irmão, Joaquim Viana Pereira. Depois embrenhavam pelo Picadão e saiam aqui, que era uma imensa clareira, só campo, sem matas”, um imenso cerrado, “com sabor de paraíso de tão lindo e diferente que era”, no espigão entre o Rio do Campo e o Ribeirão 119. 
“Muitos primos meus nasceram pelas estradas mesmo, nas carroças e nos carro de boi ou nas vilas onde a expedição parava prá refazer as forças, ou em qualquer lugar que as mulheres grávidas se apuravam e ganhavam os nenéns sozinhas, sem recursos. As mais velhas ajudavam, com gamelas de água quente e muitos panos,  as mais novas. Era assim a luta”, conta dona Deolinda. “Comigo não foi diferente. Depois eu te conto o que me aconteceu no primeiro parto... espera... deixe eu me preparar. É segredinho!!" (rindo).

Campinho - A primeira morada dos pais de dona Deolinda no rancho onde ela e mais sete, dos 12 irmãos, nasceram - José, João, Dorico, Joaquim, Salvador, Sebastião, Ana, Maria, Leondina, Florzina e Marcolina - foi na região do Campinho, à margem esquerda do Ribeirão 119, “prá lá da Santa Cruz e ia até o Rio da Lagoa Seca (Peabiru)”, recorda. Do lado de cá era o Campo: “pegava as terra desde a Santa Cruz, as do campo da aviação e ia até perto do Campo Bandeira, antes do Rio do Campo. Moramos por ali também, perto do toldo do Índio Bandeira”, descreve. 
Lembra bem da estradinha que cortava o trecho em diagonal e dos lugares de referência, “porque desde os dez... doze anos eu fazia trabalho de homem. Tocava carroça e montava a cavalo, mas nunca de perna aberta, montava de ladinho” (risos recatados). Apartava e reunia o gado. Tirava leite das vacas. Tratava dos animais. “A gente tinha lavoura, muita cana, cafezal, milho e horta grande. Até carneiros e porcada de engorda”, relembra.

Venda e compra - O comércio mais perto era Guarapuava e mais tarde Pitanga. “A primeira venda de comércio geral no Campo, papai instalou por perto do atual Bradesco... onde é a cidade hoje era um carrascal de inhambu, perdizes, lagartos, cobras e muitas frutinhas... existia uma estradinha que entrava por dentro da água do Rio do Campo no encruzo pra Roncador, atravessa esse meio e ia até a Santa Cruz, passava a água do Dezenove e ia até Peabiru. Aqui no centro, em 1930, eu era mocinha, lembro que tinha só três casas (ranchões) na beira da estradinha e, mais nada, nem o desenho das ruas...  nada”, recorda. 
As mercadorias vinham de carroça de Guarapuava até Campos do Mourão. “Os mantimentos prá vender daqui prá lá, iam tudo de cargueiro em tropas de dez... vinte... trinta mulas”, que viajavam soltas e seguiam o sinoeiro (som do sino ou badalo) pendurado no pescoço da égua madrinha. “Tinha o puxador da tropa, que quase sempre era um piá (garoto). Ele ia na frente chamando e jogando punhadinhos de milho que levava no bornal pendurado de atravessado no ombro e a porcada atrás.  Junto com a tropa iam alguns donos das mercadorias, que levavam prá vender as deles e também as dos outros; comprar o que fosse preciso e pedido pelos vizinhos daqui. Eles se ajudavam em tudo. Parecia uma família só,  em ranchos apartados. Com tempo bom a caravana ia e vinha em um mês, mais ou menos”. Quando chovia muito, demorava quase sessenta dias e o “necessário” faltava. Não tinha pontes. 
“Várias vezes vi minha mãe usar água de leite coalhado ou a água (soro) do queijo prá salgar as comidas. Ela sempre dava um jeito nas dificuldades e tudo que sei, que reza à mulher, aprendi com ela”, recorda feliz.

Produtos - Na década de 1900 o forte da produção em Campos do Mourão era a rapadura, melado, açúcar mascavo (escuro) e o refinado (branquinho). “Este açúcar especial, só nós fazía nas formas de madeira”. A região produzia ainda, milho pros animais e galinhas, café e arroz que eram descascados no monjolo ou socados no pilão. “Tinha uma mesa tosca... grannnde... no terreiro de casa, com bancos em volta. Ali, mamãe, eu e minhas irmãs escolhia, com as pontinhas dos dedos,  sacos e sacos de café igual a gente escolhe feijão antes de lavar e cozinhar pra família. Tirava os grãos estragados e outras sujeiras que tinha no meio. Homem não catava pra não se misturar com as moças, podia sair besteira. A gente vendia ou trocava por outros mantimentos, nosso arroz e nosso café, limpinhos e descascados. Era tudo baratinho. Um pouco nós torrava numa panela tapada e moía prá tomar em casa. I quador era de flanela. Era tudo na mão, grãozinho por grãozinho... dias e dias de catação. Nós ficava reunida e conversava bastante. Gosto muito de conversar. Falam que sou tagarela demais, não acha?” explica sorrindo.

Ferrão - “Num carro de boi, todo de madeira... tinha até as rodas que cantavam... choravam.. que a gente ouvia de lonngee... no nosso eu carreguei muita cana (de açúcar) prá Água da Jacutinga, até o Campo Bandeira onde tinha moenda movida a cavalo (rodava o dia todo) e alambique de   fogo"

Abertura da terra - "Meu pai estava derriçando 75 alqueires de terra em mata virgem, no machado. As árvores eram enormes . Ali por perto morava a família dos Mateus” (Ernesto Martins Tavares). “Papai montou um engenho de açúcar... depois o alambique prá fazer cachaça e eu ajudava no transporte de umas baitas cargas de cana. Levava, na mão, o ferrão." (vara longa, pouco mais grossa que um cabo de vassoura, com uma ponta de ferro). 


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Os perigos
- “De casa até o Rio do Campo papai ia no cabeçário das juntas de bois na canga guiando e aboiando - dando ordens aos bois - aos gritos. Eu ia de um lado e do outro, no pé, dando umas corridinhas em volta do carro... chamava, cutucava e tocava os bois. Eram lentos demais. Atravessava as pedreiras nos lajeados de água rasa do rio. Nessa hora eu, com medo de rodar rio   abaixo, subia e sentava laaaaá em ciiiima da carga de cana. O boi guia, mais manso, chamava Cravinho. Os outros eram ruões (meio amansados). O ferrão servia prá cutucar e  estimular os bois a andar e prá me defender dos brabos (bravos). As vezes eles investiam na gente... eu tacava o ferrão prá me livrar das chifradas. O ferrão de papai tinha uma correia de couro, estreita e comprida para alcançar e bater nos bois igual chicote. A estradinha pro Barreiro das Frutas era péssima. Era comida pela chuva e esburacada. Tinha hora que parecia que o carro e eu ia virar com tudo. Balançava práaa lá e práaa cá. E eu, laaaá em ciiima das canas... o chão ficava laaaá em baiiixo, mas nunca tombou.” (sorri com um arzinho de medo).


 
Segunda Via

Casamento - “Minha mãe casou com doze anos. Namorei com 18 e casei com 19 no civil, na casa de papai, com o Norberto Alcântara Padilha (gaúcho de Júlio de Castilho)”. A cerimônia foi realizada dia 10 de fevereiro de 1934, pelo Juiz de Paz, seu Ernesto Martins Tavares e o pelo Escrivão de Guarapuava, Laurindo Borges, que vinha a cavalo. Testemunhas: Avelino Blãn e Sebastião Inácio de Faria. “Teve duas festas nesse dia. Baile numa sala e fandango (cantoria) na outra”. O patriarca, Luiz Pereira da Cruz, gostava de cantar e tocava viola (12 cordas). “Papai reuniu os cantadores e violeiros que ele mais gostava: Robertinho, Augusto, Napoleão e o Marcolinho. Esse último era daqueles violeiros que quando ponteava (dedilhava) as cordas e cantava, a mulherada até chorava. Mas eu nunca chorei, viu?! (ri, dando uma de durona).

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Milagres – A Santa Cruz já fez milagres para muitas pessoas. “Antes tempos as mulheres com problema de ganhar criança, faziam promessas. Depois da dieta, de onde estivessem, caminhavam longas distâncias, com pedras na cabeça ou o filho num braço e a pedra no outro, para depositar no pé do Cruzeiro de Cedro Sagrado. Quando tinha dor de dente – e eu fiz isso - enfiava umas pedrinhas de beira de rio na boca, ia até lá, cuspia no pé do Cruzeiro e sarava. Acredita? - Olhe aqui. Faz  pouco tempo quebrei o tornozelo direito. Fiquei ruim, engessada, sem andar mais de um mês. Médico nenhum deu jeito. Tava cada vez pior, inchado e roxeando. Ai minha sobrinha (Isabel) fez um bonequinho (molde) do meu pé, com cera de abelha: colocou esse pezinho lá na gruta da Santa Cruz, rezou, pediu e eu sarei. "Olha bem!!" - mostra a cicatriz acima do pé direito curado. Bate a sola no chão e garante que não sente dor nenhuma.

Virgens – “Só as moças purinhas casavam de branco no dia que o padre vinha láaa de Guarapuava até aqui, na Santa Cruz. Eu mesma casei de roupa comum porque já tinha me casado no civil e era mulher feita”, explica os hábitos. 
Outras senhoras casavam grávidas, com filho no colo ou segurando na mão. “Aproveitavam casar e já batizavam com os mesmos padrinhos das duas cerimônias. Era tudo muito simples”. 
Acontece que o padre vinha de Guarapuava, a cavalo, “uma vez cada ano... dois anos... prá celebrar a Missa da Ação de Graças (Festa da Colheita) no segundo domingo do mês de maio. Eu mesma, fui batizada e casei ali na Santa Cruz”, diz emocionada.

O segredinho – “Agora deixe eu te contar o segredinho que prometi". "Como te disse, meu pai abriu 75 alqueires de terra prá cá do Barreiro das Frutas, ali pelo Campo Bandeira. Depois de casada ele comprou 22 alqueires de mata fechada, palmitos... perobas dessssa grossuuura. Meu marido e eu fomos com ele abrir roça nessa terra lá no Sertãozinho (Engenheiro Beltrão)” e Deolinda, recém casada, engravidou pela primeira vez. 
“Eu não entendia dessas coisas. Pensei que era barriga d'água. Os mais velhos não ensinavam porque tinham vergonha de tocar no assunto”. "Deu nove meses, eu buchuda e nada". “Eu sentia muitas dores e não nascia ninguém... Nessa fazenda não tinha quase mulher. A maioria era homem. Eu querendo ganhar neném e aquela homarada por ali. Não tinha prá onde ir. Me escondi num paiol bem afastado, abandonado, deitei na tábuas, fiz forrrça e... naaada!!.. doía e eu gemiiiaaaaa, mas não gritava!! - Meu marido ouviu minha agonia. Correu chamar uma parteira velhinha, dona Mariquinha, que fez de tudo que sabia... me judiou... me machucou.... e o trem saiu!! - Era um aborto. Perdi. Tive muita hemorragia, cólicas depois. Coisa horrível. Quem me curou, com benzimentos, foi o seu Manoel (Padilha), que trabalhava com meu sogro”, conta aliviada a terrível passagem.

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Caiu do cavalo – “Duas vezes eu cai feio. Um dia eu tava passeando com meu marido, o arreio tava frouxo e rodei prá baixo do cavalo com sela e tudo. Ele (cavalo) girava desesperado...assustado e.. eu...dependurada, quase arrastando a cabeça no chão. Até meu marido apear e me acudir, foi uma eternidade. Meu cabelo sujou tudo”, explica Deolinda. 
“Um outro dia, quando a gente tava indo prá Sertãozinho - acho que já tava grávida e fiquei agoniada de novo - papai me deu um cavalo passarinheiro (medo de passarinho) que volta e meia vaqueava (refugava). Assustava com qualquer coisa... até com a sombra. De repente, sem eu esperar, ele deu um pinote (pulo) e eu voooeiiii da cela... me espatifei no chão.. de costas... esparramaaada”... (risos). 


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“Eu até dominava os cavalos. Montava bem. Era de ladinho. Sela prá mulher era diferente. A gente vestia anáguas e aquelas saionas até nos pés. Mostrar o tornozelo era um escândalo... a gente usava botinhas... deixava os homens curiosos”... (riso encabulado). 
A sela era arredondada. Atrás tinha encosto. Em cima tinha dois selins curtos e verticais, “onde a gente enroscava a dobra de dentro da perna (atrás do joelho). Só tinha o estribo esquerdo prá gente por o pé e se firmar. Existia homens gentis e eu gostava disso... que nos davam as mãos para desmontar. Era chique!!!...(rindo muito). “Prá montar eles juntavam as mãos com os dedos entrelaçados e faziam uma escadinha. Eu segurava no cepilho da sela, punha o pé direito ali nas mãos do cavalheiro, dava um impulso meio de costas e, puffft.. sentava certinho. Prá montar sozinha, tinha que encostar o cavalo na cerca, num toco ou no barranco, era uma ginástica.” - (rindo muito).

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Bicharada – “No começo de 1900 quando a família Pereira entrou, isso aqui era sertãozão bruto”. A luta do homem 'inteligente' contra a natureza selvagem. “Muitos parentes e conhecidos meus morreram de picadas de cobras”. As mortais eram a jararaca, a cascavel e a urutu cruzeiro. “A jararaca é bem pequena... ligeira e não erra o bote. A cascavel guiza (barulho de guizos) antes de atacar e a urutu tem uma cruz branca na cabeça e só pica se você pisar ou pegar nela, Antes do ataque ela empina e vem!”, identifica dona Deolinda. 
“Outro perigo eram as onças, que atacam por trás. Elas tem medo da gente mas não perdoam os animais de criação. Mas, os bichinhos que mais matavam pessoas eram os mosquitos da maleita (malária)”, transmissores da febre amarela. “Aqui se tomava muito quinino contra a maleita. Um chá adocicado no começo e amargo no fim...argghhh”......(risos). 
“Cada animal tem um jeito de matar a presa. A onça é na hora, pega pela nuca, mas ataca só prá comer, prefere carne quente e depois que esfria abandona a carcaça. A jararaca mata em 24 horas. A cascavel em dois... três dias, assim, igual a urutu. A maleita mata até em um mês de febre alta e tremedeira no corpo, que o doente tem que deitar no chão prá não cair da cama, porque fica pererecando e variado (inconsciente). 


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"Como não tinha farmácia e nem médico, se curava com ervas, paus e cascas do mato. Essa carqueja amargosa, que tenho no quintal, com picão curava tiriça (hepatite). Com o pico-pico cozido na água dava banho nas crianças prá tirar as coceiras (alergias) do corpo. Arruda esfregada na cabeça, matava os piolhos. Berne e bicheira (larva de moscas), na pele da gente, tirava com o fumo amassado com sabão de cinza amarrado com um pano em cima da ferida, bem apertado”. 
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"Naquele tempo havia a creolina (desinfetante creosotado) 
que era mais prá curar bicheiras e carrapatos dos cavalos e bois." 

Sabão fedido - “O melhor remédio de todos, pro corpo inteiro, era o sabão de cinza, feito de dequada (água passada através da cinza ensacada, gota a gota), restos de barrigadas e carcaças de animais. Não se perdia e nem jogava nada fora. Punha no tacho, cozinhava bem o dia inteiro até virar uma pasta grossa, depois cortava em pedacinhos e estava pronto o sabão. Era fedido mas lavava tudo muito bem: louça, panelas e roupa. No banho, depois do sabão, tomava outros banhos só de água, sem o sabão, daí sumia a catinga” - revela dona Deolinda. 


As curas - “Como não tinha médico, quem curava eram os benzedores e curadores, com rezas e remédios que só eles conheciam e sabiam fazer. As rendeduras (distensão muscular e dores internas) minha mãe mesmo costurava (curava). Fazia primeiro um teste num potinho de barro prá saber se a pessoa não estava fingindo. Se a dor era verdadeira, aí ela invocava a reza e costurava um paninho, com agulha e linha no local da dor, e a pessoa sarava da rendidura”, garante dona Deolinda.

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Porca-cadela - “La no Sertãozinho nós morava num ranchinho de pau, chão de terra batida e coberto de folhas. Sem nenhum conforto. Dormia numa tarimba (cama feita de paus finos, suspensos por forquilhas de árvores). O rancho só dava cobertura e sombra... segurança nenhuma. O fogão era um oco (buraco) no chão. Eu cozinhava em cima dos tição e das brasas. Equilibrava chaleira. panelas prá não entornar (virar) o caldo e as comidas. Eram todas de ferro preto”. As galinhas, cachorros, até porcos entravam e saiam do rancho, sem cerimônia. “Eu criei uma leitoa que perdeu a mãe. Ela se esfregava e andava no meio das minhas canelas... me provocava pra eu passar a mão... prá agradar ela. Quando chegava gente estranha ela avançava e mordia igual cachorro. Nunca vi isso na minha vida” - (risos). 


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Ataque da onça - “Uma tarde quente, depois de almoçar, peguei a trochinha e fui lavar roupa no córguinho (riacho)... uns cem metros do rancho. Nem bem cheguei. láaa do meio do mato escutei a porca gritar desesperada, de dentro do palmital, onde ela ia com os filhotes comer coquinhos de palmeiras. Voltei correndo e berrei pro meu marido que a onça tava matando minha leitoa de estimação. Lá do meio da roça ele correu na casa de um vizinho que tinha uns cachorros onceiros. Dali umas duas horas escutei o latido agoniado da cachorrada acuando a onça... ouvi os tiros no palmital... péee.. péee... - não demorou muito o caçador veio arcadinho. com ela nas costas e jogou a bichona (onça) morta, no nosso terreiro. Mas a porca e os quatro leitões, ela matou e estava comendo um quando ele acertou o chumbo nela. Depois tiramos o couro da fera com a faca e dei pro meu cunhado que caçava muitos animais por aqui e vendia os couros em Guarapuava”, diz com tristeza, ao lembrar da porquinha que mais parecia uma cadelinha.

Solidão – “Do meu casamento nasceram 14 filhos. Quatro morreram. Sobreviveram a Maria (casada com Sebastião de Oliveira), José (Laci filha do Jacinto), João (com a prima Tereza Padilha), Ana (com o primo Leônidas Teixeira), Eduardo (Maria Müller), Severo (Valta, filha da Ephigênia), Lurdes (Eduardo Galeski), Iraci (João Biazon), Santos (Laurete Santos) e Paulo (Ivani).  

2002 - Hoje Dona Deolinda tem 35 netos e 30 bisnetos. “Com toda essa familhagem  estou com idade pesada, adoentada, não consigo andar firme... vivo nessa casa bonita, sozinha. O Santos pára comigo mas viaja muito a serviço. E assim vou vivendo. Tenho uma pensão (aposentadoria) que meu marido me deixou. Gosto muito de assistir televisão e conversar e não tenho com quem. Tudo que a gente tinha, quase a metade de Campo Mourão, perdemos, até as fazendas que meu marido abriu no Mato Grosso, por falta de registro. A gente não entendia disso e os grileiros se aproveitavam”, lamenta dona Deolinda.

Nunca mais – “Durante toda minha vida trabalhei no pesado e sofri demais. Não quero nunca mais voltar atrás. Era ruim. Hoje tenho um confortinho. Vivo no meu cantinho. Fico faceira quando vejo Campo Mourão se desenvolver... muita gente bonita e nova que nem conheço, mas um povo muito trabalhador. Fiz 87 anos e me sinto forte. Com fé e saúde vou aos 100 anos”, concluiu sua história, a simpática e amável senhora mourãoense, Deolinda Luiza Pereira Padilha, que nos recebeu de braços abertos e nos convidou para voltar,  tomar um cafezinho, e prosear... - "quando você quiser !!"
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2002 - Vista parcial de Campo Mourão

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Fuiii....

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