21/04/2019

* Correio Aéreo em Campo Mourão


Na década de 40/50, vez ou outra pousava, no campo de aviação de Campo Mourão, um avião  monomotor (Curtiss) do Correio Aéreo Nacional, pilotado pelo coronel aviador da Força Aérea Brasileira - FAB, Geraldo Guia de Aquino (foto). 
Na bagagem, trazia correspondências, revistas, jornais (datas atrasadas) e projetava filmes da época na descampada praça da futura cidade em seu nascedouro, na qual demonstrava interesse em adquirir terra e por aqui se fixar ao final da sua carreira militar, incentivado pelo seu colega Cap. Renato Romeiro Pinto de Mello e pelo safrista e líder comunitário, Francisco Ferreira Albuquerque (Tio Chico) que já estavam em Campo Mourão. Cap Renato em terra titulada, doada pelos Teodoro e Custódio de Oliveira, em Cruzeiro do Oeste - PR e dono de empresa de transporte coletivo, linha Campo Mourão/Maringá - Expresso do Campo. Francisco Albuquerque tinha casa de comércio na vila e cultivo de café na Fazenda Figueira, entre Terra Boa e Engenheiro Beltrão, além de safrista de suínos.
Campo do Gavião - Aviões como este Curtiss e outros do mesmo porte começaram a pousar em Campo Mourão depois que as turmas voluntárias orientadas por João Rodrigues Monteiro (João Bento) explanaram o terreno onde ainda está a pista do Aeroporto Municipal 'Cel. Geraldo Guia de Aquino'. 

Curiosidade - Quando chegava uma aeronave, avistada de longe pelo barulho, a população, ainda reduzida, corria a pé ou a cavalo até o aeroporto para ver de perto e tocar nos aviões. Os pilotos eram considerados heróis, de muita coragem por voar naqueles teco-tecos que tinham a vantagem de serem leves e que, quando falhava o motor, planavam demoradamente no ar, o que, salvo gravidade maior, dava um tempo ao aviador para escolher onde aterrizar ou cair sem morrer.


 
As pessoas, em mutirão, fizeram derrubadas e destocas no machado, enxadão e aplainaram a terra com enxadas e rastelos. Francisco Albuquerque (Tio Chico), dono do único caminhão da época, levava a turma pela manhã e a tarde buscava. Antes de retornar á cidade, com o pessoal todo na carroceria do seu Ford-F8 para aumentar o peso, rodava e fazia vários vai-vem sobre a pista a fim de firmar (socar) a terra fofa e poeirenta.

O local ficou conhecido por Campo do Gavião, tendo em vista a existência dessa ave em quantidade por ali. Era de cor branca, com cauda e asas escuras nas bordas (pontas), que pairava no ar batendo as asas, passarinhando por vários minutos a procura de caça (ratos, cobras, lagartixas). Localizava a presa, embicava, dava um rasante veloz e raramente errava o bote. Hoje em dia, as vezes, um gavião branco solitário é avistado na região do seu antigo habitat natural. Os pioneiros supersticiosos acreditavam que onde o gavião pairasse, batendo as asas, na casa mais próxima abaixo dele, era sinal que alguém dali iria morrer, mas esta crendice nunca foi comprovada. 

Cinema na Praça - Toda vinda do Cel. Aquino era uma festa. Ele armava um cinema ao ar livre na descampada Praça 10 de Outubro (atual Getulio Vargas); pregava duas ripas de pinho nas laterais da carroceria de um caminhão na parte da frente e, nelas, esticava e prendia um lençol branco, com percevejos (taxinhas), que servia de tela. O projetor de filmes era movido a energia elétrica, mas Campo Mourão não tinha. Macaqueavam o caminhão até desencostar as rodas traseiras do chão. Colocavam uma correia no pneu e na polia do gerador de um motor estacionário. Ligava o motor do caminhão, a geringonça girava e os filmes eram projetados (Charles Chaplin, Gordo e o Magro, Tarzan, Três Patetas e documentários sobre a II Guerra Mundial) que recentemente havia acabado (1945), todos branco e preto e alguns mudos, mas musicados. Como a energia era alternada, não raras vezes travava os rolos e queimava a fita de celulose. Emendavam com fita adesiva (durex), esmalte de unha ou acetona, demorava para colar, mas continuava a projeção. 
Muita gente ia ver, em pé ou sentados na terra o tempo todo, pois não tinha bancos. Com medo de pegar fogo no lençol, atrás ficava um piá com balde de água e umedecia o pano chapiscando água com os dedos das mãos até terminar a sessão. No fim o Cel Aquino o compensava com uma moeda amarela do tempo do Cruzeiro.
As apresentações ao ar livre se renovavam, sempre com novidades cinematográficas, uma vez por mês, tempo da volta do Correio Aéreo Nacional.
Antes do aeroporto de Campo Mourão, os aviões (teco-teco) aterrizavam nas ruas e avenidas sem postes ou na praça, mesmo quando foi terraplenada e virou campo de futebol e de aviação.

Cap Renato de Mello, Cel Ghia de Aquino, Francisco Albuquerque, Elias Xavier do Rego, 
Mr Forrest e Belim Carollo - inspeção da FAB no aeroporto de Campo Mourão - 27-07-1947

 
Cel Aquino realizou o teste de voo no primeiro avião feito no Brasil, 
o Muniz M-7, em 1935. 

Destinado ao treinamento primário de pilotos,  Muniz M-7 foi o primeiro modelo fabricado em série no Brasil. Em 1934 o major do Exército, Guedes Muniz, decidiu projetar uma aeronave leve  de  dois lugares para treinamento: um monomotor potente, biplano, com estrutura de madeira.

  
Muniz M-7 PP-TEN

plane GIF
Teco teco sem piloto

 
Cruzeiro, moeda corrente em Campo Mourão,
 da época do Cel. Aquino

2 comentários:

  1. Ler e ver os primórdios nos engrandece.

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  2. Bom saber que gostou. Nossa História é muito rica. Tentamos resgatá-la, com auxílio e incentivo das pessoas amigas. Grande abraço !!

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