“Moço, minha vida é um conto de fadas. Dá para escrever um livro e fazer um filme. Sou uma Cinderela do Campo sem sapatinhos de cristal. Sempre teci meus vestidos, desde mocinha. Eu fazia de tudo em nossa casa, mas detestava tirar água do poço e lavar roupas. Uma porque o poço era muito fundo e outra porque a poeira encardia tudo, por demais. Era muita mão de obra pra mim. Mas veja como é engraçado: não gostava de tirar água e hoje sou uma mergulhadora profissional além de costureira da alta (sociedade). Chegamos em fins de 1935 a Campo Mourão e passamos a residir em Curitiba a partir de 1955. Vivi meus melhores 20 anos, inesquecíveis, no Campo, sempre cercada de sólidas amizades, muito carinho dos meus amados irmãos e irmãs, além do amor dos meus adorados pais. Graças a Deus eu só tenho a agradecer pela vida maravilhosa que vivi em Campo Mourão” - agradece.
Minhas Origens
Na Lapa – Dia 10 de outubro de 1901 nasceu Francisco Ferreira Albuquerque, filho de Manoel Ferreira Albuquerque e Ana de Oliveira. Francisco era irmão de Idalina, Gracilina, Sebastiana, Olímpio, Maria de Jesus, Narciza, Joaquina, Maria de Lourdes, César e Luiz. Estudou até rapazinho e logo começou a trabalhar, saindo de casa em busca de seu ideal promissor.
Anita era irmã de: Nito, Matilde, Ivannové, Adélia e Íris. O patriarca Francisco Gaspari trabalhou duro na construção da estrada de ferro São Paulo/Santa Catarina. Casado, fixou residência em Ponta Grossa, onde nasceu Anita. Depois mudaram-se a Porto União - PR, divisa com Santa Catarina, onde nasceram os demais membros da prole Gaspari/Garbelosi.
Família Darbelossi Gaspari de origem italiana.
Anita é a mais alta, à direita nem sonhava com Campo Mourão.
Olha o cuidado da vovó Luíza em agasalhar as crianças. Além do pão na cesta; o vinho na mesinha e nas taças pra aquecer o corpo no inverno dos Campos Gerais do Paraná. O revólver na cintura - instrumento de defesa - fazia parte do traje e a espingarda no ombro pra caçar. O tempo esquentou e o vovô Francisco pendurou o paletó na árvore, sem largar o copo de vinho. A caçula não esqueceu as bonecas.
Mudança - Em 1919 o jovem Francisco Albuquerque deixou a Lapa. Mudou-se para Porto União onde trabalhou na difícil função de rádio telegrafista na estação de trem, contratado pela empresa de transportes ferroviários (Rede Viação Paraná Santa Catarina - RVPSC) e ali conheceu a menina Anita Gaspari, que havia se mudado de Ponta Grossa, com sua família. Meu avô Francisco Gaspari trabalhava na mesma rede, na construção de estradas de ferro.
Mudança - Em 1919 o jovem Francisco Albuquerque deixou a Lapa. Mudou-se para Porto União onde trabalhou na difícil função de rádio telegrafista na estação de trem, contratado pela empresa de transportes ferroviários (Rede Viação Paraná Santa Catarina - RVPSC) e ali conheceu a menina Anita Gaspari, que havia se mudado de Ponta Grossa, com sua família. Meu avô Francisco Gaspari trabalhava na mesma rede, na construção de estradas de ferro.
Casamento de Francisco Albuquerque com Anita Gaspari
Casamento rápido - Enamorados, logo se casaram. Ele com 18 e ela com 14 anos, órfã de pai desde os 12, o qual foi vítima de emboscada noturna preparada para matar outra pessoa. O autor dos disparos da arma de fogo, que se achava traído e queria vingança, era companheiro de trabalho de meu avô e o baleou mortalmente, por terrível equívoco.
A Vovó Luiza, viúva, nunca desanimou e seguiu sua luta no comando dos negócios da família: criou e educou seus seis filhos, com esmerada dedicação, em Porto União. Por suas competentes habilidades, todos tiveram bons trabalhos, principalmente em cartórios. Nito foi cartorário em Porto União. Evannové em União da Vitória. Íris em Poço Preto. Já, a Matilde, foi modista de alta costura enquanto a tia Adélia casou-se muito bem, com o capitão-médico do exercito nacional, João Maria de Almeida, que serviu na embaixada brasileira dos Estados Unidos, no segundo governo do presidente Getulio Dornelles Vargas. A senhora Luíza - contava minha mãe - era mulher muito delicada e bondosa, mas firme na educação familiar, tanto que teve a felicidade de ver sua prole bem sucedida, haja vista a coragem e exemplo de humildade e caridade da filha Anita desde seus tenros 14 anos quando, já casada, durante uma viagem de trem recebeu a luz divina e realizou, com êxito, o primeiro parto de milhares que viria a fazer.
1º Parto foi no Trem - Este foi feito no assoalho do vagão de passageiros, com a composição em movimento e viajando rápida sobre os trilhos. Pediu, educadamente, que as pessoas que viajavam ali fossem até um outro comboio e prontamente socorreu a jovem mulher que entrou em trabalho de parto na viagem e, assim, selou com Deus, seu primeiro apostolado da prática do bem que seguiu a fazer com amor e caridade, enquanto teve forças, por toda sua vida coberta de bênçãos. No improviso do não previsto nascimento naquele momento, rasgou parte da barra do seu vestido longo e com esse retalho agasalhou a criança. Depois a mãe fez sua parte auxiliada, carinhosamente, pela minha amada mãe Anita, que só orgulho e bons exemplos nos deu.
A criança, uma menina, chorou, mamou e dormiu profundamente depois do esforço para vir ao mundo. Parecia sorrir e feliz, contava nossa mãe.
1º Parto foi no Trem - Este foi feito no assoalho do vagão de passageiros, com a composição em movimento e viajando rápida sobre os trilhos. Pediu, educadamente, que as pessoas que viajavam ali fossem até um outro comboio e prontamente socorreu a jovem mulher que entrou em trabalho de parto na viagem e, assim, selou com Deus, seu primeiro apostolado da prática do bem que seguiu a fazer com amor e caridade, enquanto teve forças, por toda sua vida coberta de bênçãos. No improviso do não previsto nascimento naquele momento, rasgou parte da barra do seu vestido longo e com esse retalho agasalhou a criança. Depois a mãe fez sua parte auxiliada, carinhosamente, pela minha amada mãe Anita, que só orgulho e bons exemplos nos deu.
A criança, uma menina, chorou, mamou e dormiu profundamente depois do esforço para vir ao mundo. Parecia sorrir e feliz, contava nossa mãe.

Nada de tempo ruim - Lembro tudo perfeitamente - eu era bem pequena e curiosa. Gravava fácil, tudo na memória e nada se apagou.
Muitas vezes vi minha mãe sair a cavalo, em qualquer hora do dia ou da noite, pelo sertão afora, com pessoas desconhecidas que vinham pedir seu socorro. Chegavam montadas e já traziam outro animal encilhado para ela. Não tinha outra condução individual melhor naquele tempo. Ela cavalgava bem e essa habilidade herdei dela. Não importava se o animal era manso ou bravo, se chovia ou se o tempo estava bom. O que ela queria e fazia, era atender as pessoas que moravam - a maioria - em lugares sem recursos, próximas ou distantes, mesmo que tivesse que atravessar rios cheios, debaixo de chuva torrencial ou tempestades. Não se intimidava. Diversas vezes seguiu, à noite, por carreiros e picadas, sem pensar que podia ser atingida por galhos ou mesmo árvores que caíam pelos caminhos, ceifadas pela força da natureza e raios ou talvez ataca por uma onça no sertão bruto. Seu pensamento se fixava somente em socorrer quem precisava e que estava a sua espera, pedia a proteção de Deus e nada a detinha.
Muitas vezes vi minha mãe sair a cavalo, em qualquer hora do dia ou da noite, pelo sertão afora, com pessoas desconhecidas que vinham pedir seu socorro. Chegavam montadas e já traziam outro animal encilhado para ela. Não tinha outra condução individual melhor naquele tempo. Ela cavalgava bem e essa habilidade herdei dela. Não importava se o animal era manso ou bravo, se chovia ou se o tempo estava bom. O que ela queria e fazia, era atender as pessoas que moravam - a maioria - em lugares sem recursos, próximas ou distantes, mesmo que tivesse que atravessar rios cheios, debaixo de chuva torrencial ou tempestades. Não se intimidava. Diversas vezes seguiu, à noite, por carreiros e picadas, sem pensar que podia ser atingida por galhos ou mesmo árvores que caíam pelos caminhos, ceifadas pela força da natureza e raios ou talvez ataca por uma onça no sertão bruto. Seu pensamento se fixava somente em socorrer quem precisava e que estava a sua espera, pedia a proteção de Deus e nada a detinha.
Cuidados com os filhos - A única preocupação da nossa prestimosa mãe ao sair, era nos recomendar a Deus e pedia para que não pegássemos tesouras e nem facas de ponta, para não nos machucarmos durante sua ausência. Muitas vezes ela não voltava para dormir. Passava a noite ao lado da paciente, quando o parto era difícil. Ao voltar para casa, depois de uma noite e um dia no lombo de cavalo, mal alimentada, cansada e com sono, ainda reunia forças e dava conta dos seus afazeres domésticos e do trato da filharada. Só depois ela parava para descansar um pouco, sem reclamar e sem nos proibir de nada. Assim a vida seguia no sertão que escolhemos por morada. Era o grande sertão dos Campos do Mourão que ainda, na década de 30, apenas um ponto distante no mapa de Estado do Paraná, onde se lia na legenda: caminhos não carroçáveis, que trilhamos inúmeras vezes, a pé, no lombo de montarias ou em barulhenta e sacolejante carroça.
Adalbrair Albuquerque: Eu gosto de montar desde pequena.
Comecei com o Petiço depois cavalos maiores
até aprender a dirigir.
Mulher destemida - Mamãe era uma pessoa forte, de muita boa saúde, por demais prendada e decidida. Aprendeu muito com minha avó Luíza. Fazia deliciosos pães assados em forno de barro e a lenha construído no terreiro, que eram vendidos em nossa casa de comércio que papai comprou do senhor Léo Guimarães logo que chegamos no Campo, em 1937. Ela também costurava para a família e por encomenda, desde roupinhas de bebês até camisas sociais, calças, culotes e bombachas muito usadas na época. Estas eram enfeitadas com faixas de tecido, de cima a baixo na lateral, feitas em forma de favos de abelhas, presos, certinhos, costurados a mão, no capricho para não desmanchar. Eram de brim especial e duravam anos. Os trajes mais chics que ela fazia eram os vestidos de noivas e os ternos masculinos. Com habilidade cortava cabelos e fazia penteados para ambos os sexos, de adultos e crianças. Nas horinhas mais folgadas - coisa rara de acontecer no seu corre-corre diário - confeccionava flores lindas utilizando sobras de tecidos recortados, conservadas por uma fina camada de breu dissolvido. Pareciam de verdade de tão bem feitas.
Educada e prendada - Anita foi uma menina-moça muito bem criada. Finamente educada. Seus pais vieram da Itália, pessoas amistosas de boa vizinhança, classe alta. Casal muito prestativo. Cheguei a ver seus sapatos do casamento. Eram brancos, recobertos da mais fina organza e um escarpã super delicado. Pena que não foi guardado como relíquia. Na época não sabíamos do valor sentimental e estimativo que teria hoje.
Desconforto sofrido - Anita acompanhou todos os passos de Francisco e juntos enfrentaram inimagináveis tipos de dificuldades em terra sem nada e sem dono, mas que nos acolheu e generosamente nos deu tudo. Meus pais deixaram as cidades onde tinham conforto, o aconchego de suas famílias e enfrentaram o selvagem sertão desconhecido; moraram em ranchos desconfortáveis, de chão batido onde imperava o recurso improvisado a começar pelas camas feitas com bambus (tarimbas) ou de paus cortados do mato; colchões de palha de milho, travesseiros e acolchoados de penas, tudo feito a mão, ponto a ponto. Para melhorar o aspecto do chão de terra bruta passava-se cinza de fogão dissolvida com água até formar uma pasta parecida com cimento que chamavam de reboco. A gente ajoelhava e esfregava essa mistura, energicamente, na terra bem socada, em chão duro, no interior do rancho, a mão, com bonecas feitas de palha de milho que pareciam petecas sem penas. Revestia também, as laterais do fogão com barro quando tinha, visto que a maioria cozinhava em fogo de chão. Queimava panelas, como costumam dizer.
Desconforto sofrido - Anita acompanhou todos os passos de Francisco e juntos enfrentaram inimagináveis tipos de dificuldades em terra sem nada e sem dono, mas que nos acolheu e generosamente nos deu tudo. Meus pais deixaram as cidades onde tinham conforto, o aconchego de suas famílias e enfrentaram o selvagem sertão desconhecido; moraram em ranchos desconfortáveis, de chão batido onde imperava o recurso improvisado a começar pelas camas feitas com bambus (tarimbas) ou de paus cortados do mato; colchões de palha de milho, travesseiros e acolchoados de penas, tudo feito a mão, ponto a ponto. Para melhorar o aspecto do chão de terra bruta passava-se cinza de fogão dissolvida com água até formar uma pasta parecida com cimento que chamavam de reboco. A gente ajoelhava e esfregava essa mistura, energicamente, na terra bem socada, em chão duro, no interior do rancho, a mão, com bonecas feitas de palha de milho que pareciam petecas sem penas. Revestia também, as laterais do fogão com barro quando tinha, visto que a maioria cozinhava em fogo de chão. Queimava panelas, como costumam dizer.
1937 - Francisco e Anita
em Campo Mourão
em Campo Mourão
Francisco e Anita Albuquerque em Campo Mourão
Rumo ao desconhecido - Meus pais deixaram Porto União logo que se casaram. Jovens, embrenharam-se através de estreitas picadas, por lugares de matas fechadas, em terra sem dono, totalmente desconhecida, até fazer parada na localidade denominada Barrinha, situada entre Pitanga e Roncador. A irmã do meu pai, Sebastiana (Tiana) morava no lugarejo conhecido por Borboletinha, mais ou menos próxima de meus pais. O tio Rodolfo Bathke casado com tia Idalina Albuquerque irmã de papai, esteve no Campo em 1937, mas não gostou e voltou a cultivar seu sítio e lidar com açougue em Balsa Nova - PR.
Igreja Ucraína de Nossa Senhora da Glória em Pitanga,
no local onde nasceu Adalbrair Albuquerque
Parto a cavalo - Quando minha mãe, grávida, estava para me ganhar, foi montada a cavalo até Pitanga. Vim ao mundo dia 11 de novembro de 1933, perfeita e saudável. Tenho certeza que o local onde nasci é abençoado porque ali foi construída a primeira igreja de madeira e depois a de alvenaria que está até hoje em pé e majestosa. Me refiro a belíssima Igreja Ucraína, com suas torres finamente trabalhadas, apontadas para o céu infinito de Pitanga, enfeitando a principal praça da cidade.

Primeira fábrica - Na Barrinha meu pai montou um monjolo de madeira grossa da melhor cepa, movido à água, onde era socado o milho para fazer farinha, canjica, quirela (que substituía o nosso arroz) e fubá de polenta. Ali se produzia alguns dos nossos principais alimentos sem faltar a abundância de feijão, ovos de galinha, leite de vaca e carne de porco. O que excedia das safras era vendido ou fazíamos barganhas por outras mercadorias, mais freqüente por sal grosso que servia tanto para a gente assim como para o gado. Ainda não existia sal nem açúcar refinado. Uma das principais moedas de troca, aceita como 'dinheiro' nas comercializações, bastante produzida nas engenhocas de Campo Mourão, foram os tijolinhos de rapadura um dos derivados da cana-de-açúcar da qual se extraia o melado, álcool e a pinga de alambique (cachaça).
O monjolo que papai construiu, tenho certeza em afirmar que foi a primeira indústria de transformação de alimentos lá no começo da abertura dessa região. Creio que por ser feito de madeira de cerne, de longa durabilidade, deve estar inteiro, largado na mata, ou alguém o encontrou e não contou nada.
Retomando a prosa: Desculpe, mas me emociono e me sinto feliz em lembrar de tudo isto, apesar que era criança de dois anos antes de mudarmos para Campo Mourão. Na minha memória, após mais de 80 anos, ao narrar esses fatos, passa um filme na minha cabeça como se eu estivesse vivendo hoje aqueles tempos difíceis, porém maravilhosos junto aos meus pais e irmãos. É uma lembrança muito boa de se ter e uma emoção muito gostosa de sentir!
Retomando a prosa: Desculpe, mas me emociono e me sinto feliz em lembrar de tudo isto, apesar que era criança de dois anos antes de mudarmos para Campo Mourão. Na minha memória, após mais de 80 anos, ao narrar esses fatos, passa um filme na minha cabeça como se eu estivesse vivendo hoje aqueles tempos difíceis, porém maravilhosos junto aos meus pais e irmãos. É uma lembrança muito boa de se ter e uma emoção muito gostosa de sentir!
Biju gigante - Vejo minha mãe carregando balaios de taquara, pesados, cheios de massa de milho molhado na véspera para, com as mãos, sem proteção nenhuma, jogar e espalhar a massa em uma grande chapa côncava – espécie de frigideira enorme, com cerca de um metro de diâmetro - muito quente, com fogo forte por baixo. Os movimentos tinham que ser rápidos para não queimar a massa e nem os dedos. Os enormes bijus que se formavam, eram puxados rapidamente da chapona quente, jogados nas bacias ou gamelas e quebrados - apertados - com as duas mãos. Aí estava pronta a farinha de milho (biju) que era guardada dentro de latas bem tampadas e conservadas crocantes. Se controlada, no consumo, durava até a próxima safra. A gente comia no caldo do feijão, com leite natural ou adoçado com mel. Era tudo saudável sem químicas e sem venenos. Antes da colheita os animais, insetos e passarinhos já comiam suas cotas e não fazia falta no grosso da colheita. Chamam esses filhos da natureza de 'daninhos' e ignoram os prejuízos que os agrotóxicos causam aos animais e a nós humanos.
Persistência é a chave - Meus pais, meus irmãos maiores trabalharam duro na terra, sem esmorecer. Começavam cedinho, o dia clareando, e só paravam no final da tarde, na boca da noite. Nem vinham almoçar em casa. Levavam a comida nas panelinhas de tampa, pronta e comiam na roça. Aos poucos as dificuldades em abrir a mata e preparar a terra foram vencidas. As áreas cultiváveis eram pequenas porque ainda não existiam os maquinários agrícolas de hoje. Usávamos ferramentas primitivas: machado, foice e enxada. Era difícil ver uma pessoa que lutou naquele tempo, sem calos nas mãos. A gente se orgulhava de ser trabalhadora da terra. Dessa maneira, com muito trabalho as coisas melhoraram a cada safra e meus pais, quando viemos, já tinham seis filhos, nascidos em Pitanga: Cacilda (Zizinha) a primogênita, o Airton (Tito), Newton, Eunice (Nice), Moacir, eu (Adalbrair) e o Dalmo. Nossa lida principal era fazer safra de milho, criar porcos e gado. Quando a porcada estava gorda – e eram muitas cabeças - papai comprava também as que existiam na redondeza e levava, a pé, com um 'puxador' na frente para vender em Guarapuava.
Zizinha é nossa irmã heroína que nasceu primeiro (Cacilda). Com nove anos começou a tocar porcadas de Pitanga até Guarapuava. Ia junto com papai e os ajudantes. Ela fazia trabalho de gente grande. A viagem demorava uns dez ou quinze dias, com tempo seco. Quando chovia parava tudo. Os rios enchiam e não existiam pontes. Algumas vezes a comitiva e os animais ficavam ilhados. Se acabasse o milho dos cargueiros os porcos poderiam morrer ou perder peso. Nesse caso o prejuízo era certo.
Lavanderia natural - Voltando no tempo, ao riacho da Barrinha, onde mamãe colocava o milho de molho para depois fazer farinha torrada, ali existia um curso de água bem limpinha, uma pequena represa e um pouco mais abaixo foi fixado um pedaço de tábua que servia de ponte para chegar até as pedras ribeirinhas, fora da água, onde a roupa era lavada com sabão de cinza, batida, enxaguada e torcida na água corrente até ficar bem limpa, alvejada e, finalmente, estendida sobre os arbustos até secar. Depois de recolhida, a roupa era lentamente passada com ferro pesado aquecido com brasas dentro; dobradas e guardadas nas gavetas da cômoda e do guarda-roupa. Tudo simples, mas com muito capricho.
A Vaca Corruíra e seu bezerro mamão
também vieram conosco para Campo Mourão
No chifre da vaca - Continuamos a morar ali (Barrinha) mais um tempo e um fato estranho, se não inusitado, curioso e perigoso aconteceu comigo. Com quase dois anos estava eu sentadinha na balandra da porta do rancho que era um pouco alta. Tinha uns três degraus de cepos, desde o terreiro. Me lembro como se fosse agora, deste inesperado ocorrido que abalou minha família por instantes de muita tensão. Eu vestia uma camisolinha branca, de crepe. Estava com os pés descalços para dentro da casa e de costas para o terreiro. Não sei como e nem porque a Curruíra – a vaca mais brava que tínhamos no pasto – enfiou o chifre enorme por dentro da minha roupa, me levantou no ar e saiu correndo pelo pasto bem doida. Eu voava e balançava, pendurada naquele chifrão. Senti medo da minha camisolinha rasgar e eu me arrebentar na terra. Voando daquele jeito, por conta da vaca, vi meus pais e irmãos desesperados na frente do rancho, abismados, sem saber o que fazer a fim de deter a Corruíra e me salvar. Meu pai pensou em laçar a vaca mas ficou com medo da argola de ferro me atingir e até me matar. Pensou em atirar e matar a vaca, mas também poderia me acertar. Imagine o dilema. Sistema nervoso a mil.
Nessa agonia, repentinamente, ela parou de correr e caminhou de cabeça erguida, passadas lentas, comigo no chifre, até parar perto do cocho de ração e sal. Quando ela abaixou a cabeça, como se fosse lamber o cocho, automaticamente deslizei do chifre, suavemente, e fiquei sentada ali, olhando ela se afastar; salvei-me por puro milagre. Deus é bom e sabe o que faz. Com certeza, eu acredito!
Não chorei, nem gritei, só não entendia nada do que a vaca fazia e fez. Meu pai correu rápido até o cocho, me pegou no colo e foi me beijando até o rancho, feliz por eu estar viva e me entregou nos braços de mamãe que me apertava - como se estivesse temerosa de alguém me roubar dela - enquanto me encheu de carinhos e me examinou para ver se tinha algum machucado. Nada, estava sã. A alegria foi geral no rancho todo, naquela tarde inesquecível da corrida maluca daquela vaca que nos alimentou por muitos anos, com o leite mais gostoso desse mundo!
Nessa agonia, repentinamente, ela parou de correr e caminhou de cabeça erguida, passadas lentas, comigo no chifre, até parar perto do cocho de ração e sal. Quando ela abaixou a cabeça, como se fosse lamber o cocho, automaticamente deslizei do chifre, suavemente, e fiquei sentada ali, olhando ela se afastar; salvei-me por puro milagre. Deus é bom e sabe o que faz. Com certeza, eu acredito!
Não chorei, nem gritei, só não entendia nada do que a vaca fazia e fez. Meu pai correu rápido até o cocho, me pegou no colo e foi me beijando até o rancho, feliz por eu estar viva e me entregou nos braços de mamãe que me apertava - como se estivesse temerosa de alguém me roubar dela - enquanto me encheu de carinhos e me examinou para ver se tinha algum machucado. Nada, estava sã. A alegria foi geral no rancho todo, naquela tarde inesquecível da corrida maluca daquela vaca que nos alimentou por muitos anos, com o leite mais gostoso desse mundo!
Em Campo Mourão - Em 1937 viemos morar no Campo. Viajamos desajeitados em duas carroças e a cavalo. A viagem, desde Barrinha, perto de Roncador, até aqui, demorou mais de uma semana. Os sete filhos e mais um adotivo - que mamãe amamentou quando o Newton era bebê - vieram juntos a cavalo. Veio também o surdo-mudo Emílio que se apegou aos meus pais que, com amor e carinho cuidaram dele desde rapazinho até sua morte em idade avançada. Veio ainda, a Maria (Marião) nossa babá. Mamãe viajou com todo esse sacrifício na carroça, grávida do Joel que nasceu em Campo Mourão na primeira tapera que moramos até construir nossa casa perto da Laje Grande.
A Corruíra era de estimação e papai não a vendeu. Veio junto na caravana. Era brava, mas dava um leitinho bom demais! (risos).
A Corruíra era de estimação e papai não a vendeu. Veio junto na caravana. Era brava, mas dava um leitinho bom demais! (risos).
Tapera Velha em Campo Mourão
Quitutes nas cinzas - Lembro-me muito bem da casa velha e acolhedora que primeiro nos abrigou.
Era até bonita no seu estilo, com oitão bem elevado, paredes rústicas de madeira lascada, com muitas frestas, sem mata-juntas. De dia e em noite de luar enxergava-se tudo lá fora. Na frente a cobertura era mais alta e atrás era mais comprida, com descaída que quase tocava a terra. Dentro tinha um cozinha com fogão de chão, com um bojo bem grande, onde se colocava lenha grossa e meio comprida, sem rachar, para queimar devagar durante a noite toda até o dia seguinte porque não tínhamos palitos de fósforo para acender um fogo novo. Se apagasse não haveria comida cozida, nem café, nem chimarrão, nem lampião. Seria um caos. A gente dependia do fogo para quase tudo, igual somos escravos da eletricidade hoje.
Era até bonita no seu estilo, com oitão bem elevado, paredes rústicas de madeira lascada, com muitas frestas, sem mata-juntas. De dia e em noite de luar enxergava-se tudo lá fora. Na frente a cobertura era mais alta e atrás era mais comprida, com descaída que quase tocava a terra. Dentro tinha um cozinha com fogão de chão, com um bojo bem grande, onde se colocava lenha grossa e meio comprida, sem rachar, para queimar devagar durante a noite toda até o dia seguinte porque não tínhamos palitos de fósforo para acender um fogo novo. Se apagasse não haveria comida cozida, nem café, nem chimarrão, nem lampião. Seria um caos. A gente dependia do fogo para quase tudo, igual somos escravos da eletricidade hoje.
À noitinha, no meio das cinzas quentes do fogão, nós colocávamos batata-doce, abóbora e mandioca para assar e no clarear do dia seguinte comíamos aquelas delícias com o café e leite tirado na hora. Isso tudo era cultivo e criatividade de Dona Anita, nossa querida mãe que nunca deixou a peteca cair. Ela sempre se garantiu. Nos cuidou e educou de maneira simples e distinta. Fibra, amor, fé e bondade são algumas preciosidades da herança que ela nos legou e ninguém nos roubou.
O Ermitão calado - Bem perto da primeira tapera que moramos, dentre muitas, havia duas palmeiras onde algumas vezes pousava um ermitão de barba e cabelos longos, respeitado por fazer curas e milagres. Eu via ele lá, mas ele preferia ficar sozinho, não conversava conosco e nem aceitava favores, mesmo que fosse alimento. Ele fazia as peregrinações a pé, pela região e diziam que morava entre as ruínas de Vila Rica do Espírito Santo, próximo de onde está a cidade de Fênix-PR a qual já foi distrito de Campo Mourão. Seu nome era João Paulo, barba e cabelos longos ruivos esbranquecidos e de baixa estatura.
O Ermitão calado - Bem perto da primeira tapera que moramos, dentre muitas, havia duas palmeiras onde algumas vezes pousava um ermitão de barba e cabelos longos, respeitado por fazer curas e milagres. Eu via ele lá, mas ele preferia ficar sozinho, não conversava conosco e nem aceitava favores, mesmo que fosse alimento. Ele fazia as peregrinações a pé, pela região e diziam que morava entre as ruínas de Vila Rica do Espírito Santo, próximo de onde está a cidade de Fênix-PR a qual já foi distrito de Campo Mourão. Seu nome era João Paulo, barba e cabelos longos ruivos esbranquecidos e de baixa estatura.
Tarimbas - Colchão recheado com palha desfiada de milho, era comum em Campo Mourão. As camas eram montadas com quatro forquilhas de pau fincadas no chão de terra e viradas para cima, igual V de vitória, tipo tarimba. Sobre elas eram alinhados e amarrados paus finos de arvorezinhas ou bambus, na horizontal, que serviam de estrado que sustentava o colchão. Matéria prima toda tirada da mata nativa.
O colchão era feito de brim grosso, listrado em forma de um enorme 'saco' cheio de palha bem seca e rasgada manualmente, selecionada das melhores espigas de milho. Bem no centro do colchão tinha uma pequena abertura por onde se enfiava a mão e remexia a palha para afofar de tempos em tempos. Era assim que o colchão ficava sempre muito macio. Por cima do colchão não faltava nunca, o lençol, a colcha de retalhos e travesseiros com penas de galinha e fronhas branquinhas. Quando o colchão era novo, às vezes acontecia de acordar com uma dorzinha pelo corpo, aqui-acolá, devido a algum caroço de sabugo de milho no meio da palha que nos passava despercebido na hora de fazer. Mas pelo buraco a gente tirava o incomodo rapidinho.
Surpresas agradáveis - O que mais amei nos meus dois aninhos de idade, foi quando no dia seguinte à nossa chegada no Campo, bem cedinho, sol dourado nascendo, eu e meus irmãos saímos do rancho e fomos explorar as redondezas e reconhecer o lugar que era maravilhoso. Parecíamos uma pequena ilha, cercada de muitas árvores frondosas e por tudo de bom e bonito que a natureza nos dá.

A primeira maravilha com a qual me deparei foi um enorme pé de lima com tronco e galhos bem lisos, sem espinhos atrás da tapera, carregado de frutas de cor amarela levemente esverdeadas. Não é feio contar, mas meus olhos nunca tinham visto essa planta encantada. Eu não conhecia lima. Essa tinha um galho bem longo, com uns quatro metros de comprimento a poucos centímetros do chão por causa do peso, com muitas delas grandonas e no ponto. Provei, gostei e me esbaldei com as limas suculentas e fresquinhas. Meu prazer foi sentir aquelas frutas suaves e poder pegá-las com minhas mãos. Uma doce limeira me encantou. Imagine que gostoso!
ainda são vistas na Lage Grande de Campo Mourão
O jardim da Laje Grande - Essa casa engraçada que encontramos abandonada, onde moramos no início, ficava a uns 150 metros da Laje Grande de pura pedra que parecia um paraíso enorme com variadas espécies de vegetação e florzinhas rasteiras que só vi ali: miniaturas de samambaias, cactos, colônia cheirosa e caraguatás com flores vermelhas-rosadas que circundavam aquela imensa laje de pedra bem limpinha. Parecia conservada por jardineiro ou zelosa dona-de-casa que cuida de tudo e limpa com esmero. Essa pedra nua e enorme exposta ao sol, sempre quentinha, paraíso dos lagartos, era semelhante a um piso irregular de cimento fino, bastante frequentada por inúmeros lagartos que se aqueciam ali. O local ainda existe, mas não sabemos se preservado ou abandonado, abaixo do Jardim Albuquerque, até o Rio do Campo.
Descobertas - Na mesma semana – primeira em Campo Mourão – começamos a nos aventurarmos cada vez mais longe de casa, conhecer todos os lugares possíveis e delimitar nosso território com pontos fixos de referência a fim de não nos perdermos naquele mundão despovoado.
2017 - Rio do Campo e Salto da Anta Brava
Rio limpo - Depois da Laje nos deparamos com o Rio do Campo. Estava cheio, água limpinha e correnteza forte que despencava do Salto da Anta Brava a alguns metros acima. Era muito linda e ainda está ali.
Antes de mexer e mudar o curso desse importante rio, ele era maior em profundidade e volume de água transparente, tanto que se via no fundo o leito pedregoso. Hoje está todo assoreado, agonizante, sufocado pela água barrenta e suas margens despovoadas da mata e da fauna nativa que mantinha seu equilíbrio. Perdeu a vitalidade ecológica, que ainda dá para se recuperar se houver empenho de proprietários ribeirinhos e dos governantes responsáveis.

Antes de mexer e mudar o curso desse importante rio, ele era maior em profundidade e volume de água transparente, tanto que se via no fundo o leito pedregoso. Hoje está todo assoreado, agonizante, sufocado pela água barrenta e suas margens despovoadas da mata e da fauna nativa que mantinha seu equilíbrio. Perdeu a vitalidade ecológica, que ainda dá para se recuperar se houver empenho de proprietários ribeirinhos e dos governantes responsáveis.

Campo Mourão: Adalbrair, amigas e o irmão Everaldo,
na Voltinha do Rio do Campo
Banhos na Voltinha - Dava gosto de ver e nadar nesse caudal que fornece a água vital e preciosa, paga e consumida pela população mourãoense. Tinha muito peixe: cascudo, saicanga e, principalmente, cardumes de espertos lambaris dos graúdos, que davam uma boa fritada e ficavam saborosamente crocantes. Esses peixinhos que se alimentam de larvas de mosquitos e pernilongos, a gente os pegava em litros e garrafas de vidro presas por um arame comprido amarrado no barranco, com rolha no gargalo e buraco no fundo por onde eles entravam. A isca para atraí-los era farinha de milho.
Pinguela sobre o Rio do Campo
Travessia perigosa - No ponto em que paramos, na margem esquerda do rio, vimos um tronco de pinheiro médio tombado, caído por sobre o rio que ia de barranco a barranco. Alí não tinha ponte. Essa passagem de um pau só era o que chamamos de 'pinguela'.
Sem dar conta das consequências de uma queda e talvez morrer afogada, atravessamos por sobre aquela 'ponte' estreitinha. Pense no perigo!
- Eu era uma pirralinha de dois aninhos, sem noção, mas também era corajosa. Comigo estavam o Moacir, o Dalmo e a Nice, ou eu estava com eles e Deus nos protegendo?
Sem dar conta das consequências de uma queda e talvez morrer afogada, atravessamos por sobre aquela 'ponte' estreitinha. Pense no perigo!
- Eu era uma pirralinha de dois aninhos, sem noção, mas também era corajosa. Comigo estavam o Moacir, o Dalmo e a Nice, ou eu estava com eles e Deus nos protegendo?
Caminhamos por cima da tal pinguela e logo vimos uma serraria à nossa direita, que pertencia ao seu Teodoro Metcheco. Foi a primeira instalada no Campo, habilmente construída por ele e movida por uma grande roda d’água. A bica trazia a água represada do Salto da Anta Brava, uma bela atração turística que está ali até hoje, abandonada e tubulação da bica toda arrebentada. Encantei-me com as pilhas de madeiras serradas, uniformes. Eram altas e bem alinhadas. Mais uma descoberta: nunca tinha visto uma serraria (risos). Era muito linda em todas as suas formas. Parecia um labirinto.
Campo Mourão, Casarão construído por Teodoro Metchco adquirido por João Baptista Perdoncini resiste ao tempo
Bananas - Seguimos em frente cheios de curiosidades; nós quatro em silêncio e observando tudo a nossa volta com muita atenção. Mais adiante vimos uma bela casa onde morava dona Emiliana, esposa querida do construtor Teodoro. Paramos.
Eu, uma caboclinha encabulada. Logo ela apareceu sorridente na porta e foi muito amável conosco. Conversou um pouco, fez perguntas e nós quietinhos. Ela foi até a cozinha e voltou com uma penca de banana-maçã. Mais uma novidade da qual não me envergonho de contar: não conhecia banana. Para mim foi mais uma surpresa. Lá na Barrinha não tinha, ué! (rindo). Foi a primeira vez que comi banana, ainda mais aquelas, bem amarelas e doces. Amei!
Pomar Divino - Além das limas e bananas existia um pomar de frutas nativas um pouco mais perto do nosso rancho, abaixo do jardim natural da imensa pedra da Laje. Avistamos muitas gabirobeiras carregadas de frutinhas amarelas bem doces e pitangas vermelhinhas meio azedinhas; árvores de araçá e araticum além de arbustos de capotas verde-escuras, peludinhas, mas doces.

Cerejeira nativa de Campo Mourão


Cada trança daquelas tinha cerca de 40 cm de comprimento e uns 20 de diâmetro na parte inferior em forma de uma sacolinha onde eu via uma entradinha lateral por onde o casal entrava e saia a todo instante. Eram incansáveis. Ali botavam seus ovinhos de casca azulada e pintinhas pretas, chocavam e criavam seus filhotes, por sinal muito feios quando nasciam: pelados, acinzentados, cabeça grande e olhos pretos esbugalhados, insaciáveis e muito gulosos. Não sei onde os pais encontravam tantos insetos e frutinhas para alimentá-los? Hoje eu sei. Esses pássaros alegres revoavam às centenas quando chegamos a Campo Mourão e palmeiras também tinha em grande quantidade e variadas espécies. Os Guacho começaram a diminuir e, na virada dos anos 50, desapareceram por desencanto.
Macacos não desciam - Os intrincados pinheirais, de Campo Mourão à Pitanga se perdiam de vista. Os galhos encostavam uns nos outros. Os macacos andavam pelas copas, por longas distâncias, sem descer daquelas árvores majestosas que lhes davam segurança e alimento.
Mistérios nos pinhais - Outra dádiva da sábia natureza que eu gostava de procurar e colher de manhãzinha, fresquinhos eram pinhões caídos na relva, que frutificavam nos pinheiros gigantes e caiam das enormes bolas verdes espinhadas (pinhas). Em temporada de chuva os pinhões ficam na vegetação rasteira cintilando igual pedras preciosas de âmbar. Eu os achava pelo pela cor brilhante e colhia muitos. Os macacos, cotias, porcos e gralhas-azuis disputavam os frutos com a gente e outros bichos do mato. Dava para todos e sobrava bastante, tal era a fartura nativa.
Ave semeadora - Depois que enchiam os papos, gralhas-azuis e cutias escondiam pinhões no húmus do solo da floresta, talvez para comê-los depois. A graciosa gralha os coloca em pé, habilmente, com a ponta fina apoiada na terra fofa e bate com o bico na parte mais dura da casca até o fruto sumir em meio a densa folhagem. Dizem que ela esquece o lugar onde escondeu e assim nascem os pinheirinhos. Outros contam que ela enterra para comer no inverno, mas não os encontra mais, e a maioria brota. Talvez seja por isso que quando a pessoa guarda alguma coisa e depois não lembra onde está, é chamada de 'gralha', em tom de brincadeira. Em casa todos gostavam e gostam de pinhão cozido ou assado, uma delícia. Impossível comer só um! (risos).

Gabirova do cerrado de Campo Mourão
Paraíso único - Nas regiões descampadas, de vegetação baixa e campesina, desde onde hoje situam-se o centro urbano, os jardins habitacionais: Albuquerque, Aeroporto, Santa Cruz, Copacabana, Aparecida, Modelo e outros tantos inclusive o grande Lar Paraná, eram repletas de outras variedades de frutíferas plantadas pela Mãe Natureza. Entre elas: amoras brancas e roxas, super doces; pitanga que parecia cereja e gabiroba verdolenga do campo. Entre elas víamos correr lagartos, lagartixas verdes, inhambus, pombas, codornas e perdizes que se alimentam sobejamente dessas frutinhas.
Pavor de cobras -Diziam que onde não tinha lagarto não nascia gabiroba, assim como não nasce goiaba onde não tem passarinho. Porém, nesse meio natural fantástico, não faltavam as danadas das cobras para dar susto na gente. Ainda hoje sinto tanto medo de cobra que até tenho pesadelos com elas. Nossa, me arrepio toda, óóh!
Lembro-me que na cidade que se iniciava, até a curta gestão do primeiro prefeito, nosso amigo Pedro Viriato de Souza Filho, existia muito lagarto que se via nas ruas recém, abertas e muitas grandes cobras: cascavéis com muitos guizos na ponta do rabo; enormes urutus cruzeiro; coloridas corais... só em lembrar, me assusto. A mais mortal era a pequena jararaca. Dessa picada raramente alguém escapava com vida.
Lembro-me que na cidade que se iniciava, até a curta gestão do primeiro prefeito, nosso amigo Pedro Viriato de Souza Filho, existia muito lagarto que se via nas ruas recém, abertas e muitas grandes cobras: cascavéis com muitos guizos na ponta do rabo; enormes urutus cruzeiro; coloridas corais... só em lembrar, me assusto. A mais mortal era a pequena jararaca. Dessa picada raramente alguém escapava com vida.

Campo Mourão tinha muitos lagartos e cobras
Desafio do lagarto - Não era só no cerrado que tinha esses animaizinhos super ligeiros. Na cidade que nascia sobre os campos e carrascais do cerrado e samambaial, também os via por toda parte: nas ruas recém abertas, e na praça. Eles ainda não tinham medo de gente. O terreno era deles e nunca foram molestados. Nós eramos os intrusos.
Certa vez, ali pelo meio-dia, sol a pino - eu deveria estar perto dos meus dez anos - um grupo de pessoas conversava em frente da nossa casa, do outro lado da esquina onde está o Museu Municipal. Nisso um lagartão ia passando perto da praça, por ali onde está o terminal urbano, onde hoje tem a avenida Índio Bandeira, todo faceiro, bonito e imponente.
Entre os amigos estava o distinto Capitão Renato Romeiro Pinto de Melo, dono do Expresso do Campo, que me desafiou:
- "Dalbra! Duvido que você pegue aquele lagarto". Nem respondi nada. Saí em disparada atrás do bicho. Era espadaúdo, adulto dos grandes.
Assustado com minha corrida em direção a ele, ergueu a cabeça e as curtas patas dianteiras e deu nos pés... e eu atrás. Quase perto da esquina - duas quadras adiante - por ali onde está o Bradesco, o alcancei. Peguei firme. Ele deu umas rabanadas, esperneou, segurei pelo pescoço e pelo meio das pernas traseiras bem na barriga, e trouxe o 'troféu' se debatendo nas minhas mãos, para o Capitão conferir. Ele riu e disse:
- 'Estava brincando menina, sei do que você é capaz, mas meus parabéns'.
Em seguida, com cuidado, o soltei e o bicho se foi na carreira, lindo de viver... - 'Pensando o quê tio Renato'? -Pensei, mas não falei (rindo).
Entre os amigos estava o distinto Capitão Renato Romeiro Pinto de Melo, dono do Expresso do Campo, que me desafiou:
- "Dalbra! Duvido que você pegue aquele lagarto". Nem respondi nada. Saí em disparada atrás do bicho. Era espadaúdo, adulto dos grandes.
Assustado com minha corrida em direção a ele, ergueu a cabeça e as curtas patas dianteiras e deu nos pés... e eu atrás. Quase perto da esquina - duas quadras adiante - por ali onde está o Bradesco, o alcancei. Peguei firme. Ele deu umas rabanadas, esperneou, segurei pelo pescoço e pelo meio das pernas traseiras bem na barriga, e trouxe o 'troféu' se debatendo nas minhas mãos, para o Capitão conferir. Ele riu e disse:
- 'Estava brincando menina, sei do que você é capaz, mas meus parabéns'.
Em seguida, com cuidado, o soltei e o bicho se foi na carreira, lindo de viver... - 'Pensando o quê tio Renato'? -Pensei, mas não falei (rindo).
Abertura das vias públicas em Campo Mourão
e o tratorista Marins Belo
Abertura da cidade - Lembro-me que na cidade que se iniciava ainda era um chapadão
aplainado por natureza e ruas sendo abertas pelo trator operado por
Marins Bello. Até a curta gestão do primeiro prefeito, nosso amigo Pedro
Viriato de Souza Filho, existia muitos lagartos que se via por toda parte e
muitas grandes cobras: cascavel com guizos barulhentos na ponta do rabo;
enormes urutu-cruzeiro com uma cruz branca na cabeça; coloridas e aneladas
corais... só em lembrar, me assusto. A mais mortal era a pequenina Jararaca. De
uma picada dessa, dificilmente alguém escapa com vida. Seu veneno mata em 24
horas.
Campo Mourão e o Expresso do Campo - 1952
Newton Albuquerque, Cap. Renato, Francisco Albuquerque,
Adalbrair, Aimèe Zolla, Irene Schner, , Anita Albuquerque e Mara
Renato Romeiro Pinto de Mello, antes de se estabelecer em Campo Mourão, era capitão da Marinha responsável pela aduana que fiscalizava a navegação e a pesca no Rio Paraná. Sua residência e garagem dos ônibus verde-amarelos, ficavam na Av. Capitão Índio Bandeira, esquina com a Rua Roberto Brzezinski onde, até pouco tempo, tinha uma antiga construção de supermercado.
Respeito à natureza - Essa caçada do lagarto, que fiz no repente, era normal. Vivíamos no isolamento neste canto, distantes do mundo que existia do lado de lá. Éramos meio selvagens e nos adaptamos rapidinho ao ambiente inteiro, ou sucumbíamos.
Só havia duas palavras que no meu tempo de criança e menina-moça não existiam em nosso dicionário: medo e preguiça, palavras que me norteiam e as guardo até hoje!
As pessoas, aqui, só matavam animais nativos para se alimentar. Eu nunca comi, mas diziam que lagarto tem carne igual a de galinha. Nem de tatu não como. Falam que o Canastra se alimenta no cemitério, mas não perguntei o que come. Só imagino!
Só havia duas palavras que no meu tempo de criança e menina-moça não existiam em nosso dicionário: medo e preguiça, palavras que me norteiam e as guardo até hoje!
As pessoas, aqui, só matavam animais nativos para se alimentar. Eu nunca comi, mas diziam que lagarto tem carne igual a de galinha. Nem de tatu não como. Falam que o Canastra se alimenta no cemitério, mas não perguntei o que come. Só imagino!

A cidade de Campo Mourão nasceu sobre este cerrado
Algumas palmeirinhas ainda são vistas em Campo Mourão
As sementes e estas palmeirinhas nativas de Campo Mourão - a exemplo das maiores - se multiplicavam no tempo certo, apesar da demora em brotar e crescer. Leva anos e anos para se formar e frutificar. Outra espécie que tinha muito e que se reproduz com um pouco mais de rapidez é o palmiteiro, que tinha até demais nas regiões de matas quentes e úmidas em volta de Campo Mourão. A semente desta planta é o alimento preferido do tucano e do araçari, seus principais semeadores na floresta.
A Copaibeira é Árvore Simbolo de Campo Mourão
imune a corte conhecida por bálsamo dos deuses
Árvores que curam - As espalhadas árvores e arbustos do cerrado mourãoense eram resistentes ao fogo, retorcidas, de troncos não muito grossos, ásperos e de cascas volumosas assim como o Angico do Cerrado, Barbatimão, Cambará e Copaíba que se destacavam sobre as demais espécies que só existiam aqui, nesta pequenina parte do planeta. Todas elas eram medicinais; o povo conhecia e fazia remédios com as cascas, raízes, folhas, sementes e frutos delas. A mais famosa das árvores, pelo seu poder de cura, porém muito amarga, era o tal ‘pau-pra-tudo’. Trata-se da espécie Casca d'Anta ou Pessegueiro-Bravo. Curava quase todos males do corpo. O óleo extraído da Copaibeira era chamado de 'bálsamo dos deuses' pelos nativos.
Multidões de formigas - Muitos cupins altos se espalhavam pelos campos do cerrado para alegria dos tatus, tamanduás e passarinhos, isto sem falarmos dos enormes ninhos (morretes) de saúvas que pareciam ilhas de terra com centenas de entradas e saídas. Cortavam e armazenavam folhas, dia e noite. Caminhavam por estreitos carreadores, muito apressadas, em longas filas, sem parar. Eu gostava muito de vê-las, tão pequenas, carregando pedaços enormes de folhas, sementes e gravetos.

No período (outubro) de reprodução e revoadas, as iças (mães das saúvas) de cintura fina (tanajura) e abdômen grande repleto de ovinhos, faziam vôos curtos e com pressa em enterrar suas crias. Muita gente catava, arrancava a parte maior e comia, in natura ou fritas. As novas rainhas das formigas menores e cupins voavam pesadamente com suas cargas preciosas e os passarinhos se fartavam de tantas que comiam, sem as asas que eles tiravam no bico antes de engolir. A noite, as formigas aladas, em voo desesperado para esconder seus ovos e salvar a descendência, 'atacavam' lampadas acesas em busca de luz e calor. Voavam e rodavam sem parar, mas não saiam do lugar. Pareciam enxames. Era costume colocar bacias com água debaixo das luzes. Não demorava, atraídas pelo clarão refletido, caiam aos montes e se afogavam. No outro dia as jogava às galinhas. Não sobrava uma.
As formiguinhas voadoras, eu as chamava de 'aleluia'. Era a vida se renovando e multiplicando em sua forma natural. Me lembro bem até dos lugares onde estavam ninhos e formigueiros. Era tudo muito bonito. O maior sauveiro ficava ao lado do Bosque das Copaíbas. Era um morrete de terra fofa quase da altura de uma pessoa, no terreno onde inicialmente construíram o prédio da extinta Telepar, ali existente até hoje.
As formiguinhas voadoras, eu as chamava de 'aleluia'. Era a vida se renovando e multiplicando em sua forma natural. Me lembro bem até dos lugares onde estavam ninhos e formigueiros. Era tudo muito bonito. O maior sauveiro ficava ao lado do Bosque das Copaíbas. Era um morrete de terra fofa quase da altura de uma pessoa, no terreno onde inicialmente construíram o prédio da extinta Telepar, ali existente até hoje.
Maria Inácia era casada com Inácio Luiz Pereira
Triste recordação - São João era tradição festiva em Campo Mourão. No final de junho de 1938 fizemos grande arraial com tudo que a tradição cristã exige: bandeira do santo no alto do mastro ao lado da enorme fogueira de troncos empilhados e vazada no meio (caieira); pau-de-sebo, leilão de prendas e bailão no terreiro com presença dos moradores de Campo Mourão e região em peso, a sua volta. No baile, o fandango de viola bateu pandeiro de marcação a noite toda, até o raiar do dia, numa toada só, na maior paz e alegria geral. As bombinhas, bombas de três tiros, busca-pés e foguetões de vara avivavam a noite festiva com um barulho ensurdecedor... iluminou o céu de tantos estouros de bolas de fogo. Mas um rojão (cabeça-de-nego) não estourou. Deu xabú.
Explodiu na mão - Aí que vem o lado triste daquela inesquecível festança realizada no grande terreiro entre nossa residência e a casa de comércio. Passou mais de ano... nosso querido mudo Emílio estava por ali capinando e achou a bomba. Foi até o fogão, pegou um tição em brasa viva e voltou... catou, encostou no brasido e quando foi assoprar: buuummm... explodiu na mão dele. Pedaços de dedos voaram longe e os outros ficaram pendurados. Ele urrava de dor. Mamãe correu e o acudiu. Encheu uma bacia com água e colocou a mão dele ali até aliviar um pouco aquele sofrimento. A água ficou vermelhinha e era trocada toda hora. Depois, não tinha outro jeito de proceder, passou bastante desinfetante e uniu a pele com agulha e linha de carretel, o que deu, sem anestesia. Não tinha. Meu Deus !!
O mudo desfalecia e voltava... chorava... balbuciava reclamações de dor. A gente morria de dó e imaginava a cruz que ele estava passando. Mas mamãe sabia o que estava fazendo. Demorou quase um mês para começar a sarar e, todo dia, ela fazia os curativos com o maior cuidado. Colocava a mão do mudo no colo, acariciava por horas e rezava para ela cicatrizar e ele ficar bem.
Acredite ou não, mas graças aos cuidados e as preces, ele sarou. Era o nosso responsável pelo corte da lenha que abastecia o fogão da casa e, logo logo ficamos felizes olhando ele de volta, picando lenha com o pesado machado, sem sentir mais dor na mão esquerda totalmente curada.
Campo Mourão: o negócio do Seu Chico ficava em frente à residência
em um lugar alto (foto de Zoraido Casarim)
Melhorias na vida - Durante os três meses finais de 1937 papai começou a construir a nossa segunda morada, a primeira casa bem melhor que a velha tapera onde nasceu o Joel. Foi edificada em frente da outra que abrigava o armazém de comércio, adquirida em 1934, do senhor Léo Guimarães. Lembro bem que chegamos em 1935, no Campo. Essa nova era bem maior que o rancho da limeira dourada, aonde ficamos desde a chegada, mal acomodados, mas felizes.
1937 - Segunda morada da Família Albuquerque
em frente a casa de comércio, na Laje Grande.
A nova foi construída com madeiras serradas de primeira qualidade, coberta com tabuinhas de pinho e assoalhada com tábuas largas. A cozinha era bem espaçosa; o fogão caprichado, suspenso em uma caixa quadrada de madeira, cheia de terra e pedras com acabamento de barro misturado com cinza, bem liso e brilhante por fora. A chapa era de ferro fundido com várias bocas fechadas com argolas que serviam para regular a intensidade do fogo que ardia debaixo das panelas durante o cozimento dos alimentos. Na boca do fogão uma portinha de ferro não deixava cair brasas no assoalho de madeira. Debaixo dessa boca ficava o cinzeiro da lenha queimada. Esta cinza se aproveitava para muitas coisas, principalmente para fazer sabão caseiro. O fogão era lavado ao menos uma vez por mês e estava sempre bonito, igual novo. Na sala estava a mesa grande ladeada por bancos compridos, além das cadeiras. No sótão, construído depois, foram colocadas as camas da filharada. Nossos pais tinham um quarto bem confortável na parte de baixo. Ao lado da casa a grande varanda, bem arejada, onde eram servidas as refeições. Anexo tinha uma espécie de adega onde foi colocado um enorme barril, na horizontal, cheio de cachaça de engenho. Os barris menores continham vinho.
Essas bebidas nós mesmo as engarrafávamos; eram fechadas com tampinhas de metal pressionadas por uma maquininha manual. Garrafas com vinho eram
vedadas com rolhas de cortiça, seladas (lacradas) e rotuladas por nós. Depois eram expostas no armazém, colocadas à venda no famoso 'Negócio do Seu Chico' entre secos e molhados em geral.
O comércio da família Albuquerque
Não faltava nada - Além dos alimentos básicos tinha banha de porco (não existia óleo de cozinha). Nesse ‘Negócio’ tinha de tudo que as pessoas e as famílias necessitavam: feijão, arroz, farinhas de trigo e milho, açúcar cristal e amarelo (mascavo). Tudo armazenado em sacos de 60 quilos, de onde eram retirados em pequenas porções e pesados em uma balança de dois pratos que fazia o cálculo na base do contra-peso. Ali se vendia, também, charque de boi, bacalhau, sardinha e pescada enlatadas. Querosene, lampeões, panos para fazer roupas, fios de costura em carreteis e botões. Entre as ferramentas e utilidades, ali se comprava: enxada, foice, machado... couros de diversos bichos nativos e domésticos, arreios completos para montarias, laços de couro trançado, lindos pelegos coloridos... cobertores... enfim, tinha de tudo mesmo, inclusive remédios homeopáticos, bebidas tipo cerveja, pinga, gasosa, xarope de groselha e capilé.
Cavalgadura era o transporte pelos carreadores de Campo Mourão.
Cargueiros de transporte - Lembro-me da maioria dos fregueses de papai. Entre tantos tinha um em especial. Era o seu Joaquim Desidério, o qual vinha de longe com seus amigos e compadres fazer compras em nosso armazém. Chegavam a cavalo de montaria e as mulas de cargueiros com cangalhas de ganchos de madeira onde se penduravam as grandes bruacas de couro, utilizadas no transporte das mercadorias, dispostas uma de cada lado, no lombo do animal. As bruacas não raras vezes eram substituídas por balaios trançados de taquara, colocados sobre o animal sempre aos pares. Cheios pesavam, em média, 120 quilos, 60 de cada lado. A mula era preferida nesse tipo de transporte por ser mais resistente que o burro e o cavalo.
Estômagos fortes - Mas, do seu Desidério e sua distinta caravana, o que me chamavam a atenção eram: a bacia e as colheres que ele usava para preparar o almoço. Abria várias latas de pescada (iguais as que existem até hoje) com a ponta da faca (peixeira); colocava todas na bacia e preparava uma mistura com farinha de milho jogada por cima e revirava bem. Sentavam no chão, em volta da baciona de zinco, debaixo das cinco palmeiras folhudas, numa sombra fresca, bem na frente de casa. Eu ficava olhando, discretamente, admirada. Meio curvados para a frente, quase debruçados sobre a mistura, comiam com gosto e tomavam cerveja quente por cima. Não existia geladeira. As garrafas eram colocadas na água da beira do rio ou em buracos fundos na terra, para ficarem mais 'frescas'. Não sobrava nada. Depois iam até a beira do rio, lavavam as tralhas e as devolviam limpinhas. Aproveitavam e se lavavam, também.
O que faz a gula - Um dia minha cunhada Maria, mulher do Tito (Airton) viu aqueles homens comendo a enorme baciada de pescada e farinha com tamanho apetite que sentiu muita vontade de provar. Mamãe soube e um dia que ela estava em nossa casa mandou buscar duas latas de pescada no armazém. Pegou a mesma bacia limpinha e areada, onde preparou a receita do seu Desidério. Pra quê, moço?! A Maria comeu, mas comeu tanto, coitada, que logo passou mal. Foram dois dias vomitando... de cama e banheiro. Minguou demais. Quase morreu! Depois, só de ver as latas, ela já fazia careta, virava a cara e sentia ânsia.
Estômagos fortes - Mas, do seu Desidério e sua distinta caravana, o que me chamavam a atenção eram: a bacia e as colheres que ele usava para preparar o almoço. Abria várias latas de pescada (iguais as que existem até hoje) com a ponta da faca (peixeira); colocava todas na bacia e preparava uma mistura com farinha de milho jogada por cima e revirava bem. Sentavam no chão, em volta da baciona de zinco, debaixo das cinco palmeiras folhudas, numa sombra fresca, bem na frente de casa. Eu ficava olhando, discretamente, admirada. Meio curvados para a frente, quase debruçados sobre a mistura, comiam com gosto e tomavam cerveja quente por cima. Não existia geladeira. As garrafas eram colocadas na água da beira do rio ou em buracos fundos na terra, para ficarem mais 'frescas'. Não sobrava nada. Depois iam até a beira do rio, lavavam as tralhas e as devolviam limpinhas. Aproveitavam e se lavavam, também.
O que faz a gula - Um dia minha cunhada Maria, mulher do Tito (Airton) viu aqueles homens comendo a enorme baciada de pescada e farinha com tamanho apetite que sentiu muita vontade de provar. Mamãe soube e um dia que ela estava em nossa casa mandou buscar duas latas de pescada no armazém. Pegou a mesma bacia limpinha e areada, onde preparou a receita do seu Desidério. Pra quê, moço?! A Maria comeu, mas comeu tanto, coitada, que logo passou mal. Foram dois dias vomitando... de cama e banheiro. Minguou demais. Quase morreu! Depois, só de ver as latas, ela já fazia careta, virava a cara e sentia ânsia.
Progresso - Estávamos progredindo bem graças a Deus e a visão de negócio do meu incansável pai, com ajuda de nossa mãe que sabia administrar tudo com sabedoria. A filharada aumentou. Nessa casa nova da Laje, nasceu o Amilton que logo faleceu e, depois, o Everaldo.
Professor carrasco - Começamos a estudar em uma sala da casa do senhor João Schener, instalada em uma chácara, distante uns dois quilômetros da nossa casa, por ali onde está o Jardim Country Clube. No quintal, entre outras, tinha três árvores de mexeriqueiras carregadas de frutas maduras e cheirosas que a gente as percebia de longe. Dava até água na boca. Não tinha privada nem mictório para as crianças. Faziam suas necessidades atrás daqueles arvoredos. Mas se alguma delas colhesse uma fruta que fosse, ele a castigava sem dó; colocava de joelhos sobre grãos de milho e fazia lavar toda sua casa. Era um carrasco. Ele preferia deixar a fruta apodrecer do que distribuir às crianças que morriam de vontade de comê-las, igual que eu. Ele era tão ruim que a mulher não aguentou e fugiu com outro. Mais adiante te conto como e com quem foi. Ou melhor, não. Esquece!
Hospedaria e pensão - Pouco antes de 1940 começou a chegar pessoal e famílias de várias cidades do Paraná e de estados brasileiros. A primeira parada dos forasteiros era – infalivelmente - em nossa casa, onde a maioria se hospedava. Alguns homens ficaram mais de ano assim. Entre eles: Claudio Silveira Pinto, Dr. Carlos Boenig, os irmãos Jucelin, Geremias e Expedito de Araujo; Sargento Teodoro, Dr Delbos com a mulher e duas filhinhas; o francês George e seu filho Pierre Jorth, o inspetor de terra Julio Regis com a esposa, empregada e filhos. Meus pais nunca cobraram nada dos hospedes que tinham roupa lavada, além de cama e mesa, tudo grátis. Mamãe cozinhava para todos e nunca alguém perguntou: quanto que é?!
Morte na pensão - O sargento Teodoro era um bom policial e amigo da família, mas bebia cachaça demais. Certa noite encheu o pote e foi dormir bêbado, no sótão do armazém. Lá pelas tantas levantou e ao invés de descer pela porta, saiu pela janela, caiu, bateu a cabeça no chão duro e morreu no ato. Ficamos abalados, pois gostávamos dele. Comunicamos às autoridades superiores e providenciamos seu sepultamento.
Hospedaria e pensão - Pouco antes de 1940 começou a chegar pessoal e famílias de várias cidades do Paraná e de estados brasileiros. A primeira parada dos forasteiros era – infalivelmente - em nossa casa, onde a maioria se hospedava. Alguns homens ficaram mais de ano assim. Entre eles: Claudio Silveira Pinto, Dr. Carlos Boenig, os irmãos Jucelin, Geremias e Expedito de Araujo; Sargento Teodoro, Dr Delbos com a mulher e duas filhinhas; o francês George e seu filho Pierre Jorth, o inspetor de terra Julio Regis com a esposa, empregada e filhos. Meus pais nunca cobraram nada dos hospedes que tinham roupa lavada, além de cama e mesa, tudo grátis. Mamãe cozinhava para todos e nunca alguém perguntou: quanto que é?!
Morte na pensão - O sargento Teodoro era um bom policial e amigo da família, mas bebia cachaça demais. Certa noite encheu o pote e foi dormir bêbado, no sótão do armazém. Lá pelas tantas levantou e ao invés de descer pela porta, saiu pela janela, caiu, bateu a cabeça no chão duro e morreu no ato. Ficamos abalados, pois gostávamos dele. Comunicamos às autoridades superiores e providenciamos seu sepultamento.
1940 - Construção da casa da família de Delbos Zolla,
depois Prefeitura/Escola Isolada

Carlos Boenig, Dr Delbos, Teodoro Metchko, Irene Schner,
professora Aimèe e as filhas Delaime e Dayse.
Ao fundo seu Vivi o carpinteiro.
depois Prefeitura/Escola Isolada

Carlos Boenig, Dr Delbos, Teodoro Metchko, Irene Schner,
professora Aimèe e as filhas Delaime e Dayse.
Ao fundo seu Vivi o carpinteiro.
Começo
da cidade - Foi nesse tempo - primórdios de 40 - que
começou o povoamento dos lotes urbanos de Campo Mourão demarcados pelo
topógrafo Eugênio Zaleski. Cada terreno media mil metros quadrados (20 m x 50 m).
Surgiram, então, as primeiras casas. A nossa foi a quarta. Em seguida por conta
do Estado, foi construída a cadeia, residência do médico (depois
escola pública) e a igreja da paróquia de São José inaugurada dia 19 de março
de 1942.
Casa Iracema a segunda construída em Campo Mourão
Primeiras casas - A
primeira casa foi a de João Schener, na avenida Índio Bandeira esquina da rua
Brasil. A segunda do seu Juscelin Cilião (Casa Iracema) na avenida Irmãos Pereira
esquina com a rua Brasil. A terceira construção de madeira foi a da igreja ali
onde está a catedral. A quarta casa, com armazém anexo, foi a nossa, na avenida
Índio Bandeira, esquina com a rua Francisco Albuquerque, casa demolida em
2002 a qual não se sabe onde foi parar.
Da nossa família vinham a Eunice, Moacir e eu. Da família Perdoncini, que comprou a serraria dos
Metchko, vinham a Palmira, Atílio, Silvino e a Iraci. Nesse trecho a gente tomava muitos sustos pela quantidade absurda de cobras, principalmente cascáveis e urutus-cruzeiro que ficavam enrodilhadas no caminho. Caminhávamos sossegadamente e, repentinamente, o susto. Era só gente pulando, porque elas ameaçavam atacar... batiam guizo e mostravam a língua partida. Por sorte nunca levamos picadas dessas cobras por demais venenosas. A maioria das pessoas não sobrevivia com seus venenos. Eu corria, pulava por cima delas e saia em disparada, quase morta de medo.
Campo Mourão 7/9/1948
A prefeitur-escola e o primeiro desfile estudantil
Primeiras professoras - Quando Dr Delbos, as meninas e a professora Aimèe voltaram à Curitiba, tivemos outra ótima professora, Isaura Murici, jovem graciosa e linda.
Eu já estava no terceiro ano primário e só queria tirar nota 10, posição que eu disputava com o Jerônimo Perdoncini, aluno muito sabido. As matérias para estudar em casa era no maior sacrifício. Só tinha uns tocos de giz. Quando acabava ela fazia ditado e a gente escrevia ao invés de copiar do quadro negro. Não tinha livros e faltava giz. A criança aprendia alfabetização e só duas matérias básicas: aritmética e linguagem pátria, durante quatro anos (curso primário) em uma sala única que depois de 1947 fazia parede e meia com a prefeitura que ocupou o antigo consultório do Dr. Delbos. Quando a querida professora Isaura foi transferida, veio a professora Eulália Carneiro de Campos (Dona Nenzinha) isto já em 1947. Não tive a satisfação de estudar com ela, pois já havia concluído o primário, mas sei que era excelente educadora contratada do Estado.
Eu já estava no terceiro ano primário e só queria tirar nota 10, posição que eu disputava com o Jerônimo Perdoncini, aluno muito sabido. As matérias para estudar em casa era no maior sacrifício. Só tinha uns tocos de giz. Quando acabava ela fazia ditado e a gente escrevia ao invés de copiar do quadro negro. Não tinha livros e faltava giz. A criança aprendia alfabetização e só duas matérias básicas: aritmética e linguagem pátria, durante quatro anos (curso primário) em uma sala única que depois de 1947 fazia parede e meia com a prefeitura que ocupou o antigo consultório do Dr. Delbos. Quando a querida professora Isaura foi transferida, veio a professora Eulália Carneiro de Campos (Dona Nenzinha) isto já em 1947. Não tive a satisfação de estudar com ela, pois já havia concluído o primário, mas sei que era excelente educadora contratada do Estado.
As normalistas - Mais tarde estudei na Escola Normal Regional João d'Oliveira Gomes, que formava professoras e professores para o ensino primário, dirigida pela distinta senhora Dulcineia de Oliveira Delatre, esposa do aeroviário Roget Delatre.
Primeira vereadora -
Dona Dulce foi a primeira mulher a ocupar cadeira na Câmara Municipal de
Campo Mourão, assumiu na qualidade de primeira suplente de vereador. O curso de
normalista foi absorvido pelo Colégio Estadual Campo Mourão, quando da sua
inauguração, por ser grau de estudo equivalente.
Inspeção da FAB e inauguração do Campo de Aviação do Gavião em 27-07-1947.
> Renato de Mello, Cel Guia de Aquino, Francisco Albuquerque, Elias Xavier do Rego,
Devete de P. Xavier, Teodoro Metchco, Pedro Viriato, Tito t Newton Albuquerque.
Correio
Aéreo em Campo Mourão - Na década de 40/50, vez ou outra, pousava em Campo
Mourão um avião (Curtiss) do Correio Aéreo Nacional, pilotado pelo coronel
aviador da Força Aérea Brasileira - FAB, Cel. Geraldo Guia de
Aquino. Trazia novidades e projetava filmes da época na descampada praça
da futura cidade em seu nascedouro, na qual demonstrava interesse em adquirir
terra e por aqui se fixar no final da sua carreira militar, incentivado pelo
seu colega Cap. Renato Romeiro Pinto de Mello que já estava em Campo Mourão com
terra titulada conseguida dos Teodoro e Custódio de Oliveira em Cruzeiro do
Oeste - PR e empresa de transporte coletivo, linha Campo Mourão/Maringá -
Expresso do Campo.
Campo do Gavião -
Aviões como este e outros começaram a pousar em Campo Mourão depois que as
turmas voluntárias orientadas por João Rodrigues Monteiro (João Bento)
explanaram o terreno onde ainda está o Aeroporto Municipal 'Geraldo Guia de
Aquino'. Faziam derrubadas e destocas no machado, enxadão e aplainavam a terra
com enxadas e rastelos. Francisco Albuquerque (Tio Chico), dono do único
caminhão da época, levava a turma pela manhã e a tarde buscava. Antes de
retornar á cidade, mandava o pessoal subir na carroceria do valente Ford, fazia
vários vai-vem sobre a pista a fim de socar e firmar a terra fofa e poeirenta.
A Biruta - Nesse tempo ganhei uma moderna máquina de costura de mamãe
e a primeira peça que teci, com ajuda dela, foi a biruta que colocamos no
mastro do recente campo de aviação (Campo do Gavião) local aberto no braço, em mutirão da nossa valorosa gente pioneira. Tinha quase dois metros de comprimento e uns 40 a 50 cm de
diâmetro na frente e afunilava por onde o vento vazava; imitava um
quador branco e vermelho bem grande, de algodão cru resistente ao tempo e armação com aros de alumínio naval. O modelo e as medidas, vistas na foto, nos foram passadas pelo Cel. Aquino, por escrito. Essa peça importante indicava a
direção e a força do vento e assim, orientava os pilotos nas descidas e subidas. Quanto mais ela ficava reta, mais forte era o vento. Quando
ficava caída, era sinal de vento nenhum.
Logo em seguida o seu Teodoro (Metchko) construiu a casa de
embarque, sala de espera e bar, em alvenaria, que é a mesma que está ali até hoje,
uma lembrança maravilhosa dos anos 50.
Além do Correio Aéreo Nacional, a primeira empresa de
aviação (táxi aéreo) que serviu Campo Mourão e a região foi a BOA – Brasil
Organização Aérea, e o seu representante era o seu Roget de Latre, no salão que logo em seguida foi agência da Real – Aerovias
Brasil e, mais tarde, foi a Livraria Roma da dona Irene e do seu
Roberto Teixeira Pinto, casal muito simpático e querido por todos.
Campo do Gavião em Campo Mourão
Gavião Branco nativo de Campo Mourão
O aeroporto improvisado, mas bem feito, ficou conhecido por Campo de Aviação do Gavião, tendo em vista a
existência dessa ave em quantidade por ali. Era de cor branca, com asas escuras
nas pontas, que pairava no ar batendo as asas por vários minutos a procura de
caça (ratos, cobras, lagartixas). Localizada a presa, embicava, dava um rasante
veloz e raramente errava o bote.
Cinema na Praça - A cada vinda do Cel. Aquino ele armava um cinema ao ar livre na descampada Praça
10 de Outubro (atual Getulio Vargas); pregava duas ripas de pinho nas laterais
da carroceria de um caminhão na parte da frente e, nelas, esticava e prendia um
lençol branco, com taxinhas, o qual servia de tela.
O projetor de filmes era movido a
energia elétrica, mas Campo Mourão não tinha. Então macaqueavam o caminhão até
desencostar as rodas traseiras do chão. Colocavam uma correia no pneu e na
polia do gerador de um motor estacionário. Ligava o caminhão, a
geringonça girava e os filmes eram projetados (Charles Chaplin, Gordo e o
Magro, Tarzan e documentários sobre a II Guerra Mundial) que recentemente havia
acabado (1945). Todos filmes eram branco e preto. Como a energia era alternada, não
raras vezes travava o rolo e queimava a fita de celulose. Emendavam com
fita adesiva e continuava a projeção. Muita gente ia ver, em pé, pois não tinha banco. Com medo de pegar fogo no lençol, atrás ficava um piá
com balde de água e umedecia o pano assim: chapiscava água com os dedos das
mãos, até terminar a sessão. As apresentações ao ar livre, e
improvisadas se renovavam, sempre com novidades cinematográficas, uma vez por
mês, trazidas pelo aviador do Correio Aéreo Nacional.
Folguedos olímpicos - Entre nossas brincadeiras de criança eu gostava de pular vara (salto em altura). A disputa era um teste para ver quem dava o salto mais alto e passava acima do fino obstáculo colocado na horizontal. Nem sabíamos que existia olimpíada ou que se praticava esse esporte em algum lugar. O Moacir era o campeão. Ganhava quase todas.
Bodes e espigas - Tínhamos, também, uma carrocinha idêntica as grandes, de verdade. Essa réplica de carroça era puxada por dois bodes brancos, do Moacir. O problema é que, conforme o peso da carga transportada, os eixos quebravam com facilidade e a criançada que estava dentro, caia e rolava pela terra. Eu já preferia costurar roupinhas para as bonecas feitas com espigas de milho e aproveitamento dos retalhos de panos. Gostava, também, de fazer comidinhas em latinhas.


Ataque cruel de vespas - Éramos peraltas mesmo, reconheço, mas
cheias de energia igual a toda criança sadia. Uma bela tarde. a procura do que
fazer, colocamos uma tábua, digamos: uma ponte suspensa, do barranco até a
cobertura da casa de comércio da Laje e subimos pra brincar. Uma tia da
Delaimè estava por ali mas ficou com medo de subir e nós debochamos dela. Enfezou e atirou uma pedra contra nós. Errou, mas acertou um ninho de vespas
pretas das grandes que 'moravam' na parede, bem atrás de nós.
Alvoroçaram-se e os 'soldados" nos atacaram de enxame... nos
feriram sem dó. Imagine quantas ferroadas levamos e quantos gritos
demos!
Além
da dor horrível, ficamos muito inchadas, balofas e bochechudas. Três meninas
assustadoras. Parecia filme de terror. Nem dava pra falar direito, rir nem
pensar. Doia tuudoo !!
A abelha
pica só uma vez e perde o ferrão, mas a vespa não; não perde sua arma de ataque
e dá tantas ferroadas quantas quiser. Torna-se terrível quando atacada ou ameaçada. É
capaz de matar uma pessoa ou mesmo animal.
Erá
no sótão dessa casa do vespeiro que dormiam os hospedes, mas na hora do ataque,
por sorte deles, não tinha nenhum ali.

Banho era rápido - Nossa preferência era tomar banho e nadar no rio do Campo, mas em casa tinha um chuveiro apelidado de 'Tiradentes'. Era um latão de zinco onde cabia uns 15 ou 20 litros de água. Em baixo tinha o chuveiro redondo furadinho, tradicional, rosqueado a um bico da lata e uma alavanca (torneira) que regulava o jato. No gancho de cima a gente passava a corda na por cima da viga do teto, puxava, suspendia o baldão e amarrava a cordinha em um gancho ou prego grande fincado na tábua da parede. As vezes escapava e vinha com tudo pra baixo. Mas nunca matou ninguém, que eu saiba. O banho tinha que ser rápido. Coisa de minutos. A água acabava e se bobeasse, ficava ensaboada!

Também foram atacadas as lavouras de nossos vizinhos mais próximos que moravam na Campina dos Teodoro (Barreiro das Frutas), entre eles nosso amigo Miguel Custódio de Oliveira, casado com dona Carula, mulher alta, bonita, educadamente tratável e hospitaleira, eram pais de Mariazinha, Ana, Joaquim, Zezinho e Tiãozinho. Um pouco mais adiante estava a plantação de José Teodoro, casado com dona Almira Lemes, pais de Joaquim, Antonio e Alfeu Teodoro de Oliveira. Todos sofreram perda total e recomeçamos do nada, por culpa dos gafanhotos que, felizmente nunca mais voltaram a atacar lavouras em Campo Mourão.
Campo Mourão 1940 : Praça 10 de Outubro
e as residências de Francisco Albuquerque e da filha Cacilda (Zizinha)
Campo Mourão não era um aglomerado de moradias umas perto das outras, como vemos hoje. As diferentes famílias se fixavam longe umas das outras pelo interior a fora, porque as propriedades de terra eram grandes porções. Mas me lembro de algumas que se fixaram por aqui. Foi a febre da povoação da imensa região mourãoense e depois de 1940 começaram a construir na futura cidade. Dentre elas estavam as famílias de: Joaquim Teodoro de Oliveira casado com sua prima Isabel: o delegado Valdomiro Schultz, Teodoro Metcheko casado com dona Emiliana. Miguel Scharan, João Schener casado com a bonita senhora Irene, Antonio Teodoro de Oliveira esposo de dona Zuleica. Meus padrinhos de batismo residiam no Km 142, José Ferreira e madrinha Maria (Mariquinha), pais de dona Zuleica; seu Olavo Maciel estava na região de Pinhalão do Oeste (Farol).
Anita com bebe no colo e Francisco de terno e gravata.
João Bento de laço preto no pescoço
ao lado do casal Zaléski.
Povo festeiro - Todos frequentavam nossa casa e gostavam de fazer festas religiosas, rezar o terço e participar das refeições servidas a base de ovos, carne moída, arroz, feijão, mandioca e farinha de milho. Nestas festas os anfitriões se revezavam. Cada mês era sorteado um. Depois do almoço serviam biju ao leite, bolos de fubá doce, bolachas de polvilho, além do habitual café crioulo moído e coado na hora. Logo que anoitecia começava o baile no terreiro - as vezes precisava molhar por causa da poeira que levantava - que só terminava quando amanhecia e cada família voltava para suas casas, a cavalo e nas suas carroças. Antes de partir se alimentavam, tratavam das crianças e davam água aos animais que pousavam no pasto.João Bento de laço preto no pescoço
ao lado do casal Zaléski.
São Gonçalo - Existia uma devoção religiosa festiva, que era a de São Gonçalo. As pessoas dançavam soltas, faziam uma espécie de roda que se movia bem vagarosa, ao som de uma viola que mudava aquela batida três vezes durante a noite inteira. Em um canto tinha uma mesinha com a imagem do santo e, lentamente, mas sem parar, os devotos beijavam a imagem: pediam uma graça, ou agradeciam. Só tinha três modas na dança que se repetiam, mas nem se percebia. Quem desejava alcançar alguma graça tinha que completar as três modas na chamada Romaria de São Gonçalo.
O dia de São Gonçalo - protetor dos violeiros - é comemorado em 10 de janeiro. Pena que, em Campo Mourão, essa tradição e outras se perderam. A cantiga acabava assim:
O dia de São Gonçalo - protetor dos violeiros - é comemorado em 10 de janeiro. Pena que, em Campo Mourão, essa tradição e outras se perderam. A cantiga acabava assim:
São Gonçalo dentro -São Gonçalo fora
-Diga a São Gonçalo -Que já vou-me embora.

O divino vai embora, muita gente tá chorando;
Nesta triste despedida a bandeira estão beijando;
Bandeireiros se despedem, as violas estão tocando;
O divino vai se embora pra voltar no outro ano.
A moderna Capela Santa Cruz de Campo Mourão
A cruz à esquerda é o que sobrou do cruzeiro
O que sobrou do Cruzeiro - Antes da década de 40, a cada dois anos, depois de ano em ano, vinha um padre de Guarapuava, a cavalo, até Campo Mourão. Rezava missa de ação de graças pelas colheitas e pela saúde das famílias pioneiras. Batizava e fazia casamentos, tudo junto, na Festa da Santa Cruz, na primeira capelinha de sapé, sem paredes, onde cabia poucas pessoas, o padre e o coroinha. Os fiéis, a grande maioria, ficava pra fora, esticando o pescoço pra ver o padre rezar. Tinha um prancha larga de pinho que servia de altar ao pé de um antigo cruzeiro de cedro nativo, sempre verde. Não morria de seco. Infelizmente queimou quando pegou fogo na capela de sapé, em 1956, mas uma parte foi salva por Ville Bathke, aparada pelos irmãos Antonio e Manoel Introvini e está bem visível à esquerda do altar da gruta atual, no Jardim Santa Cruz.
Promessas - As mulheres que tinham um bom parto, pagavam promessas feitas à Santa Cruz. Carregavam pedras na cabeça ou no braço, desde onde moravam, até o pé do cruzeiro abençoado, e as deixavam ali.
Quando lembro fico triste porque essas festas, cerimônias e crenças tão bonitas, foram esquecidas em Campo Mourão, mas creio que podem ser recuperadas pelos responsáveis da área cultural com auxilio dos pioneiros que delas participavam.
Promessas - As mulheres que tinham um bom parto, pagavam promessas feitas à Santa Cruz. Carregavam pedras na cabeça ou no braço, desde onde moravam, até o pé do cruzeiro abençoado, e as deixavam ali.
Quando lembro fico triste porque essas festas, cerimônias e crenças tão bonitas, foram esquecidas em Campo Mourão, mas creio que podem ser recuperadas pelos responsáveis da área cultural com auxilio dos pioneiros que delas participavam.
Sem vigário - Antes de 1940/42, Campo Mourão não tinha vigário nem paróquia, mas os devotos organizavam as rezas, novenas, aniversários sacros e reuniam as famílias para comemorar, uma vez por ano, no primeiro domingo de maio. Nas colheitas davam graças, em suas rezas, a Deus, pelo alimento recebido. Todos se ajudavam em mutirões e comemoravam com festa e bailes que começavam de noitinha e varavam a madrugada. Bebida não tinha, então, perto da meia-noite, serviam café e roscas de polvilho. Os pais levavam até crianças recém nascidas, que dormiam nos bancos, outras nos cômodos e salas da casa. Os meninos e meninas mais grandinhos dançavam no meio dos adultos, sem problemas. Ninguém saia e nem ia embora antes do amanhecer.
A paróquia de São José - O primeiro vigário da paróquia foi Aloysio Jacobi, que comandou a construção da Igreja e depois da Catedral de São José, santo carpinteiro e padroeiro de Campo Mourão. A Igreja toda de madeira, foi inaugurada dia 19 de março de 1943, ao lado da Raia dos Purungos. Esta foi a terceira construção feita no centro da cidade.
Primeira bicicleta - Quando mudamos para Campo Mourão as safras de porcos passaram a ser vendidas em Apucarana, deslocadas a pé, através do Rio Ivaí e seguia os carreiros por Maringá, Mandaguari, Jandaia e, finalmente, Apucarana que era o centro de comércio de café, milho, feijão e gado, mais importante do norte do Paraná. Em uma dessas idas a negócio, meu pai retornou e já era noite. Pela manhã ele foi até minha cama, me beijou e disse que tinha um presente para mim, na sala. Dei um abraço nele, pulei da cama e desci a escada do sótão quase voando. Na sala, encostafa na parede, estava uma caixa de papelão grande mas fina. Abri mais que depressa... era um bicicleta de moça, cor de rosa e redinha sobre a roda traseira para não enroscar o vestido nos aros.
A paróquia de São José - O primeiro vigário da paróquia foi Aloysio Jacobi, que comandou a construção da Igreja e depois da Catedral de São José, santo carpinteiro e padroeiro de Campo Mourão. A Igreja toda de madeira, foi inaugurada dia 19 de março de 1943, ao lado da Raia dos Purungos. Esta foi a terceira construção feita no centro da cidade.
Primeira bicicleta - Quando mudamos para Campo Mourão as safras de porcos passaram a ser vendidas em Apucarana, deslocadas a pé, através do Rio Ivaí e seguia os carreiros por Maringá, Mandaguari, Jandaia e, finalmente, Apucarana que era o centro de comércio de café, milho, feijão e gado, mais importante do norte do Paraná. Em uma dessas idas a negócio, meu pai retornou e já era noite. Pela manhã ele foi até minha cama, me beijou e disse que tinha um presente para mim, na sala. Dei um abraço nele, pulei da cama e desci a escada do sótão quase voando. Na sala, encostafa na parede, estava uma caixa de papelão grande mas fina. Abri mais que depressa... era um bicicleta de moça, cor de rosa e redinha sobre a roda traseira para não enroscar o vestido nos aros.
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Mais uma vez confesso: nunca tinha visto uma bicicleta.
Ali na sala mesmo tentei montar e pedalar, mas os pneus escorregavam no assoalho. Esperei clarear o dia, sem largar da bicicleta. Estava feliz e não acreditava no presente.
Fui para o terreiro, que era bem grande, e tentei ... tentei... tentei até que ali pelo meio-dia, mais ou menos na hora do almoço, já conseguia rodar alguns metros, mas com pouco equilíbrio.
Então decidi ir para a rua. Aqui não tinha movimento de carros ainda. Saí do terreiro de casa na Índio Bandeira. Montei, consegui equilibrar e não parei mais de pedalar e rodar.
Nossa !! Você nem imagina a minha felicidade. Lá fui eu toda exibida !!
Passava na frente das poucas casas e todo mundo saia ou parava para me ver circulando de bicicleta que, aliás, foi a primeira em Campo Mourão.
Motorista em minutos – Eu não tinha medo de nada. Não
sabia o que era perigoso. Fui criada assim e não escolhia trabalho, menos lavar
roupa e tirar água do poço... (rindo muito). Os exames pra ter carteira de motorista eram feitos uma vez
por ano, com gente do Detran que vinha de Curitiba. Eles mandavam dar partida, dirigir uma volta nas ruas, trocar marcha e estacionar onde eles estavam. Pronto.
Mas eu não sabia nada de caminhão e carro de passeio. O Newton me levou lá
perto do campo de aviação, me deu umas explicações e mandou eu assumir. Dei
umas três manobradas e voltamos. Ele me inscreveu, me chamaram, assumi o
volante, fiz o que me mandaram e nos mesmo dia recebi a
‘carta de motorista’ de caminhão, que era o máximo naquele tempo. Aí
ninguém me segurava mais, Até esqueci da bicicleta (rindo). Eu saia, pegava as amigas na suas casas, subiam na carroceria, e íamos fazer
pic-nics e explorar os rios e redondezas do Campo. Na volta eu ‘entregava’ uma
por uma em sua casas e agradecia a confiança dos seus pais.
Passava na frente das poucas casas e todo mundo saia ou parava para me ver circulando de bicicleta que, aliás, foi a primeira em Campo Mourão.
Motorista em minutos – Eu não tinha medo de nada. Não sabia o que era perigoso. Fui criada assim e não escolhia trabalho, menos lavar roupa e tirar água do poço... (rindo muito). Os exames pra ter carteira de motorista eram feitos uma vez por ano, com gente do Detran que vinha de Curitiba. Eles mandavam dar partida, dirigir uma volta nas ruas, trocar marcha e estacionar onde eles estavam. Pronto. Mas eu não sabia nada de caminhão e carro de passeio. O Newton me levou lá perto do campo de aviação, me deu umas explicações e mandou eu assumir. Dei umas três manobradas e voltamos. Ele me inscreveu, me chamaram, assumi o volante, fiz o que me mandaram e nos mesmo dia recebi a ‘carta de motorista’ de caminhão, que era o máximo naquele tempo. Aí ninguém me segurava mais, Até esqueci da bicicleta (rindo). Eu saia, pegava as amigas na suas casas, subiam na carroceria, e íamos fazer pic-nics e explorar os rios e redondezas do Campo. Na volta eu ‘entregava’ uma por uma em sua casas e agradecia a confiança dos seus pais.
Lá se foi a garagem - Mais adiante papai havia comprado um automóvel Ford–Mercury 47, preto, muito bonito e fez garagem para o carro. Mamãe me chamou para irmos buscar
uma empregada no quilômetro 123, no carro. Entramos, liguei, engatei a
marcha, olhei a saída por trás, acelerei eee páaaa.... bati nos fundos... a
parede caiu inteira” (rindo muito). Foi minha primeira ‘barbeirada’. Ao invés de
ré, engatei a primeira, mas não perdi a pose. Fomos e na volta choveu. Antes da
Vila Rio Grande tinha uma ponte de madeira, estreita e perigosa. Ali acumulou
um barreiro e o Mercury lindo, encalhou, atolou messmoo! Falei pra mãe que ia
na cidade buscar socorro, mas, por sorte, veio outro carro em nossa direção,
com uns boys conhecidos. Nos ajudaram e empurraram nosso automóvel
até do lado de cá da ponte, que não tinha barro.
Agradecemos e
voltamos ‘tranquilas’ pra casa. Foi assim meu aprendizado de primeira ciclista
e motorista na jovem Campo Mourão.
Progresso de Campo Mourão - A medida que a vila de Campo Mourão evoluía, uma das maiores novidades foi a chegada do Inspetor de Terra do Governo do Paraná, Sady Silva, dirigindo um pé-de-bode, Ford/40, preto, coberto de poeira. Muita gente que não conhecia automóvel, assustou quando viu aquilo que veio pela estrada de Roncador. Foi o maior impacto entre os poucos moradores. Eu tinha cerca de oito anos. O avistei quando descia a estrada em direção da água do rio do Campo. Pensei: vai afundar e matar quem está dentro. Mas foi somente a curiosidade com uma pitada de medo. Logo nos acostumamos com sua presença de matraca (motor) barulhenta. Tinha até buzina.
Progresso de Campo Mourão - A medida que a vila de Campo Mourão evoluía, uma das maiores novidades foi a chegada do Inspetor de Terra do Governo do Paraná, Sady Silva, dirigindo um pé-de-bode, Ford/40, preto, coberto de poeira. Muita gente que não conhecia automóvel, assustou quando viu aquilo que veio pela estrada de Roncador. Foi o maior impacto entre os poucos moradores. Eu tinha cerca de oito anos. O avistei quando descia a estrada em direção da água do rio do Campo. Pensei: vai afundar e matar quem está dentro. Mas foi somente a curiosidade com uma pitada de medo. Logo nos acostumamos com sua presença de matraca (motor) barulhenta. Tinha até buzina.
No centro de Campo Mourão a casa de Cacilda Albuquerque (Zizinha)
Onde hoje está a Lanchonete do Gaúcho
Onde hoje está a Lanchonete do Gaúcho
Novas casas viravam festa - No terreno que papai comprou na cidade - quase uma quadra - começou a construir nossa terceira morada em Campo Mourão. Nessa nasceram a Rose Mary, o Edson e a Mara. Completaram o quadro de treze filhos.
Quando a Zizinha casou com o Lázaro Mendes ganhou uma casa perto da nossa e o Tito, casado com a Maria, também foi presenteado com moradia na Rua Araruna, mais ou menos em frente de onde está a PC Bicicletas.
Quando a Zizinha casou com o Lázaro Mendes ganhou uma casa perto da nossa e o Tito, casado com a Maria, também foi presenteado com moradia na Rua Araruna, mais ou menos em frente de onde está a PC Bicicletas.
Delegado amolece ladrão - O primeiro 'delegado' de polícia na futura cidade de Campo Mourão foi Estevam Schener, bem antes da construção da cadeia e da cozinha do presidio, todas de madeira, cobertas de tabuinhas, na Av. Irmãos Pereira esquina com a Rua Araruna. Esse 'delegado' - que estava mais para inspetor de quarteirão - quando prendia um ladrão fazia o marginal tomar um baita purgante de sal amargo. Mandava tirar a cueca, ficava só de calça, colocava uma placa pendurada no pescoço: SOU LADRÃO. Algemava o infrator o qual, escoltado por um policial era obrigado a desfilar pela cidade, sem direito de ir a privada quando a barriga roncava. Imagine a situação humilhante, além de ficar todo borrado e a calça imunda. Depois era conduzido à frente da casa assaltada por ele, batia palma, o dono atendia e ele confessava o que tinha surrupiado dali. Depois do carão o delegado amarrava o acusado junto com sua mulher em uma das cinco palmeiras que existia em frente da nossa casa e batia com o talo nos dois, não importava onde: na cara, nas costas, na cabeça... uma surra inesquecível. O delegado sabia ser carrasco.
Eu odiava ver ele fazer essas malvadezas ainda mais quando surrava a mulher que não tinha culpa do marido ser ladrão.
Depois de uma semana de castigo e uma surra por dia o casal era solto e geralmente sumia de Campo Mourão, com vergonha ou por medo. Mas isso era coisa rara. Ladrão aqui não se criava. Nem de galinha (risos).
Os bandidos e assassinos também eram amarrados ali nas palmeiras perto da Laje, depois nas árvores do Bosque das Copaíbas por dias, até serem conduzidos as prisões de Pitanga ou Guarapuava, isso quando tinha condução e escolta disponível. Esses não apanhavam, creio que era porque o delegado tinha medo de vingança. Podiam até apanhar, mas com certeza, voltavam para matar o agressor. Bandido é sangue ruim, viu?
Quando acontecia de preso fugir, a milícia ia atrás, não para prender e, sim, para matar. Bandido aqui não tinha segunda chance. E olha que foram muitos, a maioria jagunços, pistoleiros contratados pelos coronéis e grileiros de terra. Assassinos profissionais, mesmo. Matavam por dinheiro ou só pra ver o tombo! Parecia terra de faroeste.
Eu odiava ver ele fazer essas malvadezas ainda mais quando surrava a mulher que não tinha culpa do marido ser ladrão.
Depois de uma semana de castigo e uma surra por dia o casal era solto e geralmente sumia de Campo Mourão, com vergonha ou por medo. Mas isso era coisa rara. Ladrão aqui não se criava. Nem de galinha (risos).
Os bandidos e assassinos também eram amarrados ali nas palmeiras perto da Laje, depois nas árvores do Bosque das Copaíbas por dias, até serem conduzidos as prisões de Pitanga ou Guarapuava, isso quando tinha condução e escolta disponível. Esses não apanhavam, creio que era porque o delegado tinha medo de vingança. Podiam até apanhar, mas com certeza, voltavam para matar o agressor. Bandido é sangue ruim, viu?
Quando acontecia de preso fugir, a milícia ia atrás, não para prender e, sim, para matar. Bandido aqui não tinha segunda chance. E olha que foram muitos, a maioria jagunços, pistoleiros contratados pelos coronéis e grileiros de terra. Assassinos profissionais, mesmo. Matavam por dinheiro ou só pra ver o tombo! Parecia terra de faroeste.
Primeiro escândalo - Lembro bem da Casa Iracema, armazém de secos e molhados na esquina da avenida Irmãos Pereira com a rua Brasil, empresa dos irmãos Jocelin e Geremias Cilião de Araújo.
O professor João Schener construiu no outro lado da praça, na esquina da avenida Índio Bandeira com a rua Brasil, onde morou com sua família, até que certo dia estourou o primeiro escândalo na jovem cidade: um dia antes, Jocelin passou sua parte do negócio ao irmão Geremias, 'roubou' a esposa do professor malvado e, com ela, desapareceu. Dizem que foram morar no Ceará. Descontente, João Schener vendeu sua propriedade ao Dr. Elias Xavier do Rego que ali instalou o estacionamento das duas primeiras jardineiras que faziam o transporte de passageiro, uma de Campo Mourão a Pitanga e a outra de lá pra cá, dirigidas por seus filhos Aristóteles e Joaquim. Um tempo depois da morte do Dr Elias, a família vendeu os coletivos a Vassilio Boiko, fundador do Expresso Nordeste. O primeiro posto de correio era nessa casa e as pessoas iam ali procurar suas correspondências. Depois da venda das jardineiras, o correio improvisado passou para a Casa Iracema e as cartas ficavam dentro de uma caixa redonda, vazia, dos chapéus Panamá da Ramezoni. Com o fim das jardineiras a casa foi vendida ao senhor Ladislau Wronski que a deu de presente ao seu filho Osvaldo B Wronski que havia se formado farmacêutico em Curitiba (UFPR). Ali, timidamente, na casa de madeira, começou a funcionar a Farmácia América. A velha casa logo deu lugar ao Edifício Alvorada, com a farmácia mudando-se para a outra esquina, térreo do Edifício Mourão. O primeiro sobrado visto na cidade foi iniciativa de Osvaldo Wronski, na av Índio Bandeira, quase esquina da rua Brasil, ao lado do Edifício Alvorada.
Casa de pedras - A primeira casa de madeira com vidraças foi a residência e consultório do Dr. Delbos, a qual depois, foi escola e prefeitura.
O professor João Schener construiu no outro lado da praça, na esquina da avenida Índio Bandeira com a rua Brasil, onde morou com sua família, até que certo dia estourou o primeiro escândalo na jovem cidade: um dia antes, Jocelin passou sua parte do negócio ao irmão Geremias, 'roubou' a esposa do professor malvado e, com ela, desapareceu. Dizem que foram morar no Ceará. Descontente, João Schener vendeu sua propriedade ao Dr. Elias Xavier do Rego que ali instalou o estacionamento das duas primeiras jardineiras que faziam o transporte de passageiro, uma de Campo Mourão a Pitanga e a outra de lá pra cá, dirigidas por seus filhos Aristóteles e Joaquim. Um tempo depois da morte do Dr Elias, a família vendeu os coletivos a Vassilio Boiko, fundador do Expresso Nordeste. O primeiro posto de correio era nessa casa e as pessoas iam ali procurar suas correspondências. Depois da venda das jardineiras, o correio improvisado passou para a Casa Iracema e as cartas ficavam dentro de uma caixa redonda, vazia, dos chapéus Panamá da Ramezoni. Com o fim das jardineiras a casa foi vendida ao senhor Ladislau Wronski que a deu de presente ao seu filho Osvaldo B Wronski que havia se formado farmacêutico em Curitiba (UFPR). Ali, timidamente, na casa de madeira, começou a funcionar a Farmácia América. A velha casa logo deu lugar ao Edifício Alvorada, com a farmácia mudando-se para a outra esquina, térreo do Edifício Mourão. O primeiro sobrado visto na cidade foi iniciativa de Osvaldo Wronski, na av Índio Bandeira, quase esquina da rua Brasil, ao lado do Edifício Alvorada.
Parte da primeira casa construída no centro de Campo Mourão
onde hoje está o Edifício Alvarorada
Casa de pedras - A primeira casa de madeira com vidraças foi a residência e consultório do Dr. Delbos, a qual depois, foi escola e prefeitura.
A primeira construção de madeira coberta de telhas foi a do Fórum da Comarca de Campo Mourão.
O primeiro prédio em alvenaria foi o Centro de Saúde e Higiene do Estado, hoje Museu Municipal, na av. Índio Bandeira, esquina com a rua Francisco Albuquerque.
O primeiro prédio em alvenaria foi o Centro de Saúde e Higiene do Estado, hoje Museu Municipal, na av. Índio Bandeira, esquina com a rua Francisco Albuquerque.
A primeira casa residencial em alvenaria, pertenceu a Casemiro Biaico, quase na frente do Magazine Santo Antonio da família Domanski, na rua São Paulo.
O primeiro prédio comercial, dividido em salas de aluguel, foi iniciativa do dentista Dr. Geraldo Bronzel, na av Irmãos Pereira, esquina da rua Harrisson José Borges.
Vista de Campo Mourão: Av Índio Bandeira entre as ruas Araruna e Francisco Albuquerque. À direita o 'Negócio do Seu Chico' Albuquerque e ao fundo Hotel Rio Grande de Jorge Brasil.
No terreno vago à esquerda está o Colégio Vicentino Santa Cruz.
Primeiro incêndio - A princípio, as instalações do Hotel Rio Grande, de Jorge Brasil, foram projetadas para ser residência do construtor e mestre de obras, Teodoro Metchko. Tinha muitos detalhes lindos, por dentro e por fora, feitos com o maior capricho. Estava ali na Índio Bandeira, esquina da rua Araruna, bem em frente de onde está o Colégio Santa Cruz. A casa tomava toda a esquina onde está o Edifício Joana Darc e a Bit Informática.
Em 1950 o hotel pegou fogo e não sobrou nada daquela artística construção de madeira projetada por seu Teodoro. Ninguém sabe porque ele não morou ali e alugou ao seu Jorge. Será que previu a catástrofe?
O incêndio foi à noite. Eu entrei em pânico. Nunca tinha visto um fogaréu daquele tamanho, com as labaredas imensas lambendo o céu. Quase toda pequena população acorreu para ajudar, mas não teve como. Água só de poço e eram bem profundos. Aquela beleza de casa grande, virou um montinho de cinzas.

Primeiro advogado - Pouco tempo depois, ao lado do hotel incendiado, foi construída uma nova casa e nela se instalou o primeiro advogado de Campo Mourão, Dr. Nelson Bittencourt Prado. Quando fui eleita Rainha do Carnaval – 1952 - ele foi o Rei Momo, animado como ele só.
Primeiro time de Futebol - Quando fundamos o Clube Operário Recreativo 1º de Maio, em
1952, por iniciativa do meu primo Ville Bathke, papai foi eleito presidente e
eu assumi o Departamento da Juventude. Uma das primeiras iniciativas do
presidente Francisco Albuquerque foi organizar a equipe de futebol que teve
logo adesão do prefeito Daniel Portela que mandou dar um trato no terreno da
praça, que ficou bem aplainado e arrancadas as raízes de gabirova, pitanga e outras
plantas nativas, que eram muitas. Mandou colocar as traves de madeira de pinho, com vigas quadradas,
comuns na época. Foi adquirido jogo de camisas tricolores e uma bola de capotão nº
5 (oficial). A estréia foi contra um time de Sertãozinho (Engenheiro Beltrão) e ficou no 0 x 0.
O incêndio foi à noite. Eu entrei em pânico. Nunca tinha visto um fogaréu daquele tamanho, com as labaredas imensas lambendo o céu. Quase toda pequena população acorreu para ajudar, mas não teve como. Água só de poço e eram bem profundos. Aquela beleza de casa grande, virou um montinho de cinzas.

Primeiro advogado - Pouco tempo depois, ao lado do hotel incendiado, foi construída uma nova casa e nela se instalou o primeiro advogado de Campo Mourão, Dr. Nelson Bittencourt Prado. Quando fui eleita Rainha do Carnaval – 1952 - ele foi o Rei Momo, animado como ele só.
Primeiro quadro tricolor de futebol de Campo Mourão.
À esquerda Francisco Albuquerque e Daniel Portela
Ao fundo o casarão do antigo Instituto Santa Cruz
O terreirão sem grama corria no sentido da Rua
Brasil e fazia fundo com as avenidas Índio Bandeira e Irmãos Pereira. Logo
depois surgiu a equipe da Associação na qual jogavam os ‘colarinhos brancos’:
advogados, juiz, promotor; o pessoal mais elitizado e rico da cidade os quais,
inclusive, fundaram o Clube Social e Recreativo 10 de Outubro enquanto nós
éramos do Operário. Mais tarde, já nos anos 60/70, houve a fusão dos dois times
e surgiu o clube União Operário FC presidido por Avelino Piacentini, que foi
beque do Operário. No futebol, o principal rival de Campo Mourão, era Peabiru
nas cores (verde e branca) do ACERP – Associação Cultural, Esportiva e Recreativa de
Peabiru. Só que ao invés de futebol corrido mesmo o que mais dava era briga.
Era jogo duro e rivalidade total.
Primeiros médicos - Depois do Dr. Delbos – médico estadual - o primeiro médico particular a se instalar em Campo Mourão, em residência da rua Devete de Paula Xavier, esquina com a av Índio Bandeira, formado pela Universidade Federal do Paraná de Curitiba, foi o estimadíssimo Dr. Manoel de Andrade, casado com a competente professora Leoni Prado Andrade, irmã de Nelson Bittencourt Prado. Em seguida veio, o não menos competente, Dr Carlos Ferreira, casado com a linda professora Maria Ligia Picoli.
Ativa na Política do bem social - Meu pai Francisco Ferreira Albuquerque era chefe político do Partido Social Democrático (PSD) e amigo de confiança de Moises Wille Lupion de Troia. O governador e sua comitiva palaciana, cansou de ir lá no Campo e muitos políticos influentes, também. Nessas visitas, nossa casa ficava lotada.
As recepções e as festas, geralmente eu tomava a frente e todos ajudavam a preparar as mesas. Fizemos muita política sadia e pacífica. Conseguimos muitas obras e ações boas a bem da 'menina' Campo Mourão, lado a lado com meu dedicado pai e lideranças da época. Todos queríamos só o melhor a favor da nossa gente sofrida. Ambicionávamos uma comunidade feliz onde todos se davam bem com todos. As famílias se visitavam e se ajudavam com frequência. Era Campo Mourão de união.
Conquistas rápidas - Dentre outros benefícios em apenas um ano de emancipação, os principais foram: a independência de Campo Mourão, a instalação de energia e luz elétrica, além do Posto de Saúde e Higiene na cidade. Só não conseguimos mais, porque o Bento Munhoz foi eleito na sequência e mandou parar tudo em Campo Mourão, inclusive as obras da usina e da ponte sobre o Ivaí, só porque ele era do PR (Partido Republicano) e em Campo Mourão prevalecia o PSD (Partido Social Democrático), mas mesmo assim ele teve ótima votação em nosso vasto município, mas foi ingrato com seus eleitores. Foi uma vingança banal, sem motivo, que causou enormes prejuízos e atrasou a nossa arrancada inicial por quatro anos.
Neste almoço preparado por Adalbrair
destacamos Moisés Lupion, Francisco Albuquerque e Pedro Viriato
As recepções e as festas, geralmente eu tomava a frente e todos ajudavam a preparar as mesas. Fizemos muita política sadia e pacífica. Conseguimos muitas obras e ações boas a bem da 'menina' Campo Mourão, lado a lado com meu dedicado pai e lideranças da época. Todos queríamos só o melhor a favor da nossa gente sofrida. Ambicionávamos uma comunidade feliz onde todos se davam bem com todos. As famílias se visitavam e se ajudavam com frequência. Era Campo Mourão de união.
Canteiro de obras da Usina Mourão-I
Adalbrair três vezes Rainha do Carnaval em Campo Mourão
Tri Rainha - Em 1950, com 17 anos fui a única garota a ocupar cargo na diretoria que fundou a Sociedade Recreativa 1° de Maio, na Rua Brasil, onde hoje estão a Seicho-no-ie e as sedes da Comcam/Acamdoze. Fui eleita Rainha do 1° Carnaval realizado em Campo Mourão. O Rei Momo foi o advogado Nelson Bittencourt Prado. Depois foi o Fuad Kffuri, várias vezes prefeito de Goioerê. Fui rainha eleita três vezes, em anos seguidos (51, 52 e 53). A primeira no Clube 1° de Maio e duas no Clube Social e Recreativo 10 de Outubro.
Nossa diversão em Campo Mourão era fazer pic-nics e bailes
Moços fora - Na qualidade de diretora do 1° de Maio fundamos o Grêmio das Moças. Organizamos encontros de tomadas de decisões, matinês dançantes das crianças, bailes, concursos de danças (pares), desfiles de modas e pic-nics com as amigas e seus pais juntos, se quisessem ir. Os moços ficavam fora. Era tudo muito respeitoso. Todas ensaiavam o que fazer no Baile de Carnaval nas chácaras, longe dos curiosos. A gente gostava de inovar e surpreender.
Nosso lazer era dançar, brincar nos rios e fazer passeios pelas matas. Eu dirigia um caminhão Ford-48, preto, que papai comprou novo. Enxia a carroceria de moças e íamos passear. A gente nadava na 'voltinha' do Rio do Campo, perto da Chácara do Dr. Eugênio Zaleski e, no finzinho da tarde eu as devolvia, uma por uma, nas casas delas e agradecia aos pais pela confiança que tinham em nós.
Casa dos Albuquerque a quarta construída em Campo Mourão
Na futura cidade - Estava eu com 19 anos quando passamos a morar na cidade que brotava, onde meu pai comprou quase uma quadra e fez casas para as filhas e filhos casados, em terrenos separados, mas todos vizinhos da nossa casa, que até pouco tempo estava ali na Av. Índio Bandeira, esquina com a Rua Francisco Albuquerque (antiga Rua Paraná). Foi a quarta construída no centro e era ponto de referência na promissora cidade. Esta casa foi edificada de frente para a av. Índio Bandeira. Anos depois foi reformada e ficou frontal a rua Francisco Albuquerque. Foi aí que mamãe nos criou com todo carinho do mundo e viveu até seu último suspiro auxiliando quem dela precisasse, a qualquer hora.
Estudos - Depois do curso primário com aulas naquela chácara das mexericas e na escola isolada do Estado, fiz matrícula na Escola Normal Regional (formação de professoras) situada na Avenida Irmãos Pereira e depois virou Hotel Ponto Chic (Casa Loanda). Dali mudamos a escola no casarão que era do Clube 1° de Maio e mais tarde o governo a instalou no Colégio Estadual de Campo Mourão. Foi extinta porque era curso igual do ginásio. Em Curitiba fiz Alta Costura, Natação e curso de Mergulho Oceânico, que até pouco tempo ensinava aos meus alunos. Parei depois que faleceu meu querido filho Jorge Luiz e sócio da Foca.
Vi casa por casa - A cidade estava a despontar. Eu vi Campo Mourão nascer e crescer, casa por casa, família por família que chegava. Cada casa, em construção, quando colocavam o assoalho, a gente a 'invadia' e fazia um bailão sem o dono saber. Era uma espécie de festa de inauguração. O proprietário chegava assustado, querendo briga. A gente explicava o costume e ele entrava na dança. Quando deu a febre de construção, em 1950, a gente ouvia os serrotes e marteladas de dia e de noite. Parecia uma sinfonia de pancadas. Atrapalhava o sono, mas eu ficava feliz por ver o sonho de papai, realizado. Ele queria ver Campo Mourão crescer!
Paquera e namoro - 1953, com 20 anos, no auge da minha juventude, fui paquerada por um estudante de fora (Tertuliano) e estava noiva de outro rapaz, o dentista Augustinho Kauling. Acabei desmanchando tudo e decidi casar, contra a vontade dos meus pais, com Joaquim Xavier do Rego. A brusca mudança de de amor no meu coração foi assim: a Beatriz me contou que chegaram dois rapazes muito bonitos na cidade e que ela até ia namorar um deles. Esse um deles, é meu marido (gargalhadas).
Os novos boys recém chegados eram os irmãos: Aristóteles (Tote) e Joaquim, filhos do engenheiro e empresário, Elias Xavier do Rego, que instalou a primeira empresa de ônibus (Expresso do Oste) e era procurador (representante legal) do russo Jorge Walter dono da Gleba Sem Passo, em litígio na época. Um dia vi o Joaquim passar, bonitão, com seu carro, levantando poeira eee... gostei dele. Aí, nos aproximamos nas matinês dançantes. Dançávamos juntos e namorávamos de longe, só no olhar. Andar de mão dada, nem pensar. Se pegasse na mão já tinha que casar (rindo).
Pecado mortal - A exemplo da maioria das famílias cristãs, meus pais eram contra esse casamento por causa dos falatórios, só porque o pai do Joaquim era separado da mulher. Isso (separar) naquele tempo, era pecado mortal. Quando o Joaquim foi em casa me pedir em noivado, quase deu um treco na mamãe. Ficou bravíssima e papai - calmo como sempre - pediu um mês pra decidir e dar a resposta. Passou o mês e decidiu que sim e exigiu que casássemos logo depois da quaresma.
Papai foi baleado - Um domingo eu estava me arrumando para ir à Missa das 10 na igreja São José e contei, em casa, que tinha sonhado umas coisas ruins com papai, que estava em Curitiba a convite do Lupion. Mamãe não gostou da prosa e me deu um pito (repreendeu). Nisso chegou um caminhoneiro que disse: eu ouvi na PRB-2, que o Seu Chico está internado no Hospital da Cruz Vermelha, em estado grave'. Desci do meu quarto correndo e falando: Eu não lhe disse mãe... que tinha sonhaadoo? Falei quase em pranto com uma dor horrível no peito. Eu pedia a Deus que aquilo fosse mentira.
A Morte de seu Chico - Foi uma correria danada. Fomos rapidamente à Curitiba de avião, pela BOA. Papai foi baleado dentro de um ônibus, por causa de uma discussão sobre fumaça de cigarro, que não tinha nada a ver com ele. Estava sentado lá na frente. Os briguentos soltaram palavrões, entraram nos socos e saiu tiro de revólver. Acertaram meu pai na barriga que causou onze perfurações nos intestinos. O Delegado de Polícia, Lázaro Mendes, meu cunhado, casado com a Zizinha, fazia companhia ao meu pai. Nos contou que papai desceu andando do ônibus, pegou um táxi, pagou a corrida, desembarcou em frente ao hospital e entrou caminhando lentamente. Enquanto acomodavam papai, o Lupion soube do ocorrido e mobilizou 22 médicos a fim de fazer as cirurgias, mas foram em vão.
Casamos na Igreja de São José, em Campo Mourão
a dama é minha irmã Rosemary
Casamento adiado - Faltava só uma semana (8 dias) para o meu casamento se realizar. No outro dia da cirurgia, eu sentada na cama, papai estava com a cabeça recostada no meu colo, e falou: 'parece que estraguei tudo, né filha?'.
Oito dias depois ele faleceu nos meus braços, bem no dia 8 de maio, data que eu estaria casando. Nós estávamos conversando normalmente. De repente ela parou de falar. Olhei, chamei, mas ele silenciou para sempre. Não me contive. Chorei muito abraçada a ele. Demorei entender o que se passou.
Adiei o casamento para o dia 31 de julho. A família estava de luto, mas eu vesti branco, mesmo contra os protestos do meu irmão Tito, que queria que eu casasse de preto. No final ele me entendeu e me deu a maior força.
Mataram o meu e mataram o pai do Joaquim, a tiros, covardemente. Depois que casamos a gente vivia sob ameaças de pistoleiros, na Estiva. Nunca tive medo. Levei tiros e dei também. A época era assim. Cascavel estava no início. O Joaquim estava ajudando a abir a cidade e a região e fomos morar lá, por causa dos negócios da terra. Cascavel estava no começo e aqui já estava tudo aberto e a cidade formada. Assim, acabamos nos enfiando naquele sertão bravo onde chorei muito por ter deixado Campo Mourão e a família que tanto amo. Era muito difícil viver lá. Tudo que meus pais enfrentaram, encarei também, sempre ao lado do Joaquim, sem esmorecer.

Oito dias depois ele faleceu nos meus braços, bem no dia 8 de maio, data que eu estaria casando. Nós estávamos conversando normalmente. De repente ela parou de falar. Olhei, chamei, mas ele silenciou para sempre. Não me contive. Chorei muito abraçada a ele. Demorei entender o que se passou.
Adiei o casamento para o dia 31 de julho. A família estava de luto, mas eu vesti branco, mesmo contra os protestos do meu irmão Tito, que queria que eu casasse de preto. No final ele me entendeu e me deu a maior força.
Milagres de Nossa Senhora
Tenho muita fé. Sou abençoada e recebi dois milagres da amada Mãe de Cristo. Se não fosse por ela, hoje minha querida filha Veronita e eu, não estaríamos vivas. Nesse mundo é preciso ter fé, caso contrário não sobrevivemos.
Aconteceram durante e depois do meu primeiro parto, o que vou narrar agora. Nunca imaginei que é difícil e tão dolorido. Jamais simpatizei com cesariana.
Com certeza as crianças nascidas naturalmente e as mães que amamentam têm, ambas, uma super saúde. Eu fui mãe duas vezes assim, de parto normal, e amamentei todos igual a minha mãe fez comigo e meus irmãos.
Mas o dia da Vero nascer, chegou. Mamãe disse que não faria meu parto, mas me aconselhou bastante, ensinou como me comportar e me acompanhou ao Hospital São Pedro, dos médicos muito queridos e competentes, doutores José Carlos Ferreira e Manoel Andrade.
Com certeza as crianças nascidas naturalmente e as mães que amamentam têm, ambas, uma super saúde. Eu fui mãe duas vezes assim, de parto normal, e amamentei todos igual a minha mãe fez comigo e meus irmãos.
Hospital S. Pedro na Av M.M. Camargo x R Roberto Brzezinski
Quando chegamos o doutor Manoel já estava me esperando de jaleco branco e a sala de cirurgia arrumada.
Mamãe, parteira competente e experiente que era, dessa vez amoleceu, não parecia aquela mulher meiga e durona. Estava visivelmente nervosa. Preferiu orar e ficar na sala de espera. 'Não queria ver minha filha sofrer', confessou depois.
Fui colocada na cama hospitalar em posição de ganhar nenê. O tempo foi passando, as dores aumentando muito e comecei a quase não suportar mais. Eu vi o doutor Manoel preocupado cada vez mais e tentando me ajudar, por demais atencioso. Só me lembro que ele falou: 'a criança é muito grande', daí a dificuldade em nascer'. Já se iam quase duas horas, força, dores e nada. Ele falou: 'desisto menina, não vou dar conta' e quanto a minha vida e da Veronita entregou a Deus. Virou as costas, falou que ia comunicar a mamãe... mas foi o tempo dele colocar a mão na maçaneta, porta pouco aberta, eu falei quase gritando: volte doutor, não desista, o nenê está nascendo!! Ele voltou rápido. Em um minuto minha filha nasceu, bem lindinha. Chorou à luz da vida. Saudável.
Foi uma alegria geral entre risos, abraços, parabéns, tudo que você possa imaginar de bom, além do alívio, claro. O doutor Manoel só parou de me cuidar depois que fez todos os procedimentos até o pós-banho. Mamãe foi a primeira a entrar, com um baita sorriso no rosto, fez questão de ser a primeira a pegar a neta nos braços e vesti-la, ainda choromingando. Só depois de corujar, me entregou e dei de mamar à Veronita que, antes, chorou bonitinha quando deu a primeira respirada do ar deste mundo. Mas não contei do milagre a ninguém, mas vou revelar agora. Foi assim:
Isso aconteceu naquele momento em que o doutor ia deixando a sala - como quem diz: ''vão morrer''.
Nesse instante vi Nossa Senhora, em pé, mãos irradiando luz na minha frente, que me disse, rápida e suavemente:
'Mande ele voltar, vou te ajudar!!
Eu acho que gritei: volte doutor, a criança está nascendo!!
E ele voltou, sorriu. Foi aí que não demorou nada, as dores passaram e minha filha nasceu. Graças a Deus, a Nossa Senhora e ao bendito doutor Manoel.
E ele voltou, sorriu. Foi aí que não demorou nada, as dores passaram e minha filha nasceu. Graças a Deus, a Nossa Senhora e ao bendito doutor Manoel.
O segundo milagre - Talvez tenha sido na hora de puxar a Veronita, o bracinho direito dela deslocou todinho. Aquilo me dava um dó que ninguém imagina. Caído e sem movimento, bem bobo e ela um anjo inocente parece que não sentia nada daquilo.
Eu mais o Joaquim estávamos morando e trabalhando na Fazenda Centenário, no desbravamento de Cascavel, e vim ao Campo fazer o parto porque aqui tinha mais recursos e, principalmente, o carinho de minha mãe e irmãos.
Eu mais o Joaquim estávamos morando e trabalhando na Fazenda Centenário, no desbravamento de Cascavel, e vim ao Campo fazer o parto porque aqui tinha mais recursos e, principalmente, o carinho de minha mãe e irmãos.
Após o nascimento... da semana de resguardo e do mal de sete dias... estava eu dando o banho habitual na minha filhinha e senti que minha estava com febre bastante alta. Me concentrei, rezei muito e pedi a Nossa Senhora que, mais uma vez, por amor de seu amado Filho, Jesus, a salvasse.
Isso foi pela manhã. Embarcamos no avião e depois do meio-dia já estávamos em Cascavel que tinha um posto de saúde perto da Rodoviária. Fui meio correndo, com a nenê no colo, quase desfalecida e ardendo de febre. Eu apavorada, com medo de perdê-la.
O médico me recebeu, mas disse que eu teria que marcar consulta e voltar no outro dia. Tinha bastante gente na fila de espera.
Apelei, chorei e mostrei a ele a situação da minha filhinha, que por certo ia morrer. Estava com quase 40º graus. Ele viu a gravidade do caso e nos atendeu na humilde salinha de exames.
Mandou eu tirar toda roupinha da Vero e a examinou com a competência de um bom profissional, inclusive, logo notou que ela não tinha movimento no braço direito.
No final da consulta, até ele se admirou: a febre sumiu como um passe de mágica. Lembrei do pedido a Nossa Senhora - sei que Ela me atendeu - e mentalmente agradeci.
Contudo o milagre maior estava por vir. Pasmem !!
Ele mandou eu vestir roupa na Vero, ir embora e voltar outra hora para engessar o bracinho dela. Mas veja só: quando levei a blusinha para vesti-la, ela levantou os dois bracinhos... affh... eu quase cai... minhas pernas amoleceram, mas minha filha estava salva, linda, maravilhosa até hoje. É minha amiga e companheira inseparável, graças a Deus e a Nossa Senhora.
Essas coisas a gente não comenta, ma sempre que me acorre alguma dificuldade eu não me acanho de pedir ajuda e proteção de Nossa Senhora. Faço isso com muita fé e nunca deixo de agradecer sempre, nas minhas orações, quando deito e logo que acordo.

Rosas de Portugal
O Milagre das Rosas é muito conhecido em Portugal. Trata-se da transformação de flores em pães, mais exatamente rosas transportadas por santas mulheres, escondidas em seus aventais. as quais foram acusadas por levarem, furtivamente, pães de rosas aos pobres. Entre elas estavam a Rainha Santa Isabel de Portugal e sua tia Isabel da Hungria.
Os Milagres das Rosas

Rosas de Portugal
Na realidade comigo aconteceram três milagres. Os dois primeiros com Nossa Senhora e o terceiro com a Rainha das Flores.
Em um dos vasos do seu túmulo coloquei algumas rosas importadas, daquelas de talo viçoso e sem espinhos. Na verdade comprei uma dúzia. Eram muito lindas, com flores muito vivas e grandes, cor salmão-escarlate. Dei as demais a minha filha Veronita que as colocou em um vaso na sala do sobrado. Ficou lindo o enfeite e no ar sentia-se um leve e suave aroma perfumado.
Certo dia, em visita ao meu filho, no campo santo, notei que – sem cuidado algum – uma delas havia brotado. Tentei retirar o rebento e plantar na terra, mas me dei mal. Estraguei ao puxar a tenra mudinha. Fiquei muito triste igual criança arteira quando leva pito ao fazer algo errado.
Aquele brotinho tão viçoso que vingou num simples vaso árido e ao relento não me saía da lembrança. Ao mesmo tempo que pedi perdão a Deus pelo estrago, também rogava com fé ardorosa que Ele me desse outro, o que seria lembrança viva do meu filho.
Pois acredite. Não há de ver que me ouviu.
No ano seguinte fiz a visita e curiosa como a maioria das mulheres e mães, discretamente dei uma espiada dentro do vaso, assim como quem diz: não perca tempo!
Só que não perdi (sorrindo).
Senti um calafrio dos pés a cabeça. Arrepiei. Meus olhos ficaram arregalados.
Lá estava o broto que tanto pedi a Deus e Ele me deu.
Com todo cuidado possível, não puxei como da outra vez. Não fui afoita. O tirei do fundo do vaso sem machucar as poucas raizezinhas que tinha e o levei até minha casa, onde só tem um cantinho de terra. O pátio é todo cimentado e serve de garagem dos carros da família.
Plantei com todo cuidado e carinho. O protegi com pó de café, contra as formigas. Ficou ali por vários meses, saudável, mas sem crescer muito. No ano seguinte já estava maiorzinho e bem na época da visita ao cemitério (novembro) a primeira rosa desabrochou esplendorosa.
Cresceu forte, multiplicou naquele cantinho e olha aí na foto. Ela está ali para quem quiser ver, bela e formosa: A Rosa do Jorge Luiz – com certeza e com a benção de Deus - foi meu filho quem nos deu esse presente magnífico, lindo de viver.
No patio da residência da Adalbrair em Curitiba
Mataram nossos pais
Mataram meus Irmãos

Café era abundante na região de Campo Mourão
chamado de ouro verde
Era tempo de mais uma colheita de café e como se fazia todo ano, pessoal estava contratado para esse trabalho que exigia muita prática.
Meus irmãos, Dalmo e Everaldo, estavam na fazenda administrando a colheita.
Os frutos vermelhos indicavam que estavam maduros. Os galhos eram derriçados manualmente, e depois, os grãos eram catados e passados pelas peneiras. Depois de abanados para tirar as folhas e impurezas, eram levados até o terreirão, secados no chão de concreto e ensacados, prontos para a venda.
Certa noite, da casa da sede, ouvia-se uma algazarra em volta de uma fogueira entre as casas dos colonos. Meus irmãos foram até lá, era noite, verificar o que estava se passando.
Tinha catadores e catadoras de várias partes da região que, praticamente, eram os mesmos da safra anterior, mas tinha dois novatos das bandas de Roncador.
Meus irmãos assassinados Everaldo e Dalmo
Os irmãos Albuquerque notaram que estava rolando uma bebedeira e a maioria dos homens estava embriagada. Chegaram mais perto, cumprimentando os trabalhadores, batiam no ombro e perguntavam se estava tudo bem.
Sem esperar, sem tempo para se defender, foram agredidos por aqueles dois, a facadas e mortalmente feridos. Foram levados até Terra Boa, mas nada se pode fazer.


Nossa Fazenda da Figueira estava entre Engenheiro Beltrão e Terra Boa e o local, por onde passa a estrada, é lembrado por causa de uma árvore enorme desta espécie, sob a qual, antes tempos, acampavam e descansavam sob a sua sombra, engenheiros e equipes que fizeram o traçado da futura estrada Maringá/Campo Mourão.
Caça aos assassinos -Meus irmãos Newton e Moacir sabiam quem eram os assassinos, os quais, após o crime, fugiram para Roncador onde tinham parentes e moradia.
Meus irmãos registraram queixa e informaram a polícia de Campo Mourão que iam atrás dos bandidos. O delegado ordenou que dois policiais, municiados, fossem junto.
Quando chegaram perto da casa dos assassinos foram recebidos a tiros. Eles fugiram pelos fundos e sumiram no meio do mato fechado, repleto de pinheiros.
A captura militar correu atrás e apesar do tiroteio, foi negaceando e logo alcançou os dois fugitivos que teimaram em não se entregar. Continuaram a mandar bala. A milícia então parou de dar voz de prisão e reagiu. Revidou os tiros, liquidou os dois e os conduziram até o pátio da delegacia de Campo Mourão, perto da Prefeitura bem no dia do sepultamento do Dalmo e do Everaldo, realizado no Cemitério Municipal São Judas Tadeu.
Os bandidos foram enterrados como indigentes, em cova rasa, porque ninguém reconheceu ou reclamou seus corpos.
Minhas Andanças
Adalbrair Albuquerque com Veronita e Jorge Luiz
de Campo Mourão, Cascavel para Curitiba
1955 - Moramos um ano na Estiva. Também mataram a tiros o Dr. Elias, pai do Joaquim, por causa das demandas da Gleba dos Walter que ele administrava. Foi daí que montamos outra serraria no sertão de Cascavel. Em 1956 nasceu a Veronita e depois o Jorge Luiz, que já me deram netinhos, com a benção de Deus.
Veronita, Adalbrair e Jorge Luiz no Passeio público de Curitiba
Alta costura - Em 1958, de Cascavel mudamos à Curitiba. Legalizamos toda a terra e não sai mais daqui (Curitiba). Durante 25 anos trabalhei com alta costura. Vesti a filha e a esposa do Aroldo Galassini, a Adelaide Salvadori mulher do Rosalino, a Risoleta do Milton Luiz Pereira, a Niva do Anibal Khoury, a empresária Lorete Tacla e muitas outras mulheres não menos famosas.
Empreendedora - Ainda em Curitiba, fundei e dirigi a Escola de Mergulho Foca-Sub, em sociedade com meu filho Jorge Luiz e com o amigo Luiz Rabello. Sou a instrutora e mergulhadora preferida do Grupo de Busca e Salvamento, da Polícia Militar do Paraná, com imenso orgulho. Depois do falecimento de meu filho, desgostosa, encerrei a Foca.
Anita Albuquerque x Dom Eliseu
Era dia 10 de Outubro de 1979, manhã nublada, clima
agradável e, no centro da cidade, a grande massa popular ansiosa para assistir
o desfile cívico-militar com a
participação engalanada da maioria de estudantes dos educandários, polícia
militar e empresas.
Á frente veio a saudosa Banda Municipal, seguida dos
pelotões estudantis com a marcha marcada pelo som barulhento e compassado das
fanfarras super aplaudidas. A passagem terminou com apresentação de soldados da
PM e Corpo de Bombeiros. A parada festiva desceu na contra-mão da Avenida
Capitão Índio Bandeira, sentido Rua Interventor Manoel Ribas/Rua Araruna, área
final de deserção das formações que comemoraram, condignamente, os 32 anos de
emancipação municipal de Campo Mourão.
A Avenida estava literalmente tomada por milhares de
pessoas aparentadas ou não dos desfilantes. No palanque-oficial montado sobre a
calçada da Praça São José esquina da Rua Brasil estavam as autoridades e a
Rádio Colméia transmitindo ao vivo, o maravilho evento da mais alta prova de
cidadania.
Entre as autoridades estavam o Bispo Diocesano, Dom
Eliseu Simões Mendes, prefeito Augustinho Vecchi, alguns vereadores, mulheres e
crianças de políticos, dos estudantes e de convidados.
Entre as convivas estavam duas das mais destacadas
pioneiras de Campo Mourão, batalhadoras, lutadoras incansáveis, matriarcas de
duas famílias de grandes proles, cristãs de fé inabalável, devotadas a receber
bem e ajudar as pessoas afamiliadas ou solitárias que se aventuravam pelo vasto
território dos antigos Campos do Mourão entre os rios Ivaí e Piquiri, em busca
de um quinhão de terra e vida melhor para si e seus herdeiros.
Refiro-me à dona Anita Gaspari Albuquerque e à dona
Zuleika Ferreira Teodoro de Oliveira.
O forte destas duas veneráveis senhoras era assistir
as mulheres grávidas, das quais tornaram-se parteiras, comadres, e ‘madrinhas’
dos recém-nascidos, conforme a crendice da época do pioneirismo no Centro-Oeste
do Paraná e por todo interior brasileiro. Era ‘obrigatório o batismo em casa’,
ou seja, ministrado logo que nascia a criança, para não morrer ‘pagã’ e passar
a eternidade no ‘limbo’.
Consta – na memória popular - depoimentos de
pioneiros, filhos e filhas destes, que
juntas elas realizaram cerca de 2 mil partos (mil cada uma). Inclusive Anita
ensinou Zuleika e ambas ensinaram Justilina (Dona Santa), mas esta não exerceu.
Porém Justilina e Anita fizeram o difícil parto de Zuleica quando deu à luz a
João Teodoro de Oliveira Sobrinho e por milagre mãe e filho não faleceram.
Sobreviveram graças as habilidades e orações de Anita.
Justilina dos Santos foi a primeira ‘primeira-dama’
de Campo Mourão, mulher do dentista José Antonio dos Santos, nomeado prefeito
antes da primeira eleição, em outubro de 1947. O casal, quando aportou em Campo
Mourão se hospedou na casa de Dona Zuleika esposa do ex-prefeito Antoninho
(Antonio Teodoro de Oliveira).
Neste dia 10 de Outubro, em companhia do colega e
afilhado de casamento, Manoel Rodrigues Correia, excelente técnico e locutor em transmissões da Rádio Colmeia,
estávamos com o desfile no ar e palavras de autoridades em transmissão direta.
Quando Dom Eliseu tomou a palavra foi muito aplaudido.
Ele participava pouco ou quase nada de eventos públicos, mas realizou várias
obras através da diocese. No meio do seu breve decurso, depois de elogiar Anita
e Zuleika elevando-as aos píncaros da bondade e à supremacia do amor
fraternal que dedicavam às pessoas, para surpresa de todos asseverou que: “Zuleika
e Anita estavam ‘proíbidas’ de realizarem partos” a partir daquela data.
Justificou seu ato de autoridade eclesiástica ao
comentar que: “madrinha significa mãe-menor – uma segunda mãe – que é
obrigada a cuidar dos afilhados e afilhadas na falta da primeira. Imaginem,
caríssimos, se as mais de mil comadres de cada uma destas abençoadas senhoras
do bem, vierem a falecer. O que será dos seus filhos, ou, destas duas
parteiras. Conseguirão amparar esse número enorme de crianças e jovens?”.
Boquiabertas, poucas pessoas, pouquíssimas mesmo,
bateu tímidas palmas ao final de suas inesperadas palavras. O bispo foi o
primeiro a descer do palanque e seguiu direto para sua casa paroquial, em seu
automóvel.
As últimas a deixarem o local foram justamente Anita
e Zuleika; a primeira sem perder seu sorriso habitual e a segunda com certo ar
de tristeza, mas serena. Foram cercadas pela maioria das pessoas, todas
conhecidas, que lhes abraçavam e queriam entender o ‘porque dessa decisão do
bispo’. Nunca vi duas mulheres serem tão abraçadas com tanto afeto como naquele
10 de outubro de 1979.
No dia seguinte, por volta das 8hs, eu mais Rodrigues
Correia fomos a residência dos Albuquerque na Rua Francisco Albuquerque esquina
com a Avenida Índio Bandeira fazer entrevista para o Jornal do Meio-Dia da
Rádio Colméia. Eu sempre a chamei de Tia Anita e lhe pedia benção beijando sua
sagrada mão e lhe dava um beijo no rosto.
“Ué, o que vieram fazer essa hora aqui. E quem é esse
moço bonito?”
Respondi: “É o Manoel
Rodrigues Correia que tem programa de música na Rádio Colméia e... viemos tomar
aquele seu café gostoso e saber por quê o bispo disse aquilo da senhora e da
dona Zuleika.”
O filho Joel Albuquerque estava junto com ela e
disse sorrindo: “espera aí que já trago o café!! Foi vapt-vupt trouxe as
xícaras e o bule.
Tomamos o café, falamos rapidamente de vários
assuntos e perguntei à Tia Anita: “Então o que a senhora tem a dizer ??
e liguei o gravador.
Ela respondeu: “sobre o que ele disse sobre
sermos parteiras e comadres de mais de mil mães sabemos bem nossa missão
perante Deus. Eu entendi o que ele disse, mas nunca na minha vida vou negar
minha ajuda a quem precisa, muito menos a uma grávida, a uma mãe e à criança
dela”... deu uma pausa, olhou bem de frente para nós dois e perguntou
sorrindo; “o café do Joel estava bom?... milhares de pessoas tomaram meu
café e não morreram (rindo)... fiz mesmo, acredito, uns mil partos e nenhuma
mãe ou criança morreu em minhas mãos, graças a Deus !!”
- “Dona Anita, o povo quer saber: a senhora
vai continuar a fazer partos? Indagou Rodrigues Correia”.
“Vou sim seu moço! Se me chamar, vou. Deus sabe o que
faz. Nós somos humanos que dependentes Dele. Só vou parar meu apostolado quando
Ele me chamar!”
Conversamos mais um pouco, agradecemos a
acolhida, as atenções, o café e fomos até a casa verde do bispo na Rua Santa
Catarina esquina com a Avenida Irmãos Pereira. Uma serviçal de pano branco na
cabeça e avental nos atendeu, me reconheceu e disse: “Ele não está”. Mas
o automóvel estava. Voltamos à rádio. Liguei para ele. Atendeu, mas se negou a dar
entrevista. Alegou que já tinha marcado ‘com o senhor Anísio Morais’ e
desligou. De fato no dia seguinte, às 8hs ele estava na rádio e falou ao vivo,
porém sem tocar no assunto das parteiras. O Anísio também não perguntou. O
bispo saiu rapidamente compromissos urgentes. Mais uma vez evitou o pessoal do
Jornal do Meio-Dia (eu).
Depois de ser-lhe negada homenagem de Cidadã Honorária de Campo Mourão pela Câmara de Vereadores em 1995, e proibida de ser parteira, Anita Gaspari Albuquerque, recebeu o magno título de Cidadã Honorária do Estado do Paraná (iniciativa do então deputado estadual, Namir Alcides Piacentini - PDT), nobre missão concluída pelo também deputado estadual, Nelson José Tureck. A Assembléia Legislativa do Paraná, por iniciativa deste deputado, pela primeira vez na história política do Município Modelo se instalou em Campo Mourão, dia 12 de maio de 1995, no Country Clube, onde realizou concorrida sessão solene para entrega do Título de Cidadã Honorária do Estado do Paraná à veneranda senhora Anita Gaspari Albuquerque, pioneira dedica ao social e familiar desde quando aportou na região que ela adotou de coração e à esta comunidade dedicou toda sua vida de trabalho incansável, desde 29 de junho de 1937, lado a lado com seu batalhador marido Francisco Ferreira Albuquerque e filhos, após uma jornada de uma semana, viajando (grávida) a cavalo e em carroças, desde Palmeirinha, município de Pitanga-PR até o abençoado Campos do Mourão.
As homenagens começaram com a entrega do Título de Cidadã Honorária do Paraná, pelo deputado estadual Algacir Túlio representante do governador Jaime Lerner.
Das filhas do deputado Nelson Tureck, Marla e Carla, a ilustre homenageada recebeu uma placa alusiva ao evento e um buquê de flores, em nome da família e do avô pioneiro delas, Devete de Paula Xavier vereador da primeira legislatura mourãoense e prefeito interino por um ano.
Em acalorado discurso, Nelson Tureck, lembrou que “a iniciativa desta honraria, mais que merecida à dona Anita, devemos ao nosso amigo, que me antecedeu na Assembléia Legislativa, o ex-deputado Namir Alcides Piacentini. Tivemos apenas a grande satisfação de torna-la realidade”. Destacou que “esse título representa o reconhecimento pela dedicação, pelo trabalho e da humildade desta extraordinária mulher, desbravadora desta terra desde 1936, que viu e contribuiu para o crescimento desta cidade e de toda região. É mais do que justa a homenagem que prestamos a esta mãe paranaense. Pelo seus atos de coragem e bondade, tenha certeza, que a senhora jamais será esquecida”.
Das filhas do deputado Nelson Tureck, Marla e Carla, a ilustre homenageada recebeu uma placa alusiva ao evento e um buquê de flores, em nome da família e do avô pioneiro delas, Devete de Paula Xavier vereador da primeira legislatura mourãoense e prefeito interino por um ano.
Em acalorado discurso, Nelson Tureck, lembrou que “a iniciativa desta honraria, mais que merecida à dona Anita, devemos ao nosso amigo, que me antecedeu na Assembléia Legislativa, o ex-deputado Namir Alcides Piacentini. Tivemos apenas a grande satisfação de torna-la realidade”. Destacou que “esse título representa o reconhecimento pela dedicação, pelo trabalho e da humildade desta extraordinária mulher, desbravadora desta terra desde 1936, que viu e contribuiu para o crescimento desta cidade e de toda região. É mais do que justa a homenagem que prestamos a esta mãe paranaense. Pelo seus atos de coragem e bondade, tenha certeza, que a senhora jamais será esquecida”.
O
filho Joel d’Aparecida Albuquerque, o primeiro a nascer em Campo Mourão e um
dos primeiros, dentre os mourãoense natos a se formar advogado, agradeceu
em nome da grande Família Albuquerque, “as homenagens à nossa amada mãe”.
Lembrou as dificuldades da época e destacou a coragem dos pioneiros,
especialmente de seus pais, ao encará-las sem esmorecimentos. "Tenho
comigo a certeza de que meus irmãos e irmãs também pensam assim: agradecimento
se faz com o coração. Palavras o vento leva”.
Fizeram parte da mesa de honra, alem da homenageada Anita Gaspari Albuquerque e do Deputado Nelson Tureck: Luiz Carlos Zuk – presidente; Valmor Trentini – primeiro secretário; Alacir Túlio – líder do governo; deputado Miltinho Pupio; ex-deputado Namir Piacentini (foto) – proponente da honraria; Marcio Nunes representante do prefeito Rubens Bueno; Waldemar Ibba – presidente da Câmara de Vereadores de Campo Mourão; Ana Lucia Lourenço – representante do Poder Judiciário da Comarca de Campo Mourão; Rubens Luiz Sartori – Promotor Público; João Carlos Klein presidente da Comcam e prefeito de Peabiru-PR e o Major Alberto Augusto da Silva – Comandante do 11º Batalhão da Polícia Militar.
Além dos integrantes do quadro de honra, estiveram presentes à marcante solenidade, os prefeitos amigos de longa data da família Albuquerque: Celso Buscariol de Boa Esperança, Marciano Alves de Melo de Campina da Lagoa, José Paulo Novaes de Goioerê, Veriano José Néri de Iretama, Avelino Bortolini de Janiópolis, Santo Monegat de Luiziana, Moacir José Adão de Moreira Sales, Nilo Klhen de Nova Tebas, Florisval Peres de Marcos de Quinta do Sol e Arnaldo Sucupira de Ubiratã, sem contar os inúmeros amigos e parentes.
Joaquim Xavier do Rego
Nasceu na Fazenda Agroindústria, Distrito de Palmeirinha, Município de Pitanga, em 18 de novembro de 1929, numa propriedade de seu pai.
”Sou filho de Verônica Malanski e Elias Xavier do Rego, que depois se separaram. Quando meu pai mudou a Campo Mourão já estava só com os filhos, que cuidou muito bem. Éramos em seis: Olinda, Ivone, Aristóteles, eu (Joaquim), Rivas e Albari”, recorda Joaquim.
“A Agroindústria era empreiteira que construiu muitas pontes e prédios públicos, contratada por licitações abertas pelo Estado, desde a gestão do interventor Manoel Ribas.”
“Ninguém queria e nem se habilitava nestes processos porque o Estado demorava, em média, dois anos até efetuar os pagamentos”. Dr. Elias concluiu todas as obras que lhe foram concedidas por licitação pública, sem reclamar dos atrasos financeiros. Pela confiança demonstrada junto ao governo, foi presenteado com um automóvel que lhe foi entregue (pessoalmente) pelo interventor Manoel Ribas, no governo de Getulio Vargas.
Joaquim com o governador Ney Braga
1948 - Elias Xavier do Rego foi pioneiro no serviço de transporte coletivo de passageiros. Fundou o Expresso Este, com dois micro- ônibus (jardineiras) de 12 lugares cada um, que transportavam os passageiros de Campo Mourão a Pitanga, e vice versa. Iam sempre lotados. “No principio os motoristas eram eu e meu irmão Aristóteles Xavier do Rego (Tóte). A garagem era no quintal da frente da nossa casa, na rua Brasil esquina com a Índio Bandeira de onde partíamos nas viagens, todo dia, às 6hs da manhã em ponto. Depois, trabalharam conosco, os hábeis motoristas: Lauro Pereira e João Stalman."
Primeira casa construída na cidade de Campo Mourão
onde moramos e estacionávamos as jardineiras
“Na Estiva meu pai montou uma serraria e uma fábrica de indústria de madeiras especiais para a montagem de esquadrias (portas e janelas) em Maringá, associado a Valdomiro Verneck."
Pergunte ao Clementino - “Quem conhece bem essa história e muitas outras, é o amigo Clementino Farago, que trabalhou, praticamente, a vida inteira na prefeitura de Campo Mourão e gostava de uma boa pescaria”, revela Joaquim.
Estudos - “Até meus 12 anos moramos em Palmeirinha. Ia à escola a pé e estudei até o 4° ano primário com a professora Landola.
A Agroindústria foi vendida pelo meu pai que se estabeleceu em outra fazenda por mais três anos, na região de Pitanga. Com 15 anos de idade fomos morar em Guarapuava, onde estudei História e Matemática durante três anos, com aulas particulares ministradas pelo sábio professor Horácio Bastos.”
A Agroindústria foi vendida pelo meu pai que se estabeleceu em outra fazenda por mais três anos, na região de Pitanga. Com 15 anos de idade fomos morar em Guarapuava, onde estudei História e Matemática durante três anos, com aulas particulares ministradas pelo sábio professor Horácio Bastos.”
Primeiro salário - “Aos 17 anos fui á Curitiba e lá fiquei. Meu primeiro emprego e salário foi na firma suíça Ruffer que fabricava e vendia máquinas de escrever (datilografia), calculadoras manuais e todo tipo de material de escritório. Me dediquei à especialização e manutenção dessas máquinas e me tornei um Assistente Técnico habilitado pela empresa.”
Patriota - “Com 18 anos me alistei no Exército Brasileiro. Minha opção era a Marinha, mas fui incorporado pela Aeronáutica na Base Aérea do Bacacheri – em Curitiba. Em maio de 1947 fiz o curso e passei a ‘pronto’. Junto com mais 30 colegas de farda pedimos transferência ao Rio de Janeiro a fim de cursar a Escola Técnica de Aviação. Mas não concluí porque meu pai me chamou. Precisava da minha ajuda em seus negócios no Paraná, que se avolumaram em Campo Mourão, Maringá e Guarapuava.”
começou com duas valentes jardineiras
1948 – “Um desses negócios era o Expresso Oeste. Nos mandou a Campo Mourão – eu e o Tóte – e fomos os primeiros motoristas dos dois ônibus da empresa pioneira, linha Campo Mourão/Pitanga. Eu vinha de lá pra cá e ele ia daqui pra lá. Chova ou faça sol. A gente se encontrava na Serra dos Macacos, almoçávamos e fazíamos a baldeação (troca de ônibus). Eu morava em Pitanga e o Tóte – recém casado com dona Olívia – residia em Campo Mourão. Ele voltava pra cá e eu pra lá. Nós tínhamos hora de partida (6 hs), mas não tínhamos previsão de chegada. A estrada (BR-158) era precária e ponto de alimento era difícil. A gente comia pescada em lata (sardinha), cebola, pão caseiro e tomava cerveja quente, pra engolir o rango, na metade da viagem. Nossa casa e garagem do Expresso Oeste era na esquina da rua Brasil/av Indio Bandeira, em Campo Mourão. Hoje é o Edifício Alvorada
Frota - Os dois primeiros ônibus levavam de 12 a 15 passageiros. Depois foi comprado um terceiro carro que cabia 20 pessoas. A frota era de dois Ford-F3 e depois um Ford-F5. Eram Ford importados dos Estados Unidos, robustos, um motor que assoviava bonito e dava poucos problemas de mecânica. Eram muito potentes.”, elogia.
1950 – “No final de 1950 o senhor Vassílio Boiko, que morava em Roncador, plantador de repolhos, safrista de porcos e que trabalha com transportes pesados em carroças, veio a Campo Mourão, negociou com meu pai e assumiu a empresa de coletivos, a qual 'batizou’ de Expresso Nordeste, hoje uma potência no ramo.”
1951 – “Assumi a Serraria Estiva, uma área de produção de madeiras, com 12 alqueires, que compramos de José Carneiro. O Tóte permaneceu em Campo Mourão onde adquiriu terra e chácaras que até hoje dona Olívia cuida.”
Morre Dr. Elias - “Meu pai era procurador da família de Jorge Walter. Era ele quem administrava todos seus bens e a Gleba Sem Passo, do famoso pioneiro, apelidado de O Russo.
Perdidos - “Com a prematura e trágica morte brutal de meu pai, em 1951, a família caiu no maior caos e minha mãe veio morar comigo. Estávamos todos chocados pela dor da perda, descontrolados nos negócios e em tempos críticos do governo Bento Munhoz da Rocha Neto, que estava de olho na terra de Jorge Walter, pela qual meu pai demandou contra o Estado, até quando foi assassinado, na época do delegado militar tenente Taulli. Não temos dúvidas que o assassinato do meu pai foi mandado por ‘encomenda”, denuncia Joaquim. Nessa luta, pelos direitos legítimos de Jorge Walter, seu Elias foi assassinado por Gaspar Negreiro e seu filho Antonio, em plena luz do dia, na poeirenta av. Capitão Indio Bandeira, em frente à Inspetoria de Terras, onde hoje está o escritório da Sanepar.
1954 – “Casei com a linda pitanguense em Campo Mourão, Adalbrair Albuquerque, único amor da minha vida. Moramos um ano e meio na Estiva. Vendemos a serraria e nos mudamos a Cascavel. Abrimos outra fazenda e a Indústria de Madeiras Xavier Moreira Lindsmaer & Cia Ltda, em sociedade com Manoel Fernandes Moreira.”
1958 – Neste ano recebeu convite e procurações com a missão de regularizar a situação dos posseiros daquela região, quando então, mudou-se com a família, a Curitiba. “Assumi a enorme responsabilidade burocrática pela legalização da terra de toda aquela gente espalhada em lotes, pelos 1.400 alqueires da Gleba Centenário, onde começou Cascavel.”
Joaquim na Gleba Centenário - Cascavel
Reforma agrária - Joaquim conseguiu a titulação geral da imensa área, no governo Moysés Lupion, o qual foi convidado e fez a entrega – pessoalmente - da documentação quitada. “Desta forma – enfatiza Joaquim – Moysés Lupion realizou a primeira solenidade de Reforma Agrária, que se tem notícia no Brasil.”
1959 – Fixou residência em Curitiba e montou o Sistema de Transporte Rodoviário, com quatro caminhões largamente utilizados nas conduções de alimentos, materiais de construção, mercadorias em geral, destinadas às empreiteiras que construíam Brasília-DF, a Nova Cap do Brasil, inaugurada em 1960 pelo presidente JK.
Sempre nos reunimos aqui e em Campo Mourão.
À esquerda: o filho Jorge Luiz, Anita Albuquerque, Cacilda (Zizinha), a filha Veronita e Irã Mendes. À direita: Adalbrair, (Joaquim), Marcia Traple e Ilian Mendes
1962 – “Abri mão e vendi minha cota da Serraria de Cascavel e investi na Transportadora, em Curitiba. Mesmo assim, sempre venho a Campo Mourão, visitar amigos e a família da Adalbrair Albuquerque. Ainda possuo sete chácaras nos arredores da cidade, que na época, me foram cedidas sem ônus, com aval titulado do Estado.”
1971 – “Vendi a Transportadora e trabalhei com produtos agrícolas e na área da construção civil, o que faço até hoje. Estou aposentado e tranqüilo, com minha família em Curitiba, sem jamais esquecer a nossa querida Campo Mourão."
Joaquim e a filha Veronita, no Baile das Debutantes
Nasceu em Curitiba, dia 9 de agosto de 1934, e tem uma irmã, Daysi, um ano mais nova. São filhas de Aimèe e Delbos Alves Zolla. “Ele foi o primeiro médico do Estado e ela a primeira professora normalista em Campo Mourão”, revela Delaimèe. "Meu nome - não sei se reparou - é a mistura de Delbos e Aimèe, Del + Aimèe." Delbos e Aimèe casaram dia 14 de Outubro de 1933 e chegaram em Campo Mourão no limiar de 1943, no auge da II Guerra Mundial. “Meu pai fez o curso de Medicina na UFPR-Universidade Federal do Paraná, e concluiu em 1940. e mamãe se formou professora no Instituto de Educação. Eu também sou professora de Educação Física, mas nunca exerci. Tinha que cuidar da casa e não podia trabalhar fora” justifica.
Longa travessia - “Viajamos de Curitiba, de trem, até Ponta Grossa. De ônibus até Guarapuava, onde o Inspetor de Terra, Sadi Silva, nos esperava com uma camionete do Estado; Seguimos à Pitanga e em seguida a Campo Mourão. A viagem foi normal, durou só 4 dias de Pitanga no Campo...(risos)
As estradinhas eram ruins e os rios não tinham pontes. O carro atravessava os rios pelos lajeados. Alguns desciam, atravessavam a pé e embarcavam do outro lado do rio. Durante a travessia o motorista abria as portas pra água passar por dentro, não encher a cabine e levar o carro de roldão, embora”, narra com cuidado.
Primeira casa com vidraças em Campo Mourão
Leite e frutas – “Chegamos de madrugada, escura, no Campo, e fomos direto à casa da dona Anita Albuquerque e do seu Chico Albuquerque. Não tinha hotel. Moramos lá no armazém deles, uns 30 dias, até que nossa casa ficou pronta. Foi a primeira residência com janelas de vidraça na cidade. A segunda foi a casa do Fórum. As outras eram todas de madeira, até a cobertura” revela Delaimèe.
Era Madrugada - “Na chegada amanhecemos na porta do Armazém dos Albuquerque. Dona Anita nos recebeu, preparou um cafezinho com bolo. Logo levantaram a Zizinha (Cacilda) e a Nice (Eunice), subiram e foram arrumar os quartos no sótão. Nos lavamos do jeito que deu e fomos dormir... No dia seguinte levantamos de madrugadinha... Meuu Deusss... Foii linndo!!" Exclama. “As meninas estavam tirando leite da vaca. Fomos lá com canequinhas na mão e tomamos leite quentinho, da hora. Ali conhecemos a Adalbrair, muito dispostinha já convidou a gente pra catar uvaia e ariticum no mato, ali em volta. Parecia que ela foi nos apresentar aos pés de frutas nativas, já conhecidos dela (risos)... O Armazém, residência, pousada e pensão dos Albuquerque ficava perto da Laje Grande, margem esquerda do Rio do Campo, onde hoje tem a Bica. Do outro lado tinha a morada e a serraria dos Metchko que depois vendeu aos Perdoncini e resistiu até bem pouco tempo, no mesmo lugar”, aponta.
Improviso - “Nossa casa era abaixo do Hotel Central perto da cadeia velha, mas a mudança que o Estado prometeu transportar, não chegava. Tínhamos a casa vazia, sem nada. Então mamãe comprou uma porção de coisinhas no Armazém do seu Chico (Francisco Albuquerque), inclusive desses cobertores corta-febre. Fizemos camas de tábuas, colchões de palha de milho e uns lençóis. Improvisamos um fogão de barro, com uma chapinha de ferro em cima, no paiol separado da casa, senão a gente se afogava na fumaceira. Uns tempos depois, a mudança chegou” diz aliviada.
Na banheira – Dona Aimèe trouxe tudo o que tinha em Curitiba. “Me lembro de um jogo de quarto, com 14 espelhos de cristal. A louça inglesa com 60 peças (porcelana) que ela ganhou no casamento. A vovó deu uma banheira antiga, forjada com cinco folhas de flandres (latão dourado), esmaltada por dentro e com moldura de madeira nas bordas” detalha. Foi dentro dessa banheira que dona Aimèe colocou e transportou a louça fina. “Embrulhou bem com papeis, toalhas, lençóis... tudo ali dentro. Chegaram inteirinhas no Campo”, explica.
A cidade – “Nesse tempo começava a urbanização. Tinha menos de uma dezena de casas, incluindo a nossa. O quadrado da praça e tudo em volta era capão de mato. No bosque mais bonito, bem no centro, o povo se reunia nas festas. Tinha um poço de água e uma pista de corrida de cavalos (Raia dos Purungos). A igrejinha e as casas eram todas de madeira. Não tinha olaria no Campo”, relembra. “Dos poucos que moravam na cidade me lembro das casas do João Schnner, Teodoro Metchko, Modesto Três... o Hotel Central do Eugênio Zaléski, a Casa Iracema dos Cilião de Araújo... e o pastor Luiz Losso que construiu a Congregação Cristã no Brasil, pequena e de madeira também. Só saiam casas em volta da praça mas não tinha ruas abertas. Só existia uma avenida (Capitão Índio Bandeira) comprida que atravessava Campo Mourão e acabava na saída para Peabiru”, recorda com saudade.
As estradas – “Tinha uma outra estrada que cortava em direção ao Barreiro das Frutas e atravessava o Rio da Várzea. Por ali moravam os Custódio de Oliveira e os Teodoro. E tinha o Estradão (BR-158) por onde viemos, que cortava em diagonal até a cidade e terminava ali na esquina da rua Araruna e da Av. Irmãos Pereira, onde construíram o grande Hotel Brasil. Da frente da Casa Iracema a estradinha (Av Irmãos Pereira) ia até a Laje Grande na venda do seu Chico e na serraria dos Metchko. Tinha outra estradinha que ia até a Santa Cruz e a casa do seu Jozé Luiz Pereira... cruzava o Ribeirão 119, na frente do gabiroval e emendava com a estrada de Peabiru. Era conhecida por caminho dos índios.
Os carreadores e as estradinhas eram todas estreitinhas, boas pra carroças e cavaleiros”, descreve Delaimèe. “Meu pai, todo dia cumpria sua missão de médico, cavalgava por essas estradas, ia visitar as famílias, examinar e ver se não tinha doentes. Era a missão dele, sabe?!" conta com orgulho.
Os carreadores e as estradinhas eram todas estreitinhas, boas pra carroças e cavaleiros”, descreve Delaimèe. “Meu pai, todo dia cumpria sua missão de médico, cavalgava por essas estradas, ia visitar as famílias, examinar e ver se não tinha doentes. Era a missão dele, sabe?!" conta com orgulho.
Medo da Japonesa – “No fim da picada que ia da casa dos Albuquerque até a primeira rua da cidade (Santos Dumont esquina com Irmãos Pereira) tinha uma casinha onde morava um senhor muito gordo (Seu Juca Padeiro). Era tipo um hotelzinho que a mulher dele tomava conta. Esse gordão levou uma amante japonesa morar com eles. Até aí nada demais! (rindo)... Acontece que japonês tinha fama de ruim por causa da guerra; diziam que furavam o olho da gente com as unhas compridas, e eu tinha muito medo de passar por ali... Coitadinha da japonesa, ela era boazinha e não tinha culpa disso... Ela começou a fazer pães gostosos e vendia. Botava um tempero que eu não gostava muito, parecia gosto de erva-doce. O pão era salgado e a coisa adocicada nele não combinava com meu paladar, né?! (risos).
Relógio, o Sol – “Pouco adiante do Armazém dos Albuquerque tinha a serraria que os Perdoncini compraram, beeemm depoiis que chegamos. A mãe veio junto, muito mal, com um tumor na cabeça. Papai a atendia, tentou de tudo, mas ela faleceu. O filhos menores do Italiano (João Baptista Perdoncini).... abaixo da Palmira e do Atílio, todos foram alunos de mamãe. Eles vinham a cavalo, junto com os filhos da dona Anita, até a escola isolada na praça. O Atílio (Perdoncini) e o Moacir (Albuquerque) não podiam se olhar. Brigavam e rolavam no pó, todo dia.. não sei porque!!... Outros estudantes vinham de mais longe. E quando chovia faltavam e depois se desculpavam assim: ‘ontem choveu, o sol não apareceu, a gente não sabia que horas que era'. Raramente alguém tinha relógio nessa época”, conta Deilamèe.
Tapera da lepra – No meio da estradinha que ia da Casa Iracema e ao Armazém dos Albuquerque tinha a tal da Tapera. Eram um rancho onde ficavam os leprosos. Eles batiam lá em casa a procura do Doutor Delbos, meu pai. A primeira vista não se sabia se estavam doentes ou não. Enquanto esperavam, mamãe servia cafezinho e comida em nossas louças. Papai cuidava da saúde deles, escrevia as cartas e os encaminhava ao leprosário do Estado, em Curitiba, que tinha bons recursos. Mas enquanto aguardavam o transporte, ficavam na Tapera.
Tudo Junto - O consultório e um quarto pra doentes, era em frente da nossa casa, e junto tinha a sala onde mamãe dava aulas, mas ninguém sabia dos leprosos que iam ali onde as crianças estudavam. Papai explicava que a lepra não é contagiosa. É falta de higiene.” Conta a bem informada Delaimèe, que adora Campo Mourão e mora em Curitiba com a mãe e a irmã.
Parto da Parteira

tinha mais de mil comadres
Os Teodoro - ''Aqui fomos bem acolhidos pela família do seu Antoninho (Antonio Teodoro de Oliveira) e da dona Zuleika. Moramos na casa deles, na Rua Brasil, atrás da Casa Iracema dos Cilião de Araújo.
Foi a Zuleika que me apresentou uma amiga das mais bondosas que já conheci, chamada Anita (Anita Albuquerque) e seu marido, seu Francisco Albuquerque que indicou o José ao governador Moisés Lupion para assumir a prefeitura de Campo Mourão, interinamente, até a realização da primeira eleição marcada para o dia 15 de novembro de 1947, na qual uns 500 eleitores do povo que tinha aqui, elegeu o senhor Pedro Viriato, que não teve adversário''.
Vi Anita em ação - O José atendia os clientes e eu ajudava dona Zuleika no que fosse preciso. A casa dela era simples, mas limpinha. Tinha de tudo e sempre estava cheia de visitas, filharada, enteados, parentes e comadres. Ela era parteira que aprendeu com dona Anita e sempre que me chamavam, era prestativa.
Joãozinho - Aconteceu que a Zuleikq arruinou para ganhar o Joãozinho (João Teodoro de Oliveira Sobrinho). A dona Anita veio depressa logo que soube. Era só atravessar a praça, morava do outro lado, perto do Posto de Saúde do Estado (hoje Museu Municipal) e a Zuleika atrás da Casa Iracema.
Os trabalhos naturais começaram, mas a criança não vinha a coisa foi apurando. A Zuleika se esforçava. A dona Anita incentivava e ajudava: “Vamos Zuleika... forrçaa Zuleika!!!
Nisso ela me chamou lá do quarto. Vim correndo, estava eu, na cozinha, nervosa. Ela me falou: “Santa, prepara bastante água quente, bacia e bastante panos limpinhos (toalhas). Aplicou muitas compressas e nada.
Então ela mandou: “Santa corre na cozinha e vire o tição ao contrário, no fogão”. Fui, virei e voltei. E nada do bebe nascer. A Zuleika parecia que ia desfalecer. Estava com o rosto muito vermelho e gemia demais. Mordia os dentes para não gritar.
Dona Anita me disse: “Vai lá fora, rápido, e soca o pilão três vezes”. Fui, soquei com toda força: pum, pum e puum !!
Quando voltei o Joãozinho começou aparecer. Cabecinha cabeludinha. Dei um suspiro aliviada e dona Anita ajudou a Zuleika a fazer mais força e aparou o menino roxinho, sem respiração.
A Zuleika parecia que ia morrer, estava muito mal, largadona na cama. Os dois estavam maus! Dona Anita, sem perder a calma, disse: “Santa. Cuide da Zuleika que cuido do nenê”. Eu continuei a fazer as compressas quentes e dona Anita deu uns tapinhas na criança e nada de chorar. Ela acertou: “Ele está afogado!!"
Mais que ligeira colocou o nariz e a boquinha dele na boca e chupou meio forte e veio aquelas coisas. Ela cuspiu e nem bem desentupiu, o Joãozinho berrou forte. Chorou pra valer! Foi aquele uufaaaa !!
Então ela mandou: “Santa corre na cozinha e vire o tição ao contrário, no fogão”. Fui, virei e voltei. E nada do bebe nascer. A Zuleika parecia que ia desfalecer. Estava com o rosto muito vermelho e gemia demais. Mordia os dentes para não gritar.
Dona Anita me disse: “Vai lá fora, rápido, e soca o pilão três vezes”. Fui, soquei com toda força: pum, pum e puum !!
Quando voltei o Joãozinho começou aparecer. Cabecinha cabeludinha. Dei um suspiro aliviada e dona Anita ajudou a Zuleika a fazer mais força e aparou o menino roxinho, sem respiração.
A Zuleika parecia que ia morrer, estava muito mal, largadona na cama. Os dois estavam maus! Dona Anita, sem perder a calma, disse: “Santa. Cuide da Zuleika que cuido do nenê”. Eu continuei a fazer as compressas quentes e dona Anita deu uns tapinhas na criança e nada de chorar. Ela acertou: “Ele está afogado!!"
Mais que ligeira colocou o nariz e a boquinha dele na boca e chupou meio forte e veio aquelas coisas. Ela cuspiu e nem bem desentupiu, o Joãozinho berrou forte. Chorou pra valer! Foi aquele uufaaaa !!
A Zuleika respirava muito rápido e começou a voltar ao normal, enquanto dona Anita cortou o umbigo, deu aquele banho no Joãozinho, enfaixou bem, agasalhou na fralda e no cueiro, e entregou ele enroladinho, no colo da Zuleika, que ajudei a se recostar nos travesseiros que coloquei na cabeceira da cama. Pegou e já deu o primeiro mamá no peito, pra ele. Parecia guloso e dormiu mamando.
Uma coisa linda que notei, é que dona Anita, o tempo todo, até a criança mamar, ela rezava baixinho, conversou com Deus sem parar durante todo o parto! Depois fiquei sabendo que ela já tinha feito uns mil partos e que nenhuma mãe ou bebe morreu nas suas mãos. Todos viveram e foram batizados por ela".
"Não deu nem uma semana dona Anita veio tomar um café na casa deles. Viu que estavam todos bem, inclusive a Zuleika e o Joãozinho. Aproveitou e já batizou a criança como era de costume, em casa, pra não morrer pagão. O batismo na igreja só era permitido um mês depois'.
Dona Anita agradeceu o café – alegre e sorridente o tempo todo – e nos convidou para rezar juntas e agradecer a Deus pelo ‘milagre da vida’. Todos que estavam ali se levantaram e oramos. Eu rezei e chorei, feliz por tudo ter dado certo!! Ela se despediu e se foi calmamente, andando de passos firmes".
Uma coisa linda que notei, é que dona Anita, o tempo todo, até a criança mamar, ela rezava baixinho, conversou com Deus sem parar durante todo o parto! Depois fiquei sabendo que ela já tinha feito uns mil partos e que nenhuma mãe ou bebe morreu nas suas mãos. Todos viveram e foram batizados por ela".
"Não deu nem uma semana dona Anita veio tomar um café na casa deles. Viu que estavam todos bem, inclusive a Zuleika e o Joãozinho. Aproveitou e já batizou a criança como era de costume, em casa, pra não morrer pagão. O batismo na igreja só era permitido um mês depois'.
- E o Joãozinho, dona Santa?
- "O João Teodoro de Oliveira Sobrinho, sobreviveu, cresceu belo e guapo, conhecido e amigo de quase toda Campo Mourão", concluiu Dona Santa.
em Campo Mourão
Quem conta é o homem dos aviões de passageiros de Campo Mourão, Roget Delatre:
"Em 1949 foi instalada a Comarca de Campo Mourão. Quando a serraria onde eu trabalhava estava para fechar, em Guarapuava, meu cunhado Ruy Dirceu Saldanha Gomes, primeiro Promotor Público de Campo Mourão, convidou-me para trabalhar no Cartório de Registro Civil no lugar do escrivão Arthur Moreira de Castilho, que depois foi substituído pelo meu amigo concursado, Ville Bathke. Em 1949 fixamos residência em Campo Mourão.
OCUPAÇÃO DOS CAMPOS DO MOURÃO
De acordo com as disposições republicanas contidas na Lei nº 68, de 20 de dezembro de 1892, reguladas pelo Decreto nº 1‑A, de 8 de abril de 1893, foi requerida posse de 60 mil hectares de terra devoluta, de conformidade com o registro coletivo, de 25 de setembro de 1893, no Cartório de Imóveis da Comarca de Guarapuava.
Este foi o primeiro documento oficial de requerimento de terra nos Campos do Mourão, com o termo assinado por: Laurianna de Paula Marcondes, Joaquim Gonçalves da Motta, Alfredo da Silveira, Domingos Moreira Gamalier, Rozendo Moreira Bahls, Pedro Moreira Rubilar, João Ribeiro Soares, Manoel de Jesus e Araújo, José Hilário dos Santos, Manoel Lourenço da Silva Bastos, Antonio de Oliveira Rocha, Hygino Honorato de Bittencourt, Constantino de Souza e Oliveira, Horácio Hilário Pimpão, Domingos Inácio de Araújo Marcondes, Antonio Honorato de Almeida, Pedro Moreira Rubilar Filho, Norberto Mendes Cordeiro (Comendador Marcondes), Missel Damásio de Camargo, Charabim Chrispim Ayres, Guilherme de Paula Xavier, José Simões de Oliveira, Antonio José Barbosa e Bento dos Santos Martins.
Porém, o real interesse pela região dos Campos do Mourão, por criadores de gado bovino a fim de desbravar a região até então despovoada, deu-se entre 1880/81, mas nenhum posseiro ou a posseira se fixou por estas virgens paragens. Este ponto cobiçado e distante era utilizado, esporadicamente, para o descanso das tropas e boiadas, que daqui seguiam revitalizadas até a comercialização final, no sul de Mato Grosso, por pecuaristas guarapuavanos.
As descrições e partilhamento da área de terra devoluta, constantes naquele registro coletivo de posse, são as que seguem abaixo, dentro das seguintes divisas do solo:
"Declaramos nós abaixo assinados, que possuímos por posse mansa e pacífica desde o ano de 1880, uma área de campos de criar no lugar denominado “Campo Mourão” neste Município, onde existem casas de moradia e mais benfeitorias, assim como certo número de cabeças de gado vacum e cavalar, cuja área tem aproximadamente a extensão de 60.000 hectares, sendo 30 quinhões com a área de 2.000 hectares cada um, que tem as seguintes divisas: das cabeceiras do arroio que tem por origem a divisa das águas, onde nasce o Arroio Parichim, que lhe fica fronteiro e por este abaixo até uma barra que fica mais ou menos a meia légua abaixo da Campina do Vitorino e, desta barra rumo oeste até enfrentar com o rio de Faxinal, nas suas cabeceiras cujo rio faz barra no Ivaí passando no NO (Noroeste), de campera que demora entre Campo Mourão e o rio Ivaí; pelo mesmo rio de Faxinal abaixo até a barra de um lajeado que nasce no referido campo, e desta barra rumo este até enfrentar com as cabeceiras do arroio onde começou a divisa".
Consta que pouco tempo depois, Jorge Walter (não requerente) fixou‑se em Campo Mourão, na Gleba do Rio Sem Passo, famosa e conhecida como Gleba dos Walter, onde alargou empreendimentos comerciais que, afinal, floresceram e se expandiram, desde Guarapuava a região Noroeste, quando surgia Paranavaí. As longas e difíceis viagens eram feitas à cavalo e as mercadorias transportadas em cargueiros de tropas de muares e em carroças através de carreadores e primitivas estradas. Os rios, estreitos ou largos, eram transpostos a vau , em suas partes mais rasas, (por dentro da água) por falta de pontes
Segundo seus descendentes, que habitam Campo Mourão e regiões vizinhas, Jorge Walter fora um alemão que tentou a sorte na Rússia, daí seu apelido de ‘Russo’. Com apoio de alguns pecuaristas de Guarapuava, o seu trabalho habilidoso de colonização nas proximidades de Campo Mourão foi financiado por 'coronéis' guarapuavanos e auxiliado com doações de sal grosso, gado vacum, cavalar e muar. Esse pioneiro deixou numerosa família, que através do tempo, manteve a posse do que restou da gleba que ainda hoje tem o nome dos Walter.
Primeiras Famílias - Não obstante o registro de terra existente no cartório de Guarapuava, a primeira ocupação real, com moradia habitual, só se concretizou, em Campo Mourão, a partir de 16 de setembro de 1903, com a chegada dos Irmãos Pereira (José Luiz Pereira seguido de Miguel Luiz Pereira, Ananias Luiz Pereira, Antonio Luiz Pereira e Luiz Pereira da Cruz), os quais, acompanhados de suas famílias, construíram suas casas e roças, dedicando‑se à agricultura e à pecuária nos campos naturais do cerrado mourãoense, no vale e várzeas do Ribeirão 119, mais exatamente nas regiões do Jardim Santa Cruz e Jardim Lar Paraná a fora.
O povoamento lento, porém constante, começou a ser observado entre 1903 e 1910. Avizinharam às dos Pereira, as famílias de Guilherme de Paula Xavier, Cesário Manoel dos Santos, Bento Gonçalves Proença, Américo Pereira Pinto, José Custódio de Oliveira, Francisco Mateus Tavares, José Teodoro de Oliveira, Luiz Silvério e José Luiz Pereira Sobrinho, a maioria oriunda do interior paulista.
Fé Cristã - Essas primeiras famílias, animadas pela fé divina e esperança de dias melhores, traziam entre seus pertences, imagens de santos de sua devoção, que adornavam os oratórios caseiros, aquecendo a crença que reanimava os pioneiros, na luta constante para vencer o sertão feroz, agreste e seus inúmeros desafios. O primeiro marco da fé cristã, em Campo Mourão, foi um cruzeiro feito com tronco de cedro vivo, fincado no solo onde está o Jardim Santa Cruz, região farta de água vertente. Em torno do cedro da Santa Cruz surgiu uma pequena capela de pau-a-pique, coberta de capim (sapé) que, em 1909, recebeu a primeira visita pastoral do Pe. Francisco Vendder, da Congregação do Verbo Divino, coadjutor em Guarapuava. Da igrejinha de sapé restou parte do cruzeiro por conta de um incêndio ocorrido em 1956. O restante do cruzeiro, com marcas do fogo, foi recuperado pelo escrivão Ville Bathke, que loteou o Jardim Santa Cruz e construiu uma capela com pedras de promessas onde abrigou a pequena cruz do grande cruzeiro queimado. Posteriormente a paróquia demoliu a gruta e construiu uma moderna capela do lado esquerdo da Igreja da Santa Cruz, que ali está e, exibe na parede do altar, algumas pedras da gruta e a cruz de cedro beneficiada pelos irmãos marceneiros, Manoel e Pedro Intronvini.
Fé Cristã - Essas primeiras famílias, animadas pela fé divina e esperança de dias melhores, traziam entre seus pertences, imagens de santos de sua devoção, que adornavam os oratórios caseiros, aquecendo a crença que reanimava os pioneiros, na luta constante para vencer o sertão feroz, agreste e seus inúmeros desafios. O primeiro marco da fé cristã, em Campo Mourão, foi um cruzeiro feito com tronco de cedro vivo, fincado no solo onde está o Jardim Santa Cruz, região farta de água vertente. Em torno do cedro da Santa Cruz surgiu uma pequena capela de pau-a-pique, coberta de capim (sapé) que, em 1909, recebeu a primeira visita pastoral do Pe. Francisco Vendder, da Congregação do Verbo Divino, coadjutor em Guarapuava. Da igrejinha de sapé restou parte do cruzeiro por conta de um incêndio ocorrido em 1956. O restante do cruzeiro, com marcas do fogo, foi recuperado pelo escrivão Ville Bathke, que loteou o Jardim Santa Cruz e construiu uma capela com pedras de promessas onde abrigou a pequena cruz do grande cruzeiro queimado. Posteriormente a paróquia demoliu a gruta e construiu uma moderna capela do lado esquerdo da Igreja da Santa Cruz, que ali está e, exibe na parede do altar, algumas pedras da gruta e a cruz de cedro beneficiada pelos irmãos marceneiros, Manoel e Pedro Intronvini.
O Fundador do Município de Campo Mourão
do Cível e Comércio de Campo Mourão
Dia 25 de maio de 1954, o vereador Carlos Stalmann, propôs que a Rua Paraná recebece a denominação de "Rua Francisco Albuquerque", conforme documento original, na íntegra, do nobre edil, com seguinte redação e justificativa:
"Tendo ocorrido na Capital do Estado, em data de 1° do mês de maio, o fato trágico de acidente, no qual foi vitima do cruel destino a pessoa do mais esforçado batalhador do progresso local, o Sr. Francisco Albuquerque e podendo se afirmar, sem nenhum favor, o FUNDADOR DO MUNICÍPIO DE CAMPO MOURÃO, fatos esses que são incontestes e que serão inolvidáveis para perpetuar a memória daquele que na luta pela coletividade foi incansável, forte e digno do lugar de destaque que ocupou junto de seus amigos e companheiros de luta, pois sempre esteve ao lado do bem, raciocinando, aconselhando e aplicando o que era de bom para a nossa cidade, o nosso povo e o nosso município.
Como veio a morte, do ilustre varão patrício, enlutar a comuna inteira, e como prova de gratidão dos serviços por ele prestados, e como prova de civismo e demonstração de sentimento humano, pensando refletidamente no que será ato de justiça por parte da população e dos poderes públicos de Campo Mourão, render uma homenagem aquele que sempre esteve com os olhos voltados para o engrandecimento desta terra, onde cg, viveu longos anos, deixando sulcos profundos gravados na história tanto na fundação do Município, como do desenvolvimento econômico e progressivo, sendo que durante toda 73 sua vida dedicou-se às atividades laboriosas como comerciante, industrial e agricultor de larga visão, assim é, que justo seja proposto à esta Colenda Câmara, a denominação de uma das ruas da cidade com o nome de RUA FRANCISCO ALBUQUERQUE, e como a atual rua Paraná, que é justamente a via que passa lateralmente às propriedades e casa residencial do ilustre cidadão desaparecido, sendo assim, por simples traços prestado justa homenagem a quem soube com abnegação, esforço, trabalho, sacrifício e carinho, conquistar este tributo que a posteridade irá apreciar como dever e justiça.
Sala das Sessões da Câmara Municipal de Campo Mourão, em 25 de maio de 1954.
(ass.) Carlos Stalmann
Pioneirissimo nato
Meu pai, Francisco Ferreira Albuquerque, foi quem deu o primeiro passo decisivo, no sentido de emancipar Campo Mourão, até então distrito administrativo de Pitanga.
Quando soube (pela Rádio PRB-2 de Curitiba) que o governador Moisés Wille Lupion de Tróia iria criar novos municípios no Estado do Paraná, mais que depressa montou em seu burro preto marchador, acorreu até o sítio do amigo Pedro Viriato de Souza Filho (Pedro Parigot), também safrista de porcos na região do Rio da Várzea e que era conhecido do governador.
Quando soube (pela Rádio PRB-2 de Curitiba) que o governador Moisés Wille Lupion de Tróia iria criar novos municípios no Estado do Paraná, mais que depressa montou em seu burro preto marchador, acorreu até o sítio do amigo Pedro Viriato de Souza Filho (Pedro Parigot), também safrista de porcos na região do Rio da Várzea e que era conhecido do governador.
Tio Chico, como era carinhosamente chamado, lhe encareceu que fosse o mais rápido possível à capital do Estado e "tentasse descolar a emancipação de Campo Mourão".
No dia seguinte, Pedro Viriato foi de táxi aéreo, pela Brasil Organizações Aéreas (BOA) até Curitiba e conseguiu audiência com o governador, no Palácio São Francisco.
Seu pedido, em nome dos mourãoenses, foi atendido depois de algumas discussões e com uma condição imposta por Lupion: 'você tem que ser o candidato único a prefeito' pelo Partido Social Democrático (PSD).
Assim começou o movimento e no dia 10 de outubro de 1947 - dia do aniversário de papai - foram criados 22 novos municípios dentre eles Campo Mourão, de acordo com o arrojado Projeto de Reorganização Geopolítica do Interior do Paraná, elaborado pelo governador Lupion.
No dia seguinte, Pedro Viriato foi de táxi aéreo, pela Brasil Organizações Aéreas (BOA) até Curitiba e conseguiu audiência com o governador, no Palácio São Francisco.
Seu pedido, em nome dos mourãoenses, foi atendido depois de algumas discussões e com uma condição imposta por Lupion: 'você tem que ser o candidato único a prefeito' pelo Partido Social Democrático (PSD).
Assim começou o movimento e no dia 10 de outubro de 1947 - dia do aniversário de papai - foram criados 22 novos municípios dentre eles Campo Mourão, de acordo com o arrojado Projeto de Reorganização Geopolítica do Interior do Paraná, elaborado pelo governador Lupion.
O fundador de Campo Mourão faleceu em Curitiba, dia 1º de maio de 1954, vitima de bala perdida, quando se deslocava, de ônibus, ao palácio do governo, para audiência com o governador, em companhia de seu genro, Lázaro Mendes, delegado distrital de polícia de Campo Mourão - PR.
Bento abandonou a Campo Mourão
Comitiva de Lupion visita o Salto São João onde iniciou a construção da Usina Mourão,
acompanhado pelo prefeito Pedro Viriato (de bombacha branca)
Apelos em vão de Tio Chico - O Jornal Correio de Campo Mourão, edição do dia 2 de fevereiro de 1952, propriedade do capitão Renato Romeiro Pinto de Mello, empresário no ramo da comunicação e transporte coletivo intermunicipal, publicou vários artigos escritos por mourãoenses, dentre eles: Nelson Bittencout Prado, com o título, Um Dos ‘Porques’ Da Deficiência Administrativa; Amauri Cortes abordou o tema O Paraná no Concêrto da Federação; Manoel Alves Quadrado enfocou: A Politica do Trabalho com o sub-título, Um problema do Povo brasileiro e sua solução, e na página 9, com publicidades do Expresso Campo Mourão, Instituto Santa Cruz e a coluna Tribuna Livre, nos deparamos com o texto primoroso de Francisco Ferreira Albuquerque – o inesquecível Tio Chico - que, nele, demonstra seu grau de instrução, o amor por Campo Mourão e a importância da “Usina Hidro-Elétrica do Salto São João”, mais conhecida por Usina Mourão-I. Esta foi a primeira das grandes conquistas do pioneiro prefeito Pedro Viriato de Souza Filho em benefício do nascente município de Campo Mourão na qual, também esteve presente o atuante Francisco Albuquerque e demais lideranças, junto ao governador Moysés Lupion.
O texto impressionante tem um detalhe: mantivemos a ortografia vigente em 1952. Não existem erros de português neste oportuno e histórico apelo de um humilde, mas ferrenho mourãoense, quando eram novidades e o assustavam, as perseguições políticas e os desmandos que, na gestão do governador Bento Munhoz da Rocha Neto (PR), proliferaram no Paraná e chegaram a paralisar o recém criado Campo Mourão e considerável parte do norte do Paraná, por quatro anos. Vejamos os porquês nos relatos do líder Francisco Albuquerque:
Lupion anunciou o Plano Hidrelétrico do Paraná,
às margens do Rio Mourão
“Quando de uma feita, S.Excia. o Sr. Governador Moysés Lupion (PSD) visitou este Município, a colher dados e ver com seus próprios olhos os problemas administrativos mais importantes para o bem e a felicidades coletiva, acompanhamos S. Excia. no Salto São João, no rio Mourão.
Andamos a pé por uma picada até atingirmos os pontos mais críticos das pirambeiras, próprias dos desníveis das quedas de água, em pleno sertão, com suas matas virgens como lhe dotou a natureza. A certa altura paramos para um pequeno descanso.
Depois de tirar um alvo lenço (do bolso) e enxugar o suor, S. Excia. exclamou: ‘vamos construir uma Usina hidro-elétrica para beneficiar todas as cidades e patrimônios, daqui até Apucarana, e a sua cidade (Campo Mourão), entretanto, será iluminada dentro de um ano’.
A essas últimas palavras de S. Excia., correu-nos por todo o corpo um calafrio de satisfação, que, por fim veio alojar-se em nosso coração.
Continuamos a caminhada, mas em nosso intimo permanecia bem viva aquela impressão maravilhosa da correnteza d’água a precipitar-se no alto e a formar lá embaixo aquela esteira de bolhas brancas como neve que a pouca distância se desfaziam.
Assim pareceu-nos que aquelas palavras de S. Excia. a medida que ele se distanciasse de nós, iriam desaparecendo e não passariam de um sonho.
Essa impressão de dúvida e incredulidade se justificava em nossa descrença porque até então não conhecíamos, nunca vimos em nosso Estado um governo realizador, dinâmico, um governo que trabalha.
Mas tão logo S. Excia. regressou a Curitiba, as providências foram postas em prática, destacando engenheiros competentes e auxiliares sob a direção inconfundível do ex-Diretor do Departamento de Água e Energia Elétrica, Dr. Luiz Orlando.
Estes imediatamente mobilizaram máquinas, materiais e o necessário e puseram mãos a obra. Salientado seja, por justiça, o engenheiro, dr. (Alcides) Bergamini, que dirigiu ‘in loco’ todos os trabalhos técnicos que lhe eram distribuídos, quando testemunhamos a sua competência, dedicação e amor ao trabalho.
No dia 17 de agosto de 1950, Campo Mourão testemunhou a maior festa já assistida em sua cidade, com a presença de S. Excia. Governador Moysés Lupion e sua comitiva quando foi inaugurada oficialmente a fôrça e luz nesta cidade, com um conjunto de emergência, no salto São João.
S. Excia. após visitar e fiscalizar as obras em andamento, determinou o aceleramento dos serviços que passaram a ser movidos a fôrça elétrica, facilitando assim o manejo das máquinas, britadores, minas, etc., para o termino dos dois grandes túneis, escavados na rocha, e represa, a construção do prédio onde seriam assentados os grandes conjuntos e outros serviços a concluir e, consequentemente, a linha de alta tensão até a cidade de Apucarana.
Tudo em ordem, os trabalhos com toda organização seguiram seu curso normal, para dentro de pouco tempo ficar terminado.
Mudança Brusca - Nessa altura dos acontecimentos assume o Governo do Paraná, o Dr. Bento Munhoz da Rocha Neto, para que o povo desta região, isto é, até Apucarana, como uma provação, premio de sua própria ingratidão, sinta, decepcionado, os efeitos da nova orientação.
E eis as suas providências imediatas: afastou do Departamento de Água e Energia Elétrica o grande construtor de usinas, dr. Luiz Orlando, suspendeu dos trabalhos o dr. Bergamini; desmantelou toda a organização das obras e não foi o pior (desmando).
Mudança Brusca - Nessa altura dos acontecimentos assume o Governo do Paraná, o Dr. Bento Munhoz da Rocha Neto, para que o povo desta região, isto é, até Apucarana, como uma provação, premio de sua própria ingratidão, sinta, decepcionado, os efeitos da nova orientação.
E eis as suas providências imediatas: afastou do Departamento de Água e Energia Elétrica o grande construtor de usinas, dr. Luiz Orlando, suspendeu dos trabalhos o dr. Bergamini; desmantelou toda a organização das obras e não foi o pior (desmando).
Não entendemos dos manejos administrativos, mas há coisas que nos causam surpresas.
Foram 'congelados' todos os pagamentos destinados as obras da Usina e não se via mais um níquel de tostão. A situação aflita em que S. Excia. pôs à prova os empreiteiros, sub-empreiteiros e os humildes operários, chegou ao auge e, em conseqüência, ainda há poucos dias correu pelo Foro desta Comarca uma Ação Judicial Trabalhista, movida pelos operários da Usina, que se achavam em greve há cerca de um mês por não receberem os seus salários.
Em resumo: as obras estão completamente paradas, notando-se um panorama desolador ao visitarmos as obras onde, por toda parte, se encontram ferramentas jogadas, máquinas e materiais enferrujando e tudo que possa traduzir o fim triste de uma iniciativa.
Foram 'congelados' todos os pagamentos destinados as obras da Usina e não se via mais um níquel de tostão. A situação aflita em que S. Excia. pôs à prova os empreiteiros, sub-empreiteiros e os humildes operários, chegou ao auge e, em conseqüência, ainda há poucos dias correu pelo Foro desta Comarca uma Ação Judicial Trabalhista, movida pelos operários da Usina, que se achavam em greve há cerca de um mês por não receberem os seus salários.
Em resumo: as obras estão completamente paradas, notando-se um panorama desolador ao visitarmos as obras onde, por toda parte, se encontram ferramentas jogadas, máquinas e materiais enferrujando e tudo que possa traduzir o fim triste de uma iniciativa.
Iluminação parcial na Cidade - Contamos até agora com a iluminação e instalações que Moysés Lupion inaugurou, sendo que o processo desta cidade, no que diz respeito às construções, parece até fantástico, estendendo-se em todos os rumos, com ruas repletas de edificações, destacando-se várias indústrias, cinema, casas comerciais, hotéis e as Sociedades Recreativas ‘1º de Maio’ e ’10 de Outubro’. Daí a necessidade do prosseguimento de novas instalações. Existe, porém, ordem superior para que não se faça mais uma única instalação. E isto não se sabe porque. Temos, assim, uma pequena parte da cidade maravilhosamente iluminada com suas aprazíveis residências, etc., e outra parte, isto é, a maior parte da cidade às escuras, porque não se pode fazer novas instalações.
Política? Não?. Não, por quê?
Será isso uma desforra?
S. Excia. o Sr. Bento Munhoz da Rocha Neto venceu em nosso município por grande maioria de votos no pleito que o elegeu a Governador do Estado do Paraná.
S. Excia. o Sr. Bento Munhoz da Rocha Neto venceu em nosso município por grande maioria de votos no pleito que o elegeu a Governador do Estado do Paraná.
Queremos e necessitamos o prosseguimento das obras, fator preponderante e primordial do bem estar social e do desenvolvimento econômico e industrial de uma região riquíssima do Paraná.
A energia elétrica que será irradiada pela Usina do Salto São João irá beneficiar, como disse o Governador Lupion, Campo Mourão, Araruna, Peabiru, Engenheiro Beltrão, Ivailândia, Floriano, Marialva, Mandaguari, Jandaia, Cambira, Pirapó e Apucarana.
Dai o valor da iniciativa e a soma enorme de responsabilidades que atribuímos saber ao atual Governador, pela paralisação dos trabalhos de construção da Usina.
O Paraná, que está em sua fase máxima de progresso, até hoje clama em alta voz aos seus filhos, para que o ajudem em sua ascensão, quando não seja com o sacrifício de cada um, ao menos com um pouco de Patriotismo.
É absurdo e chocante o que se vê em Campo Mourão no que diz respeito a administração pública, o que faz crer que o Governo, premeditadamente, procura entravar ou brecar o vertiginoso progresso desta terra, paralisando as obras desta usina, suspendendo as construções do Grupo Escolar e da Cadeia Pública; do Posto de Monta e a Escola de Trabalhadores Rurais não se tem mais noticias. A ponte sobre o Rio Ivaí e muitas obras imprescindíveis e urgentes, são hoje assunto liquidado.
A este apelo humano e justo que parte de Campo Mourão, sem dúvida, associar-se-ão as demais comunidades ameaçadas de serem preteridas de receber o ’MILAGRE’, como bem se poderia interpretar, as realizações da FORÇA E LUZ abundante.
Este nosso modesto, real e verídico comentário tem por objetivo expor à análise com fatos, tal como na realidade eles se nos apresentam. Ass. Francisco Albuquerque
Este nosso modesto, real e verídico comentário tem por objetivo expor à análise com fatos, tal como na realidade eles se nos apresentam. Ass. Francisco Albuquerque
Inauguração da energia elétrica em Campo Mourão
A mestre cuca - Em uma das inúmeras visitas que o governador Lupion, o maior mandatário benfeitor de Campo Mourão fez, junto com ele veio uma considerável comitiva de secretários, diretores que tinham poder de decisão, junto aos municípios paranaenses.
Nunca tinha encarado uma cozinha para fazer um banquete. Antes de sair, como cicerone da equipe palaciana, papai me chamou e recomendou: “capricha no almoço, minha filha: arrume a mesa bem elegante, sirva a melhor comida nas louças mais bonitas... voltamos ao meio-dia, aqui em casa”, e se foi, ajeitando o chapéu preto na cabeça.
Por uns segundos, fiquei assim, estática. Não esperava ser a mestra-cuca (risos) e muito menos tinha noção do que era banquete e o que cozinhar para satisfazer tanta gente.
A mesa eu fiz de tabuas brutas e compridas, cobertas de toalhas bem claras. Ficou bonita. Distribui os pratos e talheres, calculei cerca de 15 pessoas, enquanto isso na chapa, sobre fogo bem aceso, preparei:...
Quando vi o pessoal chegando me senti alguém a passar por um teste dificílimo; conversavam muito e foram entrando. Papai, sempre gentil, os convidou a tomar seus lugares à mesa. Antes foram lavar as mãos nas bacias, com água do poço e sabão de cinza. Uns curitibanos não conheciam. Era meio fedido, mas limpava mesmo. As toalhas eram de pano de sacarias (linhagem) que mamãe fazia, no capricho. Tinha até bordadinhos.
Recepção às autoridades em Campo Mourão
Pessoal acomodado. A única em pé era eu. Agitada. Me olhavam. Comecei a servir. Primeiro o governador, depois nosso prefeito Pedro Viriato, depois papai e os demais. Daí coloquei em travessas e tigelas em cima da mesa, bem distribuídas entre o pessoal, que ficou mais à vontade. Aí foi a minha vez de ficar olhando para eles: comendo. Papai mandou servir garrafas de cerveja do armazém e água natural nas jarras de vidro.
Moço do céu !! Imaginou o cenário todo, à minha volta? E a responsabilidade?.
Eu quase morta de medo deles reclamarem, mas que nada. Comeram tuuudo !! - Se fartaram messmoo! Deve ser a caminhada que aguçou o apetite, né?, indaga sorrindo.
Comecei ‘tirar’ a louça e só ouvi elogios que até encabulei. Perdi o rebolado mas não perdi a pose. Isso tudo foi uma experiencia nova, inesquecível, e os elogios ‘guardo’ como ‘troféus’.
No Campo Seu Chico era referência
Narrativa de Zoraido Casarim pioneiro de Araruna
Em 1942 chegamos a Campo Mourão. Nos hospedamos na casa do Eugênio e Sofia Zaleski. Era engenheiro, um homem de visão, nosso conhecido de Guarapuava e tinha chácara, perto da Voltinha do Rio do Campo. No mesmo dia chegou o primeiro inspetor de terra, Júlio Régis, que também se hospedou ali. O Eugênio era agrimensor. Demarcou o quadro urbano de Campo Mourão, e o Régis abriu a Gleba 5 (Araruna). O engenheiro era o doutor Vítor (não lembrou o sobrenome). Foi o Eugênio quem encaminhou nós prá lá”, lembra.
Um Caminho - Onde é a praça e a avenida Índio Bandeira, cruzava um estrada bem estreita, que atravessava o Rio do Campo e o Rio 119. Passava em diagonal por onde hoje é a cidade, seguia pela capelinha da Santa Cruz onde conheci o casebre e o velho Jozé Luis Pereira, uma família grande de paulistas que morava por ali onde está o Jardim Santa Cruz. Atravessava pela água do Rio 119, pelo caminho dos índios (Peaberu) sempre derivando prá esquerda: passava na Vila Peabiru, pela Venda Branca até o Rio Claro e, prá lá deste rio estava a terra mista de Araruna”, narra Zoraido.
"Todas as cerimônias e festas religiosas era na Santa Cruz de Campo Mourão porque isso tudo entre o Ivai e o Piquiri era Campos do Mourão", salientou.
Comerciantes – “Em 1942 aqui tinha a venda do Juscelin Medeiros de Araujo (Casa Iracema, na esquina da Av. Irmãos Pereira com a R. Brasil – hoje Edifício Casali), que depois foi do Geremias Cilião de Araújo que logo vendeu pro Expedito Medeiros de Araújo. Os três eram irmãos vindos do Ceará. Me lembro do boteco do Norberto Padilha ficava ali perto onde é o Bradesco (Av. Índio Bandeira esquina com R. São Paulo), na beira esquerda do caminho. O Antonio Mascate, pai da professora Tamara, que casou com o Ricardo Zaleski, tinha um comércio lá perto da Vila Guarujá" aponta.
“O grande Hotel Central foi o primeiro do ramo em Campo Mourão, construído pelo Eugênio Zaleski, na Av. Irmãos Pereira esquina da R. Francisco Albuquerque. Eram dois casarões enormes, de madeira serrada, cobertos com tabuinhas lascadas de pinho. Loguinho, depois da água do Rio 119, em frente do gabiroval, tinha a venda do Devete (de Paula Xavier). Mais prá frente, chegando na Lagoa Seca de Peabiru tinha o armazém do Tito (Airton) Albuquerque”.
"Voltando de lá pra cá, perto da serraria do Teodoro Metchko (Laje Grande), próximo a povoação de Campo Mourão, existia a residência e o armazém do seu Chico (Francisco Albuquerque) que, antes de 1935, este comércio pertenceu ao seu Léo Guimarães. Ali havia de tudo, principalmente atenção e orientações aos viajantes que chegavam em busca de um naco de terra e um futuro melhor. Ele e sua mulher Anita – muito educados e acolhedores -, até pensão e comida nos davam e pra todos que chegavam de novo, além de roupa lavada, sem nos cobrar nada. Era um casal generoso e dedicado que acreditava que Campo Mourão ia crescer e se destacar entre as cidades do Paraná. Algumas famílias chegavam sem nada. Muitas delas, seu Chico doou um pedaço de terra e ajudou a construir suas casas. Era um líder, de uma família numerosa e trabalhadora, crianças bem ensinadas e respeitosas que também eram prestativas e nos ajudavam. Na venda do seu Chico a gente comprava: querosene, lampião, tecidos, secos e molhados, calçados (botinas e tamancos) e até remédios (homeopáticos). A dona Anita, que tratava a todos com amor, era benzedeira e parteira, madrinha de muitas crianças que foram aparadas por ela.
“Do outro lado da água (Rio do Campo) tinha o armazém do Antonio Teodoro (de Oliveira – seu Antoninho), na Campina dos Teodoro, perto de onde hoje está o Parque Municipal Joaquim Teodoro de Oliveira, na estrada do Barreiro das Frutas.
Existia dois carroceiros que faziam os transportes de um lugar para outro. Eram os irmãos João e o Ludovico Floricsack, tios da minha mulher e irmãos do sogro Ladislau Floricsack. Até tenho uma foto deles aqui com as carroças, olha... em frente da casa dos Albuquerque, na Laje”, mostra Zoraido.
"Voltando de lá pra cá, perto da serraria do Teodoro Metchko (Laje Grande), próximo a povoação de Campo Mourão, existia a residência e o armazém do seu Chico (Francisco Albuquerque) que, antes de 1935, este comércio pertenceu ao seu Léo Guimarães. Ali havia de tudo, principalmente atenção e orientações aos viajantes que chegavam em busca de um naco de terra e um futuro melhor. Ele e sua mulher Anita – muito educados e acolhedores -, até pensão e comida nos davam e pra todos que chegavam de novo, além de roupa lavada, sem nos cobrar nada. Era um casal generoso e dedicado que acreditava que Campo Mourão ia crescer e se destacar entre as cidades do Paraná. Algumas famílias chegavam sem nada. Muitas delas, seu Chico doou um pedaço de terra e ajudou a construir suas casas. Era um líder, de uma família numerosa e trabalhadora, crianças bem ensinadas e respeitosas que também eram prestativas e nos ajudavam. Na venda do seu Chico a gente comprava: querosene, lampião, tecidos, secos e molhados, calçados (botinas e tamancos) e até remédios (homeopáticos). A dona Anita, que tratava a todos com amor, era benzedeira e parteira, madrinha de muitas crianças que foram aparadas por ela.
“Do outro lado da água (Rio do Campo) tinha o armazém do Antonio Teodoro (de Oliveira – seu Antoninho), na Campina dos Teodoro, perto de onde hoje está o Parque Municipal Joaquim Teodoro de Oliveira, na estrada do Barreiro das Frutas.
Existia dois carroceiros que faziam os transportes de um lugar para outro. Eram os irmãos João e o Ludovico Floricsack, tios da minha mulher e irmãos do sogro Ladislau Floricsack. Até tenho uma foto deles aqui com as carroças, olha... em frente da casa dos Albuquerque, na Laje”, mostra Zoraido.
A comitiva de Zoraido no Negócio do Seu Chico em Campo Mourão.
No centro: Zoraido e Francisco Albuquerque de chapéu e calça preta.
“Tinha também o Zé Sapateiro (José Voidelo), que chegou aqui em 1937. Também se hospedava na casa em frente dessa aí, nos Albuquerque. Morreu de maleita (febre amarela)”, conta ao retratar Campos do Mourão dos anos 30/40.
"Campo Mourão não tinha estradas... não tinha quase nada em 42, só nome. Uns falavam Campos do Mourão e outros diziam Campo do Mourão. Só em 1947, quando se separou de Pitanga é que na lei passou a ser chamado de Município de Campo Mourão".
Peabiru - “Quando passamos por aqui não tinha nada. Peabiru estava começando. Araruna não existia. Demos de cara com o Rio Claro que não tinha ponte. Ali paramos”, narra Zoraido. “Peabiru era só três casas construídas pelo Estado em 1942, onde moraram o inspetor de terra Júlio Régis, o Silvino Lopes (foi vereador e deputado) militar que operava o rádio de comunicação, e o farmacêutico Waldemar Roth, que depois montou a Farmácia Luz e se estabeleceu na Avenida Manoel Mendes de Camargo, esqüina com a Rua Roberto Brzezinski, e foi vereador da primeira Câmara de Campo Mourão”, recorda com precisão.
Nesse local está a Marc Farma em Campo Mourão
20 quilômetros em 60 dias - Daqui até Araruna acampamos duas vezes. Uma no sítio do Laurindo Borges (cartorário) pouco adiante do Rio 119, e outra já na barranca do Rio Claro. Demoramos sessenta dias prá chegar em nossa terra. Ficava ao lado de um carreador (picada) que o Estado acabava de abrir e mais nada.
Os animais de montaria e os de carga (cargueiros) atravessaram por dentro da água do Rio Claro. As carroças ficaram do lado de cá, cuidadas pela mamãe que ficava sozinha, mas não tinha medo.
Era muita água prá atravessar. Naquele tempo não tinha perigo de ladrão. Você podia deixar a casa aberta e ninguém mexia em nada”, recorda da solidão dos primórdios em Araruna.
Logo compraram madeiras do Teodoro Metchko (depois serraria dos Perdoncini) e começaram a fazer uma ponte. “Antes de terminar - não tinha aterro e nem cabeceiras - colocamos umas pranchas de 12 x 6 polegadas e passamos as carroças, empurradas no muque, sem os animais. Entramos na terra, mata fechada, e mais tarde papai requereu, em meu nome, um lote de 37,5 alqueires indicado pelo amigo Eugênio Zaleski, uns dois quilômetros antes de onde hoje é o centro de Araruna. Mas nós não sabia onde ficava. Fomos orientados por um morador mais antigo (Paulo Toledo), chamado Paulo Paraguai, que tinha um índio (guarani) Vicente, que morava separado do Paulo e tinha família grande. Trabalhavam juntos na região do Lirial de São Luiz. O seu Paulo nos levou até o nosso sítio, Era patrão do Vicente", explica.
Rompendo - "Fomos na frente abrindo picada com machado, foice e facão pros cargueiros passar. Chegamos na terra e já tinha sinal de safra (queimada). Alguém morou por ali. Fizemos um rancho de tronco de palmito lascado pelo meio e cobrimos com as folhas. A gente começava morar assim. O rancho era de chão batido. Fogão de barro. Igual índio. Tinha palmito que não acabava mais. Começamos a plantar prá sobreviver. A gente comia muita carne de galinha e de caça. Tinha veado, anta, capivara... nunca vi onça por perto, só rastro. A gente matava também macuco, jacutinga, uru e inhambu. Tinha muito. A comida era reforçada com quirela, canjica, arroz - tudo socado no pilão - e rapadura. Café não tinha. Nós tomava chimarrão que gosto até hoje e a pinguinha também”... (rindo muito). "O pilão, o monjolo, as gamelas e as engenhocas, eram feitas de tronco de árvore mole, falquejada, na mão. A farinha de biju (cascão de milho) fazia batida no monjolo movido à água.
Começamos derrubar o mato, fazer lavoura e criar porcos. As árvores eram enormes e imensas. Tinha muita peroba rosa e amarela. Uma madeira muito dura e algumas retorcidas. Pinheiros não tinha. Era no machado o corte. A mão da gente ficava grossa e cheia de bolhas, que depois viravam calos e a pele engrossava, daí as pessoas nem reclamavam mais de dor. Era preciso plantar e colher rápido. Tinha que ter sustento próprio e força prá trabalhar, senão não sobrevivia no sertão”, diz da dureza enfrentada na época, sem o mínimo de recursos. “A posse da terra era tomada assim: "primeiro a gente derrubava o mato. Depois fazia a coivara (queima) prá depois plantar a roça".
Começamos derrubar o mato, fazer lavoura e criar porcos. As árvores eram enormes e imensas. Tinha muita peroba rosa e amarela. Uma madeira muito dura e algumas retorcidas. Pinheiros não tinha. Era no machado o corte. A mão da gente ficava grossa e cheia de bolhas, que depois viravam calos e a pele engrossava, daí as pessoas nem reclamavam mais de dor. Era preciso plantar e colher rápido. Tinha que ter sustento próprio e força prá trabalhar, senão não sobrevivia no sertão”, diz da dureza enfrentada na época, sem o mínimo de recursos. “A posse da terra era tomada assim: "primeiro a gente derrubava o mato. Depois fazia a coivara (queima) prá depois plantar a roça".
Primeiras famílias – ‘Tinha cinco famílias esparramadas quando chegamos em Araruna”. Faz um esforço de memória e nomina: “O Ribeiro, o Antonio Rodrigues, o Paulo Toledo (Paraguay), o João Olenski e o Romalino, tudo longe um do outro. O Vicente era da parte do Toledo. A primeira casa de madeira (boa) coberta de tabuinhas, na vila Araruna, foi do meu irmão Luiz Casarim que fez a residência, o comércio e um botequinho. Depois vendeu e voltou de mala e cuia prá Guarapuava. Não se acostumou na vida dura daqui”, registra.
“O rancho era iluminado com querosene (lampião) e banha de porco com pavio de pano trançado (lamparina). Fazia muita fumaça preta. Todo mundo amanhecia com o nariz preto, feito uma fornalha de tanto picumã” (gargalhadas). “Tomar banho e lavar roupa, só no rio, com sabão de cinza, pura soda. Tinha água de mina (respeitada) prá beber e fazer a bóia”, explica o “conforto” da época de vida natural. “Papai morreu novo, com 72 anos em Araruna mesmo, e mamãe morreu aqui (Campo Mourão) com 95”, lamenta.
Família de Dona Sofia, pioneirissima
Remédios - “Quando alguém adoecia o remédio que mais se consumia era o chá de pau-prá-tudo. Cozinhava e fazia um caldo amarelado e amargo prá burro”. Não existia médico e nem farmácia, só curador e benzedor. “Eu me curei da hepatite com chá de picão e não tem outro igual pro fígado", garante Zoraido.
Tio Chico tinha - "Onde se achava um pouco de tudo e comprava, era no armazém do Tio Chico e da dona Anita Albuquerque, aqui no Campo. Era longe de Araruna, toda vida. Papai, eu ou meu irmão vinha de Araruna de carroça abastecer, principalmente de sal grosso, que servia prá família e pros animais de criação. O sal não podia faltar de jeito nenhum”, explica Zoraido.
“O primeiro médico do Estado aqui, em 1943, foi o doutor Délbos Alves Zolla. O barbatimão e o angico curavam os pulmões e as mulheres faziam banho de higiene íntima, com elas”, lembra.
Tio Chico tinha - "Onde se achava um pouco de tudo e comprava, era no armazém do Tio Chico e da dona Anita Albuquerque, aqui no Campo. Era longe de Araruna, toda vida. Papai, eu ou meu irmão vinha de Araruna de carroça abastecer, principalmente de sal grosso, que servia prá família e pros animais de criação. O sal não podia faltar de jeito nenhum”, explica Zoraido.
“O primeiro médico do Estado aqui, em 1943, foi o doutor Délbos Alves Zolla. O barbatimão e o angico curavam os pulmões e as mulheres faziam banho de higiene íntima, com elas”, lembra.
“Eu agradeço primeiro a Deus por eu ter escolhido Campo Mourão e desbravado Araruna, e em segundo agradecemos à grande e dedicada família Albuquerque, que nos acolheu de maneira super amiga e ajudou a vencer o sertão bravo que era essa abençoada terra”, concluiu Zoraido
Narrativas de Adelaide Teodoro de Oliveira e Rubens Bathke, sobre os irmãos Moacir e Newton Albuquerque e a Polícia Militar, em fevereiro de 1951.
Adelaide Teodoro de Oliveira diz: "A renúncia de Pedro Viriato de Souza Filho, primeiro prefeito eleito de Campo Mourão (1947), não ficou bem contada. Ele tinha uma chácara muito boa aqui e criava porcos. Mas ninguém nunca viu a mulher dele no Campo. Diziam que ela era doente e ficava em Curitiba. Seu Pedro – também conhecido por Pedro Parigot, sobrenome da mãe - era irmão do Edilberto (Distribuidor Público) e do Sady Parigot de Souza (Registro de Imóveis). O seu Pedro, foi prefeito (candidato único do PSD) por exigência do Moises Lupion (governador do Paraná).
Disse que foi embora porque Lupion o convidou para coordenar os municípios do Paraná. No ano seguinte o Bento Munhoz da Rocha Neto - do Partido Republicano (PR) - ganhou a eleição e deu uma reviravolta política negativa, em Campo Mourão e Peabiru”, narra Adelaide.
Devete de Paula Xavier, primeiro presidente da Câmara de Vereadores, assumiu o cargo de prefeito no lugar de Pedro Viriato de Souza Filho. “Foi quando aconteceu a Briga do Carnaval e a tal da Guerra do Rádio, mas estas são outras histórias”, registra Adelaide, rindo muito.
Reviravolta: Foi nessa virada política que a Policia Militar, numa noite de Carnaval (fevereiro de 1951), fuzilou a casa dos Albuquerque, ali onde estava até pouco tempo a construção de madeira feita em 1940. “Derrubaram cerca. Picaram a casa de balas. Eles (os Albuquerque) fugiram descalços, quase sem roupas, pois a maioria estava dormindo. Correram pelos fundos, que ainda era mato (Av. Manoel Mendes de Camargo). Dona Anita chegou na casa do seu Devete sangrando muito, com um corte feio no pé, por causa de um pontaço de sabre. O Newton caiu na correria; um soldado pulou em cima dele com a baioneta apontada contra seu peito: dona Anita puxou o soldado com toda força e o sabre acertou seu pé. Foi um Deus nos acuda... as crianças corriam apavoradas... com espinhos e machucados nos pés. Foi terrível !!
Medo?? - O seu Devete morava além do Jardim Tropical, cima da água do Rio 119. "Eles (os Albuquerque) foram a pé pelo meio do mato”, conta. O Delegado (calça curta) era José Pereira Carneiro (Zé Mineiro) adversário político do PSD – Partido Social Democrático. Foi um rolo!! - Seu Devete, no outro dia cedinho veio a cavalo em nossa casa e disse pro meu pai (Joaquim Teodoro de Oliveira): não posso esconder os Albuquerque, e aquelas crianças dão muito trabalho”.
"O Devete estava meio cismado. Era prefeito do PSD. Tinha pretensões políticas e não quis se envolver”, deduz Adelaide. “Daí eles foram prá nossa casa e ficaram uns dez dias, escondidos e morando com a gente, no fim da Rua Brasil, perto da estradinha que ia pro Barreiro das Frutas.
"Foi bom eles ficarem na nossa casa. As crianças eram uns amores. Brincavam o dia inteiro. A Adalbrair já era moça e conversavamos muito. A Adélia era mocinha. A Rosemari e o Edson pequenos e a Marião (empregada da família) cuidava deles com muito apego. O Joel, o Dalmo, o Everaldo... todos meninos bons!!" lembra Adelaide, com carinho.
“O Moacir e o Newton Albuquerque (vereador)... eles que tinham brigado com a policia antes do tiroteio. No dia seguinte meu pai os colocou num avião e foram pra Curitiba. Ficaram na casa do primo Ville (Bathke) que já estava aqui no Campo. Depois papai falou com o Delegado e pediu licença pra entrar na casa dos Albuquerque. Pegou e trouxe roupas e calçados prá eles. Lembro que seu Chico gostava de comer pão molhado no café com leite, numa tigelinha de louça branca, parecia porcelana. Nesse dia ele tremia. Estava assustado, preocupado com a sorte da família. Mas era um homem inteligente, de fibra e valente, sem ser brigão. Era um diplomata, igual meu pai. Dois pacificadores”, elogia Adelaide. “Depois eles (os Albuquerque) voltaram prá casa. Tiveram que reformar tudo. Mas, foi feio o estrago!! concluiu Adelaide.
Rubens Bathke diz: “Me lembro bem que esse episódio aconteceu de madrugada. Ouvia-se o tiroteio na cidadezinha toda. Parecia uma guerra. Um pelotão da Policia Militar estava acampado perto do Rio do Campo (região do Jardim Araucária), no terreno de um criador de porcos, aguardando ordens para invadir a Fazenda da Sinop (hoje Ubiratã) devido aos desmandos e mortes freqüentes que aconteciam lá por causa das posses de terra. O reforço de tropa policial foi solicitado pelo Juiz de Direito (titular), doutor Joaquim Euzébio de Figueiredo, que estava de férias forenses".
Devete de Paula Xavier, primeiro presidente da Câmara de Vereadores, assumiu o cargo de prefeito no lugar de Pedro Viriato de Souza Filho. “Foi quando aconteceu a Briga do Carnaval e a tal da Guerra do Rádio, mas estas são outras histórias”, registra Adelaide, rindo muito.
Reviravolta: Foi nessa virada política que a Policia Militar, numa noite de Carnaval (fevereiro de 1951), fuzilou a casa dos Albuquerque, ali onde estava até pouco tempo a construção de madeira feita em 1940. “Derrubaram cerca. Picaram a casa de balas. Eles (os Albuquerque) fugiram descalços, quase sem roupas, pois a maioria estava dormindo. Correram pelos fundos, que ainda era mato (Av. Manoel Mendes de Camargo). Dona Anita chegou na casa do seu Devete sangrando muito, com um corte feio no pé, por causa de um pontaço de sabre. O Newton caiu na correria; um soldado pulou em cima dele com a baioneta apontada contra seu peito: dona Anita puxou o soldado com toda força e o sabre acertou seu pé. Foi um Deus nos acuda... as crianças corriam apavoradas... com espinhos e machucados nos pés. Foi terrível !!
Medo?? - O seu Devete morava além do Jardim Tropical, cima da água do Rio 119. "Eles (os Albuquerque) foram a pé pelo meio do mato”, conta. O Delegado (calça curta) era José Pereira Carneiro (Zé Mineiro) adversário político do PSD – Partido Social Democrático. Foi um rolo!! - Seu Devete, no outro dia cedinho veio a cavalo em nossa casa e disse pro meu pai (Joaquim Teodoro de Oliveira): não posso esconder os Albuquerque, e aquelas crianças dão muito trabalho”.
"O Devete estava meio cismado. Era prefeito do PSD. Tinha pretensões políticas e não quis se envolver”, deduz Adelaide. “Daí eles foram prá nossa casa e ficaram uns dez dias, escondidos e morando com a gente, no fim da Rua Brasil, perto da estradinha que ia pro Barreiro das Frutas.
"Foi bom eles ficarem na nossa casa. As crianças eram uns amores. Brincavam o dia inteiro. A Adalbrair já era moça e conversavamos muito. A Adélia era mocinha. A Rosemari e o Edson pequenos e a Marião (empregada da família) cuidava deles com muito apego. O Joel, o Dalmo, o Everaldo... todos meninos bons!!" lembra Adelaide, com carinho.
“O Moacir e o Newton Albuquerque (vereador)... eles que tinham brigado com a policia antes do tiroteio. No dia seguinte meu pai os colocou num avião e foram pra Curitiba. Ficaram na casa do primo Ville (Bathke) que já estava aqui no Campo. Depois papai falou com o Delegado e pediu licença pra entrar na casa dos Albuquerque. Pegou e trouxe roupas e calçados prá eles. Lembro que seu Chico gostava de comer pão molhado no café com leite, numa tigelinha de louça branca, parecia porcelana. Nesse dia ele tremia. Estava assustado, preocupado com a sorte da família. Mas era um homem inteligente, de fibra e valente, sem ser brigão. Era um diplomata, igual meu pai. Dois pacificadores”, elogia Adelaide. “Depois eles (os Albuquerque) voltaram prá casa. Tiveram que reformar tudo. Mas, foi feio o estrago!! concluiu Adelaide.
Rubens Bathke diz: “Me lembro bem que esse episódio aconteceu de madrugada. Ouvia-se o tiroteio na cidadezinha toda. Parecia uma guerra. Um pelotão da Policia Militar estava acampado perto do Rio do Campo (região do Jardim Araucária), no terreno de um criador de porcos, aguardando ordens para invadir a Fazenda da Sinop (hoje Ubiratã) devido aos desmandos e mortes freqüentes que aconteciam lá por causa das posses de terra. O reforço de tropa policial foi solicitado pelo Juiz de Direito (titular), doutor Joaquim Euzébio de Figueiredo, que estava de férias forenses".
"O Newton tinha chegado naquela noite de Carnaval, com um caminhão (Ford Marta Rocha) zero quilômetro, que o Tio Chico mandou ele comprar em Curitiba. Junto com ele estava seu mano Moacir nesse Grito de Carnaval, no barracão vazio da máquina de arroz do Teodoro Metchko, na esquina da Av Índio Bandeira com a rua São Paulo, onde depois tinha o Bamerindus comprado pelo HSBC e depois pelo Bradesco".
"Se desentenderam com alguns policiais que estavam por ali e foram às vias de fato. Brigaram pra valer. Os policiais correram, chamaram os companheiros de farda e subiram pra praça, armados até os dentes.
Em formação de ataque, sob o comando de um tenente, chegaram atirando sem parar contra a casa de madeiras dos Albuquerque, que ficava na frente da Praça Getúlio Vargas, na Av. Índio Bandeira, esquina com a antiga Rua Paraná (hoje Francisco Ferreira Albuquerque). A casa ainda estava ali até pouco tempo, afastada, reformada e virada de frente pra rua. Os agressores derrubaram a cerca e fuzilaram a casa do Tio Chico e a casa do filho dele, o Tito, na Rua Araruna (em frente a PC Bicicletas)".
"Por volta das 2... 3 horas da madrugada, meu pai (Ville Bathke), que era Escrivão do Crime, foi acordado pelo Oficial de Justiça, Avelino Bueno, chamado com urgência pelo Juiz Substituto, doutor Sinval Reis. Só os três se dirigiram ao local, desarmados. O doutor Sinval deu voz de prisão ao tenente e ao pelotão. Todos os policiais ficaram detidos, sem armas, até amanhecer o dia, presos no salão do Fórum (em frente a extinta Telepar), que lotou de meganhas (policias). Entre as 9... 10 horas encostou uma fila de jeeps requisitados pelo Juiz, em frente do Fórum. "Os policiais desarmados, foram embarcados, transportados pelos jeeps, recolhidos e presos no quartel do Exército (Cavalaria) em Guarapuava", detalha Rubens Bathke, Escrevente Juramentado e depois Oficial Maior do Cartório do Registro Civil da Comarca de Campo Mourão, filho do Escrivão do Crime e Oficial Vitalício do Cartório de Registro Civil, Ville Bathke, que chegou a Campo Mourão em 1947 e faleceu em 1991.
"Se desentenderam com alguns policiais que estavam por ali e foram às vias de fato. Brigaram pra valer. Os policiais correram, chamaram os companheiros de farda e subiram pra praça, armados até os dentes.
Em formação de ataque, sob o comando de um tenente, chegaram atirando sem parar contra a casa de madeiras dos Albuquerque, que ficava na frente da Praça Getúlio Vargas, na Av. Índio Bandeira, esquina com a antiga Rua Paraná (hoje Francisco Ferreira Albuquerque). A casa ainda estava ali até pouco tempo, afastada, reformada e virada de frente pra rua. Os agressores derrubaram a cerca e fuzilaram a casa do Tio Chico e a casa do filho dele, o Tito, na Rua Araruna (em frente a PC Bicicletas)".
"Por volta das 2... 3 horas da madrugada, meu pai (Ville Bathke), que era Escrivão do Crime, foi acordado pelo Oficial de Justiça, Avelino Bueno, chamado com urgência pelo Juiz Substituto, doutor Sinval Reis. Só os três se dirigiram ao local, desarmados. O doutor Sinval deu voz de prisão ao tenente e ao pelotão. Todos os policiais ficaram detidos, sem armas, até amanhecer o dia, presos no salão do Fórum (em frente a extinta Telepar), que lotou de meganhas (policias). Entre as 9... 10 horas encostou uma fila de jeeps requisitados pelo Juiz, em frente do Fórum. "Os policiais desarmados, foram embarcados, transportados pelos jeeps, recolhidos e presos no quartel do Exército (Cavalaria) em Guarapuava", detalha Rubens Bathke, Escrevente Juramentado e depois Oficial Maior do Cartório do Registro Civil da Comarca de Campo Mourão, filho do Escrivão do Crime e Oficial Vitalício do Cartório de Registro Civil, Ville Bathke, que chegou a Campo Mourão em 1947 e faleceu em 1991.
“Naquela barulhenta madrugada do tiroteio eu dormia numa meia água, com meu irmão Vilinho (Wille Bathke Júnior). Eu ouvi tudo, mas ele nem acordou”, (risos). “A gente morava sozinhos na Av. José Custódio de Oliveira, em frente do seu Aldo Casali. Nossa mãe já havia falecido, ainda em Curitiba. Eu e o Vilinho quase sempre dormíamos no sótão da casa da Tia Anita (Gaspari Albuquerque), que cuidava de nós. Por sorte naquela noite estávamos na meia-água improvisada, que papai havia construído no fundo do terreno recém comprado da Prefeitura de Campo Mourão, onde moramos definitivamente depois, com nossos avós Germano Francisco Rodolfo Bathke e Idalina Ferreira Albuquerque - irmã do tio Chico Albuquerque - com minhas irmãs Vilma e Roseli e com o irmão caçula, Fernando Rodolfo Bathke”, concluiu Rubens.
Casa virou peneira - Era uma noite de festa de ensaio que visava o Carnaval ao mesmo tempo que seu Antonio Lourival Borba inaugurava a Farmácia Santo Antonio ao lado da Relojoaria Fuchs, em frente da máquina de arroz do seu Teodoro Metchko (Bradesco 2). Acredito que dentro do salão pouca gente sabia da briga dos policiais com meus irmãos, lá fora. Só me lembro que vi entrar um fardado segurando um 38 com as duas mãos, apontado em minha direção e gritou: laaá vai bala !! Me abaixei e pegou na parede. O tiro apavorou o povo e foi aquele corre-corre. Tentaram matar o Newton caído, com baioneta. Minha mãe deu um tranco no policia e o pontaço atingiu seu pé esquerdo. De dentro da casa ouvia-se o pipocar dos tiros e nós indefesos. Eu via o brilho rápido ou fogo das balas perfurando as paredes, zunindo pelo corredor. O Joel estava escondido atrás de uma viga e uma bala de fuzil bateu ali e ficou poucos milímetros da sua cabeça. Eu estava preocupada com as crianças que ficaram dormindo no sótão. Umas 13 se bem me lembro. Eu subia e descia acudindo elas. Tiros de todo lado, e consegui salvar uma por uma. Mamãe manquitolava e ajudava reunir os filhos. Escuridão total. Saímos pelos fundos, onde existe a Av. Manoel Mendes de Camargo e fomos, a pé, até a casa do Devete, lá no Jardim Tropical, bem além do Posto da Polícia Rodoviária. Felizmente - só por Deus mesmo - sobrevivemos àquela furia policial com consentimento do delegado calça-curta “JM” partiário do Bento Munhoz (PR) que havia ganho a eleição do PSD (Moisés Lupion). O Devete não quis nos acolher, disse que as crianças (nós) fazíamos muita bagunça. Papai, então, nos levou até a casa do seu Joaquim Teodoro (a pé) no final da Rua Brasil. Ali fomos bem recebidos e ficamos até passar a ‘tempestade de fogo do grito de carnaval’. Quando voltamos, à nossa casa estava toda furada por dentro e por fora. Parecia uma peneira. De dentro se enxergava lá fora pelos furos das balas. Me lembro de ter olhado dentro do guarda-roupa e nossas roupas casacos de pele nos cabides, estavam picotados, tanto que nem deu mais para usar.
Campo Mourão - Carnaval 1952
O Correio de Campo Mourão (jornal), propriedade de Nelson Bittencourt Prado, em sua edição de 8 de Março de 1952 estampou esta manchete:
Ecos do Carnaval de Campo Mourão
PRELÚDIO DO TRIDUO.
"A medida que se aproximavam os dias do Carnaval ia-se formando, entre o povo, a pergunta: -como será o nosso Carnaval deste ano!?
Ecos do Carnaval de Campo Mourão
PRELÚDIO DO TRIDUO.
"A medida que se aproximavam os dias do Carnaval ia-se formando, entre o povo, a pergunta: -como será o nosso Carnaval deste ano!?
Tudo, até poucos dias antes, não parecia indicar qualquer interesse pela tradicional festa popular.
Entretanto, empossada a nova Diretoria da Sociedade Operária Beneficente e Recreativa 1ª de Maio, desde logo foram discutidos os primeiros pontos que formariam ambiente propício para as festividades.
Em duas reuniões sucessivas foram assentados e sistematizados os trabalhos que, sob a operosidade e zelo especial do Presidente, Sr. Harrison José Borges (Pitico) viriam possibilitar o êxito de que se revestiu o nosso Carnaval deste ano.
Em verdadeira “blitz” estabeleceu-se aumentar as dependências da S. O. B. R. 1º de Maio, ampliado ao dôbro para atender ao crescente desenvolvimento da população e associados.
Por outro lado, um grupo líder de moças, a cuja frente encontravam-se as senhoritas: Deise Leão, Adalbrair Albuquerque e Clarita Carneiro movimentou-se e planejou a organização de um “bloco” que haveria de fazer o sucesso que fez.
Dia 2 de setembro de 1978, 31º Ano da Emancipação de Campo Mourão, esteve presente nas comemorações da Semana da Pátria, a convite do prefeito Augustinho Vecchi, o primeiro prefeito eleito de Campo Mourão, Pedro Viriato de Souza Filho que, na ocasião, foi homenageado, juntamente com outros ex-prefeitos que o sucederam. Ao fazer uso da palavra, no palanque oficial da Av. Índio Bandeira, esquina com a Rua Brasil, perante mais de 3 mil pessoas, visivelmente emocionado, Pedro Viriato agradeceu a recepção e fez um relato histórico. Detalhou sobre o mais importante episódio da História de Campo Mourão: a sua emancipação econômica e política.
- Com a palavra, sua excelência, o primeiro prefeito de Campo Mourão: Pedro Viriato de Souza Filho.
-- “Vocês sabem que sempre fui um homem emotivo e, a solenidade que hoje se realiza, toca profundamente o meu coração. Não sei se poderei dizer a todos, aquilo que eu tanto desejo”.
Voltando a 30 anos passados, para dizer melhor, ao dia em que Francisco Albuquerque, seguido por Antonio Teodoro de Oliveira, chegou ao meu rancho, na costa do rio da Vargem, levando a notícia de que o Estado passava por uma reforma administrativa e, com isso, criando diversos novos Municípios. A finalidade, no entanto, não era só darem a notícia, mas apelarem para que eu fosse tentar a criação do Município de Campo Mourão, alegando que eu era curitibano e que tinha boas relações de amizade na Capital e, portanto, era o mais indicado da turma, para tal reivindicação. Éramos um punhadinho de companheiros, dentre os que viviam ao redor da atual sede, tendo como ponto de reunião a casa e armazém de Francisco Albuquerque, na margem do rio (do Campo). Em volta da atual praça existiam quatro casas velhas, mais a escola e a igreja em fase de construção.
No dia seguinte bem cedo voei para Curitiba e fui recebido pelo governador. Mas sem que eu notasse, uma pessoa na sala, disse ao Governador: “o que esse homem pede é impossível, só daqui uns dez ou quinze anos pode‑se pensar nisso”. Levantei como picado por uma cobra e respondi com violência, perguntando‑lhe se conhecia Campo Mourão, ou achava que eu estava mentindo, e fui mais grosseiro um pouco, o que valeu‑me uma repreensão do Governador, dizendo‑me que se tratava de um Secretário de Estado. Afinal este se retirou e continuamos a conversa sobre o assunto, até que o Governador fez‑me umas perguntas:
- Você veio com o apoio total dos seus companheiros?
- Sim Senhor, respondi‑lhe.
- Eles confiam em você e você neles?
- Sim Senhor.
- Se você for candidato a Prefeito, tem possibilidade de se eleger?
-Absoluta, mas desejo que seja Francisco Albuquerque, é paranaense como eu, mais antigo em Campo Mourão, comerciante e tem inúmeros amigos e compadres.
- Quem está pedindo e garantindo as possibilidades é você, disse o Governador, portanto se você for o candidato vamos pensar nisso.
- Governador, o Senhor pode fazer o favor de mandar parar o projeto por uns dois dias e me dá esse prazo para resposta?
Ele concedeu. Nessa tarde me virei atrás de um teco‑teco que consegui com a BOA (Brasil Organização Aérea), para o dia seguinte cedo e passei um rádio por intermédio do Palácio, para Peabiru, avisando minha ida. Chegando a Campo Mourão, os companheiros aflitos já me esperavam em volta de Francisco Albuquerque. Dei‑lhes detalhadamente o acontecido e todos acharam que eu já devia ter resolvido.
Voltei em seguida, trazendo comigo Francisco Albuquerque que apresentei ao Governador como nosso líder, dizendo‑lhe que a turma havia ficado na maior satisfação e que os representantes da UDN União Democrática Nacional) e do PR (Partido Republicano) declararam que não apresentariam candidatos, estabelecendo assim, candidatura única.
Assim ficou resolvida a criação do Município. Criado o Município, para os efeitos legais, foi nomeado Prefeito, por nossa indicação, José Antonio dos Santos, que se limitou a aguardar a eleição e posse do Prefeito eleito, para cuja posse veio para nossa cidade o então juiz de direito de Londrina, falecido, Desembargador Antonio Franco Ferreira da Costa.
Tivemos, em seguida, grandes dificuldades. O Município recém criado ia do rio Ivaí ao Piquiri e do Muquilão ao Paraná Rio Paraná), sem nenhuma estrada mais do que a péssima que nos ligava a Pitanga. Não tínhamos escola nem atendimento sanitário; recém criado não tínhamos nem verba, só boa vontade e dedicação dos companheiros que ajudavam resolver a situação. Diversas vezes tivemos que recorrer ao Governador Lupion, que sempre com a maior boa vontade nos ajudou no caminho para o progresso.
Da união e do esforço daqueles bravos companheiros quero citar dois fatos:
Primeiro, quando informado da existência de um motor a diesel, encostado em São Mateus (do Sul), fui pedir ao Governador esse motor, para instalarmos luz na sede, fiquei surpreso com a resposta:
- Não Prefeito, aquele motor não serve para vocês ‑ pensou um pouco e continuou ‑ estou informado que perto da sede tem um salto capaz de produzir força suficiente para instalação de uma Usina Hidroelétrica, eu vou mandar verificar".
- Mas isto é uma obra muito demorada Governador, ‑ respondi - nós pretendíamos ter energia elétrica logo.
- "Com esse motor, disse o Governador, vocês terão grandes despesas e precisariam de um mecânico especializado permanente, e não tem estrada para garantir o transporte de óleo e se o salto for o que pensamos, dentro de um ano eu garanto a energia, nem que seja provisória".
Diante dessa afirmação voltei sem o motor e os companheiros, a princípio, acharam que eu tinha dormido no ponto.
Passado algum tempo chegava à Prefeitura o Dr. Javorski com uma carta do Governador pedindo que déssemos assistência necessária a ele, para fazer o serviço.No mesmo dia instalei‑o na margem do salto com tudo o que havia pedido.
Trinta dias depois, ele (Dr. Javorski) mandou levantar o acampamento e seguiu para Curitiba. Ao despedirmos‑nos perguntei‑lhe o resultado e ele respondeu: “ótimo, melhor do que nós esperávamos”.
Decorrido algum tempo, chegava na Prefeitura outro Engenheiro (Dr. Guy), com carta do Governador pedindo para darmos assistência, pois ele vinha fazer uma revisão dos estudos e, dias depois foi embora, ou seja, quando foi embora, perguntado sobre o resultado, disse que o Dr. Javorski tinha sido bastante moderado na sua avaliação. Passado alguns dias recebemos um rádio que marcava a data do lançamento da pedra fundamental da Usina. Os companheiros reunidos, perguntávamos, como vamos levar o Governador até o salto? A cavalo? Então foi mandado avisar aos que não tinham estado presentes, que no dia seguinte, todo cidadão útil, deveria estar na encruzilhada da estrada de Pitanga, com a fazenda Santa Maria, quem tinha carroça que a levasse e outros que não tivessem carroças, que levassem as ferramentas que pudessem e tivessem, no ponto indicado e assim, em três dias estava a estrada pronta até o salto.
Para esse trabalho não faltou ninguém, Prefeito, dentista, farmacêutico, comerciantes, sitiantes, todos deram sua valiosa colaboração.
Assim Moysés Lupion e a comitiva pode ir de automóvel, por ótima estrada, fazer o lançamento da pedra fundamental da Usina. Depois das solenidades, durante almoço que foi lá mesmo, o Governador conversando comigo, disse: “com gente como essa é um prazer ajudar”.
Foi uma obra para a qual todos contribuíram, vindo de rincões distantes há quase um dia a cavalo, para dar um dia de serviço.
Segundo: vindo a Campo Mourão, o Brigadeiro Geraldo de Aquino, que também pretendia ter aqui um pedaço de terra. Nas conversas mantidas com ele, nasceu a ideia de um campo de aviação, que ele ajudaria para que fosse incluído na rota do Correio Aéreo Nacional. Ficando assim tudo combinado e, logo que estivesse pronto, deveríamos avisar que ele, Brigadeiro Aquino, viria inaugurar.
veio para nossa cidade o então juiz de direito de Londrina, falecido, Desembargador Antonio Franco Ferreira da Costa.
Tivemos, em seguida, grandes dificuldades. O Município recém criado ia do rio Ivaí ao Piquiri e do Muquilão ao Paraná Rio Paraná), sem nenhuma estrada mais do que a péssima que nos ligava a Pitanga. Não tínhamos escola nem atendimento sanitário; recém criado não tínhamos nem verba, só boa vontade e dedicação dos companheiros que ajudavam resolver a situação. Diversas vezes tivemos que recorrer ao Governador Lupion, que sempre com a maior boa vontade nos ajudou no caminho para o progresso.
Da união e do esforço daqueles bravos companheiros quero citar dois fatos:
Primeiro, quando informado da existência de um motor a diesel, encostado em São Mateus (do Sul), fui pedir ao Governador esse motor, para instalarmos luz na sede, fiquei surpreso com a resposta:
- Não Prefeito, aquele motor não serve para vocês ‑ pensou um pouco e continuou ‑ estou informado que perto da sede tem um salto capaz de produzir força suficiente para instalação de uma Usina Hidroelétrica, eu vou mandar verificar".
- Mas isto é uma obra muito demorada Governador, ‑ respondi - nós pretendíamos ter energia elétrica logo.
- "Com esse motor, disse o Governador, vocês terão grandes despesas e precisariam de um mecânico especializado permanente, e não tem estrada para garantir o transporte de óleo e se o salto for o que pensamos, dentro de um ano eu garanto a energia, nem que seja provisória".
Diante dessa afirmação voltei sem o motor e os companheiros, a princípio, acharam que eu tinha dormido no ponto.
Passado algum tempo chegava à Prefeitura o Dr. Javorski com uma carta do Governador pedindo que déssemos assistência necessária a ele, para fazer o serviço.No mesmo dia instalei‑o na margem do salto com tudo o que havia pedido.
Trinta dias depois, ele (Dr. Javorski) mandou levantar o acampamento e seguiu para Curitiba. Ao despedirmo‑nos perguntei‑lhe o resultado e ele respondeu: “ótimo, melhor do que nós esperávamos”.
Decorrido algum tempo, chegava na Prefeitura outro Engenheiro (Dr. Guy), com carta do Governador pedindo para darmos assistência, pois ele vinha fazer uma revisão dos estudos e, dias depois foi embora, ou seja, quando foi embora, perguntado sobre o resultado, disse que o Dr. Javorski tinha sido bastante moderado na sua avaliação. Passado alguns dias recebemos um rádio que marcava a data do lançamento da pedra fundamental da Usina. Os companheiros reunidos, perguntávamos, como vamos levar o Governador até o salto? A cavalo? Então foi mandado avisar aos que não tinham estado presentes, que no dia seguinte, todo cidadão útil, deveria estar na encruzilhada da estrada de Pitanga, com a fazenda Santa Maria, quem tinha carroça que a levasse e outros que não tivessem carroças, que levassem as ferramentas que pudessem e tivessem, no ponto indicado e assim, em três dias estava a estrada pronta até o salto.
Para esse trabalho não faltou ninguém, Prefeito, dentista, farmacêutico, comerciantes, sitiantes, todos deram sua valiosa colaboração.
Assim Moysés Lupion e a comitiva pode ir de automóvel, por ótima estrada, fazer o lançamento da pedra fundamental da Usina. Depois das solenidades, durante almoço que foi lá mesmo, o Governador conversando comigo, disse: “com gente como essa é um prazer ajudar”.
Foi uma obra para a qual todos contribuíram, vindo de rincões distantes há quase um dia a cavalo, para dar um dia de serviço.
Segundo: vindo a Campo Mourão, o Brigadeiro Geraldo de Aquino, que também pretendia ter aqui um pedaço de terra. Nas conversas mantidas com ele, nasceu a ideia de um campo de aviação, que ele ajudaria para que fosse incluído na rota do Correio Aéreo Nacional. Ficando assim tudo combinado e, logo que estivesse pronto, deveríamos avisar que ele, Brigadeiro Aquino, viria inaugurar.
Assim, dentro em breve, um fato inédito até então na história da criação dos Municípios. Município de um ano e, dentro de um ano, Comarca Judiciária.
Da boa vontade do Governador Lupion para com o nosso Município, ninguém tem dúvida. Era um homem que olhava pelos Municípios do interior com todo o carinho, principalmente os Municípios do Norte, a quem devemos tudo o que fomos no princípio.
Dos bravos companheiros que tanto nos ajudaram, eu sinto a falta dos que já partiram para o além: Francisco Albuquerque, Antonio Teodoro de Oliveira, Devete de Paula Xavier, José Antonio dos Santos, (Eugênio) Zaleski, Guadaniuk, (Miguel) Scharan, Narciso Simão e Daniel Portela, que hoje não podem estar ao nosso lado, para receberem o culto de homenagem prestada pelos seus trabalhos.
Campo Mourão foi feliz, criado com tão boa vontade. Teve a sorte de ter em todas as suas administrações homens cheios de dedicação que tudo fizeram para que alcançasse essa grandeza em que hoje se encontra.
Da união de nossos companheiros e o apoio ao seu Prefeito, o que fazia sentir o governo a força de seus pedidos, resultou conseguirmos os principais fatores do nosso progresso.
Não terminei o meu mandato. Numa sexta‑feira de agosto de 1950, recebi um rádio do Chefe da Casa Militar do Governador, dizendo que ele me esperava no dia seguinte, sem falta. Respondi que ia providenciar um avião e estaria presente. Pedi um teco‑teco da BOA e, no dia seguinte, ao meio‑dia, chegava em minha casa em Curitiba e minha filha, ao me receber disse que já tinham telefonado por três vezes do Palácio, perguntando se eu já havia chegado. Então disse a ela que me visse uma roupa e um cafezinho, que eu iria em seguida. Mas enquanto isso acontecia, o telefone bateu e eu atendi. Era o Cel. Crespo. Ele disse que estavam ansiosos pela minha presença, pois estava na hora do Governador ir para sua residência tomar remédios a que estava habituado, e perguntou‑me se eu tinha condução. Como eu disse que não, ele me respondeu que ia mandar um carro me buscar.
Ao chegar no Palácio me surpreendi ao ver o Cel. Crespo me esperando no topo da escada e mais ainda, quando atravessamos a ante‑sala do Gabinete, vi a presença de todos os Secretários de Estado e diverso Deputados, aos quais o Cel. Crespo deu um sinal para que seguissem ao Gabinete. Recebido pelo Governador Lupion, que me abraçou e dirigiu‑se a todos os presentes dizendo: “apresento a todos os meus amigos e auxiliares, o meu novo Diretor do Departamento das Municipalidades”. Eu quase caí!
- Governador, disse eu, não é possível, eu não aceito. Esse cargo é um cargo técnico, é um cargo para um Engenheiro e, além do mais eu ainda tenho um ano e cinco meses de Prefeitura em Campo Mourão. Ele me respondeu, por parte:
- "Campo Mourão já é uma criança que anda com passos firmes, para um caminho de progresso e independência. Fiz tudo que vocês pediram, mas agora são trinta e dois Municípios do Estado que pedem a sua colaboração. Precisam de um homem capaz de fazer cumprir os 32 compromissos que eu tenho com os Municípios do interior e só o amigo, um homem de capacidade como você, poderá realizar. Quanto aos técnicos, aquele que você precisar, requisita e eu colocarei à sua disposição".
Não teve outro jeito. Ele virou‑se para o Secretário de Governo e disse “... leia o termo de posse de nosso Diretor”.
Lido o termo, foi levado o livro para o Governador assinar, que passou‑me para eu também assinar. Assinei com o coração gelado. Depois disso voltei a Campo Mourão para transferir ao Presidente da Câmara o cargo de Prefeito e aí terminou, definitivamente, o meu mandato.
Voltando para Curitiba assumi o cargo de Diretor do Departamento dos Municípios e, graças a Deus, conseguimos cumprir aquilo que o Governador tanto desejava.
Campo Mourão contribuiu, assim, perdendo o seu Prefeito, para que o Governador pudesse fazer cumprir, em 32 Municípios, as obras importantes que ele havia prometido e, dentre essas, eu consegui que fosse incluída a ponte do rio Ivaí, ficou o contrato assinado com a Deloma Ltda. para construção, mas com a passagem do governo para Bento Munhoz da Rocha, esse mandou rescindir aquele contrato, e mandou, também, parar as obras da Usina Hidroelétrica de Campo Mourão. Tivemos que esperar cinco anos, sofrendo com as dificuldades daquela balsa, até que o novo governo, Moysés Lupion, mandou construir a ponte que havia prometido, que é essa que aí está até hoje.
Estou me alongando demais, mas já vou terminar.
Desde que vim para Campo Mourão, vivi em toda região sozinho, quero dizer, sem familiares, porque a minha esposa, muito doente, vivia debaixo de assistência médica diária e não podia sair de Curitiba, então minha família ficou lá. Acontece que recebido com afeição e carinho por todos, dentro em pouco eu tinha duas continuações do meu lar, em Campo Mourão com a família de Francisco Albuquerque e, em Peabiru, com a família de Narciso Simão, o compadre Narciso de todos. Mais tarde, também a casa de Renato de Mello, todos esses amigos tinham filhas meninas, já algumas se faziam mocinhas e todas me tratavam como se fosse um tio e, em compensação eu as tratava e as queria como se fossem minhas próprias filhas, pela atenção e carinho que me dispensavam e, por obra do destino, ou simples coincidência, hoje a primeira dama de nosso Município é uma das meninas daquele tempo, Samira, a filha de Narciso Simão e esposa do nosso Prefeito Augustinho Vecchi.
A todos os que me ouvem... o meu muito obrigado pela atenção”. (palmas... muitas palmas) - Finalizou Pedro Viriato de Souza Filho, um exemplo de abnegação e amor por Campo Mourão.

Primeiro prefeito de Campo Mourão
Pedro Viriato de Souza Filho, nasceu em Curitiba, dia 13 de dezembro de 1901. Filho de Pedro Viriato de Souza e Helena Parigot de Souza.
Casou-se por duas vezes; a primeira com Cecília Wilhelm com quem teve seis filhos: Cecília, Arlette,Pedro Viriato, Almir, Júlio Jacques e Rachel e, na segunda, com Raquel Sun, com quem teve dois filhos: Jorge Rômulo e Hugo.
Formado em Perito Contador (Guarda Livro), começou a trabalhar em 1918 no cargo de 3° Oficial da Procuradoria da Fazenda e, efetivado, como datilógrafo, em 1921.
Foi promovido por várias vezes. Ocupou importantes cargos no Governo do Estado, entre os quais: Diretor do Departamento de Imprensa Oficial do Estado e Diretor do Departamento de Assistência Técnica aos Municípios do Paraná.
Na investidura de cidadão, quando sentou praça no Exército Brasileiro, participou, no campo de batalha, da Revolução de 1930, quando foi citado por "ato de bravura". Lutou sob a liderança de Getulio Dorneles Vargas.
Morou em Curitiba até 1943, quando mudou-se a Campo Mourão, onde foi cafeicultor e safrista de suínos, a exemplo dos poucos pioneiros do seu tempo. Participou ativa e diretamente do movimento emancipatório do então distrito pertencente a Pitanga, e logrou êxito na difícil iniciativa que, a princípio teve apoio de Francisco Ferreira Albuquerque (Tio Chico) e Antonio Teodoro de Oliveira (seu Antoninho).
Depois de obter a palavra do governador, a favor da instalação do Município de Campo Mourão, com apoio unânime das lideranças políticas locais, aliadas ao PSD, foi candidato único, por consenso, e eleito prefeito, com 230 votos, no memorável dia 22 de novembro de 1947.
Em 20 de abril de 1950 transmitiu seu cargo ao presidente da Câmara de Vereadores, Devete de Paula Xavier, por ter aceito convite do governador Moysés Lupion, que o nomeou diretor do Departamento de Assistência aos Municípios do Paraná.
Mais tarde fixou residência em Goioerê, com fazenda de gado e café e outras culturas menores.
Foi homenageado dia 2 de Setembro de 1978, durante festejos da Independência do Brasil quando pronunciou seu histórico discurso sobre o movimento separatista de Campo Mourão.
Em 1970, voltou a morar em Curitiba, onde faleceu em 11 de abril de 1980.
Mais conhecido na região e no Estado, por "Pedro Parigot" tem, discretamente, seu importante nome em uma rua modesta do Jardim Aeroporto, em Campo Mourão - PR.
História do Burro Preto
Meu pai (Francisco Ferreira Albuquerque) tinha um burrão preto marchador, de fazer inveja. Gostava demais do picaço. Mas se viu no dever de vender o burro porque estava a serviço de ladrão de mulher. rindo.
Eu explico: meu irmão Tito (Airton) gostava da Maria, mas os pais dela eram contra o namoro, pior ainda, contra casar. Então, certo dia o Tito combinou com a Maria fugirem e casarem fora. Trato feito. De noitão, o Tito encilhou o burro, não disse nada onde ia e ninguém o viu sair. Foi, roubou a Maria e casaram. Foram morar na venda da Lagoa Seca (armazém de beira de estrada) do meu pai, ali perto de Peabiru.
Até aí tudo mais ou menos. Acontece que uns meses depois, o meu irmão Newton estava apaixonado pela Rosinha Perdoncini, e seu João Bapista – o italiano – pai dela, não queria de jeito nenhum. Então fizeram a mesma coisa. Combinaram fugir na calada da noite e voltar casados.
Até aí tudo mais ou menos. Acontece que uns meses depois, o meu irmão Newton estava apaixonado pela Rosinha Perdoncini, e seu João Bapista – o italiano – pai dela, não queria de jeito nenhum. Então fizeram a mesma coisa. Combinaram fugir na calada da noite e voltar casados.
O detalhe curioso é que o Newton usou o mesmo burro preto de estimação do pai. Essa noite chovia também, vestiu a capa de boiadeiro. A Rosinha pulou a janela, montou na garupa e se foram.
Voltaram, dias depois, casados na forma da lei, igual o Tito. Foi aí que meu pai desgostou do animal. Apesar da estima pela excelente montaria, que era o burro picaço marchador, vendeu o animal sem pestanejar e quando lhe perguntavam o por quê disso?
Ele respondia na lata:
-Vendi porque não está certo o que o Tito e o Newton fizeram. Agora filho meu não vai mais roubar moças pra se casar, ainda mais filhas dos meus amigos e compadres!!!
Tadinho do burrão. Pagou o pato!
Tadinho do burrão. Pagou o pato!
)0(
1960 - Aniceto e a cura - Tinha eu lá meus 18 anos quando vim de Portugal a hospitaleira Campo Mourão onde montamos uma lojinha que foi o início do Armarinhos Continental, na esquina da R. Harrison José Borges com a Av. Irmãos Pereira, local que hoje ali está uma farmácia.
O ano era 1960 por aí e, aos poucos, passamos a conhecer as famílias mais antigas, dentre estas a dos Albuquerque. Falavam coisas assim, que eu não acreditava e soube também que a dona Anita benzia e curava males do corpo.
Certa manhã acordei com dores insuportáveis na altura dos rins. Doía demais, meu amigo! Estava eu a andar meio curvado. Parecia que tinha abotoado o colarinho da camisa, no botão da cueca.
Pois foi quando me indicaram a dona Anita, mas relutei um pouco. Algumas pessoas falavam: cuidado, se eu fosse você não ia lá... os filhos dela são muito bravos e coisa e tal.
Não acreditei que alguma coisa pudesse me acontecer de ruim, sempre fui homem de paz, e fui até lá. Atravessei a praça. Andei com dificuldade. Cheguei na frente da casa, perto do Museu, bati palmas e dona Anita, lá da porta, perguntou quem era eu e o que queria. Respondi que precisava muito falar com ela.
Ela veio até o portão, enxugando as mãos no avental, e logo viu minha cara contraída de dor:
- O que você tem moço?
Disse o que sentia e ela recomendou:
- Vá e me traga um carretel de linha branca e uma agulha. Olha, a agulha e a linha têm que ser virgens, sem ser usadas, entendeu?
Disse que sim e fui ao nosso bazar... peguei o que ela solicitou... voltei e a dor apertando. Raapaazz achei que ia ter um tréco!!
Ela mandou eu entrar. Sentou e eu em pé de costas à ela. Pediu-me que e u erguesse a camisa e apontasse aonde estava a doer. Mostrei.
Ela colocou um pedaço de pano sobre o local e foi fazendo uma costura no tecido sem tocar minha pele e perguntava:
Ela colocou um pedaço de pano sobre o local e foi fazendo uma costura no tecido sem tocar minha pele e perguntava:
- O que costuro?
- Costuras minha dor!. Respondia eu.
Fez a pergunta três vezes e, três vezes respondi igual que ela me ensinou.
Garantiu que eu ficaria bom, com a "Graça de Deus" e mandou-me voltar no dia seguinte. Eram três dias de tratamento.
Acredite ou não meu caro: sai da casa de dona Anita quase não sentindo mais nada. Ficou uma espécie de dor reflexa, não sei se me compreendes?!
Fui embora a andar normalmente... esboçando sorrisos de alegria. Me senti curado, porém completei as três visitas.
Mas, meu amigo, vamos encurtar esse fato.
Eu sarei. Fiquei completamente são e muito agradecido a Deus e a dona Anita.
Na realidade o que mais mexeu comigo e me emocionou, foi a firmeza e a simplicidade daquela mulher de fala suave e de um coração enorme.
Nesse dia foram por terra todas ‘as maldades’ que algumas pessoas capciosas falavam dos Albuquerque. É uma família maravilhosa.
A humildade de dona Anita foi além de tudo isso, quando lhe perguntei:
- Minha senhora. Quanto tenho que lhe pagar?
Ela abanou as duas mãos no no ar, como quem diz... saí pra lá... pode ir... e falou:
- Não me deve nada, meu filho. Deus paga !!
- Não me deve nada, meu filho. Deus paga !!
Despedi-me sem saber o que lhe dizer ou o que fazer àquela Santa Mulher. Fiquei todo embasbacado. Me despedi e fui.
Tempos depois, sempre que me lembrava dela, lhe levava ou mandava entregar um presentinho que eu mesmo escolhia aqui da loja, porque sei que não há dinheiro que retribua o bem que dona Anita me fez e, sei, que fez bem a muitas e muitas outras pessoas que, por certo, lhe são agradecidas, assim, iguais a eu”, concluiu Aniceto Jorge.
Origens dos Sobrenomes
Ferreira - é de origem ibérica, provavelmente uma referência à profissão de ferreiro, muito importante já que o desenvolvimento de um país durante a Idade Média até a Idade Moderna era ditado pela capacidade de produzir as mais diferentes ferramentas agrícolas, o que facilitava a produção nacional de alimentos e artefatos de ferro. Também cabia aos ferreiros a produção de armamentos forjados a fogo, água, marreta e bigorna destinados à guerra e defesa de suas cidadelas.
D. Fernando Alvares Ferreira, seria o patriarca da família Ferreira portuguesa, o qual chegou a Portugal no reinado de D. Sancho I, vindo de Castela, descendente dos condes de Astúrias de Santilhana, da Vila Herrera, em Leon de Espanha.
Albuquerque - a família carrega uma certa nobreza no sobrenome. No Brasil, as novelas adoram colocar em personagens de famílias tradicionais e a história o retrata como um dos mais nobres. urgiu em Portugal na Idade Média. É a junção de dois termos latinos: albus (branco) e quercus (carvalho). Os primeiros a utilizar este sobrenome foram os descendentes de Dom João Afonso Telo de Meneses, senhorio da vila e do castelo de Albuquerque.
Heráldica - O modelo de brasão da família Albuquerque é esquartelado. O primeiro e o quarto do escudo são de prata, com cinco escudetes azuis postos em cruz, cada um carregado de cinco besantes (botões) de prata em sautor. Já o segundo e o terceiro pedaço é constituído de vermelho, com cinco flores de lis douradas, postas em sautor (forma de x).
No Mundo o sobrenome Albuquerque também tem história na Espanha, se espalhou pelo mundo e chegou até mesmo na América do Norte pelos espanhóis, que deram origem a cidade de Albuquerque, no Novo México.
No Brasil a família Albuquerque se instalou na região nordeste, principalmente em Pernambuco, desde o século XVI onde tem acentuada tradição.
Curiosidades - Albuquerque em árabe significa domador de cavalo branco. Através do prefixo Al pode se notar a influência árabe na constituição de alguns outros sobrenomes: Alcântara e Almeida.
Imutável - Não existem variantes conhecidas do sobrenome Albuquerque. Desde que surgiu ele permanece da mesma maneira em todas as partes do mundo onde tem descendente, o que torna ainda mais forte a tradição da família Albuquerque.
Destaque - O mais famoso e conhecido descendente dos Albuquerque, na história do Brasil, é Jerônimo (n. 1510 f. 1584), natural de Lisboa – PT. Filho de Lopo de Albuquerque e Joana de Bulhões.
Irmão de Brites de Albuquerque, mulher de Duarte da Costa, donatário da província de Pernambuco, que açambarcava os atuais estados de Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e parte da Bahia.
Jerônimo Albuquerque foi o administrador deste imenso território. Auxiliou Duarte Coelho, na pacificação dos índios; na expulsão dos invasores holandeses e franceses, além de se dedicar ao desenvolvimento econômico e social de Pernambuco, através do cultivo e industrialização da cana-de açúcar, em altíssima escala. Desembarcou no Brasil em outubro de 1535. Por ocasião de uma escaramuça com guerreiros da tribo Tabajara, foi ferido no olho por uma flecha e aprisionado. A índia Muirá-Ubi, filha do cacique Arco Verde, cuidou do seu restabelecimento e, apaixonada, pediu permissão ao pai para casar com homem branco. Da união com a índia, batizada Maria do Espírito Santo Arcoverde, nasceram oito mestiços, que se espalharam pelo Brasil afora.
Em 1554, Duarte Coelho, doente, retornou a Lisboa e deixou sua mulher Brites com seu irmão Jerônimo de Albuquerque, no comando da imensa capitania.
Em novembro do mesmo ano, Duarte Coelho morreu na capital portuguesa, enquanto Jerônimo e Brites ficaram, definitivamente, no comando da capitania, tornando-se os novos donatários por deferência da Coroa do Reino luzitano.
Consta que Jerônimo muito contribuiu no desenvolvimento da região durante 58 anos, até sua morte em Olinda – PE, dia 25 de dezembro de 1584, com 74 anos de idade.
A família Gaspari é muito antiga e nobre. Também foi chamada: Gasperoni, Gasparin, Gasparina de acordo com a pronúncia dialética dos vários países onde viviam.
Os Gaspari, de Comacchio mudaram-se para Ferrara, e um Maurizio Gasperi foi conselheiro na arte de ferreiro e ourives, em 1751.
Um ramo está no Cantão do Ticino, outro em Verona e no Vicentino. A família aparece incluída nas listas de famílias italianas que figuravam entre a nobreza da Carniola, em Pádua. Os membros da família de Pisa e Urbino são agraciados com o título mais alto da corte e estão nas listas oficiais italianas.
Os prefeitos de Campo Mourão - PR
e suas respectivas idades no dia da posse
Nossa homenagem à todos os prefeitos e vereadores que, cada um a sua maneira e visão de presente e futuro, dirigiram os destinos de Campo Mourão. Tive o privilégio de conhecer a gestão de todos eles e, a cada um, devemos um pouco.
José Antônio dos Santos (1908) 39 anos
Pedro Viriato de Souza Fº (1901) 46 anos
Devete de Paula Xavier (1902) - 48 anos
Joaquim T. de Oliveira (1908) 41 anos
Daniel Portella (1917) - 34 anos
Roberto Brzezinski (1911) - 44 anos
Paulo Vinício Fortes (1928) - 31 anos
Antônio T. de Oliveira (1910) - 49 anos
Milton Luiz Pereira (1932) - 30 anos
Rosalino Salvadori (1925) - 42 anos
Augustinho Vecchi (1933) - 35 anos
Horácio Amaral (1927) - 41 anos
Renato Fernandes Silva (1932) - 41 anos
Augustinho Vecchi (1933) - 43 anos
José Pochapski (1946) - 37 anos
Augustinho Vecchi (1933) - 55 anos
Rubens Bueno (1948) - 44 anos
Tauillo Tezelli (1957) - 39 anos
Tauillo Tezelli (1957) - 43 anos
Nelson Tureck (1951) - 53 anos
Nelson Tureck (1951) - 57 anos
Regina Dubay (1967) - 45 anos
Tauillo Tezelli (1957) - 59 anos
Tive a honra de ser eleita Rainha do Carnaval por três anos em Campo Mourão e no último carnaval desfilei em carro aberto em Campo Mourão e Goioerê, com o Rei Momo do meu tempo, Fuad Kfuri, várias vezes prefeito eleito daquela hospitaleira cidade das águas claras, que também vi nascer desde quando foi distrito de Campo Mourão. Mas um dos meus maiores orgulhos é ser mourãoense de verdade.
Conclusão
Em nome da verdade
"Moço, não é ofensa. Eu pedi a você não publicar, mas agora pode por aí. Temos lido uns livros e alguns jornais que contam histórias erradas de Campo Mourão. Isso empobrece os conhecimentos, a cultura, os estudos sobre a cidade e a gente acaba rindo desses erros primários. O certo é fazer igual o jornal (Tribuna do Interior)fez, onde você trabalhou no Projeto Raízes, buscar a historia na fonte. Como dizia meu pai: pra saber a verdade fale com o dono dos porcos, e não com a porcada!", alfinetou Adalbrair, muito séria e preocupada com o resgate verdadeiro da tradição e da rica história de Campo Mourão.
"Moço, não é ofensa. Eu pedi a você não publicar, mas agora pode por aí. Temos lido uns livros e alguns jornais que contam histórias erradas de Campo Mourão. Isso empobrece os conhecimentos, a cultura, os estudos sobre a cidade e a gente acaba rindo desses erros primários. O certo é fazer igual o jornal (Tribuna do Interior)fez, onde você trabalhou no Projeto Raízes, buscar a historia na fonte. Como dizia meu pai: pra saber a verdade fale com o dono dos porcos, e não com a porcada!", alfinetou Adalbrair, muito séria e preocupada com o resgate verdadeiro da tradição e da rica história de Campo Mourão.
Amo Campo Mourão - Eu alimento um desejo impossível; gostaria que toda criança pudesse viver esse tempo de descobertas e contemplação da natureza pura e intocada, que vivenciei intensamente com meus irmãos em Campo Mourão até os meus 25 anos, quando, já casada e com uma filha, fui morar em Cascavel que começava a ser desbravada. Montamos uma serraria lá e poucos anos depois viemos à Curitiba, onde estou até hoje, mas com meu pensamento e coração focados em Campo Mourão, terra que amo muito, além da conta. Sempre que posso eu visito esse chão abençoado onde estão meus parentes e minhas melhores amizades, a maioria desde criança.
Em pé: Veronita e Adalbrair.
Sentados: Joaquim, Maria Gabriela e João
Sou Feliz - "Tenho uma vida tranquila, realizada e faço o que gosto, sem nunca esquecer minha querida Campo Mourão", concluiu sorrindo, Adalbrair Albuquerque do Rego.
”Vi Campo Mourão Crescer”
Narrativa
de Adalbrair Albuquerque
”Vi Campo Mourão Crescer”
Narrativa
de Adalbrair Albuquerque
Roteiro:
Introdução
Minhas Origens
Mudança (de Francisco)
Casamento rápido
Vovó Luíza
1º Parto no Trem
Nada de tempo ruim
Cuidados com os filhos
Mulher destemida
Educada e prendada
Desconforto sofrido
Rumo ao desconhecido
Parto a cavalo
Primeira fábrica
Retomando a prosa
Biju gigante
Persistência é a chave
Zizinha heroína
Lavanderia natural
No chifre da vaca
Em Campo Mourão
Quitute nas cinzas
O Ermitão calado
Tarimbas
Surpresas agradáveis
Jardim da Laje Grande
Descobertas
Rio Limpo
Banhos na Voltinha
Travessia perigosa
Bananas
Pomar Divino
Rainha das árvores
Costureiros do sertão
Macacos não desciam
Mistério nos pinheirais
Ave semeadora
Paraíso único
Pavor de cobras
Desafio do lagarto
Abertura da cidade
Respeito a Natureza
A fauna lavradora
Árvores que curam
Multidões de formigas
Lembremos
Triste recordação
Explodiu na mão
Melhorias da Vida
Não faltava nada
Cargueiros de transporte
Estômagos fortes
O que faz a gula
Progresso
Professor carrasco
Hospedaria e pensão
Morte na pensão
Começo da Cidade
Primeiras casas
Caminho da escola
Primeiras professoras
As normalistas
A primeira vereadora
Caçador de cobras
Folguedos olímpicos
Os bodes e espigas
Brincadeira Perigosa
Primeira bicicleta
Ataque cruel de
vespas
Banho era rápido
Nosso novo chão
Gafanhotos, prejuízo total
Povoamento lento
Povo festeiro
São Gonçalo
Divino Espírito Santo
O que sobrou do cruzeiro
Promessas
Sem Vigário
A paróquia de São José
A primeira bicicleta
Motorista em minutos
Lá se foi a garagem
Progresso de Campo Mourão
Novas casas viravam festa
Delegado amolece ladrão
Primeiro escândalo
Casa de pedras
Primeiro incêndio
Primeiro advogado
Primeiro clube de futebol
Primeiros médicos
Ativa na política do bem social
Conquistas rápidas
Tri-rainha
Moços fora
Na futura cidade
Estudos
Vi casa por casa
Paquera e namoro
Os novos boys
Pecado mortal
Preparação rápida
Papai foi baleado
A morte de seu Chico
Casamento adiado
Milagres de Nossa Senhora
O segundo milagre
Os milagres das Rosas
Mataram nossos pais
Mataram meus irmãos
Caça aos assassinos
Minhas andanças
Alta costura
Empreendedora
Anita x Dom Eliseu
Anita Cidadã do Paraná
Joaquim Xavier do Rego
Delaime Pereira Alves
Parto da parteira
Anita parteou minha filha
Ocupação dos Campos do Mourão
Primeiras famílias
Fé Cristã
O Fundador do Município de Campo Mourão
Pioneirismo nato
Bento abandonou Campo Mourão
Apelos em vão de Tio Chico
Mudança brusca
Iluminação parcial na cidade
A mestre cuca
No Campo seu Chico era referência
Ataque contra os Albuquerque
Adelaide Teodoro de Oliveira
Rubens Bathke
Casa virou peneira
Campo Mourão - Carnaval 1952
Pedro Viriato de Souza Filho
História do Burro Preto
Aniceto e a cura
Origens dos sobrenomes
Jerônimo Albuquerque
Os prefeitos de Campo Mourão
Relembrar é reviver
Em nome da verdade
Amo Campo Mourão
Sou Feliz
Campo Mourão - Município Modelo do Paraná
2018
Hino de Campo Mourão

Obrigada pela oportunidade de saber a origem de minha família: FERREIRA, foi um prazer conhecer Campo Mourão através de suas palavras.
ResponderExcluirRozeli da Costa Ferreira de Aquino
Parabéns pela atitude de fazer essa linda mensagem descobri coisas que jamais saberia 👏🏻👏🏻👏🏻Fico feliz de carregar esse nome e fazer parte dessa grande família
ResponderExcluirParabéns pela atitude de fazer essa linda mensagem descobri coisas que jamais saberia 👏🏻👏🏻👏🏻Fico feliz de carregar esse nome e fazer parte dessa grande família
ResponderExcluirParabéns pela atitude de fazer essa linda mensagem descobri coisas que jamais saberia 👏🏻👏🏻👏🏻Fico feliz de carregar esse nome e fazer parte dessa grande família
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