Rubens Luiz Sartori de Campo Mourão
Na maioria dos casos
requeria arquivamento de processos abertos contra pessoas humildes. Vejamos algumas de suas pérolas jurídicas.
1
Autos de Inquérito nº 285/94 - 1ª Vara Criminal
Ladrão de quentão e Tubaína
Meritíssima Julgadora:
Meritíssima Julgadora:
Contém
neste relatório,
a
notícia furtadora
de
garrafas de bebida,
cujo
valor é irrisório
e
não merece guarida.
O
pouco valor constatado
nem
de longe o incriminou,
vez
que o indiciado é enteado
da
pessoa que o denunciou.
Fala-se
num botijão de gás
que
também fora furtado,
mas
nada tinha o rapaz
e
nada com ele encontrado.
Dois
quentões, duas tubaínas,
não
permitem acusar,
pois
são bebidas baratas
de
consumo popular.
Não há como denunciar
Não há como denunciar
e
movimentar esse poder,
por
míseros cinco reais
não
vale a pena escrever.
O
fato de ter sido preso,
num
flagrante desrespeito,
demonstrou
muito desprezo
e
já humilhou o sujeito.
A
polícia, infelizmente,
tomou
tudo por escrito,
fez
subir aqui pra gente
esse
dossiê esquisito.
O
certo pra esses casos,
num
juizado arbitrário,
seria
uma advertência na hora,
num
julgamento sumário.
O
que nos reserva a vida:
vinte
anos de função,
ver
um sujeito indiciado,
por
tubaína e quentão.
Por
isso eu peço à senhora,
me
entenda e evite a demora,
processar
sem fundamento.
Compreenda
que foi desforra,
do
padrasto com tormento,
e
como não há justa causa,
remeta
ao arquivamento.
Este caso foi encerrado e arquivado.
***
2
Autos de Inquérito nº 225/96 - 1ª Vara Criminal
Este caso foi encerrado e arquivado.
***
2
Autos de Inquérito nº 225/96 - 1ª Vara Criminal
O acusado, Oscar Ortigara
dirigiu-se, na tarde de 18 de outubro de 1995, até a propriedade do deputado
Nelson Tureck, às margens da Usina Mourão, em visível estado de embriaguez,
quando disparou, para o alto, dois tiros de espingarda e proferiu palavras de
baixo calão contra o deputado, de quem é desafeto por razões políticas.
Tiraiada - MM. Juiz:
O
fato foi dia dezoito de outubro,
mês
de eleição;
numa
tarde bem brejeira,
descansar
era a intenção.
Pescava
o nobre deputado,
em
seu barco, com os amigos,
no
lago da Usina Mourão,
tranqüilos
e sem alaridos.
Eis
que chega o desafeto,
seu
amigo companheiro,
já
bem alto do boteco,
gritando
e arruaceiro.
Parando
sua caminhonete,
o
denunciado bradou:
"venha
aqui seu desgraçado...",
e
dois tiros disparou.
Como
disse Nelson Tureck,
foi
pra cima a tiraiada,
e
ele feito moleque
ficou
torcendo por mais nada.
Tão
logo que disparou,
o
denunciado fugiu;
bem
borracho ele voltou
pro
lugar onde saiu.
Tomadas
as providências,
o
inquérito se iniciou,
mas
o acusado, prudente,
a
tentativa negou.
Aliás,
há de se registrar
um
inquérito bem montado,
com
fotos e bom relatório,
pois
a vítima é deputado.
Na
tentativa de morte,
não
posso aqui acusar,
pois
atirar para o alto
não
pode ninguém matar.
Portanto,
a coisa é ladina,
mas
nada de comoção;
o
procedimento de rotina
é
o tipo: contravenção.
Contravenção
de disparo,
em
habitado lugar,
no
art. 28, equiparo
o
ato de detonar.
Então
o que se há de fazer,
com
os tiros do vagal?
Se
não este remeter
ao
Juizado Especial!
A
Lei é a 9.099,
que
surgiu para abreviar
os
casos de pouca monta
pra
rapidinho julgar.
Assim
descrito, Excelência,
só
vejo um itinerário,
seguir
este à ciência
ao
Juizado sumário.
***
3
APOSENTADORIA
Excelentíssimo senhor
Doutor Gilberto Giacota,
digno geral-procurador,
onde o 'parquet' se apóia:
Venho por meio desta,
à augusta procuradoria;
chapéu tapeado na testa,
pedir a aposentadoria.
Cumpri minha sina gaudéria,
fui
promotor trintenário.
Sempre
esclareci a matéria.
Sempre
cumpri meu horário.
Comecei
nos anos setenta,
com
a máquina manual,
sem
ter telefone, nem fax,
faltava
até material.
Iniciei
por Marialva;
não
conto nada por prosa.
Trabalhei
em São Jerônimo,
fui
o primeiro de Barbosa.
No
começo dos oitenta,
eu
fui pra Engenheiro Beltrão,
lá
eu fiquei por três anos,
e
mais de quinze em Campo Mourão.
Em tom de despedida
Campo
Mourão, com amor,
abrigou-me
desde piá:
de
açougueiro a promotor.
Os
meus ossos guardará.
Termino
aqui em Maringá,
boa
terra onde me formei;
meu
filho hoje cá está,
no
Direito que lhe ensinei.
Para
minha filha caçula,
que
dos dezoito já passou,
e
vai ser Engenheira Química,
a
minha benção a ela dou.
Agradeço
à minha Jussara,
esposa
de bom coração.
Ao
seu lado tudo sara,
até
a dor da ingratidão.
Ao
meu pai, o seu Gastone.
À
minha mãe, a dona Olga.
Como
som de gramofone,
Casal
simples, mas que empolga.
A
minha beca desbotada
foi
a estola de meu centro;
quanta
vez saiu suada,
dos
debates noite adentro.
Sai
bem rota, mas honrada.
Continuo
no magistério,
lecionando
na Fecilcam;
ensinando,
sem mistério,
o
alunado da Comcam.
Sei
que é cedo pra ir embora,
mas
eu já estou de tardezinha.
Fiz
da minh'alma minha espora,
pra
cavalgada que é só minha.
Vou-me
apenas pra mais perto,
dos
meus dias nesta terra.
E
saio firme e mui esperto,
para
o só meu tempo de espera.
Sempre
fui do interior.
Nunca
corri em promoção.
Fiz
carreira um penhor:
"Ser
promotor com paixão".
Deixo
o cargo consciente
de
que não fui muito brilhante;
porém,
sempre independente;
jamais
fui inoperante.
Devo
tudo o que eu sou
à
nossa Instituição;
"até
sempre" e a Ela dou,
minha
eterna gratidão.
Ao
meu Ministério Público,
não
desejo dizer adeus.
Quero,
e o coração em júbilo,
rogar-lhe
a bênção de Deus.
Obrigado,
meus colegas,
do
trabalho e da verdade;
sempre
tenham deste amigo
o
respeito e a amizade.
E
assim descrito, Excelência,
singelo,
e sem rebuscamento,
dê-me
ir-me com decência;
dê-me,
enfim, deferimento.
o0o
Veja também:
http://wibajucm.blogspot.com.br/2016/06/promotor-poeta-de-campo-mourao.html
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