Histórias de Campo Mourão
Meus avós paternos: Rodolfo e Idalina Bathke
em Campo Mourão
Em 1936 eu, meus irmãos e irmãs nem éramos nascidos quando nosso avô paterno, Germano Francisco Rodolfo Bathke (Av. Germano Francisco Rodolfo Bathke, Jd. Santa Cruz,
Campo Mourão/PR), que morava e era colono em Balsa Nova - PR, então Distrito
de Campo Largo/PR, veio conhecer os Campos do Mourão a convite do seu cunhado
Francisco Ferreira Albuquerque (tio Chico) que era irmão da nossa avó paterna, Idalina Albuquerque Bathke.
Em meados de 1930,
tio Chico - telegrafista da RVPSC- veio da Lapa/PR residir em Palmeirinha – região de Pitanga – “criar
porcos pra negócio e um pouco de gado pro gasto”, próximo a Borboletinha, onde
morava sua irmã Sebastiana Albuquerque (Tiana) e dali veio, com sua esposa
pontagrossense, Anita Gaspari e a família, se estabelecer com hospedaria e
comércio (venda de tecidos, utensílios, secos e molhados), adquirida de Léo Guimarães, na Laje Grande de
Campo do Mourão (imediações da Bica do Rio do Campo) e tocar a Fazenda Figueira
na região de Engenheiro Beltrão, a convite do pioneiro e cafeicultor do Barreiro
das Frutas. Tio Chico veio a convite insistente do pioneiro, José Custódio de Oliveira, que aportou por estas plagas devolutas
por volta de 1910.
Butiazeirinho dos Campos do Mourão
“Nesse tempo tudo, em volta daqui, era Campo do Mourão,
no imenso vale dos rios Ivaí e Piquiri, onde tudo que se plantava, era
colheita na certa. As safras anuais de porcos eram tocadas a pé por caminhos
naturais dos índios e picadas abertas na foice e no facão pelo meio da mata densa,
inicialmente comercializadas em Guarapuava e depois em Apucarana”, contava meu
avô, que se dizia deslumbrado com as algazarras e a quantidade enorme dos
bandos de araras, papagaios, baitacas e outras aves e passarinhos raros que
pousavam nas árvores, nas palmeiras e palmeirinhas típicas do cerrado e nelas ficavam horas
se alimentando de coquinhos, pela manhã e no final da tarde. Nesse meio tempo
do dia revoavam e sumiam, para continuar o ciclo de vida na manhã seguinte.
Era tudo sertão bruto, mas não imagino onde tanta ave assim, dormia.” Se
indagava nosso avô.
Campo Mourão tinha bandos de araras e baitacas
O paraíso das antas era o banhadão da Vila Rio Grande
em Campo Mourão
Cambutã vivia em grupos no Cerrado de Campo Mourão
“Pelo enorme
cerrado todo, recoberto de sapé, capim nativo, pitanga e gabiroba do campo, a gente via muitos animais sozinhos ou
em grupos (veados, capivaras, antas, pacas... eram muitos... até onça vez ou
outra se via umas, e seus urros no cair da noite, se ouvia de longe e dava
medo", revela.
Onça, a Rainha do Cerrado de Campo Mourão
"Nessa época também conheci o matreiro Índio Bandeira e sua pequena tribo
de bugres (índios amansados). Um deles
matou, com uma flechada, certo carpinteiro que estava fazendo a cumieira
de uma casa perto onde é a praça central de Campo Mourão. Disseram que, um ano antes, esse carpinteiro havia maltratado o
bugre, daí a vingança”, contava seu Rodolfo, que acabou por voltar a Balsa Nova
e só veio morar em Campo Mourão, definitivamente, em 1950, junto com seu filho e
toda a família de Ville Bathke, primeiro escrivão vitalício da Escrivania do
Crime e oficial do Cartório de Registro Civil, da recém criada Comarca mourãoense.
Guarda-chuva - Lembro bem do seu Porfírio, sempre de terno escuro, camisa social branca abotoada até o pescoço e nos punhos de mangas longas (sem gravata), sapatos pretos meio surrados e com seu inseparável guarda-chuva preto, debaixo do braço, mesmo com sol, e nas suas idas e vindas, sempre a pé.
Casamentos atrasados - Certa feita, num sábado pela manhã, dia de casamento na igreja de São José e no cartório do Fórum, uns três casais de noivos e alguns familiares aguardavam, ansiosos, a chegada do juiz de paz que normalmente já estava a postos desde às 8hs da manhã. Nesse dia já passava das 9h e nada do juiz casamenteiro.
Cadê o Juíz - Isso foi em 1953, estava com 13 anos, meu pai (Ville Bathke - escrivão do registro civil) me chamou e mandou-me ir, rápido, chamar seu Porfírio a uns dois quilômetros pela estrada de Roncador. Um dos convidados me emprestou um cavalo e lá me fui na carreira. Seu Porfírio, sempre bem vestido, estava sentado na soleira da sua casa. Dei o recado. Ele respondeu que não foi avisado e nem sabia que o doutor Joaquim (juiz titular) estava de férias.
A pé mesmo - Eu o convidei pra montar na garupa, ele agradeceu, mandou eu voltar e avisar que ele já estava indo, mas a pé. Eram mais de 11h quando ele chegou, de chapéu na cabeça, trajado de preto e o inseparável guarda-chuva debaixo do braço, com largas passadas de 'ganso'.
Atacado - Entrou no cartório, não cumprimentou ninguém. Mandou reunir os casais de uma vez só e fez uma única cerimônia - o que não era normal - e sem acrescentar mais nada, assinou os termos, deu meia volta e foi-se Av. Irmãos Pereira afora, no rumo de Roncador (BR-158). Ele ganhava um x em cruzeiros, por casamento realizado. Neste sábado, atrapalhado, nem fez questão de receber seus trocados.
Baitacas eram bandos em Campo Mourão
Guerra às baitacas
Para se ter uma ideia da grande quantidade da passarada e da rica fauna de Campo Mourão, o vereador da primeira legislatura mourãoense, que também era Juiz de Paz e morava próximo da atual Vila Guarujá, Porfirio Quirino Pereira, na sessão extraordinária do dia 6 de dezembro de 1947, propôs ao plenário do Poder Legislativo a aprovação de uma Lei
de Proteção à Lavoura, com incentivo monetário ao extermínio de baitacas e
maracanãs, mediante o pagamento de um cruzeiro por cabeça, aos que apresentarem (as aves mortas) na
Prefeitura. Também propôs a multa de dois cruzeiros por cabeça, aos que deixarem de fazê-lo, ou seja, aplicação da pena pecuniária aos lavradores, donos de roças, que não matassem as "danosas" baitacas e maracanãs que, pela manhã e à tarde, faziam suas revoadas em enormes bandos, que pareciam nuvens, em grandes algazarras sob os céus de Campo Mourão, no sentido oeste/leste pela manhã, e sentido inverso no final da tarde.
Guarda-chuva - Lembro bem do seu Porfírio, sempre de terno escuro, camisa social branca abotoada até o pescoço e nos punhos de mangas longas (sem gravata), sapatos pretos meio surrados e com seu inseparável guarda-chuva preto, debaixo do braço, mesmo com sol, e nas suas idas e vindas, sempre a pé.
Casamentos atrasados - Certa feita, num sábado pela manhã, dia de casamento na igreja de São José e no cartório do Fórum, uns três casais de noivos e alguns familiares aguardavam, ansiosos, a chegada do juiz de paz que normalmente já estava a postos desde às 8hs da manhã. Nesse dia já passava das 9h e nada do juiz casamenteiro.
Cadê o Juíz - Isso foi em 1953, estava com 13 anos, meu pai (Ville Bathke - escrivão do registro civil) me chamou e mandou-me ir, rápido, chamar seu Porfírio a uns dois quilômetros pela estrada de Roncador. Um dos convidados me emprestou um cavalo e lá me fui na carreira. Seu Porfírio, sempre bem vestido, estava sentado na soleira da sua casa. Dei o recado. Ele respondeu que não foi avisado e nem sabia que o doutor Joaquim (juiz titular) estava de férias.
A pé mesmo - Eu o convidei pra montar na garupa, ele agradeceu, mandou eu voltar e avisar que ele já estava indo, mas a pé. Eram mais de 11h quando ele chegou, de chapéu na cabeça, trajado de preto e o inseparável guarda-chuva debaixo do braço, com largas passadas de 'ganso'.
Atacado - Entrou no cartório, não cumprimentou ninguém. Mandou reunir os casais de uma vez só e fez uma única cerimônia - o que não era normal - e sem acrescentar mais nada, assinou os termos, deu meia volta e foi-se Av. Irmãos Pereira afora, no rumo de Roncador (BR-158). Ele ganhava um x em cruzeiros, por casamento realizado. Neste sábado, atrapalhado, nem fez questão de receber seus trocados.
Wille Bathke Jr e os 'bugres' em Paranaguá
Ararauna - Arara Azul povoava Campo Mourão
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