26/09/2013

Campo Mourão é alvo de granizo


  
Quando Setembro vier... Cuidado !!

 
Barracões destelhados da Madeireira Trombini


 
Madeireira Stanziewski

O dia 25 de Setembro de 1971, sábado de sol,  passou e anoiteceu tranqüilo em Campo Mourão.
Era madrugada de 26 de Setembro - domingo. A cidade dormia quando, por volta das 5h30, num susto e desespero geral, na escuridão, a população acordou apavorada sem saber o que acontecia sobre suas casas. A luz elétrica sumiu. 
Me lembro que estava deitado, acordei com enorme e interminável estrondo, pulei da cama assustado, tentei acender a luz do meu quarto e nada.
Peguei a caixa de fósforos do bolso da calça e tentei acender uns palitos, ao mesmo tempo que água caia sobre nós e molhou os fósforos... molhou tudo.
Meus filhos correram e se agarraram em mim. Senti que seguravam na minha cueca (nem vesti a calça) com o caçula no colo e corremos em direção a cozinha tateando as paredes. Escuridão total. 
A casa era grande, de madeira, coberta de telhas Sta Terezinha de Irati-PR, e nesse trajeto as coisas continuavam como se tijolos estivessem caindo sobre o forro da casa e tudo estivesse por desabar.


  
             Telhas tipo francesa 
cobriam quase a totalidade das casas de Campo Mourão 
                  
Tinha caixa de fósforo no armário, peguei.
Na cozinha acendi as 4 bocas do fogão a gás. Já estávamos ensopados da água da chuva que vazava pelo forro. Peguei dois guardas-chuva, um para as crianças, e comecei andar pelos cômodos querendo saber o que havia acontecido. O caos foi rápido. Fazia frio e continuava uma chuva leve, fria, mas intermitente, tipo aquela de molhar trouxa. O dia foi clareando. Demorou.
O único cômodo da casa que se salvou, com a maioria das telhas intactas foi o lado direito do quarto dos meus filhos e uma parte da cozinha. Depois de uns 20 ou 30 minutos escutei o relógio despertar às 6 hs, horário habitual de me levantar.
Mas, até amanhecer estávamos no escuro sob a tênue luz azulada das bocas do fogão a gás. Acendi também o forninho para a mãe e as crianças se aquecerem, principalmente os pés. Sentaram em volta trêmulos e assustados debaixo de guarda-chuva e sombrinha. Eu falava o tempo todo: calma, calma, não é nada, já, já passa !! 
Só quando o dia começou a clarear é que vimos o que havia ocorrido. 
Da janela do meu quarto vi a grama do jardim com muitas ‘bolinhas’ de água congelada e o nosso gato estava ali, morto por pedradas e encharcado.
Morávamos na rua Santa Catarina, 113. Trabalhava na Madeireira Cima que ficava logo em frente, na rua Interventor Manoel Ribas 115, entre as avenidas João Bento e Afonso Botelho.
Debaixo de um céu carrancudo vi o enorme barracão das máquinas destelhado. As casas da colônia dos empregados também. As residências do seu Valdomiro e do Getúlio Ferrari não escaparam. Alguns empregados já estavam em cima do esqueleto de suas casas. Tentavam recuperar algumas telhas não quebradas e estendiam lonas (encerados Locomotiva) nas partes destelhadas.


   

Na minha casa não foi diferente. Subi e vi o estrago no telhado. Foi feio e assustador. Aproveitei e substitui as telhas sobre o quarto dos filhos, arrumei as camas e pedi para que ficassem brincando sob as cobertas enquanto a mãe preparava o café para se aquecerem. 
Nesse dia não teve aulas e a Rádio Colmeia estava fora do ar e não apresentamos - mais o Anísio Morais - Colmeia nos Esportes.
Na época o técnico da Mourãoense era o mexicano Navarro Corona, que morava em casa de alvenaria (área com laje) vizinho do prof. Porto, na rua Roberto Brzezinski esquina com av. João Bento, onde eu e minha família nos abrigamos pelos dias de calamidade pública decretado pelo prefeito Horácio Amaral, anunciados por alto-falantes móveis pelo Pedro da Veiga, então secretário administrativo municipal.
Nunca vi tantos caminhões carregados de telhas circulando pela cidade como nesses dias seguintes, vendidas a peso de ouro. Se aproveitaram da triste situação. 
Passada a chuva os móveis molhados, roupas, colchões, livros, sofás e tudo o mais foi colocado no quintal, quando o sol reapareceu, para secar. Muitas coisas se perderam e o prejuízo geral foi incalculável. Comprei praticamente tudo, de novo.

TráumasConheço algumas pessoas, inclusive um dos meus filhos, hoje com 50 anos de idade, que ainda são traumatizadas e se apavoram com qualquer ameaça de chuva forte e raios. Temem pelo pior, tal qual ocorreu em 26 de Setembro de 1971. 

PiadaNo meio desse sinistro surgiu até uma piada surumbática: 
- Quem descobriu Campo Mourão ?? 
- Foi a chuva de pedra !! 
Eu ria amarelado pra descontrair e não perder o amigo.

 

 
Em Campo Mourão a inocência ignora a violência.
Minha filha Fátima tinha essa idade aí. O caçula Wilson tinha 13 meses apenas.


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