09/07/2011

* Joaquim Teodoro. de Oliveira - Cavalheiro Onceiro


Vereador e Prefeito da 1a Legislatura de Campo Mourão

Joaquim Teodoro de Oliveira nasceu dia 18 de abril de 1908, em Cerqueira César (Distrito de de Santa Cruz do Rio Pardo). Filho de Almira Lemes (nome de escola municipal) da Silva e José Teodoro de Oliveira.
Izabel Luíza, sua prima e esposa nasceu em Pitanga-PR, dia 25 de dezembro de 1909, filha de Ana Luíza da Conceição e Joaquim Custódio de Oliveira. 
“Teodoro não era sobrenome. Era nome do meu avô paterno. O cartório errou e ficou assim mesmo. Ninguém se importou em arrumar”, esclarece a filha Adelaide.

Saga – Em 10 de Outubro de 1910, a família Custódio de Oliveira, chegava aos ‘Campos do Mourão’. Foram mais de três anos de viagem, desde o interior paulista, através de trilhas, a cavalo e cargueiros de suprimentos, transportados por animais, através de matas, serras e campos nativos. 

Bebês retardaram a viagem  - Ao chegarem ocuparam pequenas áreas de terra devoluta à margem direita do Rio do Campo até as proximidades do Rio da Várzea. Preferiram terra onde tinha muito palmito, que diziam ser melhor pra plantar café. “Plantaram e se deram bem”, diz Adelaide.
“Meus bisavós paternos, Ana e José Custódio de Oliveira, é que tiveram a iniciativa desta longa aventura. Minha avó materna, Ana Luíza, cavalgou grávida (engravidou na viagem) e ganhou minha mãe Izabel, em Pitanga, quase no fim da jornada. O mesmo aconteceu com minha avó paterna Almira, que teve o tio Antoninho (Antonio Teodoro de Oliveira), também em Pitanga”, revela Adelaide. 
"O nascimento dos bebês retardou a chegada aos ‘Campos do Mourão’ por quatro meses. Esperaram as criancinhas ficarem parrudas, e seguiram em frente”, explica Carlinhos Teodoro, rindo.

Os filhos de Almira e José Teodoro de Oliveira são: Joaquim (casado com Izabel Luíza), Antonio (Zuleica), João (Francisca), Alfeu (Anita), Gabriel (faleceu), Maria (Camilo), Ana (João Dias), Eufrazina (Joaquim Mendes) e Elizilia (Eurides) em Campo Mourão

Ana Luíza e Joaquim Custódio de Oliveira tiveram: Luiz (casado com Ana Pereira), Maria Luiza de Jesus (Luiz Custódio de Oliveira), Olímpia (Raul Rodrigues Monteiro), Laurinda (Camilo Pereira que foi casado com a prima Maria, falecida), Ana (Pedro Rodrigues Monteiro), Almira (Eduardo Rodrigues Monteiro) em Campo Mourão

“Minha mãe tem três irmãs casadas com três filhos do João Rodrigues Monteiro (João Bento) e meu pai tem irmãs casadas com filhos de Jozé Luiz Pereira. É que nesse tempo só tinha essas famílias com moços e moças em idade de casar. O jeito era unir prima com primo (rindo muito), mas graças a Deus nunca deu problema de consanguinidade. Nasceram filhos, todos perfeitos”, agradece a Deus, Adelaide.


De Joaquim e Luiza – Dos primos Joaquim Teodoro de Oliveira e Izabel Luiza, nasceram: Adelaide (divorciada de Manoel Barreto), Dilce (Roberto Ribeiro de Castro), Leonir (Newton Xavier do Rego), Nelson (Sônia Maria Pessa), Acyr (solteiro), Eleni (solteira), Áurea (falecida), Diógenes (Mariza Dario), Alcione (Claudete Figueiredo), Valmir (solteiro), Josemar  (Izabel Cavalcante), José Carlos (solteiro) e Luiz Carlos (Maria Elizabete Montemezzo), “toda minha irmandade cresceu em Campo Mourão e é formada em cursos superiores” diz Adelaide orgulhosa da família.

Ala masculina dos Teodoro de Oliveira de Campo Mourão

Irmandade unida dos Teodoro de Campo Mourão

Gentleman - Joaquim Teodoro de Oliveira teve somente 15 meses de estudos, em casa, com o professor Laurindo (1914) e com a professora Maria (1921). Estudou quando trabalhava no armazém de João Bento, em Pitanga. Era o contabilista porque sabia fazer contas. 
“Papai sempre foi um cavalheiro, elegante e um homem de fino trato. Apesar de viver em meio a violência da época, ter sido Inspetor de Quarteirão e Delegado de Polícia, sempre agiu com calma e ponderação". 
"Foi mais pacificador que autoridade, sabe?”, orgulha-se Acyr. 
“Ele dizia que antes de ser agricultor tinha que ser doutor. Um agricultor não pode ser doutor, mas um doutor pode ser agricultor. Essa era uma das filosofias de vida do meu pai", revelou Valmir.

Viagem Penosa – “Meus avós eram lavradores e vieram para cá de tanto ouvirem falar bem de um tal de Campos do Mourão através dos mensageiros dos irmãos Pereira, que vieram da região de Ilha Grande-SP (região de Rio Pardo) e já estavam aqui desde 1903. A viagem foi muito penosa, demorou, mas correu tranquila. Fizeram um 'devolteio' grande até chegar aqui, a passo de cavalo e  boi. Atravessaram o Paranapanema e entraram pelo Norte Pioneiro do Paraná, sem estradas. Pelos carreadores cortaram Itararé, Castro, Ponta Grossa, Guarapuava e pararam em Pitanga pra minha avó ganhar minha mãe (Izabel Luíza) e a mãe de papai ganhar o tio Antoninho... Eita !!! (gargalhadas). Ali ficaram vários meses e atrasou a viagem - (pergunta: mas a dieta não é de 40 dias?) - “Era (risos), mas demoraram mais até as crianças ficarem fortinhas. O medão deles, de Pitanga pra cá, eram os tigres (onças). A maior dificuldade era atravessar os rios nas cheias, não tinha pontes. Acampavam nas beiras e esperavam a água baixar. A noite deitavam e mantinham o fogo aceso pra espantar os bichos. O sal não podia faltar. O principal alimento era carne de caça, que tinha muita”, descreve Adelaide rumo ao desconhecido.

 
Rota dos Custódio de Oliveira e Teodoro até Campo Mourão

Posseiros – “A região de terra ocupada pela família Custódio de Oliveira foi legalizada mais de 20 anos depois da posse. É a mesma fazenda que temos até hoje no Barreiro das Frutas, antes conhecida como Campina dos Teodoro. No início pegaram lotes pequenos porque pensavam que nunca iam poder pagar. O pai do meu pai, por exemplo, ficou só com 100 alqueires, no começo. A posse foi pacifica, não teve entreveros com jagunços ou grileiros. Os posseiros daqui não brigavam entre eles. Eram todos parentes, irmãos, compadres... era tanta terra devoluta a ser ocupada que uma vez meu pai cedeu um requerimento de 500 hectares no Paraná do Oeste (perto de Moreira Sales) ao amigo capitão Renato Romeiro Pinto de Mello", revelou Adelaide. 
"Era comum as famílias que chegavam sem nada irem visitar a gente e diziam: -você tem tanta terra, dá um pouco pra nós!.. E meu pai, meus tios davam os requerimentos de terra quando viam que as intenções eram boas. Eles também queriam que Campo Mourão crescesse”, explica Carlinhos Teodoro.
“As brigas e mortes eram entre os grileiros que vinham aventurar. Teve uns tempos que se matavam entres eles.. uns três.. quatro por dia. Tinha vez que matavam dois e deixavam dois amarrados, como aviso. Voltavam e matavam no outro dia” diz Carlinhos em tom de brincadeira pra ilustrar o retrato da época (rindo).
“Bem mais recente o pai deu aquela quadra do Tiro de Guerra ao Departamento de Obras do Estado (DOE). Ele tinha reservado ali pra construir uma praça no Jardim Flórida, que ele loteou, onde era o grande pasto que ele alugava pras tropas repousarem”, acrescentou Acyr. 


 
José Carlos Teodoro de Oliveira na boca da onça
 Campo Mourão

Sobrevivência – “Quando minha família chegou no Campo (10/10/1910) era tudo sertão. Não tinha nem onde comprar o precioso sal e alimentos. A gente tinha que ir à Guarapuava se abastecer. Pitanga era igual Campo Mourão, tinha nada também, só o nome. Nossa gente viajava em tropas de mulas e a cavalo. Depois de quase um mês, com tempo bom, voltavam com o sal grosso, querosene de acender lampiões e lamparinas, peças de tecidos pras mulheres fazerem roupas pra família, ferramentas, pólvora e chumbo pra caçar. Como as safras demoravam se formar e colher, não circulava dinheiro. Eles levavam e compravam as mercadorias com couros de caças, rapaduras, arroz e café limpo... mês a mês eles se revezavam nas idas às compras, mas cada animal da tropa era de um dono, tinha seu pedido e os produtos de troca... transportavam os balaios e as bruacas de couro (cargueiros), tudo em lombos de 15 a 20 mulas (a mula é mais resistente que o burro e o cavalo). Cabiam uns 80 litros em cada uma (60 kg de cada lado). Usava-se muito o pessoeiro (alforje duplo) com bolsas de couro do lado, fechada com fivelinhas metálicas. O pessoeiro ia logo atrás da cela do dono do cavalo, e dentro tinha seu alimento: paçoca de carne socada com farinha de milho, rapadura de cana-de-açúcar, virado de feijão enxuto feito com farinha de mandioca... Essas coisinhas básicas, bem nutritivas”, explica Adelaide.
“A tropa tinha um puxador (sinoeiro)  que conduzia a égua madrinha com um badalo no pescoço dela. Quando a égua parava, o cincerro deixava de tocar e toda a tropa parava em volta dela para descansar e a comitiva dormir. Quando as compras demoravam vir, começava faltar tudo. As famílias se socorriam, umas com as outras com o quase nada que tinham, até a tropa retornar,” conta Adelaide da dor da fome.


  
Casa Paroquial na atual Praça São José de Campo Mourão
A igreja ficava à esquerda dela, atual Catedral.

Porque São José – As famílias e os compadres se reuniam um domingo por mês e faziam o Dia do Lazer. Primeiro era na Capelinha Santa Cruz na saída para Peabiru. Depois na Capela de São José, num alto pouco para cá da Vila Guarujá, perto da Vila Carolo, construída pelos Pereira, Custódio, Oliveira e Monteiro. “Foi ali que eles elegeram São José como nosso padroeiro, em 1932”, registra Adelaide.


 
1940/42 - Com ajuda do povo Pe Aloysio construiu
a Igreja Matriz de Campo Mourão

“O padre Aloysio Jacobi ajudou a construir a capela e  rezava missa ali, até quando terminaram a Igreja da Paróquia de São José, em 1942, no centro, de frente à Praça Getulio Vargas, que antes era chamada de Praça 10 de Outubro. Daí ele fez a casa do lado da igreja matriz e veio morar na cidade. A casa dele era onde está a praça elevada e a Catedral é onde estava a igreja toda de madeira, até a cobertura e a torre," localiza Adelaide.

Procissão dos descalços - Quando o padre Agostinho veio benzer a Capela de São José, na saída da estrada Campo Mourão/Roncador (BR-158), ela já estava pronta. "Os homens esperaram a vinda dele para colocar a imagem de São José no altar e, nesse dia, foram em procissão desde o centro da cidade até a igrejinha... levaram a estátua num andor, todos descalços na poeira quente e sol ardendo. Foi uma intenção (promessa) de agradecer, porque deu tudo certo no abençoado Campo, apesar das bolhas nos pés", explica Adelaide.
A primeira imagem de São José foi doada por Manoel Mendes de Camargo, quando terminou a picada da Boiadeira. Foi trazida de Guarapuava. 
"Era pequena e não é a mesma que está na Catedral. A outra sumiu quando ficou em uma capela na terra do Miguel Pereira na região do Jardim Copacabana", lamenta Adelaíde, chateada.

Dia do Lazer - "Nesse dia - um domingo por mês - o pouco povo que tinha Campo Mourão se reunia na Capela de São José e, antes de tudo rezavam o terço, em coro. Isso era sagrado! Depois da reza tinha o almoço por conta do organizador (cada mês era escolhido um). À tarde era servido café com bolo de polvilho. Tinha brincadeiras e até baile de sanfona, viola e pandeiro, numa batida só" (rindo).

A Santa Cruz foi o primeiro ponto de encontro dos cristãos e as primeiras festas foram ali, no primeiro domingo de maio (Dia de Santa Cruz). O local era assinalado por um cruzeiro de cedro do tempo da chegada dos Pereira. 
Em 1956, "com essa fé de pagar promessa, largaram velas acesas no altar e queimou a palhoça (capelinha). "Tem lá uma gruta agora e um pedaço do que sobrou do cruzeiro, guardado ali pelo seu Ville Bathke, que fundou o Jardim Santa Cruz, grande amigo de meu pai e da família" registra Adelaíde.

 
Família de Antonio Teodoro de Oliveira,
um dos prefeitos de Campo Mourão

Joaquim caçador

"Você acredita que meu pai sempre foi autoridade em Campo Mourão, desde inspetor de quarteirão a delegado de polícia, e nunca andou armado?.. E olha que era bom no tiro, viu? Tinha uma Winchester/44 - 20 balas, infalível nas mãos dele.
Digo isso porque ele foi o maior caçador de onças entre 1940/50. Abateu 53 a pedido de amigos e compadres.
Ele não gostava de caçar, mas acontecia que onças matavam porcos e reses das fazendas e sítios dos vizinhos, causando prejuízos enormes. Então recorriam ao meu pai. Ele contava que tinha muito dó dos animais da mata. Dizia que eles não tinham culpa tinham fome. O invasor é a gente. As onças matam para sobreviver e nós matamos para dizimar".

 
 Da esq > dir: José Camilo Pereira Fº, Cesário Rosseti, Joaquim Custódio de Oliveira, José Custódio Sobrinho (pai de Olivino Custódio), Luiz Francisco Lopes, José Camilo Pereira, Joaquim Teodoro de Oliveira, os dois negros à direita eram filhos de Jorge "Preto" Cafurna (ex-escravo) e o cachorro onceiro é o Coronel. Última onça a de número 53.

No facão - "Papai quase chorou na sua última caçada. Aconteceu dele atirar e a bala quebrou a espinha da onça que tentava se salvar com o maior sacrifício, arrastando os quartos traseiros: “essa eu tive que acabar no facão e os cachorros” contou papai, que depois dessa (foto) não caçou mais nenhuma. Ficou muito chocado".

Desarmado - "Quando delegado ele não portava nenhuma arma e nunca maltratou um preso ou malfeitor. A arma dele era uma boa conversa. Porém ele tinha um ‘guarda-costa’ conhecido por Zé Gaúcho que andava armado até os dentes, e tinha uma cara feia, de gente ruim, que botava medo no mais valente fora da lei".

Guerra do rádio - "Teve várias ocorrências, e de uma delas nunca me esqueço porque eu participei: quando o Lupion perdeu a eleição para o Bento, o novo governador parou as obras em Campo Mourão (usina e ponte no Ivai), suspendeu tudo e mandou um rádio de comunicação com a capital para Peabiru onde as lideranças eram do PR (Bento) e no Campo eram do PSD (Lupion). Só que lá era Distrito e aqui já era Município e o lado de cá não se conformou em perder mais um benefício importante.
Quando meu pai e seu Francisco Albuquerque souberam, chamaram mais algumas lideranças (Devete de Paula Xavier, Pedro Viriato e outros, mas o Devete não foi). Combinados, montaram em seus cavalos e levaram mais um de sobra, com cangalha. O Zé Gaúcho foi junto sempre perto de papai. Parecia sua sombra. (risos).
Quando chegaram na altura da Lagoa Seca e Pinheirinho tinha um emissário que lhes avisou que o pessoal de Peabiru estava reunido, inclusive mulheres, armados e que não iam entregar o rádio.
Mesmo assim mandaram o emissário na frente levando recado de que a missão era de paz e que, por direito, o radio tinha que estar na sede de Campo Mourão. E seguiram em frente".

Perigo a vista - "Chegaram e foram diretos ao ponto, perto da praça, onde depois construíram o Cine Vera, local em que já estava instalado o equipamento de comunicação, operado por um telegrafista da Polícia Militar. A sala pequena estava lotada e atrás dos recepcionistas, o famoso pistoleiro-matador, Pedro Candinho, doido para acabar com a vida de alguém, com dois 38 na cintura, chapéu quebrado na cabeça, a la faroeste.
Os mourãoenses entraram... Meu pai Joaquim tirou o chapéu e num gesto elegante, cumprimentou e disse a que veio com seus amigos... Depois de muita discussão... Leva não leva, os ânimos se acalmaram e, resumindo: o grande e potente rádio veio para Campo Mourão no lombo do cavalo da cangalha e tudo terminou bem".

Quase morreu - "Veja só como é o destino das pessoas: passados dias, Pedro Candinho encontrou com papai, aqui no Campo. Conversaram de soslaio e o pistoleiro perguntou:
O senhor tava armado lá no Peabiru?
Por quê a pergunta, Pedrinho?
Porque a ordem que recebi era de que se o senhor se ‘coçasse’ era pra eu mandar bala no senhor e além de eu, tinha mais dois jagunços, caso eu falhasse ou morresse, eles faziam o serviço por mim.
Mas eu não ando armado e nem fui armado. Só preveni o Zé Gaúcho que você estava lá com tua corja e dei ordem a ele: se o Candinho se mexer Zé, fuzila ele sem dó, e os capangas também. Não assuntou que o tempo todo ele ficou te ‘namorando’ e era o único, dos nossos, armado?
Sériooo seu Joaquim... Minha nooossa... Então escapei por pouco?!
Se cuide meu ‘amigo’. Bom dia... Passar bem Pedrinho !!

Adelaide Teodoro, Tereza Nadolni e Eunice Albuquerque, 
pioneiras de Campo Mourão





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Um comentário:

  1. Meu bisavô se chamava Joaquim Teodoro de Oliveira, e meu avo era Joaquim Teodoro Filho. Morávamos em Iretama. Pena que as datas nao coincidem, poderia ser o meu biso.

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