21/06/2011

Adalbrair, 20 anos em Campo Mourão

 

 
Adalbrair, 20 anos em Campo Mourão

“Moço, minha vida é um conto de fadas. Dá pra escrever um livro e fazer um filme. Sou uma Cinderela do campo sem sapatinhos de cristal. Sempre fiz meus vestidos, desde mocinha. Eu fazia de tudo em nossa casa, mas detestava tirar água do poço e lavar roupas. Uma porque o poço era muito fundo e outra porque a poeira encardia demais. Era muita mão de obra pra mim. Mas veja como é engraçado: não gostava de tirar água e hoje sou uma mergulhadora profissional além de costureira da alta (sociedade),” conta Adalbrair. A menina Dalbra chegou, com seus pais, em fins de 1935 a Campo Mourão e mudou-se à Curitiba em 1955. “Vivi 20 anos no Campo, sempre cercada de lindas amizades, dos meus amados irmãos e irmãs, além dos meus adorados pais.” Anita Gaspari e Francisco Ferreira Albuquerque.

 
Barrinha é onde nasci, em Pitanga, antes de mudar a Campo Mourão
Nossa casa era onde está a antiga e a moderna Igreja Ucraína


1933 – Dia 11 de novembro Adalbrair nasceu na Vila Barrinha, Distrito de Palmeirinha, Pitanga-PR. “Nasci num rancho onde hoje está a igreja dos polacos (rito ucraniano) no centro de Pitanga”, registra.


 
Casa dos Albuquerque na Barrinha e a vaca Curruira.
Os gansos agiam igual cachorros, cuidavam da casa.

No chifre da vaca - Da sua infância na Barrinha, lembra da vaca Curruíra, e conta que, com dois anos de idade brincava no terreiro. “Eu vestia uma camisolinha feita por mamãe e quando eu estava subindo nos cepos (escada) e ia entrar no rancho, a Corruíra veio por trás, me deu uma chifrada de raspão e eu enrosquei no chifre dela, pela roupa. Ela corria pelo pasto e eu pendurada. Papai ficou com receio de laçar e a argola me matar. Mas a vaca parou. Foi no cocho e eu sai do chifre dela sozinha. Viu que sorte!?”... rindo.

1935 – O cartorário Laurindo Borges ia a cavalo, de Guarapuava à Palmeirinha, fazer registros e casamentos. Só num dia ele registrou cinco filhos do casal Albuquerque. “Foi numa tacada só, mas meu nome saiu errado e só em 1970 é que consegui corrigir” explica Adalbrair. “Éramos em 14 irmãos e irmãs: Cacilda (Zizinha), Airton (Tito), Newton, Eunice (Nice), Moacir, Adalbrair (Dalbra), Hamilton, Dalmo, Joel, Everaldo, Adélia, Edson, Rosemari (Rose) e Mara Regina. O Newton foi vereador da Primeira Legislatura, Joel é advogado, a Rose dava aulas de violão na Casa da Cultura, e a Nice faz ótimo pó de café e  delicioso pão caseiro pra vender” conta.

1936 – A viagem, de Palmeirinha até Campos do Mourão foi uma epopeia. “Eu tinha três aninhos. Alguns vieram a cavalo. As traias, papai, mamãe e nós crianças, desajeitados, numa carroçona.” Até a vaca Curruíra veio junto. “Brava que só ela, mas dava um leitinho gostoso!! brinca Adalbrair.

Caminhos - Um mapa do Paraná (1936) traz a legenda “estrada não carroçável’ na região de Pitanga/Campos do Mourão. “Cortamos um picadão estreito pela mata fechadiiinha, atravessamos rios sem pontes, por dentro da água. A gente viajava lentamente, a passo dos cavalos, o dia inteirinho e à noite parávamos pra descansar. Ouvia-se o griteiro das aves, dos bichos e os urros das onças, ao entardecer e ao amanhecer. Nossa comida era farinha de biju (milho), rapadura... essas coisas! Banho e água a gente tomava nas minas e nos rios, a vontade." narra em detalhes.

 
Nosso primeiro rancho em Campo Mourão era engraçado

Demora - “Levamos uma semana até chegar no Campo e fomos morar num ranchão engraçado, ali na Laje Grande, onde tem a Bica, perto do Rio do Campo. A cobertura do rancho chegava quase no chão, bem descaída. Tinha um enorme pé de lima atrás. Eu nunca tinha visto aquelas frutas verde-amarelas e nem chupado lima”, descreve o local.
No dia seguinte as crianças foram explorar e conhecer as redondezas, a pé. Atravessaram um tronco de árvore (pinguela) sobre as águas do Rio do Campo. Viram uma casa e chegaram. “Uma senhora veio ao nosso encontro. Fez um monte de perguntas e nós quietinhos. Aí ela deu uma penquinha de baninha-maçã pra gente comer,” explica a primeira ‘visita’ da família em Campo Mourão.
Essa senhora era dona Emiliana, esposa do polonês Teodoro Metchko, construtor e dono da primeira serraria de toras de árvores e do primeiro cinema (Cine Mourão). "A serraria era movida a roda d’água, que vinha de uma represinha que ele fez no rio, bem ali perto da biquinha, próxima de onde moramos”,  localiza.
O local depois foi comprado pelo ‘italiano’ João Baptista Perdoncine, e resiste ao tempo. Está ali, no mesmo lugar. Entre a serraria e a laje tinha mata fechada. Da laje íamos pra casa, alguns metros à frente", orienta.

 
Primeiro estabelecimento dos Albuquerque em Campo Mourão

De Tudo - “No mesmo terreno do ranchão tinha uma venda (casa de comércio) do seu Léo Guimarães que, logo, papai comprou de porteira fechada" (risos). “A primeira residência boa – não rancho – foi construída pelo papai com armazém ao lado, no centro da cidade que nascia. Mamãe transformou nossa casa e o sótão em moradia, casa de comércio e pensão, tudo junto. Muita gente chegada recentemente, comia e dormia de graça em nossa casa. Até as roupas daquela homarada mamãe lavava. Era hábito de papai e mamãe ajudar todas as pessoas quando chegavam, até se estabelecerem. Até terrenos e casas eles deram à algumas famílias. É que meu pai queria que a cidade crescesse logo” comenta orgulhosa dessas ações.

Quem foram? - Dentre os muitos pensionistas, Adalbrair lembra alguns nomes: “Me recordo de Miguel Custódio, Almira e o marido José Teodoro Custódio – pais do seu Joaquim, Antonio e Alfeu – que abriram a Campina dos Teodoro (Barreiro das Frutas). Lembro do Inspetor de Terra, Júlio Réger (inspetor da Colônia Mourão), do francês Jorge Jorth (que abriu o Campo Bandeira); o bioquímico alemão Carlos Boening e do guarda florestal Cláudio Sliveira Pinto. Depois vieram os irmãos Jucelino, Geremias e Expedito Cilião de Araújo (que casou com a Eunice Albuquerque) e mais o Francisco Cilião que casou com a Cidália Guimarães. Tinha ainda, o sargento Teodoro. Esse bebia demais e dormia no sótão. Uma noite ele errou a porta, saiu pela janela, caiu no terreiro, bateu a cabeça e morreu,” lamenta Adalbrair. Outro que se hospedava ali era seu Argemiro. “Ele aparecia vez ou outra. Foi o primeiro motorista do Estado que dirigiu um pé-de-bode (Ford-29) de Curitiba até Campo Mourão. O doutor Dalbos, primeiro médico em Campo Mourão, veio, se hospedou ali na pensão e depois se instalou em uma casa nossa. Ele medicava e a mulher (Aymé) dava aulas”, observa.

1940- Antes, as poucas crianças estudavam com o seu João Schnrener em uma chácara (região do Country Clube). "Era bem longe da nossa casa da Laje. O banheiro era o mato e as folhas o papel higiênico (risos). Tinha uns pés carregadinhos de mixiriquinhas lá, mas ele não deixava catar. Quem pegasse, o castigo era limpar toda a casa dele. Eu nunnca catei!!!" defende-se depressa, Adalbrair.

1942 - Começaram a desmatar e passar trator nos traçados das ruas da cidade e construíram uma casa, toda de madeira, na avenida Índio Bandeira de frente pra quadra da praça 10 de Outubro (atual Getúlio Vargas). "Ali instalaram a sub-prefeitura e uma escolinha de uma sala só e bancos compridos". Chico Albuquerque e amigos abriram uma picada desde a Laje até a rua Santos Dumont, no começo da Av Irmãos Pereira. "Por esse caminho a gente ia à escola e, por ali, o doutor Boening caçou mais de umas 120 cascáveis pra fazer remédio (soro)," conta Adalbrair.

Vida Religiosa - Até 1942 não tinha igreja, nem padre, nem cidade no Distrito de Campo do Mourão, pertencente ao município de Pitanga. As famílias moravam bem longe umas das outras. As rezas eram feitas nas datas santas. "O povo se reunia no rancho de um pioneiro escolhido... fogão de barro, à lenha; chão de terra batida e limmpinhoo." O dono da casa rezava o terço. À noite de São Gonçalo todos dançavam a Romaria. "Eram só três modas de dança rodada. Parava, ajoelhava, beijo no pé do santo e um pedido pra receber graça divina e pronto". 
A dona da casa preparava a refeição e servia as visitas. "Vinha carne moída com arroz, mingau de leite com farinha de biju, coalhada, doces caseiros, rapaduras... tudo à vontade dos presentes. As mulheres ajudavam na limpeza do rancho. Lustravam o chão de barro seco com cinza molhada e areavam as panelas e tudo, com bonecas de palha de milho e cinza." explica Adalbrair.

Santa Cruz - Antes de 1942, a cada dois anos, depois de ano em ano, vinha um padre de Guarapuava, a cavalo. Rezava missa de ação de graças pelas colheitas e pela saúde das famílias pioneiras. Batizava e fazia casamentos, tudo junto, na Festa da Santa Cruz, na primeira capelinha de sapé, sem paredes, "onde só cabia poucas pessoas, o padre e o coroinha. O povão ficava pra fora, esticando o pescoço pra ver o padre rezar. Tinha um prancha larga de pinho que servia de altar ao pé de um grande e antigo cruzeiro de cedro nativo, falquejado, sem a árvore ser arrancada e por isso estava sempre verde. Não morria de seco," revela Adalbrair. 
As mulheres que tinham um bom parto, pagavam promessas feitas à Santa Cruz. "Carregavam pedras, desde onde moravam, até o pé do cruzeiro abençoado, e as deixavam ali" conta Adalbrair, triste "porque essas festas, cerimônias e crenças foram esquecidas e se perderam, em Campo Mourão."

Espirito Santo - "A festa santa que eu entendia a mais linda (pelos coloridos) era a da Veneração do Espirito Santo. Um cavaleiro andante carregava um tipo de lança de São Jorge, toda enfeitada e parava as pessoas nas estradinhas  e elas beijavam as fitas multicoloridas da Lança Divina. Davam beijos a fim de pagar promessas," diz Adalbrair com brilho de fé nos olhos.

1948 - Quando completou 15 anos ganhou a primeira bicicleta vista em Campo Mourão. "Era de moça. Não tinha aquele cano no meio, mas tinha uma redinha cor de rosa que cobria a metade da da roda traseira. Assim meu vestido não enroscava," explica.

 
Adalbrair ajudava na política de Campo Mourão
Bosque das Copaíbas

Política - Francisco Albuquerque (Tio Chico) era chefe político do Partido Social Democrático (PSD) e amigo de confiança de Moyses Wille Lupion. 
"O governador (Lupion) cansou de ir lá no Campo e muitos políticos influentes, também. Nessas visitas a nossa casa ficava lotada. As recepções e as festas era eu que tomava a frente e todos ajudavam a preparar as mesas. Fizemos muita política e conseguimos muitas obras e ações boas a Campo Mourão, meu pai e eu. As principais delas foram: a independência de Campo Mourão, a instalação de energia e luz elétrica, além do Posto de Higiene e Saúde na cidade." conta com satisfação.

 
Tri Rainha em Campo Mourão: 51/52/53

1950 - Com 17 anos, Adalbrair era a única garota na diretoria que fundou a Sociedade Recreativa 1° de Maio, na Rua Brasil, onde hoje estão a Seicho-no-ie e a sede da Comcam. Adalbrair foi eleita Rainha do 1° Carnaval social, realizado em Campo Mourão. O Rei Momo foi o advogado Nelson Bittencourt Prado. Depois foi o Fuad Kffuri, várias vezes prefeito de Goioerê. "Fui rainha eleita três vezes, em anos seguidos (51/52 e 53). A primeira no Clube 1° de Maio e duas no Clube Social e Recreativo 10 de Outubro" revelou.

 
Na Voltinha de Campo Mourão

Moços fora - Na qualidade de diretora do 1° de Maio fundou o Grêmio das Moças, organizou encontros de decisões, matinês dançantes das crianças, bailes, concursos de danças (pares), desfiles de modas e pic-nics com as amigas e seus pais juntos "Os moços ficavam fora. Era tudo muito respeitoso", explica. Ensaiavam o que fazer no Baile de Carnaval nas chácaras, longe dos curiosos. "A gente gostava de inovar e surpreender. Nosso lazer era dançar, brincar nos rios e fazer passeios pelas matas. Eu dirigia um caminhão Ford-48, preto, que papai comprou novo. Enxia a carroceria de moças e íamos passear. A gente nadava na 'voltinha' do Rio do Campo (perto da Lanchonete Patinhas) e, à noitinha, eu as  devolvia, uma por uma, nas casas delas", justifica os seus cuidados com as colegas.

 
Pic Nic em Campo Mourão

1952 - Aos 19 anos "passamos a morar na cidade que brotava, onde meu pai comprou quase uma quadra e fez casas pras filhas e filhos casados, também em terrenos separados, mas todos vizinhos da nossa casa, que até pouco tempo estava ali na Av. Índio Bandeira, esquina com a Rua Francisco Albuquerque (antiga Rua Paraná). Foi uma das primeiras construída no centro e era ponto de referência", comenta Adalbrair.

Estudos - Depois do curso primário com aulas nas chácaras, Adalbrair matriculou-se na Escola Normal Regional (formação de professoras) situada na Avenida Irmãos Pereira e depois virou Hotel Ponto Chic (Casa Loanda). "Dali mudamos a escola no casarão que era do Clube 1° de Maio e mais tarde o governo a instalou no Colégio Estadual de Campo Mourão. Foi extinta porque era curso igual do ginásio. Em Curitiba fiz Alta Costura, Natação e curso de Mergulho Oceânico, que hoje ensino aos meus alunos", explica.

Casa por casa - A cidade estava a despontar.  "Eu vi Campo Mourão nascer, casa por casa, família por família que chegava. Cada casa, em construção, quando colocavam o assoalho, a gente a 'invadia' e fazia um bailão sem o dono saber. Era uma espécie de festa de inauguração. Ele chegava assustado. A gente explicava o costume e ele entrava na dança," conta Adalbrair, rindo muito. "Quando deu a febre de construção em 1950, a gente ouvia os serrotes e marteladas nos pregos, de dia e de noite. Atrapalhava o sono, mas eu ficava feliz por ver o sonho de papai, realizado," exclama contente.

1953 - Agora, com 20 anos, Adalbrair era paquerada por um estudante de fora (Tertuliano) e noiva de outro rapaz, o dentista Augustinho Kauling, em Campo Mourão. Acabou desmanchado tudo e decidiu casar, "contra a vontade dos meus pais", com Joaquim Xavier do Rego. "Foi assim: a Beatriz me contou que chegaram dois rapazes muito bonitos na cidade e que (ela) até ia namorar um deles. Esse um deles, é meu marido," gargalhadas.
Eram os irmãos: Aristóteles (Tote) e Joaquim os recém-chegados, filhos de Elias Xavier do Rego que instalou a primeira empresa de ônibus (Expresso do Oeste) e era procurador do russo Jorge Walter dono da Gleba Sem Passo, em litígio na época. Um dia vi o Joaquim passar, bonitão, com seu carrão, levantando poeira eee... gostei dele" risos. Aí, nos aproximamos nas matinês dançantes. Dançávamos juntos e namorava de longe, só no olhar. Andar de mão dada, nem pensar," rindo.

Pecado - Seus pais Chico e Anita eram contra "por causa dos falatórios". O pai de Joaquim era separado da mulher. "Isso (separar) naquele tempo, era pecado mortal" confidência Adalbrair. "Quando o Joaquim foi em casa me pedir em noivado, quase deu um tréco na mamãe. Ficou bravíssima e papai pediu um mês pra decidir e dar a resposta.  Passou o mês e decidiu que sim e exigiu que casássemos  logo depois da quaresma," conta aliviada. 

1954 - Fizeram as contas e escolheram a data de 8 de maio, dia previsto do casamento de Adalbrair com Joaquim. "Enquanto meu namorado esperava a resposta de papai, construiu e mobiliou nossa primeira casa. Tudo de primeira". Ficava na Estiva (48 km de Campo Mourão) "onde ele administrava uma serraria do pai dele, na terra que eles compraram dos Walter", aponta Adalbrair. "Eu mesma costurei meu vestido de casamento e o enxoval," detalha.

Morre Tio Chico - "Um domingo eu estava me arrumando para ir à Missa das 10 e contei, em casa, que tinha sonhado umas coisas ruins com papai, que estava em Curitiba a convite do Lupion. Mamãe não gostou da prosa e me deu um pito (repreendeu). Nisso chegou um caminhoneiro, e lá do meu quarto eu ouvi ele dizer: 'dona Nita, eu ouvi na PRB-2, que o Tio Chico está internado no Hospital da Cruz Vermelha, em estado grave' desci correndo -- "Eu não lhe disse mãe.. que tinha sonhaadoo"?? alertou Adalbrair, quase em pranto.

 
Fomos às pressas de Campo Mourão à Curitiba

Estado Grave - "Foi uma correria danada. Fomos rapidamente à Curitiba. Papai foi baleado dentro de um ônibus, por causa de uma discussão sobre fumaça de um cigarro, que não tinha nada a ver com ele. Os briguentos soltaram palavrões, entraram nos socos e saiu tiros de revólver. Acertaram meu pai, na barriga que teve onze perfurações nos intestinos," revela Adalbrair. O Delegado de Polícia, Lázaro Mendes, genro do Tio Chico, marido da Zizinha, disse que a briga foi com ele,  e que deu tiros também. "Nos contou que papai saiu andando do ônibus, pegou um táxi, pagou a corrida, desembarcou em frente ao hospital e entrou caminhando lentamente. Enquanto acomodavam papai, o Lupion soube do ocorrido e mobilizou 22 médicos a fim de fazer as cirurgias", narra Adalbrair.

A morte - "Faltava uma semana (8 dias)  pro meu casamento. No outro dia da cirurgia, papai estava com a cabeça recostada no meu colo, e falou: 'parece que estraguei tudo, né filha?'. Oito dias depois ele faleceu. Ele morreu nos meus braços, bem no dia 8 de maio, data que eu estaria casando. Adiei para o dia 31 de julho. A família estava de luto, mas eu vesti branco, mesmo contra as brigas do meu irmão Tito" relata Adalbrair a triste passagem de Tio Chico.

Mataram nossos pais - "Mataram o meu e mataram o pai do Joaquim, a tiros. Depois que casamos a gente vivia sob ameaças de pistoleiros, na Estiva. Nunca tive medo. Levei tiros e dei também. A época era assim. Cascavel estava no início. O Joaquim estava ajudando a abir a cidade e a região e fomos pra lá, por causa dos negócios. Lá estava no começo, e aqui já estava tudo aberto e a cidade formada, e acabamos nos enfiando naquele sertão bravo", conta quase chorando, por ter deixado Campo Mourão e a família.

1955 - "Moramos um ano na Estiva. Também mataram a tiros o seu Elias, pai do Joaquim, por causa das demandas da Gleba dos Walter. Foi daí que montamos outra serraria no sertão de Cascavel. Em 1956 nasceu a Veronita e depois o Jorge Luiz, que já me deram três netinhos, e vem mais por aí", sorrisos.

 
Família de Adalbrair e Joaquim

1958 -  "De Cascavel mudamos à Curitiba. Legalizamos toda a terra e não sai mais daqui (Curitiba). Durante 25 anos trabalhei com alta costura. Vesti a filha e a esposa do Aroldo Galassini, a Adelaide Salvadori mulher do Rosalino, a do Milton Luiz Pereira, a Niva do Anibal Khoury, a empresária Lorete Tacla e muitas outras mulheres famosas", explica sua estada bem sucedida na Capital.

Empreendedora - Ainda em Curitiba, fundou e dirigiu a Escola de Mergulho Foca-Sub, em sociedade com o filho Jorge Luiz e com o amigo Luiz Rabello. "Sou a instrutora e mergulhadora preferida do Grupo de Busca e Salvamento, da Polícia Militar do Paraná."

 
A mãe Anita e familiares de Campo Mourão, em Curitiba

Feliz - "Tenho uma vida tranquila, realizada e faço o que gosto, sem nunca esquecer minha querida Campo Mourão", concluiu sorrindo, Adalbrair Albuquerque do Rego.



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Francisco Ferreira Albuquerque (n.10/10/1901 – f. 08/05/1953). Nasceu na histórica cidade da Lapa/PR, onde foi telegrafista da companhia férrea da RVPSC-Rede Viação Paraná Santa Catarina (PR). Conheceu Anita Gaspari em Porto União (SC), onde casaram em 1920. Em 1936 comprou uma casa de residência e comércio em Campo Mourão, de Léo Guimarães, quando aqui chegou, situada abaixo do Jardim Albuquerque, à margem esquerda do Rio do Campo, próxima a Laje Grande. Foi safrista de porcos e o principal  responsável pela independência do município de Campo Mourão na qualidade de líder local, sem nunca pleitear ou exercer nenhum cargo político. Por coincidência a emancipação mourãoense deu-se dia 10 de Outubro, data do seu 46° aniversário. 

Em 1957,  Tio Chico (como era mais conhecido) foi baleado  durante tiroteio ocorrido dentro de um ônibus, perto do Passeio Público, em Curitiba, quando se deslocava para participar de uma convenção do PSD, a convite de Moysés Wille Lupion, em companhia do seu genro e delegado de polícia de Campo Mourão, Lázaro Mendes, casado com Cacilda (Zizinha).
Francisco Ferreira Albuquerque faleceu dia 8 de maio de 1957, no Hospital da Cruz Vermelha, em Curitiba e está sepultado no Cemitério São Judas Tadeu, em Campo Mourão, ao lado de sua esposa, Anita Gaspari Albuquerque e filhos.

Anita Gaspari Albuquerque - (n. 21/06/1907-f. 27/10/2000) natural de Ponta Grossa/PR. Casou, aos 14 anos, com Francisco Ferreira Albuquerque, de  cuja união nasceram 14 filhos. Chegou aos Campos do Mourão em 1936, onde foi parteira, benzedeira,  costureira, cabeleireira. Atendeu cerca de 1000 partos. Em 1995, recebeu o título de Cidadã Honorária do Estado do Paraná (iniciativa do então deputado estadual, Namir Alcides Piacentini - PDT), concluída pelo também deputado estadual, Nelson José Tureck.

 
Casa dos Albuquerque em Campo Mourão
 
Ficava na esquina da R. Francisco Albuquerque com Av. Índio Bandeira 
em Campo Mourão desde 1940

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Origens dos Sobrenomes

Ferreira - é de origem ibérica, provavelmente uma referência à profissão de ferreiro, muito importante já que o desenvolvimento de um país durante a Baixa Idade Média até a Idade Moderna era ditado pela capacidade de produzir as mais diferentes ferramentas agrícolas, o que facilitava a produção nacional de alimentos e artefatos de ferro. Também cabia aos ferreiros a produção de armamentos forjados a fogo, água, marreta e bigorna. 

D. Fernando Alvares Ferreira, seria o patriarca da família Ferreira portuguesa, o qual chegou a Portugal no reinado de D. Sancho I, vindo de Castela, descendente dos condes de Astúrias de Santilhana, da Vila Herrera, em Leon de Espanha.


A família Albuquerque carrega uma certa nobreza no sobrenome. No Brasil, as novelas adoram colocar em personagens de famílias tradicionais e a história o retrata como um dos mais nobres.
Origem - A família Albuquerque surgiu em Portugal durante o auge da idade média. Trata-se da junção de dois termos latinos: albus (branco) e quercus (carvalho). Aparentemente, os primeiros a utilizar este sobrenome foram os descendentes de Dom João Afonso Telo de Meneses, senhorio da vila e do castelo de Albuquerque. 
No Mundo o sobrenome Albuquerque também tem história na Espanha, se espalhou pelo mundo e chegou até mesmo na América do Norte pelos espanhóis, que deram origem a cidade de Albuquerque, no Novo México.
No Brasil a família Albuquerque se instalou na região nordeste, principalmente em Pernambuco, desde o século XVI onde tem acentuada tradição.
Curiosidades - Albuquerque em árabe significa domador de cavalo branco. Através do prefixo Al pode se notar a influência árabe na constituição de alguns outros sobrenomes: Alcântara e Almeida. 
Imutável - Não existem variantes conhecidas do sobrenome Albuquerque. Desde que surgiu ele permanece da mesma maneira em todas as partes do mundo onde tem descendente, o que torna ainda mais forte a tradição da família Albuquerque. 

HeráldicaO modelo de brasão da família Albuquerque é esquartelado. O primeiro e o quarto do escudo são de prata, com cinco escudetes azuis postos em cruz, cada um carregado de cinco besantes (botões) de prata em sautor. Já o segundo e o terceiro pedaço é constituído de vermelho, com cinco flores de lis douradas, postas em sautor (forma de x).




HeráldicaO modelo de brasão da família Albuquerque é esquartelado. O primeiro e o quarto do escudo são de prata, com cinco escudetes azuis postos em cruz, cada um carregado de cinco besantes (botões) de prata em sautor. Já o segundo e o terceiro pedaço é constituído de vermelho, com cinco flores de lis douradas, postas em sautor (forma de x).



Destaque



O mais famoso e conhecido descendente dos Albuquerque, na história do Brasil, é Jerônimo (n. 1510 f. 1584), natural de Lisboa – PT. Filho de Lopo de Albuquerque e Joana de Bulhões. Irmão de Brites de Albuquerque, mulher de Duarte da Costa, donatário da província de Pernambuco, que açambarcava os atuais estados de Pernambuco, Alagoas, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e parte da Bahia.

Jerônimo Albuquerque foi o administrador deste imenso território. Auxiliou Duarte Coelho, na pacificação dos índios; na expulsão dos invasores holandeses e franceses, além de se dedicar ao desenvolvimento econômico e social de Pernambuco, através do cultivo e industrialização da cana-de açúcar, em altíssima escala.

Desembarcou no Brasil em outubro de 1535. Por ocasião de uma escaramuça com guerreiros da tribo Tabajara, foi ferido no olho por uma flecha e aprisionado. A índia Muirá-Ubi, filha do cacique Arco Verde, cuidou do seu restabelecimento e, apaixonada, pediu permissão ao pai para casar com homem branco. Da união com a índia, batizada Maria do Espírito Santo Arcoverde, nasceram oito mestiços, que se espalharam pelo Brasil afora.
Em 1554, Duarte Coelho, doente, retornou a Lisboa e deixou sua mulher Brites com seu irmão Jerônimo de Albuquerque, no comando da imensa capitania.
Em novembro do mesmo ano, Duarte Coelho morreu na capital portuguesa, enquanto Jerônimo e  Brites ficaram, definitivamente, no comando da capitania, tornando-se os novos donatários por deferência da Coroa do Reino luzitano.
Consta que Jerônimo muito contribuiu no desenvolvimento da região durante 58 anos, até sua morte em Olinda – PE, dia 25 de dezembro de 1584, com 74 anos de idade..
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