Mitos e Fatos de Campo Mourão
Nos anos 50/60, no Bar Estrela, esquina
da rua Brasil com Av. Irmãos Pereira, onde está o Edifício Gênero,
ali sempre a gente via um bebinho, mestiço índio, barba rala, cor de cuia,
que dizia se chamar Abel. Morava duas quadras abaixo do bar, sozinho, num ranchinho
de fundo de quintal, na rua Brasil, por ali onde está a sede da
Comcam e a Seicho-no-iê.
Até aí nada demais, mas o Abel tinha o
apelido de Poeta Perébinha (feridinha brava).
Você entrava no Bar, ele sentado num
tamborete, bem no canto do balcão, logo te falava com voz meio pastosa:
- Oii, me paga uma pinga, te faço uma
poesia... paga?
Pinga dada, lá vinha os versos sem rima
do Perébinha, tipo assim:
Caróba é madera mole
Que dela se faiz tamanco,
Mass quando cai na estrada,
Quero vê quinhé que passa?!
- Mais uma pinga, outro verso:
Láaa vaii o sórr no horizonte
Verrmeiiio que nem coiada
Coaiiouuu?..
Cumi !!
(Coalhada não é
branca?)
Ou...
Batatinha quando nasce
Sisssparraaama pelo chão
Nenezinho quando dorrrme...
É porrque tá cum sono, ué!!!
Ouu...
Eu vi a morte pescando
Na beira do rio do Campo
Quando a morte pesca...
Não sobra nem lambari.
No bico de uma pombinha
Que voava rumo surr
Te mandei uma cartinha
Cum laço de fita vermeia...
(Podia
ser azur, aí rimava, neh?
- Pra arrematá, pague mais uma!!!
Quando a Arara gralha: quero-quero,
Jacu e nhambu os bico cala...
Bemm quétinhoss...
Aíi... a onça... te avonnça !!
E, de pinguinha em pinguinha, ia por aí
afora com seus 'veusos desrrimados.'
Suubii num pé de amora
pra vê meu amô passá...
Ela não passou...
Desci e fui imbora !!
Na boca da noite, Abel descia a rua Brasil,
pernas rijas, meio abertas, arcadinho, em zig-zag igual côco na ladeira, e ia pro rancho cantarolando e, na
mão -'prá aquentá o sono' - uma garrafinha (tamanho sodinha) cheia de cachaça, servida pelo seu
Alfeu de Paula Xavier, balconista e sorveteiro do Bar Estrela, propriedade do nono Pedro Gênero.
No dia seguinte, lá estava o Perébinha,
no mesmo canto, no mesmo banco redondo de três pernas, pronto para recitar os
mesmos versos em troca de uma cachacinha da marca Oncinha, Cavalinho, Tatuzinho, Jamel, Tejuzinho ou
51... sei lá.... traçava todas!
Arfaiate qué tisora
Sapatero qué tripeça
Moça bunita qué oro
Muié véia qué: blá bláa bláaa!!
-Paga mais uma ?? -Daí te faço uma de mãe!!
Vou conta uma história triste
Ciumento:
Vou conta uma história triste
Que jamais no mundo ingiste,
Uma assim, tão cruérr...
Minha Mãe morreu.
Minha Mãe morreu.
Ciumento:
Quem mexe com muié alheia
É mexê com
marimbondo.
Ou sai cô nariz redondo
Ou sai ca cara quebrada.
Se mexê co a minha muié
Meu treisoitão fala
mais arto
Atiro no pé da oreia,
Acerto na boca e digo:
Sente o gosto da bala,
seu mar intencionado!
seu mar intencionado!
Fim da tarde, bóra pro rancho, cantando:
Aiii tatuuu, taatuzinhooo...
Abra a garrafa e me dá um caadinho.
Minhan, minhan, minhann!
Saudosa Inesita Barroso
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