26/05/2011

Manuel Castanheira de Campo Mourão - PR


MANUEL CASTANHEIRA LOPES DA SILVA

Manuel Castanheira de Aveiros a Campo Mourão

O menino que pescava em Portugal e administrou os bens da família dos 11 aos 14 anos, sonhava com o Brasil.  Chegar aqui e vencer. De padeirinho se transformou no maior vendedor de doces a nível nacional. “Tudo que sonhei, realizei com muito trabalho. Tenho uma família maravilhosa e tudo que tenho, está em Campo Mourão, onde me orgulho de viver”.

Aveiro

Manuel Castanheira Lopes da Silva nasceu dia 12 de outubro de 1938, em Quinta do Loureiro, Freguesia de Cacia (Conselho de Aveiro - Portugal). Filho de Lídia Rodrigues Castanheira e Manuel Augusto Lopes da Silva. Irmão de Ângelo (casado com Nilza (falecida) e Valdira) e Daniel (casado com Beatriz de Fátima). “Tínhamos terra em Portugal. Plantávamos feijão, milho e muita batata, que substituía o arroz. Produzíamos 1.500 a 2.000 litros de vinho por ano para consumo próprio”... (risos). “Pela tradição em Portugal, pouca água se toma. É mais vinho do que água”... (rindo muito).

Portugal – “A melhor lembrança da infância?
-Eram as pescarias que fazia com meu pai no Rio Volga e na Lagoa A Pateira, que inundava com a vazante do rio, muito parecida com o Lago Azul da Usina Mourão”, compara. “Pescávamos carpas, enguias finas e outras que chegavam a grossura do meu braço, além do pimpão, um peixe dourado, grande, muito gostoso.

"Aveiro tem as mais famosas e caras conservas de enguias do mundo”, conta o menino Manuel. Quando rapazola freqüentava os Serões (noite grande). “Rapazes e moças se reuniam a conversar, dançar e namoriscar. Nestes serões as meninotas teciam e faziam trabalhos manuais (tricô e crochê) entre uma dança e conversas próprias da idade”, lembra-se de quando estava despertando para a juventude, em Portugal.

Idas e vindas – “Por volta de 1944 meu pai vinha ao Brasil e voltava a Portugal há cada dois, três anos. Ficava lá, três a seis meses e voltava. Aqui ele tinha panificadora e freguesia de pão em São Paulo. Boa parte do que ganhava investiu em vários sítios. Quando Ângelo fez 14 anos, veio cá, ao Brasil”. Com 11 anos Manuel assumiu o comando e conduziu os negócios da família até aos 14, quando veio ao Brasil sonhado. “Com dez anos terminei o primário (puxado) que corresponde ao segundo grau no Brasil. Acabei de entrar no Liceu de Aveiro a fim de seguir à Universidade quando meu pai me chamou”. Viajou 16 dias no navio Alcântara, da Mala Real Inglesa. “A viagem foi bem. Eu sonhava desde criança em ver meu pai, rever meu irmão e estar neste país enorme e maravilhoso. Queria vir logo ao Brasil e vencer. Aprendi na escola que: O Brasil é um país longínquo. Mas em espírito e em verdade, é o que está mais próximo do nosso”, referindo-se aos laços fraternos que unem portugueses e brasileiros.

Brasil - Desembarcou em Santos dia 16 de abril de 1954. “Meu pai e o Ângelo me esperavam no porto”. Subiram a serra e foram rumo a São Paulo. “No dia seguinte eu já estava a trabalhar”.  Acompanhou o pai na entrega de pães a domicílio no Jardim Paulista, onde residiam. “Ganhei o apelido de Padeirinho, porque era filho do Padeiro”.. (rindo).
No dia 1º de maio de 1954 começou a trabalhar por conta própria. Comprou um triciclo (bicicleta grande de três rodas) e a uma parte da freguesia do Ângelo, por 80 contos, que paguei mensalmente com ajuda do meu pai. Ele me disse, então: cresça, seja homem de verdade e evite as más companhias”.
Depois adquiriu uma lambreta, depois uma moto BMW alemã. “Tinha só umas dez destas máquinas em São Paulo.

 
Oldsmobile/88

Modesto - "Meu primeiro automóvel foi um Oldsmobile/88. Após comprei o primeiro carro de fabricação nacional (Gordine) e mais tarde um Impala (GMC) importado. Eu nunca fui ostensivo, mas sempre quis provar a mim mesmo, à família e aos amigos que podemos realizar todos os sonhos, com trabalho e perseverança”, explica a sua filosofia de vida.

Na Terrinha - Trabalhou até 1960 na entrega de pães. Quando voltou a Portugal, pela primeira vez, com 26 anos, adquiriu um automóvel esporte inglês (ValkXSal - modelo Viva), vermelho, antes de chegar na casa da família e amigos. “Com esse carrão eu quis mostrar e provar a eles que o Brasil é um país onde conseguimos tudo se quisermos, e se formos trabalhadores. Com isso influenciei muitos patrícios conhecidos que depois vieram e se deram bem, assim como eu”, revela ao falar da sua grande paixão pelo Brasil.

Morte de Getúlio - Ainda quando Padeirinho conta: “Uma certa manhã, na Rua Leme, estava eu na casa de um freguês e ouvi pelo rádio a notícia da morte do senhor Getúlio Vargas (24 de agosto de 1954). O fato abalou o Brasil. Getúlio era muito querido pelo povo. Tinha a admiração dos portugueses. Foi uma comoção nacional. As pessoas choravam. Fiquei muito sensibilizado pelo fato”, recorda com tristeza.

Play Boy – “Gosto de me vestir bem. Tudo que eu sonhava, lutava até conseguir. Sempre quis o melhor. Eu era metido a play boy, no bom sentido... (risos). Batalhei a fim de ter as melhores motos, os melhores carros... a melhor casa e hoje tenho a melhor família, a mim, realmente maravilhosa”, enfatiza. “Não sou rico. Não guardo dinheiro. Invisto tudo nas empresas, todas mourãoenses. Gero emprego, renda e uma fortuna em tributos. Essa é a minha grande riqueza: ser útil à cidade e à comunidade trabalhadeira”, enfatiza Manuel.

Doceiro - A partir de 1960 começou a vender Doces Confiança, pastinha na mão e um furgão Mercedes Benz/57. “Fui premiado como o primeiro maior distribuidor a nível de Brasil”, conta com orgulho. Vendia balas, biscoitos, paçoquinha, geleias, maria-mole... “desde Sarandi até as barrancas do Piquiri”, explica.

Viagens difíceis - Em 1961 começou a vender no Paraná.
“Um amigo me ofereceu a linha e fazia pronta entrega de Doces Confiança – Pode Confiar”. Vendia em fazendas, vendas de beira de estrada, bares e armazéns das cidades. “A freguesia mais forte (de consumo) sempre foi a de Campo Mourão. Meus maiores clientes eram os senhores: Luiz de Matos (Casa Portuguesa),  José Ladeira (Bar Cinelândia) um patrício que a família sempre me recebeu bem aqui”, relembra com gratidão. “Tinha os Irmãos Carreira, Casa Marques em Goioerê, Casas Pratas de Engenheiro Beltrão e Peabiru, dentre tantos”, recorda. Carregava em São Paulo e começava a vender por Sarandi, pulava Maringá, passava em Ivatuba, Jumirim, Floriano, Floresta, Ivailândia, Engenheiro Beltrão, Peabiru e todas as cidades em volta de Campo Mourão.

Na lama ou no pó - "Viajei muitos anos pelo Paraná e região. As estradas eram primárias sem o mínimo de revestimento. Era chão puro. Quando chovia colocava correntes nos pneus. Tinha muitos atoleiros. O pior era o tope-do-mamão (Floresta). Ali fazia fila de caminhão encalhado. Só passava jeep e olha lá!! - Não tinha comida e nada por perto. Dormíamos de mau jeito na cabina. Muitas vezes comi e distribui biscoitos para os caminhoneiros e assim tapeava a fome. Nos dias de poeira viajava em 2ª e 3ª marchas, com os faróis acesos, porque não se via praticamente nada. Era tanta poeira que a gente cuspia tijolo”, conta sorrindo, ao lembrar das dificuldades enfrentadas.

Campo Mourão – Em 1966 começou a parar em Campo Mourão. “Vim parar aqui atraído pelas terras férteis. Vendi o que tinha em Portugal e São Paulo. Apliquei tudo aqui. Sempre acreditei e acredito em Campo Mourão”. Hospedava-se no Hotel Mundos (família Zavadniak). Entre 1967 e 1968 abriu a Doces Campo num prédio alugado do Sílvio Legnani (R. Roberto Brzezinski esquina com a Av. Irmãos Pereira). “Neste meio tempo trouxe a minha mãe e o mano Daniel. Mamãe está forte e mora conosco, graças a Deus”, exclama. Foi quando comprou o segundo caminhão (Mercedes Benz/66). “Trabalhávamos em dois e aumentamos as vendas. Fomos investindo e aplicamos tudo aqui mesmo”, comenta seu Manuel.

Campo Mourão, a Castanheira

Progresso - Viu Campo Mourão crescer. “O Município ganhou um grande impulso na década de 60. Cheguei no fim da gestão do senhor Antoninho (Antonio Teodoro de Oliveira) e acompanhei os avanços conquistados pelos doutores Milton Luiz Pereira (Prefeito Modelo) e Horácio Amaral (Prefeito Escola) que construiu a Faculdade, o Mercado Municipal e dezenas de escolas. O doutor Horácio era rígido na educação dos filhos e sempre zelou pelo bom nome da família e do seu trabalho. Mas tinha um coração mole. Tirava do bolso e ajudava os pobres e os doentes, quando a Prefeitura não tinha recursos. Faleceu em acidente de carro perto da Campina do Amoral. Sua morte até hoje é lamentada. Estava em campanha a deputado estadual e tinha tudo a se eleger. Foi nesse período que conheci a Alba, filha dele”, lembra Manuel.

Casamento – Em 1º de setembro de 1973 casou com a professora Alba Amaral (filha da professora Déa e do advogado Horácio Amaral). “Namoramos e noivamos em cinco anos”. Desta união nasceram: Fernando (Acadêmico de Administração e vestibulando de Direito - CIES), Carolina (Advogada - PUC, pós graduada e acadêmica de Administração - Fecilcam), Ricardo (Formando em Ciência da Computação - CIES) e Renato (Acadêmico de Publicidade e Propaganda - Unipar de Cianorte). “Minha netinha, Fernanda (Nandinha), está com nove meses. É linda e também vai ser gente importante!!"  (rindo feliz).

Empreendedor - Adquiriu um armazém que transformou em depósito e escritório da firma “Manuel Castanheira” na esquina da R. Laurindo Borges com a Av. Capitão Índio Bandeira. “Tudo que ganho na venda de doces e produtos, invisto em Campo Mourão”. O pequeno armazém do Oliveira (antigo dono), transformou-se num prédio de 3.500 metros quadrados construído passo-a-passo pelos irmãos Castanheira e o sócio Tirone Froshlin. “Nosso gerente e homem de confiança é o Renato Kwitchal. Começou e está até hoje conosco”, elogia Manuel. “Chegamos a ter uma frota de 40 caminhões nas entregas. Hoje a maior parte dos transportes é terceirizada, dada a modernização administrativa que o momento está a exigir”, explica o homem de negócios e visionário futurista.
Depois da Castanheira (produtos Nestlé) foi fundada a Cacaus (Chocolates Garoto e atualmente as principais indústrias nacionais e multinacionais de alimentos e produtos de limpeza). “Geramos cerca de 300 empregos diretos e indiretos”.
Por várias vezes a empresa foi agraciada com títulos de Maior Distribuidor Nacional. As empresas do Grupo Castanheira são divididas em departamentos, “assim agilizamos a atenção devida aos clientes”. Também representam a pilhas Raio-Vac, a Suco Camp (Grupo General Brands) e os laboratórios EMS e Legran, “a maior indústria nacional de remédios e genéricos do Brasil”, detalha Manuel.
“Esta diversidade de ofertas de produtos que temos, nos torna competitivos diante das dificuldades do mercado e, para superá-las, usamos ao máximo a nossa estrutura empresarial”, revela. A Castanheira e Cacaus abastecem quase todo o Paraná”, diz sorrindo de felicidade, ao se referir  “a conquista do Paraná”, pelas atividades comerciais da família Castanheira.

Na sociedade – Em Campo Mourão, “sempre que possível, quando as viagens nos deixam, a Alba e eu comparecemos aos acontecimentos sociais e clubes de serviços. Contribuímos anonimamente aos segmentos da sociedade, principalmente com os mais necessitados. Não nos vinculamos a nenhum clube dado nossos afazeres. Se pertencer, tem que participar efetivamente”, justifica ao dizer porque não é filiado a nenhum clube. Exerceu a presidência do Centro Português de Campo Mourão. É membro do Conselho das Comunidades Portuguesas do Paraná e do Brasil.

 
Na Usina de Campo Mourão tem...

Lago Azul - Mas tem uma tristeza. “É a maneira como estão maltratando o nosso Lago Azul, que pode ser um dos mais bonitos do mundo e um modelo de preservação do Brasil. As pessoas que litigiam por aquele belo patrimônio de Deus, devem sentar-se, conversar e fazer valer a razão, mesmo sobrepujando a justiça dos homens”, ponderou.
“Meu sitio é um paraíso. Tem um lago piscoso. Grande reserva nativa. Muitas frutas. Tucanos, papagaios, frangos d’água, patos selvagens, garças, socós, tatus, inambu... e outras espécies que vivem em sintonia conosco e até vem comer na nossa mão”, conta com satisfação. “Até hoje meu hobby é pescar. Crio peixes no sítio. Adoro estar em contato com a natureza, herança da minha infância”, frisa.

Profissionalismo – Manuel Castanheira tem grande experiência em Comunicação, Motivação e Promoção de Vendas. Já proferiu palestras no Senac e em Universidades tal qual aconteceu recentemente na UEM de Maringá. Possui cursos de Oratória e Marketing. “Minha experiência de vida vale por muitas faculdades. Sempre levo tudo muito a sério”, asseverou. “Tenho uma lembrança inesquecível. Foi quando recebi duas placas e homenagens da minha equipe de vendedores, no encerramento de 1978”.
Em 1992 as duas empresas foram destaques ao receberem o prêmio máximo da APRAS – Associação Paranaense de Atacadistas e Supermercados e prêmio máximo de Distribuidor do Ano. “É a maior honraria do setor, que muito nos envaidece por sermos de Campo Mourão, tornando-nos reconhecidos nacionalmente”, orgulha-se Manuel.

Campo Mourão,  na avenida onde moro, tem...

- "Continou a acreditar na querida Campo Mourão que tão generosamente me acolheu e desejo uma cidade ainda melhor a todos nós, amigos e às novas gerações. Nossos filhos e netos merecem essa atenção especial aguardada daqueles que se dizem nossos governantes", concluiu.

Registrei a biografia de Manuel Castanheira 
e recebemos este Troféu em Campo Mourão

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