30/05/2011

Capitão Índio Bandeira de Campo Mourão - Existência



Cacique Bandeira - Acervo Joaquim Xavier do Rego 
Campo Mourão - Pr



Trechos em referência a nova descoberta do importante Campos do Mourão no Município de Guarapuava - PR, que alcançava até o Rio Paraná, como limite de divisa brasileira.

Existência do Capitão Índio Bandeira.
Narrativa do Major Francisco Manoel de Assis França.

“Desencantou-se a descoberta dos Campos de Mourão pela seguinte forma: chegou nessa cidade (Guarapuava) o Cacique Indígena Bandeira, e, por muitos convites que fez, conseguiu que a ele se unissem o Norberto Mendes Cordeiro (Comendador Norberto Marcondes) com treze pessoas de nossa gente e seguissem a fazer as explorações. Conseguimos, depois de 32 dias de marcha, sair no referido campo, onde acharam para mais de 500 índios, e todos se dando o melhor que puderam aos exploradores, que reconheceram ser pequeno o campo limpo (cerrado) que calculam em légua e meia, pouco mais pouco menos (uma légua corresponde a 6 km)". 


Faxinais - Campo Mourão

"Porém - prossegue sua narrativa - os faxinais que passaram até chegar ali, dizem não ter menos de dez léguas e, do Campo, avistaram grande extensão dos mesmos, dizendo os índios que viajavam até às Sete Quedas, que passam as ruínas da Cidade Real de Guaíra e que os faxinais, se entendem muito para aquele lado e que, do Mourão às Sete Quedas iam em três dias, e que no ponto vizinho às Sete Quedas reside um grande número de selvagens que aproveitam a abundância da caça e da pesca nos rios Paraná, Iguaçu e Piquiri. Os nossos viajantes não puderam bem explorar, por lhes faltar mantimentos e outros recursos, e muito satisfeitos se puseram de volta, chegando aqui no dia 16 de Novembro, com 11 dias de viagem, dizendo que o sertão até sair nos faxinais não pode exceder de 20 léguas.
É uma breve exposição que faço a V. Exa. certo de que a Câmara Municipal desta cidade (Guarapuava) colherá as mais minuciosas informações para levar ao conhecimento do governo o resultante dessa expedição, a Campo do Mourão", concluiu.

Campo Mourão região rica em belezas naturais

Cacique Bandeira e Freis

Outros trabalhos muito importantes de catequese, desenvolveram-se no Paraná, a partir de 1855.
Os índios e os freis: Luiz de Cemitille e Timóteo del Castel Nuovo juntavam-se nos Aldeamentos de São Pedro de Alcântara e do Pirapó, por iniciativa do Barão de Antonina (João da Silva Machado), com o apoio do Governo Imperial.

Barão de Antonina  tem a ver com Campo Mourão


Esses aldeamentos indígenas, mantidos pelo governo e assistidos pelos freis: Cemitille e Castela Novo, foram muitas vezes moradas do Cacique Bandeira.
Não obstante, a inconstância de seu sistema de viver, andarilho das selvas, pouco tempo permanecia em cada lugar, segundo lhe estivessem propícias as condições de caça e pesca, ou os reencontros com seus irmãos.



Quando Frei Timóteo de Castela Novo estabeleceu a Colônia de São Pedro de Alcântara, além da Colônia Militar do Jatai (hoje Jataizinho, no Norte do Paraná) foi sua preocupação ter aí o café que abastecia o consumo da Colônia e da Redução, e isso foi realizado.
Neste Aldeamento foi, posteriormente, administrador o sertanista Telêmaco Borba, tibagiano, que deixou valiosa contribuição à etnologia de nossos silvícolas, enfeixada em sua obra “Atualidade Indígena”, de 1908.


Telêmaco Morocines Borba, tendo convivido com os índios coroados ou caingangues, guaranis e caiuás por mais de 20 anos, desde 1863, estudou-lhe vários aspectos, desde seu tipo físico, sistema social, habitação, usos e costumes, utensílios, alimentação, caráter moral e crenças. De suas descrições e, especialmente, relatos da expedição exploradora que realizou em 1876, desde o Porto da Colônia Militar do Jataí, até os saltos de Sete Quedas e alguma exploração no baixo Rio Piquirí, onde reconheceu os restos da primitiva Ciudad Real del Guairá, fundada por Ruy Diaz Melgarejo, em 1556, o mesmo Melgarejo que fundou, em 1570, em terras do hoje Município de Campo Mourão, a Vila Rica del Espirito Santo em sua primeira fundação, pois a segunda fundação, desse mesmo nome, foi em terras do hoje Município de Fênix, na Foz do Rio Corumbatai, tributário do Rio Ivaí.

Pouco resta das Sete Quedas ligadas à História de Campo Mourão

Dessa expedição exploradora fizeram parte, além de seu irmão Nestor Borba, as seguintes pessoas: Bruno, um índio Caiguá  "o melhor dos pilotos dos rios Tibagi e Paranapanema”; dois índios Coroados; o Cacique Bandeira e um seu “caporon” (qualquer coisa parecida com “auxiliar de mato”) e o velho Bento mulato, ainda robusto, apesar dos seus mais se 60 anos, na época.

Romário Martins, em sua História do Paraná, ao dar a “Distribuição Geográfica das Tribos Indígenas” diz o seguinte: "Primitivamente habitantes da mesopotâmia Iguaçu-Uruguai e depois os sertões de Guarapuava (note-se que Guarapuava se estendia, como Município, até o Rio Uruguai e o Rio Paraná), entre os rios Piquirí e Ivaí).

Romário Martins escreveu sobre Campo Mourão

Da grande tribo Camés, catequizada pelo Padre Francisco das Chagas Lima, restaram, na Comarca de Guarapuava, poucos descendentes. Os antigos toldos (aldeias) do Piquirí, Corumbataí e do Vale do Ivaí, ficaram desertos. Daí desapareceram os caciques, outrora investidos do comando supremo (capitães), dos quais o último foi Jongió".
"Ficaram apenas algumas famílias dispersas cujos chefes como: Bandeira, Joaquim Cadete. Jongiõ e outros poucos, intitulam-se caciques, coronéis, capitães e iam, às vezes, até a presença do governo com suas exigências e reclamações, fingindo ter sob seu comando grandes hordas, quando suas famílias não iam além de 20 ou 30 indivíduos”, escreveu Romário Martins, que segue em sua narrativa: “Os Camés foram aldeados no Atalaia (Guarapuava ) pelo Pe. Chagas. Essa grande aldeia se dispersou quase toda. Seu prestigioso chefe Indígena era Focrã, doutrinado e alfabetizado pelo grande Missionário. Outros catecúmenos foram para Palmas, Goio-En, Campos de Nonoai e sertões do Piquiri (por extensão aos cerrados de Campos de Mourão). Os restantes, sob administração civil, foram-se degradando e se extinguindo”, concluiu.


Cerrado de Campo Mourão

Os caingangues, tal qual os guaranis, se distinguem por várias denominações tribais. Assim, pertencem a esse grande grupo os chocrêns, votorões, dorins, caiurucrês e camés, com cujos nomes eram conhecidos os índios de Guarapuava na época das explorações oficiais desses campos e sertões pelas expedições de 1768 e 1771, ordenadas por Luiz Antônio de Souza Botelho Mourão.


 
Triste fim dos nativos paranistas


Desses grupos descendiam os caciques Viri, Condá, Mendes, Gembrê e outros, alguns dos quais tiveram seus nomes fixados em topônimos municipais, ainda que com corruptela, como é o caso de Viri, que, no Município passou a ser “Verê”, sem qualquer justificativa, senão o contumaz equívoco e desconhecimento da história, e Gembrê se fixou junto às águas (Rio 119) de Campos do Mourão (atual região da Santa Cruz).
Segundo Antonio Nishimura, de Campo Mourão - PR, o Cacique Índio Bandeira foi sepultado na localidade conhecida por Catacumba, proximidade de Mamborê - PR e, posteriormente, seus filhos transladaram seus restos mortais a São Paulo, onde reside a maioria dos seus descendentes.

 
Tribos dominantes do Paraná


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