14/05/2011

A Princesa e o Plebeu de Campo Mourão - PR

Leony Bittencourt Prado e Manoel Andrade



Esta é a real história da Princesa e o Plebeu. Da menina rica que casou com o menino de origem humilde e que tornaram-se um grande exemplo de vida, reconhecido. De um namoro contemplativo que durou nove anos aconteceu um casamento perfeito, de amor duradouro, forjado pela vontade férrea de vencer em uma cidade inóspita, mas de um lindo por do sol, que floresceu a partir de 1950. Leony e Cely (Manoel Andrade) emocionados revivem hoje, mais de 60 anos de paixão mútua e por Campo Mourão.


Leony Bittencourt Prado é natural de Guarapuava, filha de Hygina Bittencourt e do agrimensor, João Lemos do Prado. Leony teve dois irmãos: o advogado Nelson Bittencourt Prado casado com Nelly, e Neida casada com Lineu, ambos falecidos. “Meu pai foi apaixonado pelos Campos do Mourão. Para cá veio a cavalo em 1922. Adquiriu posses de terra no descampado onde hoje está a região do grande Jardim Lar Paraná e construiu serraria na localidade de Barras, lado esquerdo da estrada que demanda a Farol, antiga trilha estreita dos índios. Tanto amava Campo Mourão que, quando casei com o Cely, em 1950, ele e minha mãe nos trouxeram com a mudança para morarmos aqui."
 
Primeiro advogado e jornalista de Campo Mourão

Campo Mourão antes - Em 1949, ainda solteira, eu e papai viemos visitar a pequena vila de Campo Mourão. Existiam poucas casas feitas de madeiras brutas, cobertas de lascas de pinho. Hospedamo-nos no Hotel Central de Eugênio Zaleski, que também era agrimensor. Papai tinha mais dois amigos aqui: o madeireiro Belim Carollo e o Inspetor de Terras do Estado, Sady Silva. Meu pai também foi auxiliar do 7º Comissariado de Terras, em Guarapuava.
Eu ficava maravilhada com o por do sol dourado-rubro forte, sobre o imenso descampado. A praça era um capão de mato, árvores nativas e no meio dela tinha um poço comunitário de uns vinte e cinco metros de profundidade, do qual as famílias retiravam a água com uma corda e manivela (sarilho) e a transportava em baldes e latas".

O que tinha - "Havia só duas casas de comércio: o Armazém Santo Antonio da dona Margarida Wakin (onde está a Tim) e a Casa Iracema do Geremias Cilião de Araújo (na esquina da Rua Brasil com Avenida Irmãos Pereira), (hoje Ed. Casali). O traçado da cidade se resumia ao centro, entre as ruas Araruna e Ceará (atual Harrison José Borges) e as avenidas Capitão Índio Bandeira e Irmãos Pereira. Isolada, na outra quadra, estava a igreja de São José, toda de madeira e, ao lado esquerdo, a casa do padre Aloysio. O restante era tomado pela mata e capoeiras do cerrado, mas era tudo muito lindo”, recorda Leony.

Estudos – “Minha família era de posses. Sou a filha caçula. Tive uma infância feliz e encantadora. Tudo do bom e do melhor. Meu pai lutava para dar conforto à família. Tínhamos muitos parentes e nos reuníamos seguidamente. Fiz o Jardim da Infância aos cinco anos de idade. Ia de chupeta na boca, muito pequenina. Minha primeira professora era a tia e madrinha, Zoraíde Bittencourt Rocha. Tive aulas, depois, com as professoras Jandira Bastos e a prima Eroni Bittencourt Ribas casada com Domingos Maciel Ribas, o qual construiu o atual Clube 10 de Outubro e foi presidente por muitos anos.

Primeiramente estudei no Grupo Escolar Visconde de Guarapuava. Em Curitiba fiz o Exame de Admissão e os dois primeiros anos de ginásio na Escola de Professores (Instituto de Educação) perto da Praça Zacarias e, em 1943, conclui o ginasial no Colégio Nossa Senhora de Lourdes, das freiras, situado entre os bairros Cristo Rei e Cajuru, onde muitas meninas mourãoenses também foram estudantes internas.
Durante a Escola de Professores, onde tive excelentes mestres, como: Erasmo Pilotto (Secretário de Estado da Educação) e a poetisa Helena Kollody, fui pensionista interna do Colégio São José, na Praça Rui Barbosa. Em 1945 me formei professora, apta a lecionar."

Professora - “Retornei à Guarapuava. Sozinha consegui minha nomeação pelo Estado contra a vontade de papai que não queria que eu trabalhasse. Comecei a lecionar as quatro matérias do curso primário na Escola Visconde de Guarapuava, onde estudei quando menina.
Em Campo Mourão minha primeira aula, à tarde, foi dia 15 de fevereiro de 1950, em uma salinha anexa à velha prefeitura de madeira defronte a Praça 10 de Outubro (atual Getúlio Vargas). Meus alunos eram cerca de dez crianças que foram, festivamente, me buscar em casa. Chegando na escolinha a porta não abria e o secretário municipal Casimiro Biaico, gentilmente veio me dar as boas vindas e ajudou a abrir. A professora Dulcia Delatre lecionava pela manhã. Era Escola Isolada e só tinha do primeiro ao terceiro ano primário.

Em 1952 inauguramos duas salas de aula no Grupo Escolar de Campo Mourão criado e mantido pelo Estado, no fundo do pátio da atual prefeitura. Eram professoras: Eroni Maciel Ribas, Lady Amaral, Nair Amaral, Adelaide Amaral e eu. A diretora era a Jorinda Santos Portela, esposa do médico e prefeito Daniel Portela, que residiam em Peabiru, patrimônio de Campo Mourão."


Leony Bittencourt Prado e o Secretário Pedro Cânido (Candinho) do Estado

Em 1957 "saiu uma circular do Estado exigindo que as escolas tivessem nomes. Eu, apaixonada pelo sertanista e professor Cândido Mariano da Silva Rondon sugeri o seu nome e foi aprovado", dentre outros.
No decreto ficou Escola Marechal Rondon, hoje Colégio Estadual Marechal Rondon, cuja construção acompanhamos com o mestre-de-obras Basílio Ochrim, desde o lançamento da pedra fundamental até a inauguração.
A casa de madeira anexa a prefeitura antiga passou a ser a Escola Normal Regional Emiliano Perneta, com aula inaugural proferida por Diva Vidal, que era a Chefe do Ensino Normal do Paraná e a primeira diretora a professora Dircyra Torres Ragugnetti, esposa do farmacêutico Nilo Ragugnetti".
"Também foi fundada a Escola Normal de (formação) Professores, denominada João d’Oliveira Gomes, nome do pai da primeira diretora a Dúlcia Delatre, esposa do agente da Real - Aerovias Brasil, seu Roget Delatre".

Diretora - "Assumi a direção do Colégio Marechal Rondon, oficialmente, em 30 de novembro de 1955 e me aposentei pelo primeiro padrão em 14 de novembro de 1985, mas continuei com meu trabalho de auxiliar do segundo padrão. Minha sucessora foi a linda e profissional professora Eugênia Inês Mauro Teixeira”, narra Leony.

Facilcam – “Muito me orgulho de pertencer à primeira turma de formandos do curso de Pedagogia (licenciatura curta) da Faculdade de Ciências e Letras de Campo Mourão (Facilcam), depois Fecilcam. Hoje estou aposentada pelos dois padrões do Estado, feliz, certa que cumpri minha missão, amando minhas amizades e Campo Mourão, onde quero ficar para sempre com o meu querido Cely, marido que adoro. Somos muito unidos, vivenciamos e crescemos juntos com Campo Mourão, uma cidade abençoada”, enfatiza a professora Leony Bittencourt Andrade, no auge dos seus mais de 70 anos, com incrível memória e vitalidade.

Homenagens – Leony Bittencourt Andrade é a primeira mulher a receber o Título de Cidadania Honorária de Campo Mourão (14/11/1984). Realizou o Baile do Piano em 8 de julho de 1961 no Clube 10 de Outubro a fim de comprar o instrumento para a escola. No dia 18 de maio de 2002 recebeu a homenagem de 50 Anos de Magistério conferida pelo Colégio Estadual Marechal Rondon, no Clube 10 de Outubro.


Homenagem aos 50 anos de magistério da professora Leony Bittencourt Andrade,
no Clube 10 de Outubro de Campo Mourão

Herança - “Ser professora está no meu sangue. Minha avó espanhola, Bibiana Birriel de Bittencourt foi a primeira professora em Guarapuava e seu nome está em uma das escolas mais importantes da minha cidade natal. Meu avô era francês, José de Bittencourt". 

Rondon - "Eu sou tão apaixonada pelo professor Cândido Rondon que um dia teve uma pesquisa lá no colégio e dentre outras perguntas tinha esta: quem é Marechal Rondon? Teve um aluno que respondeu: é o marido da professora Leony”, gargalhadas. 
“Sou felicíssima em Campo Mourão, que não troco por lugar nenhum do mundo”, reafirma Leony. "Gostaria que publicasse a história dele (Rondon), com a minha, se possível", sugeriu a querida professora.

Manoel Andrade em Campo Mourão

Manoel Andrade, o Cely, nasceu dia 02 de Outubro de 1922, em Castro (PR). Filho de Hernância Quadros e Pedro Rodrigues de Andrade. 
“Meus pais eram pessoas humildes e os perdi muito cedo. Devo toda minha educação à minha irmã, professora Maria Antônia. Meu pai era músico, alfaiate, barbeiro e faleceu quando eu tinha cinco anos. Minha mãe sofreu para nos criar e morreu quando eu estava com dezessete anos. Éramos seis irmãos: Maria Antônia (Marica), Aracy (Zizi), Jacy (Bem), Alice, Sezinando (Nito) e eu o caçula”, rememora Manoel.


Familiares de Leony e Manoel no dia do casamento

Menino ou Menina? – “Há poucos anos atrás conseguimos reunir a irmandade. Lembramos que a Marica queria me batizar de Elcely. Quando nasci a parteira nem olhou meu sexo. Me enrolou em um pano e entregou à minha mãe dizendo: é mais uma menina”, conta Manoel rindo muito. “Mas, ao me dar a primeira mamada, me descobriu, conferiu e viu que eu era menino” risos. “No batizado o padre não gostou do nome que a Marica tinha me dado como Elcely e trocou por Manoel. Detesto o meu nome, não gosto mesmo. A família toda me chama só de Cely. Certa vez vieram me visitar. Perguntaram onde morava o médico antigo da cidade, doutor Cely. Ninguém soube explicar porque não me conheciam por este nome. Depois de muitas explicações alguém informou onde morava o doutor Manoel, marido da professora Leony”, risos.

Formação – “A Maria Antônia era professora e me ensinou a ler e escrever. Em Ponta Grossa, onde moramos depois de Castro, tem a Escola Maria Antônia Andrade. Ela criou a cartilha Minha Terra. No início ela fazia uma para cada estudante, à mão. Depois, impressas em gráfica. Conclui a segunda etapa de estudos no Ginásio Regente Feijó, que na época durava cinco anos. Desde criança gostava de medicina. Um dia o inspetor de ensino estadual, Antonio Tupy Ribeiro visitou nossa sala e fez perguntas. A mim indagou o quê gostaria de ser? Respondi: vou ser doutor! Ele insistiu: mas, doutor em quê menino? Falei: operador-parteiro! Foi uma risada só. Doutor para mim era quem dava remédio e curava as pessoas”, justifica-se Manoel.

Em Curitiba – “Quando terminei o ginásio pedi à Marica para estudar Medicina em Curitiba e morar com meu irmão Sezinando. Ela disse-me que custava caro, que ia me ajudar, mas primeiro eu teria que estudar para professor: se uma profissão não der certo, a outra dá, explicou-me ela. Tirei o diploma de professor na mesma escola da Leony.
No início lecionei no Regimento de Infantaria do Boqueirão e ganhava cem mil réis (100$000) por mês. A pensão onde morei, na Rua Ébano Pereira, dona Josefa cobrava cento e vinte (120$000), pechinchei e consegui pelos cem, mas fiquei zerado".

Estava Duro - Depois dei aula no Grupo Escolar Professor Cleto, no centro. Meu futuro cunhado, Nelson Bittencourt Prado era sub-chefe da inspetoria do IBGE. Pedi para trabalhar lá. Ele prometeu, mas demorou. Sempre justificava que queria me arrumar algo bom. E eu precisava qualquer coisa acima dos cem mil réis. Ele falou: olha, tem uma vaga aí, mas só pagam quinhentos mil réis”, risos. “Era o que eu mais queria. Ali progredi e aliviei minha irmã. Nesse meio tempo, para ajudar a pagar meus estudos trabalhei de oficial de alfaiate. Também tocava cavaquinho que minha madrinha me deu quando garoto e que aprendi executar nas rodas de samba, na cadeia, com os presos, perto da nossa casa em Ponta Grossa”, relembra com saudade.

Manoel Andrade colou grau da UFPR, a duras penas

Medicina – "Me formei em Medicina pela Universidade Federal do Paraná. No último ano, naquele tempo eram seis anos, adoeci. Problemas sérios de saúde. 
O IBGE me deu dois anos de licença remunerada. Na universidade era época dos exames finais. Não podia perder. Consultei o meu professor, médico Mário Braga de Abreu e ele me disse que tinha que operar no dia seguinte. Mandou me internar. Falei dos exames que iria perder e não podia. Ele disse: o estudo espera, a morte não! E fui pra faca. Restabeleci minha saúde na casa das minhas irmãs. Engordei vinte e dois quilos, pois só comia, passeava e dormia. A vizinhança começou fofocar, que eu era um vadio e que ia viver às custas das irmãs. Desconheciam meu problema, gente maldosa. Mas eu ganhava do IBGE. Encabulei com as fofocas e voltei à Curitiba.
No retorno tentei concluir a Medicina. Meu cunhado, médico do exército, Lineu Beltrão se empenhou, falou de professor em professor e consegui uma bancada examinadora. Fui aprovado. Colei grau com a turma de 1948. 
Pedi demissão do IBGE. Estagiei oito meses no Hospital de Castro, mas o médico já meio velhão tinha quatro enfermeiras muito bonitas, não me deu chance de trabalhar. 
Eu era moço e bonito (rindo) nada vaidoso. Ele me barrava e não permitia que eu atendesse os doentes. Não sei se por medo de o superar na profissão ou ciúmes das funcionárias”, risos. 

Convite ao Casamento de Leony e Manoel Andrade

Casamento - “Namoramos durante nove anos sem nunca nos tocar um dedinho. Nos pegamos nas mãos dia 18 de dezembro de 1948, na formatura do Cely, mesma data do nosso noivado, quando colocamos as alianças nos dedos. Foi no salão da mansão da minha irmã Neyde Prado Beltrão e do meu cunhado, então capitão do exército, Lineu Beltrão, em Curitiba, onde hoje está a Telepar." revela Leony. 


Manoel e Leony demoraram 9 anos pegar na mão
casaram e vieram trabalhar em Campo Mourão

Tremi - "Antes do almoço, tínhamos voltado da missa e estávamos todos reunidos na sala. De repente o Cely disse que queria falar com meu pai. Falou, gaguejou e pediu minha mão. Corri... Sumi para dentro de um quarto e me tranquei. Tremia. Papai consentiu e o Lineu foi me buscar, me deu o braço, me apoiei e vim. A turma gritava: abraçaa... abraçaa!!! Colocamos as alianças e pela primeira vez, depois de quase dez anos de namoro, nos tocamos. Foi servido um banquete, sentamos lado a lado, e foi aquela festa”, conta feliz.


Casamento de Manoel Andrade e Leony Bittencourt Prado

1950 - “Casamos dia 14 de janeiro de 1950, na Igreja de Belém, em Guarapuava. Tivemos uma festa íntima em casa e nossa lua-de-mel foi no balneário de Caiobá (PR), foi tudo muito lindo”, arremata Manoel, opss, Cely.

Orgulho - “Temos uma filha maravilhosa, Joana d’Arc e dois netos lindos: Carolina e Victor nascidos nos Estados Unidos”, orgulha-se Leony ao lado de Manoel.


Joana D'Arc e os filhos Victor e Carolina

Campo Mourão - “Voltamos da praia, ficamos na casa de meus pais, e dia 06 de fevereiro de 1950 rumamos para Campo Mourão. O pé-de-bode (Ford/28) de papai ia na frente e o caminhão da minha mudança atrás, conduzido pelo mecânico Antenor Stadler, que depois abriu oficina mecânica e morou em Campo Mourão. Quando meu pai falou que íamos residir em Campo Mourão, só eu e o Cely, chorei e pedi para não virmos".


 
Por do Sol em Campo Mourão - PR

Aí ele me fez lembrar do por do sol que eu amei. Meu pai se referia a Campo Mourão como o Eldorado do Paraná, sem nunca ter morado aqui. A princípio residimos em uma casa de madeira, onde morou a Eunice Albuquerque, abaixo da Livraria Delta. Depois mudamos em uma casa melhor, mas abaixo um pouco, na esquina da Avenida Capitão Índio Bandeira e a Rua Devete de Paula Xavier, n° 1793, onde residimos até 10 de dezembro de 1979”, localiza Leony. 

Muitos teco-tecos, quando ainda não tinha postes, aterrizavam neste rua em meio a uma nuvem de poeira que levantava com o vento forte das hélices. Eu não vencia limpar a casa e lavar roupas. O pó grudava e encardia. Não existia roupa branca usada que resistisse. Encardia tudo, reclama Leony.

Consultórios - “Nossas casas também foram consultórios e como não havia vidraça eu colocava lençol nas janelas para não olharem lá de fora”, explica o Dr Manoel.
O Bortolo Gava era dono da Serraria Santa Margarida em Peabiru e construía casas para vender em Campo Mourão. “A casa papai nos deu de presente de núpcias. Na primeira casa, quando encostamos a mudança estava uma sujeira enorme, latas de tinta, muita poeira, um fogão de tijolo enorme. Eu não queria ficar. O Antenor buscou dois tambores de água no Rio do Campo, lavou tudo e minha mãe ajudou a arrumar os móveis".
Fiz um café e jantamos a farofa da viagem. Em volta não tinha cerca, nem luz, nem água, naaaada!
Quando vi a casa arrumadinha me animei. Meus pais ficaram conosco vários dias e depois se foram. Desmamei, risos. 
Daí em diante eu e o Cely iniciamos a nossa luta, sozinhos. Sofremos as dificuldades, mas vencemos”, diz orgulhosa.


Pioneiros - Delbos Zola foi o primeiro médico e Carlos Boenig o primeiro laboratorista de Campo Mourão. O segundo, Daniel Portela. O terceiro, Leopoldino Ferreira, irmão do doutor José Carlos Ferreira. O quarto, Manoel Andrade e o quinto José Carlos Ferreira, que veio para ficar em lugar de seu irmão. 
Porém, efetivamente, o primeiro a se fixar em Campo Mourão é Manoel Andrade e até pouco tempo em atividade como Auditor do Sistema Único de Saúde (SUS) junto à Secretaria Municipal da Saúde de Campo Mourão. 
Doutor Manoel foi o primeiro médico do Posto de Higiene do Estado, na primeira construção em alvenaria da cidade, onde está o Museu Municipal. 


Manoel Andrade atendia toda Campo Mourão a cavalo

Médico paladino - “No início visitava os clientes a cavalo. Era tudo longe. Tinha dia que eu cavalgava tanto, chegava travado, não conseguia desmontar e a Leony me auxiliava. Colocava uma cadeira e eu escorregava do lombo do cavalo".

Quando não tinha luz, usava flash fotográfico para operar. Desde o início tive bons instrumentos cirúrgicos, do meu cunhado, que trouxemos na bagagem.
O que mais gosto de fazer é parto, quero dizer: participar do surgimento da vida. O primeiro parto que fiz foi nas Barras, na estrada do Pinhalão do Oeste (Farol). O segundo seria além de Araruna. Mandaram me buscar de carro. Ia cobrar um pouco mais de trinta mil réis. Eu estava recém chegado e precisava de uns trocos. Um cavaleiro me esperava no centro de Araruna que era um miolinho. Disse que a criança já tinha nascido e estava bem. Pensei: pronto, lá se foi o dinheiro! O cavaleiro ainda perguntou: quanto lhe devo doutor? Respondi: nada, eu não fiz nada para receber! Demos meia volta no carro, o cidadão tocou o cavalo, emparelhou conosco e jogou uma nota de 500$000 no meu colo, agradeci, ele rodopiou nas patas do cavalo e sumiu na poeira da estrada. Divida 500 por 30 e veja quanto me deu." (sorrindo). 500 mil réis era meio milhão, na época. Muito dinheiro. 

O parto mais difícil - "Uma noite o abnegado  Belim Carollo encostou a camionete junto com um caboclo, em frente da minha casa. Pediram e fui atender um parto dificílimo. Chegamos no rancho. Entrei. Luz de lampião. Vi uma mulher deitada no chão de terra. Quase morri de pena. A parteira estava ali. A criança demorou mas nasceu, porém houve retenção da placenta. Aqui não tinha recursos. Era morte certa. Levar à Maringá não dava tempo. Eu tinha que arriscar. Isso se faz com anestesia geral porque a dor é muito grande. Só tinha uma ampola de morfina na valise e apliquei. Pedi sabonete e me deram sabão bruto. Pedi álcool e me deram cachaça. Lavei, escovei bem a mão e o braço direito e mandei a parteira segurar as pernas e o marido a cabeça e os braços da mulher.
Pedi: não deixem ela por as mãos em mim de jeito nenhum. Vai me travar!
Iniciei o trabalho. Com dificuldade abri o útero com os dedos. Pensei: o caboclo vai me pagar bem! 
A mulher gritava e ele a consolava: callmaaa... este é o médico dos pobres, nem vai cobrar! 
Aí percebi tudo. Fiz o trabalho perfeito, despedi-me e vim embora com seu Belim que esperou-me, pacientemente, lá fora sem saber de nada do que se passou dentro da tapera. 
Passados dias - um mês talvez - o pai da menininha  veio nos visitar e trouxe um frango de presente”, recorda, rindo muito. "Vim lhe pagar, doutor!" Agradeci e ele se foi. Soltei o frango o danado sumiu. Nosso quintal não tinha cerca!"


Nosso Hospital São Pedro de Campo Mourão
esquina da Av MM Camargo com R. Roberto Brzezinski

Recebeu em camas - “Na década de 50 fui médico contratado do pessoal que construiu a Usina Mourão I e da Indústria Cama Patente, que inclusive forneceu madeiras e camas de molas para construirmos, particularmente, o Hospital São Pedro, em sociedade com meu amigo, médico dos mais competentes que já conheci, Dr; José Carlos Ferreira casado com a linda professora, Mariazinha.
Como te disse, Pedro era meu pai, e o nome do hospital é minha homenagem a ele”, registra o filho Manoel.

O Papa Yanke Manoel Andrade 
de Campo Mourão para o Mundo

P Y – “Minha paixão é o Radioamadorismo. Há mais de cinquenta anos converso pelo rádio com amigos do mundo inteiro. Criei uma rodada (reunião) de companheiros faz 32 anos e todas as manhãs conversamos sobre tudo um pouco”, fala da sua terapia e a forma que tem para divulgar Campo Mourão aos quatro cantos da Terra.

Manoel Andrade, Antonio Teodoro de Oliveira e José Carlos Ferreira
honrados por Campo Mourão

Manoel Andrade é Cidadão Honorário de Campo Mourão, Honra ao Mérito da Associação Médica do Paraná, do Rotary Club e Jubilado de Ouro da Assembléia Legislativa do Paraná.
“A melhor coisa que aconteceu em minha vida é ter vindo para Campo Mourão, graças ao esteio da minha irmã Marica, do apoio do meu sogro e do grande companheirismo da minha esposa, que também recebeu muitas homenagens”, agradece Manoel.

Leony e Manoel duas vidas inteiras dedicadas a Campo Mourão

Dr. Manoel Andrade faleceu dia 10 de novembro de 2015 (terça-feira), com 93 anos de idade. Além da esposa Leony deixa a filha Joana D’Arc e os netos: Victor e Carolina. Seu corpo está sepultado no Cemitério Municipal São Judas Tadeu, em Campo Mourão - PR.  


... 

Cândido Mariano da Silva 

O Marechal Rondon 


Marechal Rondon (1865-1958) foi militar e sertanista, idealizador do Parque Nacional do Xingu e Diretor do Serviço de Proteção ao Índio. Integrou a Comissão Construtora de Linhas Telegráficas, atravessou o sertão desconhecido, na maior parte habitado por índios bororos, terenas e guaicurus. Abriu estradas e escolas, expandiu o telégrafo e ajudou a demarcar as terras indígenas.
Rondon nasceu em Mimoso, hoje Santo Antônio de Leverger – MT, dia 5 de maio de 1865. Filho de Cândido Mariano e Claudina Lucas Evangelista, neta de índios Bororos. Seu pai morreu sem conhecer o filho. 
Em 1873 foi a Cuiabá, levado por um tio que era Capitão da Guarda Nacional. Estudou na Escola Mestre Cruz e no ano seguinte na Escola Pública Professor João de Albuquerque. 
Em 1879 entrou para o Liceu Cuiabano e em 1881 formou-se professor.
Em 1881 foi para a Escola Militar no Rio de Janeiro. Com autorização do Ministério da Guerra, Cândido Mariano da Silva acrescentou o sobrenome Rondon, em homenagem ao tio que lhe criou de nome Manuel Rodrigues da Silva Rondon.
Em 1884, Rondon já estava habilitado para fazer o curso superior.
Em 1888 foi promovido a alferes-aluno e, nesse mesmo ano, o governo imperial fundou a Escola Superior de Guerra, para onde foi transferido.
Em 1889, após a Proclamação da República e Abolição dos Escravos, Rondon foi nomeado ajudante do Major Gomes Carneiro e integrou a Comissão Construtora de Linhas Telegráficas, com a finalidade de ampliar as comunicações entre o Rio de Janeiro (Capital do Brasil) e Cuiabá - MT, entremeio Uberaba MG e Goiás - GO. Residente no Rio de Janeiro, através do Observatório Nacional, no morro do Castelo, Rondon determinava as coordenadas geográficas por onde as picadas e linhas telegráficas deviam ser  instaladas.

Em 1890 foi a Cuiabá e graduou-se capitão-engenheiro e logo passou a chefiar o grupo que fazia levantamentos topográficos pelos sertões do bravio oeste brasileiro. Em companhia de destemidos vinte soldados, atravessou matas virgens desconhecidas, habitadas por tribos bororos, pacificadas e alfabetizadas por ele.
1892, dia 1 de março casou no Rio de Janeiro com Francisca Xavier; teve seis filhas e um filho. Pediu demissão do cargo de professor, dedicou-se inteiramente às expedições de engenharia militar e, dia 6 de março, retornou a Cuiabá com a esposa.
Em 1899 chefiou a comissão destinada a estender linhas telegráficas de Cuiabá a Corumbá até os limites com a Bolívia e o Paraguai. Com a ajuda dos bororos, que abriam picadas e erguiam os postes, os trabalhos prosseguiam céleres.
Rondon nominou diversos rios, serras, vales e lagos, mapeando a região e anotando pontos referenciais. 

Em 1906 ligou Cuiabá ao Acre. Nessa expedição teve o primeiro contato com os índios parecis e nhambiquaras, tidos como agressivos e antropófagos, mas foi, pacificamente, recebido com sua comitiva. 
Antes de cada contato com os selvícolas, ele deixava muitos presentes pendurados nas árvores e, assim, os conquistava, sem violência.
O desbravamento continuou e a pacificação só foi conquistada quatro anos depois, em 1910 quando, dia 2 de março, durante o governo de Nilo Peçanha, foi convidado e assumiu a chefia do Serviço de Proteção ao Índio, criado oficialmente naquele ano.
Em 1919, promovido a general de brigada, foi nomeado diretor de Engenharia do Exército.
Em 1952, seu projeto de criação do Parque Nacional do Xingu finalmente foi aprovado.
Em 1955, chegou ao posto maior de marechal e, ao ex-território de Guaporé, foi dado o nome de Rondônia, em sua homenagem.
Em cada aldeia que passava, improvisava uma escola ao ar livre e alfabetizava seus habitantes. Quando partia deixava um índio letrado como ‘professor’ por ele designado, que dava continuidade à missão de ensinar a língua brasileira e a usar os números.
Rondon – como gostava de ser chamado - faleceu marechal no Rio de Janeiro, dia 19 de janeiro de 1958, com 93 anos de idade.


/\º/\

Um comentário:

  1. Tenho muito orgulho dessa grande professora.Gostaria muito de saber noticias dessa tão querida mestra.
    Ana Maria

    ResponderExcluir