12/04/2011

São Thomé passou por aqui??



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Entre o litoral do Brasil, Assunção (Paraguai), Bolívia e o Peru, os nativos diziam existir pegadas de um pregador carismático, a quem chamavam de "Pai Zumé" na grande província espanhola del Guayrá, e de "Pay Xumé" na terra andina dos íncas.
Não tinham escrita e contavam - de pai para filho - alguns ensinamentos do pregador, como o de que: "a doutrina que eu agora vos prego, perdê-la-ei com o tempo. Mas, quando depois de muitos tempos, vierem uns sucessores meus, que trouxerem cruzes como eu trago, ouvirão os vossos descedentes essa doutrina".

A citação foi feita em 1639 pelo padre jesuíta Antonio Ruiz de Montoya, que, percorrendo o sertão paraguaio e o atual Estado do Paraná, acompanhado de sua cruz, procurava remontar os passos de "Pai Zumé", visitando locais onde existiam pegadas centenárias, que ele, unindo suspeitas próprias às lendas dos indígenas, acreditava ser do apóstolo São Tomé - aquele que quis ver as chagas de Cristo na primeira aparição deste aos apóstolos, após a ressurreição, como ensina a Bíblia.

Os nativos que transmitiam a lenda ao longo do tempo foram os primeiros a sensibilizar-se com a causa cristã, ao ver os jesuítas aparecerem em suas aldeias, condenando os enormes haréns e obrigando todos a se batizar, assistir missas, rezar, cantar etc.

Tendo ou não cruzado a região há quase dois mil anos atrás, pregando, São Tomé e sua lenda ajudaram em muito a implantação das primeiras reduções que iriam constituir a florescente república que atualmente poucos conhecem - a dos guaranis, nosso primeiro estado industrial, cultural e militar na América Latina, com bases teocráticas.


As Peregrinações de Thomé

 Na África - Em 21 de dezembro de 1470 (Dia de São Thomé), os portugueses João de Santarém e Pero de Escobar, no arquipélago frontal à Guiné Bissau (África) fundaram São Tomé e Príncipe, duas ilhas de uma só República Democrática abençoada sob o signo do Santo Apóstolo.


 Na Índia - No século XVI, a peregrinação ao túmulo de Thomé, na Índia, era mais intensa que ao de Thiago, apóstolo-guerreiro sepultado em Compostela (Espanha). Assim como no Brasil, até o século XVII quando Espanha dominou Portugal.

Não foi novidade para os portugueses as informações sobre a tumba de apóstolo-atleta na Índia, fato que já era muito citado na Europa durante a Idade Média, inclusive, pelo lendário navegador, Marco Pólo, em suas mirabolantes viagens e descobertas orientais.
Santuário de São Thomé de Meliapor (Índia), construído por D. Nuno da Cunha no local da morte e do sepulcro do Apóstolo Atleta. 

 As relíquias encontradas e a sepultura do Apóstolo Thomé,
estão protegidas no museu do mosteiro de Leipzig.

Na América - O apóstolo Thomé, aquele que só acreditava no que via e tocava, esteve na América do Sul e realizou feitos memoráveis. Quando os portugueses chegaram à Índia, ouviram informações do povo nativo, sobre as pegadas deixadas pelo apóstolo Thomé em diversos lugares do Oriente, as quais também foram encontradas quando da descoberta da América, mais notadamente no Brasil, Paraguai, Bolívia e Peru, pelo trajeto secular do Peaberu. o Sagrado Caminho de São Thomé.

Mapa Peregrino de São Thomé

O Caminho do Peaberu, estreita estrada primitiva, com cerca de cinco mil quilômetros, que une o litoral brasileiro ao altiplano peruano, era intensamente usado, conservado e defendido pelos povos das nações Tupi, Guarani e Inca, que tinham um certo domínio ascendente sobre as demais tribos, obra estradeira atribuída aos conhecimentos de São Thomé, pelo qual deixou marcas de sua passagem.

Notíicias - A primeira ocorrência sobre a presença de São Thomé no Brasil foi publicada em 1507, no mapa do alemão Waldseemüler, onde registra, claramente: Serra S. thome, S. pauli e S.vincete acima do Rio de cananoni.


A primeira versão conhecida da presença de um discípulo de Jesus em terras sulamericanas é citada pela Nova Gazeta Alemã, que se reportou à viagem do navio armado por Dom Nuno Manuel e Cristóvão de Haro, á América, e que no dia 12 de outubro de 1514 atracou de volta, na Ilha da Madeira.
A notícia publicada na Alemanha foi filtrada pelo editor, que estava a bordo daquele navio, ao ouvir o que os tripulantes falavam da costa atlântica brasileira e dos nativos ali encontrados aos milhares, os quais se referiam ao homem branco Sumé e às recordações de São Thomé passadas de geração a geração, acrescentando na matéria, que os silvícolas até: ”quiseram mostrar aos portugueses as pegadas de São Thomé no interior do país. Indicam também que têm cruzes pela terra adentro. E quando falam de São Thomé chamam-lhe o deus pequeno, mas que havia outro deus maior (...). No país chamam freqüentemente a seus filhos Thomé", e citam o pregador como Pay Sumé, Xumé ou Zumé.

A peregrinação e as obras de São Thomé se difundiram rapidamente e de tal forma que, em 1516, no Brasil-Colônia comentava-se da sua passagem pelas trilhas do Peaberu, de costa a costa da América do Sul, caminho que, segundo jesuítas, foi aberto pelos nativos sob orientação técnica do Santo Apóstolo.

São Tomé- PR - Entre Terra Boa e Guaíra tem uma cidade com nome que honra o santo, a qual surgiu a beira do Caminho do Peaberu

Campo Mourão – PR - Existe a Gruta da Santa Cruz (Campo Mourão - PR), à margem do Caminho do Peabiru, que guarda restos do cruzeiro de cedro, que se acredita, foi “plantado” por São Thomé Apóstolo.

Wille, Rose e Sinclair dentro da Gruta

A gruta substituiu a centenária capelinha de pau-a-pique, que sofreu um incêndio em 1960 e, no mesmo lugar, foi erigida uma gruta de pedras, pelo devoto, Ville Bathke, de saudosa memória, que guardou a relíquia em seu interior e sonhava em construir um santuário consagrado a São Thomé, neste local.
Testemunhas contemporâneas relatam benesses e milagres recebidos por muitos mourãoenses neste espaço sagrado, que se destaca no Cerrado Mourãoense – quase esquecido - onde existe um longo trecho do Caminho e a marca da passagem da trilha milenar, pelo raso do Ribeirão 119, em direção ao Município de Peabiru-PR.

As pegadas - Existem registros de pegadas de São Thomé cravadas em rochas de diversos lugares do litoral brasileiro: Cananéia/São Vicente (SP), Itapoá (BA), na praia do Toque Toque; Itajuru (RJ) próximo a Cabo Frio e Paraíba, onde Frei Jaboatão, da Congregação dos Frades Menores, afirmou que viu pegadas no lugar do Grojaú de Baixo, há cerca de 42 km de Recife (PE), Cruzeirinho em Farol (PR)  e em Alto Alegre próximo a Campo Mourão.

Infelizmente o hábito dos crentes em Thomé, que tem o costume de agredir as pedras marcadas, fragmentá-las e fazer relíquias sagradas, fez desaparecer a maior parte dessas formas em baixo relevo. A história registra, que estas rochas serviram, inclusive, de referenciais em documentos oficiais, como as cartas de doação de terras pela coroa portuguesa aos fidalgos donatários. O padre Manoel da Nóbrega, em Cartas ao Brasil (1549), afirma ter visto junto a um rio, “as marcas pisadas de Sumé”.


Os famosos vestígios de cruzes e pés humanos calcados em pedras foram mostrados pelos índios aos primeiros portugueses, que chegaram ao Brasil. Em alguns lugares, como em São Gabriel da Cachoeira (AM), os moradores, ainda hoje depositam velas e fazem preces em torno de uma forma de pegada cravada em uma rocha. Uns a atribuem a um anjo, outros a Pay Sumé.
Inscrições iguais são encontradas na Bolívia, Brasil e Peru, atestam a presença do apóstolo místico, que partiu em direção aos Andes pelo Sagrado Caminho do Peaberu, que São Thomé ensinou os nativos a construí-lo, com arte e primor.

Peaberu de São Thomé, trecho recuperado perto de Pitanga - PR

Está longa estrada primorosamente conservada passou a ser conhecida em Portugal como o Sagrado Caminho de São Thomé, visitado e largamente usado pelos europeus depois das travessias de Alejo Garcia, Pero Lobo, Cabeza de Vaca e outros aventureiros castelhanos e lusitanos, nos séculos XVI e XVII. Nessa época o Caminho de São Thomé era mais famoso que o de San Thiago de Compostela.

Compostela

Guaranis, tupis e incas se referiam à memória do misterioso Thomé como: “um homem, alto, branco, barbado, portador de uma pesada cruz e da nova doutrina cristã”, apontado pelos jesuítas como o santo civilizador dos povos mais distantes da Terra Santa.
Segundo narrativas indígenas, “Pay Sumé se entristeceu com a situação hostil e adversa, e foi embora por sobre as águas do oceano”, da mesma forma como veio à América.

Mulher Carió oferece alimento ao viajor

No Brasil era venerado há centenas de anos, bem antes da dita descoberta do Novo Mundo.
Ensinou aos nativos sulamericanos o cultivo da terra, os princípios morais e de respeito humano. Em algumas tribos seus ensinamentos foram rejeitados violentamente, a ponto do Apóstolo ser ameaçado de morte e agredido diversas vezes, como ocorreu entre os tupinambás de onde fugiu. Perseguido pelos ferozes canibais, atravessou o Brasil, Paraguai, Bolívia e Peru, cumprindo sua missão evangélica.

O Apóstolo – pelas feições, foi identificado na Índia, Ceilão, Camboja e na costa da China, convertendo os povos orientais ao cristianismo. É possível apontar muitas semelhanças entre o lendário Chimé conhecido pelos budistas da cidade sagrada de Angkor Vat (Camboja) e o Pay Sumé, Zumé, Zomé ou Xumé, dos nativos da América do Sul.


Cultos primitivos - Entre os tupinambás visualiza-se o culto à Monan, uma espécie de deus semelhante ao cristão. Mas existia um outro chamado Maire (o transformador). Tido como um espírito desenvolvido e conhecedor da natureza, sua ação civilizadora se manifestou na introdução da agricultura entre os avós dos tupinambás e outros povos nativos, aos quais ensinou o trato à terra e lhes entregou sementes de vegetais, para germinar e produzir a alimentação de seus descendentes, exatamente como fez Sumé com os guaranis, Zumé com os incas, Zomé entre os tupis e Aimará com os aimorés e tamoios, que foram encontrados pelos descobridores, cultivando e colhendo: milho, mandioca, feijões, abóboras, erva-mate e plantas medicinais. Conhecido como “transformador” dos usos e costumes primitivos, aos que não o obedeciam se impunha de maneira severa e isso ele fez, por vezes, de maneira cruel, provocando revolta e ódio contra si, de selvagens que não aceitavam os castigos e mudanças de hábitos arraigados e, irados contra Sumé, pelas punições e “transformações”, tentavam matá-lo.

As crenças e cultos a maire-monan ou Pay Sumé, entre os nativos brasileiros foram constatados e registrados pelos jesuítas, que viam em Sumé a figura de São Thomé, um espírito superior que fora, há centenas de anos, guia dos povos nativos da América. Alguns loyolistas se diziam sucessores do Apóstolo e a maioria dos selvagens acreditava, porque conheciam a profecia transmitida às gerações anteriores.
Para os nativos locais, Sumé também impôs algumas leis severas, condenando a poligamia e o canibalismo.


São Thomé das Letras MG) (foto) é uma cidade mística, edificada sobre uma montanhas de pedras - as mesmas utilizadas na construção de casas, no calçamento das ruas, no feitio do artesanato e de utensílios domésticos. Isso dá razão a um dos nomes pelos quais é conhecida: "Cidade das Pedras". Nos arredores da cidade é possível desfrutar dos mistérios das grutas e do frescor das cachoeiras que se espalham por locais diversos. Acredita-se que São Thomé seja um dos sete pontos energéticos da Terra, o que atrai para o lugar sagrado: sociedades espiritualistas, científicas e alternativas, o que dá razão a outro nome: "Cidade Mística", onde São Thomé apareceu na gruta e escreveu, a carta de alforria do escravo João Antão, que ali estava escondido, depois a levou e foi assinada pelo seu patrão, admirado com tão bela caligrafia.

A Gruta em São Thome das Letras (MG)

A cidade de Sumé está localizada no sul da Paraíba, sub-região de Cariris Velhos, a 250 Km de João Pessoa e a 130 Km de Campina Grande. O clima é seco, com temperatura acima dos 25'C, na maior parte do ano, e uma população calculada em 19 mil habitantes.


Três Pedras situa-se nas divisas de Bofete, Pardinho e Botucatu (SP), próximas ao Caminho do Peaberu de São Thomé. A maior atração é esse lado místico. Estudiosos garantem que ocorrem fenômenos inexplicáveis. Pay Sumé lutou contra o demônio na gruta das Três Pedras e os jesuítas tentaram se refugiar no local, quando perseguidos e mortos pelos nativos mas antes, esconderam na pedra do meio, um enorme carregamento de ouro.


Três Pedras




Thomé disse aos ameríndios:

"Vosso povo viverá em rixas e se espalhará por tribos dispersas por toda a extensão da terra selvagem e áspera, que vos espera; sofrereis por muitas e muitas gerações a perseguição de povos estrangeiros vindos de fora e se abaterá sobre vós a tirania e a desgraça e, até que venha a união de vossas tribos, muito tempo se passará". “A doutrina que eu agora vos prego, perdê-la-eis com o tempo, mas quando, depois de muitos tempos vierem uns sucessores meus, que trouxerem cruzes como eu trago, ouvirão os vossos descendentes esta (mesma) doutrina”.

A profecia de Pay Sumé dita aos povos: Tupi, Guarani e Inca veio a se concretizar, com as invasões, ataques e chacinas em massa praticadas, impiedosamente, por europeus aventureiros, ávidos por riquezas.

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