21/04/2011

Horácio Amaral, o Prefeito Escola de Campo Mourão





HORÁCIO AMARAL, Prefeito de Campo Mourão


O advogado Horácio Amaral orgulhava-se de ser natural de Mallet (PR). Descarregou vagões de madeiras transportadas pelas composições da estrada de ferro. Balconista no Largo da Ordem e estudou Direito na UFPR (Curitiba). Nomeado professor estadual, atuou como advogado, vereador e prefeito municipal de Assai (PR). Todavia a sua maior satisfação foi ter residido em Campo Mourão onde destacou-se como o Prefeito-Escola.


Horácio Amaral - Advogou e saiu-se prefeito municipal de Campo Mourão. Viveu cercado de amor pela família, do carinho de um vasto rol de amigos e a estima do povo mourãoense. Um homem descontraído. Brincalhão. Parecia uma criança. Firme de propósitos, coeso em suas decisões e enérgico na educação das filhas e filho. “Nosso maior patrimônio, pelo qual devemos zelar, é o nome da família”, repetia sempre. Apaixonado pela política, faleceu prematuramente em acidente de automóvel, envolto pela poeira vermelha da Estrada de Roncador (BR-158), em plena campanha a deputado estadual pela ARENA (Aliança da Renovação Nacional). Seu corpo foi velado nas antigas dependências da Câmara de Vereadores (atual sala de Recursos Humanos do Paço Municipal 10 de Outubro).


Brincadeira com a mana Dalila - Campo Mourão


Nascimento - Horácio Amaral nasceu em Putinga (Município de Mallet - PR) dia 27 de junho de 1927. Filho de Ernestina (dona Lula) e do ervateiro Ângelo Amaral. Irmão de Nair, João Nelson, Adelina (casada com Augusto Schwab), Nelson (Adelaide Schemberg), Dalila (João Oliveira expedicionário da FEB), Nadir (Alcindo Monkolski – Tangará), Lady (Alfredo), Orlando (Maria) e Celita.


Campo Mourão: casamento de Horácio e Dea

Casamento - Em 5 de setembro de 1951 casou-se com Dea de Almeida Ribas, nascida em 19 de abril de 1932, em Ponta Grossa (PR). Filha de Julita Almeida e do fazendeiro Danton Carneiro Ribas. Dea era normalista. Se conheceram em 1950. São pais da professora Alba (casada com Manuel Castanheira), do economista Horácio Amaral Filho e da engenheira civil Ângela (Valter Cantão). Dea e Horácio foram avós e bisavós de seis netos e um bisneto.


Morava em Campo Mourão, estudava em Curitiba

Estudante pobre - Horácio começou o clássico em Curitiba e terminou em Ponta Grossa, por causa da namorada. Passou em 7º lugar no Vestibular de Direito da Universidade Estadual do Paraná (UFPR). Não tinha dinheiro para pagar a matrícula e ficou fora. 
Em 1951 Horácio enfrentou o segundo exame Vestibular na UFPR, classificou-se em 13º lugar, pagou a matrícula, começou a estudar Direito e logo casou em Ponta Grossa.


Elegante Horácio (centro), acadêmico em Curitiba

Polivalente - Trabalhou para sobreviver e estudar, em Curitiba, na Rede Viação Paraná – Santa Catarina (RVPSC), Banco Meridional da Produção (depois extinto Banco Comercial), caixeiro-viajante e balconista perto do bebedouro de água dos animais, no Largo da Ordem, que ainda está ali como marco histórico dos carroceiros e tropeiros.

Com o amigo Roberto Brzezinski, em Curitiba, 
ambos prefeitos de Campo Mourão falecidos em acidentes

Campo Mourão - Em 1950 Ângelo Amaral e seu filho Nelson Amaral foram convidados pelo também maletense, ex-prefeito Roberto Brzezinski, para conhecerem Campo Mourão. Aqui fundaram a Casa Amaral. próxima onde hoje está o Bradesco.  Horácio e Nelson faziam compras em Paranaguá e assim, abasteciam a (Casa Amaral) de comércio em Campo Mourão, por estradas ruins e precárias.


Campo Mourão, Horácio advogado e prefeito

Professor - No final do ano 1950 prestou concurso. Foi aprovado (sem pistolão) professor estadual apto em Latim e Geografia, em seguida designado para lecionar no Colégio Barão do Rio Branco, em Assai (PR). Nessa lide ia e vinha a Curitiba estudar Direito, pela perigosa Estrada do Cerne. Viajava de carona e pagava os caminhoneiros ajudando a descarregar as cargas ou com um significativo: Deus lhe pague!! 
Dona Dea sempre ouvia de Horácio: “lá, nunca vamos morar”, referia-se à terra vermelha do interior do Paraná. Mas se saiu tão bem em Assai, que a cidade tem a Rua Horácio Amaral em sua homenagem. 
Um de seus alunos chama-se Antonio Ueno, que era sitiante, foi vereador e deputado federal por 30 anos (1970 a 1994). 
Um dos motoristas que costumava dar carona para o jovem professor e acadêmico, era Ernesto Carlos Look, prefeito pioneiro de Mambore.

Antes de Campo Mourão, prefeito em Assai cercado de amigos

Político - Horácio foi “getulista roxo”. Apaixonado pela filosofia do Partido Trabalhista Brasileiro, o famoso PTB do Getúlio Dorneles Vargas. 
Em 1952 foi o vereador mais votado em Assai, eleito ao lado de Antonio Ueno. 
Horácio ficou tão marcado como caroneiro a ponto de muitos motoristas o conhecerem só no olhar.

Campo Mourão, Horácio gostava de imitar Getúlio Vargas

O caroneiro - Em 1958, em campanha para deputado estadual, encontrou um caminhão atolado entre Campo Mourão e Maringá, no tope do mamão. Parou e ofereceu ajuda. Era o motorista conhecido como Tio Guta, que perguntou: "você não é o Deus Lhe Pague que andava sempre duro??... Horácio deu boas risadas e respondeu: "sou sim, eu mesmo, e graças a vocês hoje sou advogado!!"  Nesta eleição ficou como suplente da Assembléia Legislativa.

Horácio Amaral: 'trabalho muito, mas dim dim, óh !!

Advogado - Em 1954, em Assai, recém diplomado, advogou a multinacional algodoeira, Cerealista Fujiwara Isato S/A, que pagou parte de seus honorários com 42,5 alqueires de terra na região da Cama Patente (Campo Mourão), até hoje propriedade da família Amaral. A área estava irregular (não escriturada) e deu muito trabalho para registrar.


Vinda a Campo Mourão no barro

Mudança - Em 1959 veio advogar em Campo Mourão. 
Para garantir a posse da terra na Cama Patente, colocou caseiros e iniciou benfeitorias. Lecionou no Ginásio Campo Mourão do professor Ephigênio José Carneiro e continuou militante do PTB, que tinha como “homens fortes”, Avelino Piacentini e Ivo Mário Trombini. 
Em 1962 disputaram a eleição de prefeito: Milton Luiz Pereira (PDC) e Ivo Trombini (PTB). O doutor Milton foi eleito por seu prestígio de advogado, com apoio do governador Ney Braga e do deputado estadual Armando Queiroz de Morais. Nessa disputa o ex-presidente JK veio dar apoio ao Ivo Trombini, o maior comício popular já visto em Campo Mourão. A Praça Getúlio Vargas e em torno, parecia um mar de gente. Depois veio Ney Braga, fechar o comício do doutor Milton. O então governador enfatizou a importância de votar no doutor Milton, porque desta forma, “Campo Mourão teria o governo e o deputado estadual a seu favor”, habilmente deu o xeque-mate.

  
Deputados - Em 1960 Ney Amintas de Barros Braga (PDC) venceu a eleição de governador do Paraná, contra Plínio Ferreira da Costa e Nelson Maculan. 
Em 1962, pela vez primeira, Campo Mourão elegeu dois deputados estaduais: Armando Queiroz de Morais (PDC) com apoio de Ney Braga, e Paulo Póli (PTB) a duras penas com Horácio Amaral articulador da campanha petebista. Conseguiu apoios do deputado federal Fernando Gama (ex-diretor do Banco do Brasil) e da Fujiwara Isato. Viabilizou-se a vitória de Paulo Póli, com injeção de dinheiro, cinco veículos (jeeps) e impressos para propaganda com a “dobradinha” Gama e Póli. Na época se votava em cédula única, deixada à vontade nas cabinas pelos cabos eleitorais dos candidatos. A cédula única simplesmente era colocada dentro de um envelope e depositada na urna.

Revolução - Em 1965, antes do término da gestão de Milton Luiz Pereira, o governo militar da Revolução prorrogou os mandatos de prefeitos por mais um ano, definiu o salário de vereador (NCr$ 35,00) e a figura do vice-prefeito, que até então não havia. Houve eleição para o cargo recém criado. Nesta disputa Horácio Amaral (não vereador) participou, mas venceu o presidente da Câmara, vereador Rosalino Mansueto Salvadori, que sucedeu Milton Luiz Pereira, em 1967. Doutor Milton deixou Campo Mourão para assumir a função de Juiz Federal nomeado, em Curitiba. Rosalino Salvadori também renunciou. Alegou problema de saúde. Assumiu o vereador Augustinho Vecchi, ficou prefeito pela primeira vez até o final de 1968, se reelegeu em três outras eleições. Vecchi deteve o mando político mourãoense por quase duas décadas.

Reeleitos - Em 1965 além das eleições para vice-prefeitos em todo o Brasil, Bento Munhoz da Rocha Neto perdeu a eleição de governador para Paulo Pimentel. Em 1966 Paulo Póli e Armando Queiroz se reelegeram deputados estaduais.

Horácio foi eleito quando Campo Mourão fez 40 anos

Prefeito de CM - Em 1967 eleição de prefeito em Campo Mourão. A ARENA tinha três pré-candidatos: Paulino Joaquim Slompo, Aramis Meier Costa e Horácio Amaral. Nesta o doutor Armando, que se passará para a ARENA dada a extinção dos antigos partidos políticos, garantiu apoio ao colega advogado, Horácio Amaral. Paulino e Aramis desistiram. O advogado Munir Karan que tinha banca (escritório) com Horácio Amaral, foi convidado a vice-prefeito e aceitou. Até então não tinha o MDB – Movimento Democrático Brasileiro em Campo Mourão, implantado em 1974. Horácio saiu candidato único, eleito para o período de 31 de janeiro de 1969 a 31 de janeiro de 1973. Junto com Horácio e Munir concorreram 14 candidatos a vereador para 11 cadeiras. Horácio teve 100 por cento de apoio do Legislativo Mourãoense.

Campo Mourão, "fiquei um ano a pagar dívidas do meu antecessor"

Dívidas e obras - Horácio contava que trabalhou um ano pagando contas da Prefeitura de Campo Mourão. A partir de 1970 equilibrou as finanças municipais, engrenou a máquina administrativa, concluiu e inaugurou as obras do Mercado Municipal e, ao lado, construiu o Parque Gurilândia. Edificou e deu o nome de Dom Bôsco ao principal Colégio Estadual do Lar Paraná. Implantou a Escola Estadual de Farol, depois de hábil manobra (disse ao governo que Farol era bairro e não distrito). Construiu os estádios de futebol de Piquirivai e Farol. Ampliou significativamente a malha asfáltica da cidade. Implantou as primeiras redes de esgoto e galerias pluviais, mesmo sabendo que: “obras enterradas não rendem votos”, costumava brincar. Construiu e inaugurou a atual Agência do Correio. Conseguiu na Telepar a instalação da grande novidade da época, que foi o sistema de Discagem Direta à Distância (DDD). Substituiu a ponte de madeira por concreto e pista dupla, sobre o Rio do Campo na saída para o Barreiro das Frutas, na qual está fixada uma placa da inauguração com seu nome, projetada pelo engenheiro Élio Rodrigues de Matos, da Codusa.

Na inauguração da Fundescam: Renato Fernandes Silva, Bento Munhoz da Rocha Neto, Horácio Amaral, Ephigênio José Carneiro e Osvaldo Broza discursa agradecido em nome dos estudantes.

Prefeito Escola - Nos últimos dois anos de seu governo, Horácio Amaral reformou e inaugurou mais de uma dezena de escolas públicas e deu os primeiros passos para a implantação de cursos superiores com a construção e inauguração da Fundação do Ensino Superior de Campo Mourão (Fundescam depois Facilcam), hoje é Fecilcam solidificada em campus-avançado da Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR).

Coração - Horácio reclamava muito de dor no peito e formigamento no braço e mão esquerda. Suspeita-se que tenha sofrido um ataque cardíaco e perdido o volante no acidente fatal. Em 1971 quando desabou a terrível chuva de pedras sobre Campo Mourão, era prefeito e quase enfartou. Dirigia-se à Maringá em companhia de Irajá Messias (irmão do ex-prefeito de Mambore, Ubirajara Messias), a fim de comprar telhas para a população carente. No meio da viagem, parou repentinamente, pulou fora do carro, balançava o braço esquerdo e gritava de dor no peito. Em casa ele sempre falava: esse coração velho de guerra tá querendo me derrubar, mas não vai conseguir não!!


Bailes e festas em Campo Mourão

Cantor - "Meu pai gostava muito de música italiana. Empostava a voz, dava uma de tenor e, em casa, cantava junto à mãe e nós", revela a filha Alba, "E diga-se a bem da verdade, até cantava bem"... risos. "As que mais me lembro do repertório dele são aquelas: O Sole Mio e La Violetera!"


Pegadinha da "Cabeça inchada" - Horácio gostava de usar chapéu, explica Renato Fernandes Silva, prefeito que o sucedeu. "Costumavamos jogar esnuquinho no Bar do Batata (Nagib Malluf) em frente à Câmara de Vereadores, bebericar e botar as fofocas em dia. Um amigo resolveu fazer uma brincadeira. Pegou o chapéu do Horácio, que estava pendurado na parede, e por dentro da tira que absorvia o suor, colocou uma fita de cetim e deu duas voltas. Os amigos foram se revezando na pegadinha'. -Horácio, você tá estranho!... outro: - o quê tem tua cabeça, Horácio?... outro: -Horácio, por quê tua cabeça cresceu?... Ele se apalpava, já bem preocupado e dizia que estava normal: "não tenho nada, caramba!!... Com ar de preocupado disse que ia embora", explica Renato.
"Pegou o chapéu, colocou, mas não encaixava na cabeça... Apavorou. Saiu rápido, não avisou ninguém e se mandou até Curitiba imaginando que sua cabeça cresceu. Em Curitiba foi examinado e constatado que não tinha nada. Ao verificar o chapéu, descobriu a truta. Depois de dois dias apareceu na Prefeitura, mas não foi mais no Batata, com certeza pra evitar o sarro. A gente perguntava, o quê era aquilo?... E ele, sem perder a graça, respondia: 'Era o chapéu que encolheu e fui a Curitiba comprar outro, certo?!... rindo muito da malvadeza.

Morte de Horácio - Cumpriu o mandato de prefeito. Armando Queiroz de Morais foi nomeado juiz do Tribunal de Contas. 
“Nosso pai parecia em campanha sempre. Era político permanente. Estava candidato a deputado estadual. Na manhã do fatídico dia 7 de agosto de 1974, Horácio saiu pedir votos, sozinho. Dirigia seu Corcel verde, duas portas, ano 72/73, placas IP 1111 (Paranavai). Dia quente, muito sol e poeira. Pegou a BR-158. A BR-369 estava em obras. Havia muitos desvios precários. Na saída (perto do trevo) deu carona a um casal que ia para Mambore. Marido sentou na frente, mulher atrás. Há três quilômetros adiante de Campo Mourão, na reta do Horto Florestal, chocou-se violentamente contra um caminhão Mercedes Benz. Horácio morreu, o carona ficou bastante machucado e a senhora apenas feriu uma perna. O Corcel teve perda total”,  relata Horácio Amaral Filho.

Morreu junto - “O trigo plantado na nossa fazenda estava lindo, verdinho e espigado. Prenunciava uma ótima safra. Nosso pai morreu e o trigal começou mirrar. Cinco dias depois estava tudo seco e perdido. Curioso que os plantios, em volta, continuaram verdes e deram excelentes colheitas”, estranha Horacinho. 
“O Corcel teve perda total. Moramos muito tempo em casa alugada da tia Lauda. Tivemos uma casa boa, de material, na Rua Harrison José Borges (que depois foi da TV a Cabo da The World) e nosso pai vendeu para o Osman Ribeiro para fazer dinheiro na campanha do amigo e prefeito Renato Fernandes Silva”, revela Horacinho. “Não deixou dinheiro e nem dívidas para a família, mas tinha papagaios (empréstimos) nos bancos que fez para ajudar amigos. Na garagem ficou uma Variant/74, vermelha, a terra da fazenda e uma grande saudade de um excelente pai e grande amigo que amava Campo Mourão. Essas as heranças que ele nos deixou”, concluiu Horacinho.


Horácio Amaral em ação nos tribunais e com vereadores

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