12/03/2011

Cerrado Mourãense é Único


Introdução

Interessante destacar uma característica ímpar do urbanismo de Campo Mourão. A cidade e os bairros localizam-se na única espécie de Cerrado existente no planeta, que era cercado por três tipos de matas exuberantes: a dos Pinheirais (Araucárias), a Tropical e a do Arenito. As duas primeiras vinham até à margem direita do Rio do Campo e a terceira se iniciava além do Rio Claro, já no arenito de Araruna.

A vegetação do Cerrado Mourãoense e as características do seu solo, existem somente na região de Campo Mourão-PR.
Outro detalhe topográfico é a sua elevação, em forma de espigão, margeado pelo rio do Campo e pelo Ribeirão 119 o que proporciona, ao seu quadro urbano e suburbano, a não ocorrência de enchentes ou alagamentos, em tempo algum.


Vistas planas-aéreas de Campo Mourão
Anos 60 e 2010
  
Campo Mourão nasceu e cresce sobre o Cerrado 
dos Campos do Mourão



Cerrado de Campo Mourão: 

Era a única tipologia vegetal na Terra que ocupava a porção terrestre onde está traçada a urbanização (centro e bairros) de Campo Mourão, na região Centro Oeste do Paraná.
Sem correr riscos de enchentes, situa-se no espigão entre os Rios do Campo e Ribeirão 119, entre as divisas de Farol e Peabiru.
Curiosamente o Cerrado Mourãoense era uma pequena porção de terra situada no meio do encontro de três pujantes florestas: a dos Pinheirais, a Tropical e a do Arenito, cada uma com suas árvores, flora e vida animal únicas, das quais não resta praticamente nada, transformadas em terra nua mecanizada, culturas agrícolas e áreas urbanizadas.
Hoje a legendária mancha de Cerrado dos Campos do Mourão está precariamente reduzida no Jardim Nossa Senhora Aparecida, confinada a uma quadra, onde podemos ver ainda poucas espécies: pequi, lobeira, pau-santo, barbatimão e angico do campo (cascudo).
É triste ver a situação em que se encontra essa quadra remanescente desta tipologia na região, resumido a cerca de 1,4 hectare incrustado em castigada área urbana.
Segundo o geógrafo Reinhard Maack, “esta mancha de Cerrado cobria cerca de 10.200 hectares na região de Campo Mourão...”  Quando as poucas pessoas que se importavam com o Cerrado perceberam o problema, já era tarde demais. Estava, impiedosamente e inconscientemente, devastado.
No ano de 1987 iniciou-se uma obstinada luta que vislumbrava a conservação deste ameaçadíssimo ecossistema na região, que envolveu professores e estudantes do Departamento de Geografia da Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão.
As manifestações em prol da salvação do Cerrado foram apoiadas pela comunidade estudantil e culminaram, em 1993, com a aprovação do Decreto Municipal de criação da Estação Ecológica do Cerrado de Campo Mourão, pelo prefeito Rubens Bueno, que assim garantiu ao menos a preservação daquele humilde pedaço remanescente em uma quadra do Jardim Nossa Senhora Aparecida.
Atualmente a unidade de conservação municipal conta com uma frágil estrutura constituída de centro de visitantes, laboratório de pesquisas e um herbário onde são depositadas amostras da vegetação local.
É confortante pensar que ao menos esta "quadra" de Cerrado está protegida, mas não é bem assim, pois esta manchinha isolada está condenada a um fim discreto, já que as plantas contidas neste confinamento de vegetação natural estão praticamente impossibilitadas de trocar pólen e manter sua variabilidade genética de multiplicação por falta de espaço. 
Além disso, pelas suas dimensões extremamente diminutas e pelo seu isolamento em pleno meio urbano, este fragmento não tem capacidade de suporte na grande parte das espécies da fauna e flora nativa, associadas a ambientes de Cerrado, o que inviabiliza processos ecológicos importantes tal qual a polinização e a brotação das sementes, o que significa a lenta e definitiva ‘morte’ do único e raro ecossistema do castigado planeta Terra.

 
Estação Ecológica do Cerrado Mourãoense

Em 1,4 hectares de área de preservação estão espécies remanescentes do Quaternário Antigo, sendo o Cerrado mais meridional do planeta. A Estação Ecológica do Cerrado Mourãoense é considerada uma relíquia  e recebe cientistas de todo o mundo.

Existe uma Lei bem bolada, masss... não cumprida.

LEI Nº 1851 De 7 de julho de 2004


TORNA OBRIGATÓRIO O PLANTIO DE ESPÉCIES COMPONENTES DO CERRADO DE CAMPO MOURÃO EM TODOS OS PARQUES E ESPAÇOS PÚBLICOS DO MUNICÍPIO.


O PRESIDENTE DO PODER LEGISLATIVO DE CAMPO MOURÃO, Estado do Paraná, no uso das atribuições que lhe conferem o § 7º, do artigo 33 da Lei Orgânica Municipal, promulga a seguinte LEI:

Art. 1º Torna obrigatório o plantio de espécies componentes do cerrado de Campo Mourão em todos os parques e espaços públicos do Município.

Parágrafo único - Para cada 1.000 m2 (mil metros quadrados) de logradouros públicos, será plantado, ao menos, um espécime do cerrado de Campo Mourão.

I - No caso da arborização urbana do Município, deverá ser plantado, ao menos 1 (um) exemplar arbóreo do cerrado por quadra, seja para futuros loteamentos, seja pela ocasião da substituição de indivíduos de espécies não relativas à flora do cerrado ou sempre que houver a necessidade, até que todas as quadras do Município tenham pelo menos 1 (um) exemplar do cerrado.

II - Em relação aos parques, as espécies do cerrado devem ser plantadas de forma agregada, respeitando as dimensões da espécie plantada, para que a mesma possa se desenvolver naturalmente, constituindo-se um arboreto do cerrado de Campo Mourão por parque, desde que as condições de solo e luminosidade não imponham restrições.

III - Os espaços públicos com possibilidade de revegetação não compreendidos pelos incisos I e II, deverão possuir, ao menos 1 (um) exemplar de espécie do cerrado.

IV - No caso de projetos paisagísticos municipais que prevejam o uso de palmeiras de qualquer espécie, deverão ser utilizados, ao menos, 1 (um) exemplar de cada uma das espécies nativas do cerrado mourãoense, pertencentes aos gêneros Butia, Alagoptera ou Acrocomia, inclusive por ocasião da substituição de palmeiras mortas e/ou doentes em áreas de logradouros públicos.

V - O Município não poderá se restringir a um determinado número de espécies, devendo priorizar aquelas que:

a) - se encontrem ameaçadas de extinção, que constem em listagens oficiais, sem prejuízo daquelas ameaçadas a nível local, desde que assim determinadas por parecer técnico de profissional capacitado;
b) - possuam potencial paisagístico ou ornamental;
c) - tenham interesse medicinal.

Art. 2º Cabe ao Município solicitar, prioritariamente, via intercâmbio ou aquisição, sementes e/ou mudas de espécies do cerrado, junto a outros municípios do Estado do Paraná ou eventualmente outros Estados, visando promover a conservação de espécies do cerrado mourãoense, evitando-se a erosão genética das espécies existentes.

Art. 3º A Secretaria da Agricultura e do Meio Ambiente do Município ficará responsável pelo plantio e posterior preservação de cada espécime plantado.

Art. 4º O Município incentivará a produção de mudas de espécimes do cerrado em viveiros públicos e/ou particulares.

Art. 5º Revogam-se as disposições em contrário.


SALA DAS SESSÕES DO PODER LEGISLATIVO DE CAMPO MOURÃO, Estado do Paraná, em 7 de julho de 2004.

Juvenal Vieira
  Presidente


A Maior Operária do Cerrado




  
Existem várias castas entre as Saúvas, 
em perfeita sincronia

Perseguida e praticamente exterminada em Campo Mourão, por ser considerada praga danosa às plantações, as incansáveis formigas Saúva são as maiores formadoras de florestas e dos bosques nativos no Cerrado Mourãoense. Quando morre a rainha, ocorre o fim da colônia e as sementes depositadas nos enormes formigueiros, não transformadas em fungo, brotam e assim mantém viva e renovada a flora desse raríssimo bioma. 



 
Bosque das Copaíbas, primeiro 'point' de Campo Mourão-PR
antigo formigueiro de saúvas

Comícios de Moysés Lupion (1948) e de Jânio Quadros (1960)
no Bosque das Copaíbas.
Na primeira foto vemos Francisco Albuquerque e Devete de Paula Xavier, 
e na segunda Aroldo Tissot, repórter da Rádio Colmeia

Um exemplo desse fator natural é o Bosque das Copaíbas no coração da cidade, do qual restam poucas árvores e tende a desparecer se não for cuidado e replantado. Nos anos 40 e 50 este aconchegante bosque nativo foi o ponto de encontro das famílias pioneiras, das autoridades, das cerimônias, casamentos, corridas de cavalos, futebol e festas religiosas. Tudo girava em torno desse suave e aconchegante recanto. 





 
Óleo extraído da Copaíba tem poder de cura. 
Os Incas o chamavam de 'bálsamo dos deuses'



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