16/09/2019

* Doentes felizes em hospital de Campo Mourão

E uma visita do capeta

Dia 6/9/19, à tarde, senti duas fisgadas agudas na altura dos rins que me impediam até de tossir. Minha filha Luciana me intimou. Não queria ir, mas à noite - contra minha vontade - levou-me  ao Pronto Socorro do ‘pinéu’ Dr. Claudino.


O bonachão, brincalhão, mas competente Dr. Campos pediu um Raio X que mostrou sinais de infecção inicial na base dos dois pulmões e mandou me internar na enfermaria da ala 2. 
- O quê é isso aí doutor?
- É um bichinho que gosta de carne humana e também de feijoada de pulmão. Se deixar ele te come inteirinho (risadas).

Pela manhã apareceu o serelepe Dr. Claudino dando ordens, inclusive puxando cobertores e mandando dar alta a paciente não curada. Recém internada como eu.
Esse aqui (eu) coloca nos quinto (ala 5), no primeiro andar  para onde o atencioso funcionário Roberto me levou na cadeira de rodas. Brincamos de Uber. No final não me 'cobrou' a corrida.

Nos 'quinto' olhei em volta e vi mais cinco pacientes com casos diferentes. Cumprimentei um a um e desejei a todos boa sorte e pronto restabelecimento.

O Mauro, sempre sorridente e sarrista, mora em Peabiru, foi destravar as mandíbulas e as estava movimentando normalmente. Na sua cidade ele conhece toda a população pelo nome. É uma enciclopédia. 'Estranho - disse ele - sarei da boca, mas sinto um fogo subindo pelos lados do pescoço, pelas ventas, até a cabeça'. Quê será?


O Gilvan – apelidei de menino da porteira – é de Iretama. Montado foi abrir a porteira da fazenda onde trabalha com 300 bois. O cavalo escorregou no barranco pedregoso e caíram. O ‘menino’ bateu violentamente o ombro o que quebrou seu lado direito  todo e passou por várias cirurgias a fim de refazer a ossatura. Ele brincou: ‘e com o cavalo não aconteceu nada?’ 


José Barbosa (Barbosinha) é o Rei do Carvão (Muquilão) em Campo Mourão. Um bom papo, gosta de filosofar, tem solução para tudo. Quando entrou na ala desmaiou e foi prontamente atendido por seis enfermeiras. Passou pela segunda ponte de safena e está bem.

O Genésio - artesão de carros velhos - é de Juranda. Caladão. Olhar desconfiado. Vitima de AVC foi transportado a Campo Mourão por helicóptero do SAMU. Já está famoso na cidade toda que lotou a rua quando o transporte baixou em uma quadra antiga de esportes, depois do meio-dia. Tinha gente até com o prato de comida e panela na mão. Era hora do almoço.
O acompanharam além do hábil piloto, duas médicas e sua querida filha Bruna. Depois a caçula  Beatriz. Fez a operação com êxito. No dia seguinte foi o primeiro a acordar e não mais parou de tagarelar. No mesmo dia recebeu alta. 
Que tal o passeio no avião de rosca? A paisagem é bonita lá de cima, né?
- Não sei, perdi. Vim dormindo (risos). A Bruna falou que é linda!

O Lucas, 21 anos, garotão do Albuquerque gosta de ler. Disputou uma ‘francesa’ com o Grandão local e na queda de braço lascou a cana do braço direito que rachou igual taquara. - Vai disputar de  novo?
Tá loco. Nunca mais!  Vai que ele arranca!

O Marcio, mora em Farol. Trabalha no pesado em Cianorte, é forte, mas não mede conseqüências no trabalho, Foi internado e operado de duas hérnias de disco. Ao invés de carregar um saco de cimento na obra, levava dois sobre a cabeça. Se voltar ao trabalho, disse que vai somente cumprir sua obrigação ‘sem forçar a natureza’. Me prometeu dar uma baitaca que fala: 'papai chegou'.

O Sebastião - Tiãozinho - sofre de aumento do coração que comprime os pulmões e lhe causa falta de ar. Pedi a ele vestir uma camisa, ele, sorrindo, respondia: 'com essa camisa me sinto de terno! Lembrou que nos anos 70, em torneios de futebol, fomos adversários, mas sempre amigos.

O Vinício, 17 anos, garoto bom de bola, de Barbosa Ferraz, quebrou o ombro e a clavícula, lado esquerdo, na queda jogando futsal quando dois adversários caíram sobre ele e aconteceu o pior. Foi operado com êxito. Sonha em treinar em um time grande. Demos a maior força a ele e o tranquilizamos antes da cirurgia. Tremia de medo. Quando acordou - umas três horas depois - sorria e disse que não sentiu nada.

O Francisco é dono de marmitaria e teve um acidente violento pilotando sua moto e se ralou todo no asfalto, mas se recupera bem. Procura moto para comprar "porque a minha virou um caco".

Durante a semana, internado na Ala 5 não vi tristeza, apesar de enfermos, só alegria que envolvia inclusive as enfermeiras, as zeladoras, as nutricionistas... Parecia uma Família Feliz.

Nesta semana hospitalizado fui muito bem atendido por toda a grande equipe, principalmente pelos médicos cardiologistas: o capixaba Eliezer e o paulista Regis, jovens e super preparados na sagrada profissão de salvar vidas; por meus filhos Carlos Henrique e Luciana, meu genro Douglas e meu inquilino Allyson.
Pedi os nomes das enfermeiras que nos cuidaram e cuidam, porém alguém informou que Dr. Claudino não permite. Estou tentando, já vi oito delas que gentilmente me adicionaram no facebook.

Entre nós  pacientes acreditamos que passamos por uma provação divina e ficou a promessa mutua de continuarmos nossas amizades, com amor, graças a ‘dor’.   

Você pode não acreditar, mas na calada da madrugada o capeta nos visitou =). Abaixo  das fotos te conto como foi.

Galeria de Fotos e a visita do Diabo  

 
Ronaldo Fenômeno nos visitou?  
Não, ele é  o dedicado enfermeiro Marcelo.

 
Carinho que ajuda a sarar 

 
Dona Lindaura, da Vila Rural de  Luiziana, nos cuidou com sua alegria, seus bolinhos caseiros e com sua arte de crocheteira. Ensinei a ela como tingir crochê com borra de café.

 
Beatriz agente de saúde de Juranda 
a menina das bolachinhas

 
Guilherme profeta de Deus orou muito por nós

Genro Douglas sacrificou o trabalho para me cuidar

Ala 5 - Mauro, Dalvan, Tiãozinho, Barbosinha e Wille

Seria o diabo?

No quarto dia, 10/09, quatro horas da madrugada, acordei com algo dolorido sendo enfiado no muque do braço direito. Parecia um espinho de laranjeira. Reclamei da dor, olhei, era uma aluna de enfermagem de Peabiru, carrancuda, respondona que mandou-me ficar quieto enquanto ela procurava acertar uma veia a fim de injetar soro. Errou e furou feio meu braço.
- Mas moça essa agulha grande aí não é a fininha de veia. Troca aí !!
Quieto. Vou tentar em cima da mão. Errou de novo (doeu) gritei para ela parar. 
Acordei meu filho Carlos Henrique (acompanhante) e chamei o Zé (Barbosinha).
- Essa coisa está querendo me matar. Vai se reciclar moça, não sou cobaia e nem almofada de agulha. E ela respondia, sem educação nenhuma e insistia em me espetar.
- Paraa coisa. Você está me judiando... vou te denunciar para dona Lílian (dona do hospital).
Imagem relacionada
E ela não me soltava. A cara de braba cada vez mais feia, só faltava chifre na testa.
- Seu Zé, faz favor, vem aqui e ore para essa diaba sumir.
Ele (da igreja Bola de Neve) orou na orelha dela, aí me largou... saiu xingando e não mais a vimos em nossa ala.
Em seguidinha veio outra enfermeira, carinha de anja, eu ainda esbravejava, sentindo a dor de duas espetadas erradas. Pediu para me acalmar, com todo carinho. Colocou a agulha na mão esquerda, nem senti, e continuei a receber o soro normalmente. Mediu minha pressão (19 x não sei por quanto) - "se acalme senão o coração vai sair pela boca" - brincou sorrindo. Eu ri. Me deu um sedativo e caí no sono novamente.
Os dois buracos (marcas da besta)  só sumiram passados mais de 10 dias, exatamente no16º (segunda-feira). As manchas rochas pareciam duas mordidas.

Agradecimento
OBRIGADO À TODAS MINHAS AMIZADES, FILHO E FILHA, PELA FORÇA QUE ME DERAM E ÀS DEZENAS DE AMIGAS E AMIGOS, PROFISSIONAIS DA MEDICINA E GENTE DE FÉ, QUE CONQUISTEI NA SEMANA HOSPITALAR E QUE ME TROUXERAM DE VOLTA A ESTE MUNDO MARAVILHOSO!!

DEDICO A VOCÊS
Pôxa, até extrema-unção me deram.
Essa foi boa! - e eu comendo leitoa.
Internado de frente pro cemitério,
Mas não perdi a piada naquele momento tão sério.
-Que quarto ótimo filho, com vista pra morte.
Só você mesmo pra fazer a gente rir!
E com o fôlego parando em plena UTI
Lembrei o que passei e agora dou risada.
A vida é tudo, a Vida é nada!

Encontrei com Deus, 
Perguntei da minha vaga.
ELE respondeu: tem nada !
Volte lá, brincar com a piazada !!
Cuidado: não fique só em hospital

9 comentários:

  1. Que coisa linda... Parabéns, nem sempre se consegue ver á beleza das amizades adquiridas ali dentro.... vemos muitas pessoas boas ajudando uns aos outros....

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  2. Parabéns pelo carinho e sensibilidade com que contaram as histórias de cada um, teve gostinho de quero mais hehe

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    1. Amizades preciosas que não quero perder.
      Um abraço do Wille.

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  3. Uma lembrança que ficará pra sempre em minha memória.

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