DESTRUIÇÃO DAS REDUÇÕES JESUÍTICAS.
A EXPULSÃO DOS ESPANHÓIS DEL GUAYRÁ.
MATANÇAS POR MANUEL PRETO E RAPOSO TAVARES.
O naufrago Aleixo Garcia, marujo português, a serviço da esquadra espanhola de Juan Dias de Solis, foi o primeiro homem branco, que passou, em 1524, pela região de Campo Mourão.
O segundo foi Alvar Nunes Cabeza de Vaca, em 1541, militar espanhol designado para servir em Assunção e impedir a invasão de portugueses pelo Rio Paraná.
O segundo foi Alvar Nunes Cabeza de Vaca, em 1541, militar espanhol designado para servir em Assunção e impedir a invasão de portugueses pelo Rio Paraná.
A partir de 1554 começaram as fundações das reduções espanholas,as quais, em 1632, estavam completamente destruídas pelos bandeirantes e seus seguidores.
As agressões e ataques bárbaros começaram em 1628 sob o férreo comando de Manuel Preto e consumadas pelo seu lugar-tenente, Antônio Raposo Tavares.
A justificativa destes ataques às reduções jesuíticas e vilas espanholas, era a fuga de índios escravizados pelos paulistas que se refugiavam nas fechadas missões catequéticas e povoados da Província del Guayrá (Oeste do Paraná). Estes bandeirantes diziam que vinham "recapturar os índios cativos e castigar os aldeados que os acolhiam e os escondiam."
A justificativa destes ataques às reduções jesuíticas e vilas espanholas, era a fuga de índios escravizados pelos paulistas que se refugiavam nas fechadas missões catequéticas e povoados da Província del Guayrá (Oeste do Paraná). Estes bandeirantes diziam que vinham "recapturar os índios cativos e castigar os aldeados que os acolhiam e os escondiam."
Na verdade tinham três justificativas (motivos):
a) aprisionar índios e vendê-los ao trabalho escravo;
b) buscar ouro, metais e pedras preciosas e,
c) conquista da terra a fim de alargar as divisas territoriais do Brasil, para além do Tratado de Tordesilhas.
Com estas 'justificativas', a partir de 1628, Manuel Preto e Antônio Raposo Tavares começaram as invasões contra a Província del Guayrá.
Ultrapassaram os limites dos rios Paranapanema, Tibagi, Ivaí e Piquiri e enveredaram pelo tronco principal e ramais do Caminho do Pe abe y u, guiados pelos nativos amansados.
Ultrapassaram os limites dos rios Paranapanema, Tibagi, Ivaí e Piquiri e enveredaram pelo tronco principal e ramais do Caminho do Pe abe y u, guiados pelos nativos amansados.
Praticamente quase toda a população da Vila de São Paulo (cerca de mil habitantes na época) se associou à esta bandeira ilegal.
Os jesuítas: Justo Mansilla van Surck e Simão Mazzeta escreveram que: "na Vila de São Paulo ficaram apenas 25 homens", além de mulheres, crianças e velhos, a mercê da própria sorte.
Dos seis edis (vereadores) três se juntaram a bandeira, além de dois juízes e o conselheiro da procuradoria pública.
De acordo com os alfarrábios de Mansilla e Mazzeta:"eram 900 brancos armados de escopetas, espadas, escudos, machadinhas, gibões (roupa de couro) e de muita munição".
Faziam parte deste pequeno exército mais de 2 mil índios cativos, municiados, a maioria da raça Tupy, inimigos violentos e mortais dos Guarany.
Essa tropa se dividia em quatro companhias, com oficiais paramilitares e cerca de 800 aventureiros ávidos de riquezas, mas não ostentava o brasão de armas do Reino de Portugal. Eram irregulares e fora da lei. Eram bandeiras e não Entradas.
Dia 8 de setembro de 1629, a companhia comandada por Antonio Pedroso de Alvarenga atravessou o Tibagi, atacou a Vila de Encarnación e aprisionou centenas de índios. Os padres Antônio Ruiz, Cristóvão de Mendoza e José Domenech, à testa de 1.200 índios enfrentaram a tropa de Pedroso e libertaram os prisioneiros. O padre Mendonza saiu gravemente ferido nesta escaramuça, mas sobreviveu. Aqui houve a intervenção do “generalíssimo” Manuel Preto, que prometeu não atacar as reduções e "só capturar os (índios) bravios".
Porém, no dia 30 de janeiro de 1629, Raposo Tavares ordenou o ataque à redução de Santo Antônio, onde a companhia de Simão Álvares fez grande número de prisioneiros mesmo diante dos protestos do padre Pedro de Mola, vigário da aldeia, que por um triz não foi assassinado pelo furioso Álvares.
Dia 20 de março de 1629, a coluna comandada por Manuel Mourato tomou conta da redução de Jesus Maria e fez milhares de prisioneiros, entre eles "1500 homens “válidos”, segundo relatou. Os inválidos, velhos, crianças e mulheres, ele mandava matar.
Dia 23 de março de 1629, outra companhia, comandada por Antônio Bicudo de Mendonça, invadiu a redução de São Miguel de Ibituruna, mas a encontrou deserta. Os vigias souberam que iam ser atacados, avisaram e fugiram todos.
Entretanto não foram só vitórias dos bandeirantes.
Houveram derrotas também. As companhias comandadas por Pedro Vaz de Barros e Brás Leme voltaram à Vila de São Paulo arrasados, sem nada, e muitas baixas causadas pela morte da maioria dos seus homens.
Houveram derrotas também. As companhias comandadas por Pedro Vaz de Barros e Brás Leme voltaram à Vila de São Paulo arrasados, sem nada, e muitas baixas causadas pela morte da maioria dos seus homens.
No final de 1629 as tropas de Manuel Preto e Raposo Tavares retornaram à Vila de São Paulo, onde negociaram e venderam suas presas aos milhares. Como eram muitos cativos, a oferta foi enorme e os preços caíram de 10 até 3 ou 1 pataca de ouro
O jesuíta Mazeta conta, em carta escrita à Ordem de Santo Inácio de Loyola, em 13 de dezembro de 1629, que o número de índios capturados estava entre oito a nove mil cativos, dos quais, pouco mais de 1.500 chegaram vivos, e foram vendidos como escravos na praça da Vila de São Paulo."
Em 1631 quando morreu Manuel Preto peleando, contra índios e espanhóis, na região de Santa Catarina, as tropas de Raposo Tavares reapareceram na Província del Guayrá.
Mapa da Província del Guayrá e localização das Reduções Jesuíticas
Das 13 reduções restavam Loreto e Santo Inácio a serem apossadas, mas antes foram abandonadas pelos espanhóis "com cerca de 12 mil índios que fugiram rumo ao Paraguay."
As 11 reduções destruídas tinham, juntas, mais de 33 mil habitantes, além das duas outras, restantes, das quais não sobraram quase nada, além dos restos dos incêndios e das destruições impiedosas.
Vila Rica do Espirito Santo (Fênix, na região de Campo Mourão) e Ciudad Real (Guaíra) ainda resistiam aos ataques dos bandeirantes, mas a situação era muito crítica. O governo espanhol, desde Assunção, tentou resistir mas não aguentou e ordenou a retirada urgente.
Enquanto isso, a situação de Vila Rica preocupou o Bispo do Paraguai, Dom Frei Cristóvão de Aresti, que, dia 26 de agosto de 1632 "apareceu na Vila Rica onde estavam cerca de 4.500 brancos e índios, bloqueados pelos paulistas".
Havia cerco, fome e necessidades. Nos dois dias da presença de Dom Aresti, os milicianos sitiantes por fora da vila, ameaçaram precipitar dois assaltos gerais.
O bispo reuniu os Vilarriquenhos e, a princípio, pensou comandar pessoalmente o enfrentamento contra os bandeirantes. Ele tinha um secretário armado de escopeta de carregar pela boca e quatro padres com alfanges (tipo foices), mas diante do poderio inimigo decidiu pelo êxodo geral.
A fuga dos espanhóis e índios catequizados começou no dia 28 de agosto e dia 20 de outubro os retirantes, quase sessenta dias depois, lentamente por terra e água através do rio Ivaí, alcançaram a margem esquerda do rio Paraná, atravessram desesperados e alcançaram a margem direita em terras paraguaias. Muitos morreram afogados dada a largura e a força da água do poderoso rio, difícil de atravessar a nado.
Os bandeirantes, sem encontrar nenhuma resistência, mataram os que ficaram, saquearam e atearam fogo em tudo que havia em Vila Rica do Espírito Santo e, em seguida, pegaram o rumo de Ciudad Real, mas não alcançaram os indefesos fugitivos além de encontrar a cidade deserta.
Espavoridos com o que souberam que aconteceu em Vila Rica, apressadamente os habitantes da Ciudad Real abandonaram a povoação, pois sabiam que os bandeirantes estavam por chegar em sua direção, com força total e dispostos a varrer tudo que encontrassem pela frente. Apenas ouro e índios interessavam a esses bandeirantes carniceiros.
Em pouco tempo não havia um único espanhol da Província del Guayrá na grande área limitada pelos rios Paranapanema, Iguaçu, Paraná e Tibagi, "que tinha seu ponto mais central na região dos Campos de Coaracyberá" (Campo Mourão).
Alguns espanhóis resolveram, tempos depois, vir a residir com os paulistas, entre eles o vigário espanhol de Vila Rica, Juan d’Ocampo y Medina, que acabou assassinado em Parnaíba (SP), região de Itu, onde estava designado.
SAGA DOS BANDEIRANTES
Os bandeirantes justificavam suas investidas na Província del Guayrá, como recaptura de índios "escravos" fugitivos.
Na época o governador da Província, Céspedes, com medo das represálias dos paulistas, mandou um delegado especial, Felipe Romero, com a missão de inspecionar as reduções de Loreto e Santo Inácio, ao Norte do Paraná, com ordem expressa aos vigários no sentido de que expulsassem todos os índios refugiados e, se preciso fosse que "se enforcassem os índios fujões e os brancos que os protegiam". Ele não queria encrenca com os bandeirantes, porém suas ordens não foram levadas a sério.
Família nativa aprisionada, levada ao cativeiro
Neste meio tempo Céspedes recebeu a visita da sua esposa, Dona Vitória de Sá, vinda do Rio de Janeiro numa viagem penosa, de riscos e desconforto. Viajou em liteira ombreada por atarracados escravos índios, por trechos secos do Peaberu e navegáveis do Rio Paraná, numa expedição comandada por André Fernandes, fundador da cidade de Parnaíba (Itu). Vitória de Sá foi a primeira dama brasileira, de alta hierarquia, que passou pela região de Campo Mourão.
Por Trás da História
O que estamos relatando aconteceu alguns meses antes dos ataques dos Bandeirantes, que começaram em 1629 com Manuel Preto, consumadas em 1632 por Antonio Raposo Tavares. Em apenas três anos destruíram as 13 reduções jesuíticas e as cidades de Vila Rica do Espírito Santo (Fênix) e Ciudad Real (Guaíra).
Nesta saga sangrenta tem alguns fatos interessantes que não se aprende na escola e a História do Brasil não conta. Vamos dar aqui, alguns exemplos citados em manuscritos jesuíticos:
-Por mais de 250 anos ninguém sabia quem era o verdadeiro Antônio Raposo Tavares que arrasou com os espanhóis. "Eram conhecidos, no mínimo, cinco Antônio Raposo, que viviam na Vila de São Paulo."
A identidade do Antônio Raposo, que andou por aqui e tem nome de avenida em Peabiru - PR, foi descoberta em 1905, por ordem do presidente Washington Luiz, que resolveu acabar com as confusões das biografias.
-"O Antônio Raposo Tavares – bandeirante que destruiu nossa Província del Guayrá – nasceu em Beja (Portugal), em 1598. Veio ao Brasil com seu pai Fernão Vieira Tavares, que exerceu o cargo de Capitão-mor (prefeito) de São Vicente – SP (1622). (O Antoninho tinha aí, 24 anos – (mdr). Casou em 1625 (27 anos), com Beatriz Bicudo e tiveram três filhos."
Três anos depois do casamento (1628) entrou como lugar-tenente na Bandeira de Manuel Preto e, em 1629 assumiu o comando nos principais combates contra espanhóis, índios e jesuítas na Província del Guayrá.
Nativos lutavam pela sobrevivência, os bandeirantes pelo ouro
Sobre os ataques
sanguinários – a
história não conta – mas
o padre Pedro de Mola, vigário da redução de Santo Antonio, resumidamente
relatou: “llevaron todo a sangre y fuego hiriendo, matando e robando sin
perdonar à los que se acogian al sagrado de la Iglesia, profanandola sacrilegamente”.
Saqueavam
os ostensórios e aparatos de ouro e queimavam igrejas lotadas de aldeados apavorados,
refugiados dentro delas. Revela ainda, que
no dia 23 de março de 1629, o bandeirante Antônio Bicudo Mendonça (sogro de
Raposo), entrou na redução jesuítica de São Miguel de Ibituruna e a encontrou
deserta. Isso enfureceu Bicudo de Mendonça, que esbravejava e soltava “espumajos
por la boca”. Babava de raiva.
-O grande sonho de
Manuel Preto, que se dizia - “gran fomentador auctor e cabeza de
todas estas entradas e malocas” – proclamava, para quem quisesse
ouvir, que a sua grande aspiração, “era morirse en
las correrias”, peleando contra índios e espanhóis.
Acabou morto tal como desejou, em Santa Catarina.
Outro detalhe. Bandeirantes traziam índios Tupis como soldados. Dizem que os brancos (paulistas) “eram menos cruéis do que os seus Tupys, que odiavam os Guaranys."
-Os jesuítas Mansilla e Mazzeta – capelães da Bandeira de Raposo Tavares - relataram ao seu Provincial no Brasil, padre Antonio de Matos: “nem os holandeses hereges que invadiram e se apossaram de Pernambuco e da Bahia, eram tão brutais quanto aos católicos da Vila de São Paulo”. Entre os que aprontaram as carnificinas por aqui, disseram os padres: “abundavam hereges e judeus... a maioria ímpios e ainda, alardeavam que traziam nas solas dos sapatos (palmilhas), imagens de Nosso Senhor, São João e Santo Inácio...”.
-Segundo Mansilla e Mazzeta, “os bandeirantes tinham o apoio de toda gente de São Paulo (Vila), das autoridades civis, militares e até das eclesiásticas. Eram todos cúmplices naquela faina de desobediência formal, de violação das leis de Sua Majestade. Não havia gente mais desalmada do que aquela de São Paulo, pior que os piratas franceses ou os corsários argelinos".
Os oficiais de São Paulo recebiam um quinto das levas de escravos (índios). "Clérigos seculares e regulares serviem de capelães das jornadas escravistas. Recebem ricos presentes de índios e compram peças para si”. -Muitos destes aventureiros passavam cinco, dez, vinte anos na selva, “haziendo vida de brutos sin acordarse de sus casas y de sus mujeres legítimas”.
-Em 2 de outubro de 1629 ambos escreveram denúncias severas contra os moradores da Vila “de San Pablo... gente desalmada y alevantada que no haze caso ni de las leyes del Rei ni de Dios”.
Diante
da gravidade dos relatos dos religiosos –ameaçados de muerte
in San Pablo - o Provincial os levou para esconder no Rio de Janeiro e
depois à Bahia (capital do Brasil), onde relataram os fatos ao
governador-geral, Diogo Luís de Oliveira. Ao
ouvir as denúncias dos dois jesuítas do Guayrá, o governador-geral deu
ordens às autoridades das capitanias de São Sebastião do Rio de Janeiro e de
São Vicente (SP) para que: “sindicassem
todas as pessoas comparticipes da entrada organizada em 1628.
Que, fossem presos, levados à Bahia e tivessem os bens confiscados e, se acaso
fugissem, (as autoridades) podiam, "a revelia, condená-los à morte, como alevantados rebeldes e
réus de lesa-majestade”.
Determinou às mesmas autoridades que: “aos índios do Guayrá mandassem imediatamente pôr em liberdade”. Estas ordens nunca foram cumpridas para tristeza de Mansilla e Mazzeta. Quando estavam ainda na Bahia, os padres viram o Governador receber, de presente, dois índios, escravos do Guayrá, dados por Manuel de Melo. E quando Mazzeta pediu para que o escravista fosse preso e os índios soltos, Diogo Luís se exaltou e “diante de numerosos circunstantes – exclamou – que de todo, isso não farei”.
Em maio de 1630 os dois clérigos voltaram a São Paulo, Rio de Janeiro e Espirito Santo sem nenhum resultado, enquanto os bandeirantes dominaram, de vez, a província de jugo espanhol, logo em seguida ampliada e anexada a coroa portuguesa, com os limites fronteiriços alargados e mantidos, praticamente, até hoje.
Wille bathke júnior – 7/7/2001
Programa Anísio dos Santos Morais
Rádio Colmeia de Campo Mourão - PR
Rádio Colmeia de Campo Mourão - PR
Nenhum comentário:
Postar um comentário