Sentado no banco da praça, ele alimenta as pombas e
olha para o nada. O sino da igreja toca, chamando os fieis para a missa,
celebração de que ele não faz questão nenhuma de participar.
Mas todos os dias, ali naquele mesmo banco, na
mesma praça vê o sol sumir no horizonte enquanto a cidade diminui seu ritmo.
Poderia até ser apenas mais um no banco da praça, um
idoso querido pelas palavras amáveis e amenas.
Mas não é, nem faz questão de ser.
Cético, crítico e sem papas na língua, o aposentado – e livre pensador - como se auto denomina, Fraterno Maria Nunes é uma figura emblemática de Campo Mourão. Digamos, mais que isso, uma das pessoas mais polêmicas da cidade.
Mas não é, nem faz questão de ser.
Cético, crítico e sem papas na língua, o aposentado – e livre pensador - como se auto denomina, Fraterno Maria Nunes é uma figura emblemática de Campo Mourão. Digamos, mais que isso, uma das pessoas mais polêmicas da cidade.
Filho de seu
Juquinha e dona Fifi fiel abnegada da igreja católica, casal bem-quisto e pioneiro da
cidade. Fraterno e seus irmãos cresceram na antiga e tranquila Rua Ceará (atual Harrison
José Borges) de dois carreadores, sem movimento de tráfego, junto com a cidade que foi ficando cada vez maior e com muita gente
nova, que lhe é estranha.
Com sua
família, mais dois irmãos e duas irmãs, veio de Castro - PR, com quatro anos de
idade e acompanhou a grande transformação de Campo Mourão, antes uma vila pacata, hoje uma bela
cidade de porte médio, em constante evolução e trânsito agitado, com transformações criticadas por ele. Vê
defeitos, aponta, não se conforma com certos 'avanços', mesmo sendo taxado de chato por bater sempre
nas mesmas teclas.
“Uns gostam de discutir futebol e mulher. Eu gosto de falar
de política e religião”, diz. E o ponto porque tantos se desgostam dele é justamente sua posição radical contra Deus, papa, padres, pastores e religião.
Opinião radical
Fraterno conta que, acompanhado de seus pais, cresceu 'dentro' da igreja católica. Um verdadeiro papa-hóstia.
Aos sete anos, por vontade própria foi até a igreja confessar os pecados que acreditava ter. Tomou a hóstia e seguiu a vida aliviada por não ser mais um pecador. Tinha fé que foi perdoado.
“Saí de lá com a convicção de que ia pro céu. Veja só”, brinca.
Casou na igreja, batizou suas filhas na igreja, até mesmo participou de um retiro religioso espiritual, com colegas de outras épocas.
Hoje acredita que aquilo tudo não era porque havia fé, mas sim, conveniência social ou imposição dos pais, desde criancinha. "Era tudo fachada!".
Fraterno conta que, acompanhado de seus pais, cresceu 'dentro' da igreja católica. Um verdadeiro papa-hóstia.
Aos sete anos, por vontade própria foi até a igreja confessar os pecados que acreditava ter. Tomou a hóstia e seguiu a vida aliviada por não ser mais um pecador. Tinha fé que foi perdoado.
“Saí de lá com a convicção de que ia pro céu. Veja só”, brinca.
Casou na igreja, batizou suas filhas na igreja, até mesmo participou de um retiro religioso espiritual, com colegas de outras épocas.
Hoje acredita que aquilo tudo não era porque havia fé, mas sim, conveniência social ou imposição dos pais, desde criancinha. "Era tudo fachada!".
Em que momento, então, decidiu que não tinha crença?
“Não teve um
momento de ruptura, aquele dia que cheguei e disse que não acreditava em nada
disso. Isso foi acontecendo aos poucos, não é verdade?”, indaga.
Um fator, no entanto, colaborou bastante para que se colocasse a pensar sobre o assunto da santa reviravolta.
Um fator, no entanto, colaborou bastante para que se colocasse a pensar sobre o assunto da santa reviravolta.
Há mais de 20
anos, quando voltava de Curitiba com o sobrinho César Nunes (irmão de Tadeu e
Marcio) e um colega do rapaz, entre Pitanga e Iretama capotou o carro e César - seu sobrinho- morreu na hora.
“Eu tinha uma
certa fé e até um crucifixo, que devo ter ganho de alguém, no painel do carro.
Toda vez que saía para a estrada, mesmo que fosse daqui até
Peabiru pedia, não sei para quem, que nada de mal me acontecesse. Naquele dia,
antes de sair, pedi a mesma coisa e aconteceu o pior", relembra triste.
Aquele acidente
e o dia em que se separou da esposa, revela, foram os piores de sua vida. “Não é
verdade ??”
Desconfiado de
que as coisas não eram como sempre ouviu falar, começou a estudar com mais
afinco aspectos da religião, mesmo sem pretensão.
Daí a se tornar
ateu, foi um passo. Ao começar a criticar as religiões e ser odiado, outro passo
maior ainda seria dado.
“Quando me
desquitei fiquei com medo de que minhas filhas não conhecessem o pai que tinham
e comecei a escrever sobre tudo. Sempre mandei minha opinião para jornais e
revistas”, relata.
Hoje já acumula
32 livros manuscritos, catalogados e encadernados. "Vão ficar para minhas filhas", antecipa.
“Escrevo para o
mundo. Quero escrever para deixar meus pensamentos registrados”, revela.
Radical ao
extremo com suas convicções, ele não mede as palavras. Afirma que trata bem
quem é educado com ele, mas não faz nenhuma questão de viver de aparências. Se não
o tratam bem, não vê motivo para que ele faça o mesmo. Já comprou briga com
várias pessoas e é odiado por muitas outras que si quer o conhecem pessoalmente,
mas que se ofendem com sua opinião. Essa hoje é sua grande luta: "me fazer
ouvir".
Direitos de
todos
“As pessoas têm direito de falar que acreditam em Deus, assim como eu tenho o direito de dizer que não acredito”, salienta. “Aceito que as pessoas acreditem em Deus. Acho que é ignorância, mas passa. Agora, acreditar que há representantes de Deus na terra, aí eu acho que a pessoa é curta de inteligência. Podem me xingar por pensar assim”, defende-se.
“As pessoas têm direito de falar que acreditam em Deus, assim como eu tenho o direito de dizer que não acredito”, salienta. “Aceito que as pessoas acreditem em Deus. Acho que é ignorância, mas passa. Agora, acreditar que há representantes de Deus na terra, aí eu acho que a pessoa é curta de inteligência. Podem me xingar por pensar assim”, defende-se.
Ele tem consciência do quanto isso incomoda as
pessoas e dos comentários que fazem a respeito dele e de sua postura, mas não
se importa.
“Não quero que ninguém mude o que pensam sobre o que
falo. Quero apenas falar”, embasado no clássico pensamento de Voltaire: posso
não concordar com uma só palavra sua, mas defenderei até a morte o seu
direito de dizê-la. O que defende é que se a mídia dá tanto espaço para as
religiões, deveria conceder também para o outro lado.
Aposentado,
desquitado e solitário, Fraterno diz que se sente muito feliz. Aprendeu a
dirigir moto depois dos 60 anos. Viajou sobre duas rodas, passou 13 capitais,
até que se envolveu em novo acidente e deu uma pausa nas viagens.
Se aposentou
muitos anos antes, depois que quase morreu ao sofrer um infarto. Nos últimos
meses teve um AVC e ficou com limitações físicas, mas se dedicou ao tratamento com tenacidade e recuperou praticamente todos os movimentos.
“Gastei umas
quatro canetas Bic inteiras para reaprender a escrever. Mal conseguia segurar a
caneta e agora minha letra está igual à de antes”, conta orgulhoso. Gosta de
passar os dias escrevendo e observando o mundo.
As únicas
coisas que importam, segundo ele, são suas filhas e a neta, de quem faz questão
de falar com um sorriso largo. “Precisa só ver a Mariah, coisa mais
linda do mundo”, repete. O que não pensa, tão cedo, é ficar quieto, apesar de
incomodar tanta gente com seus pensamentos. “Sou um homem livre, não tenho
medo de nada, nem de macacos, não é verdade??”, concluiu sorrindo.
"Sou bom no que faço e penso"",
concluiu Fraterno Nunes.
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