27/10/2018

Campo Mourão: Anita 'custurou' o Aniceto

1960 - Aniceto e a cura

Tinha eu lá meus 18 anos quando vim de Portugal à hospitaleira Campo Mourão onde montamos uma lojinha que foi o início do Armarinhos Continental, na esquina da R. Harrison José Borges com a Av. Irmãos Pereira,  local que hoje ali está uma farmácia.
Aos poucos passamos a conhecer as famílias mais antigas, dentre estas a dos Albuquerque. Falavam coisas assim, que eu não acreditava e soube também que a dona Anita benzia e curava males do corpo além de ser excelente parteira.
Certa manhã acordei com dores insuportáveis na altura dos rins. Doía demais, meu amigo! Estava eu  a andar meio curvado. Parecia que tinha abotoado o colarinho da camisa, no botão da cueca.
Pois foi quando me indicaram dona Anita, mas relutei um pouco. Algumas pessoas falavam: cuidado, se eu fosse você não ia lá... os filhos dela são muito bravos e coisa e tal. Não acreditei que alguma coisa pudesse me acontecer de ruim - pior que a dor que me afligia - sempre fui homem de paz,  e caminhei a duras penas até lá. Atravessei a praça. Andei com dificuldade.  Cheguei na frente da casa de madeira, simples, perto do Museu, bati palmas e dona Anita, lá da porta, perguntou quem era eu e o que queria. Respondi que precisava muitíssimo falar com ela.
Ela veio até o portão, enxugando as mãos no avental, e logo viu minha cara contraída de dor:
- O que você tem moço?
Disse o que sentia e ela recomendou:
- Vá e me traga um carretel de linha branca e uma agulha. Olha, a agulha e a linha têm que ser virgens, sem serem usadas, entendeu?
Disse que sim e fui ao nosso Armarinhos... peguei o que ela solicitou... voltei e a dor apertava. Raapaazz achei que ia ter um tréco!!
Ela mandou eu entrar na sala. Tudo ali, muito simples. Sentou e eu em pé de costas à ela. Pediu-me que eu erguesse a camisa e apontasse aonde estava a doer. Mostrei com o dedo. 


 
"Acredito na cura pela fé"

Ela colocou um pedaço de pano sobre o local e foi fazendo uma costura no tecido sem tocar minha pele, sussurrando orações,  e perguntava:
- O que costuro?
- Costuras  minha dor!. Respondia eu, instruído por ela.
Fez a pergunta três vezes e, três vezes respondi tal e qual que ela me ensinou.
Garantiu que eu ficaria bom, com a "Graça de Deus", e mandou-me voltar no dia seguinte. Eram três dias de tratamento.
Acredite ou não meu caro: sai da casa de dona Anita quase não sentindo mais nada. Ficou uma espécie de dor reflexa, não sei se me compreendes?! 
Fui embora a andar normalmente... sozinho, feliz igual bobo, esboçando sorrisos de alegria. Me senti curado, porém completei as três visitas.
Mas, meu amigo, vamos encurtar esse fato.
Eu sarei. Fiquei completamente são e muito agradecido a Deus e a dona Anita que,  durante a cura, rezou o tempo todo o nome do Pai.
Na realidade o que mais mexeu comigo e me emocionou, foi a firmeza e a simplicidade daquela mulher de sorriso amistoso, de ar cativante, fala suave e de um coração enorme.
Nesse dia foram por terra todas ‘as maldades’ que algumas pessoas capciosas falavam dos Albuquerque. É uma família maravilhosa e disso sou testemunha.
A humildade de dona Anita foi além de tudo isso quando lhe perguntei:
- Minha senhora. Quanto tenho a lhe pagar?
Ela abanou as duas mãos no no ar, como quem diz...xôo... saí pra lá... pode ir... e falou: 
- "Não me deve nada meu filho. Deus paga" !!

Despedi-me sem saber o que lhe dizer  ou o que fazer àquela Santa Mulher. Fiquei todo embasbacado. Me despedi e fui novo de novo.
Tempos depois, sempre que me lembrava dela, lhe levava ou mandava entregar um presentinho que eu mesmo escolhia aqui da loja, porque sei que não há dinheiro que retribua o bem que a pioneira e atualizada  dona Anita me fez e, sei que fez bem a muitas e muitas outras pessoas que, por certo, lhe são agradecidas, assim, iguais a eu”, concluiu Aniceto Jorge dos Santos, sempre sorridente.

      
Anita Gaspari Albuquerque e Aniceto Jorge dos Santos 

 
Casal Francisca e Aniceto em Carnaval no 10

Aniceto é nome de herói em Lisboa
junto à Penha de França

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