Justilina dos Santos a primeira primeira-dama de Campo Mourão
Justilina dos Santos (Dona Santa) - nos contou que: "quando chegamos a Campo Mourão
viemos de carroça desde Ortigueira até aqui. Passamos por muitos perigos, mas
chegamos vivos, pela graça de Deus. Atravessamos a Serra da Esperança por beiras de precipícios enormes. Era
muito sertão e rios cheios sem pontes. Estradas não tinha e viemos pelos
caminhos mais batidos pelo trecho de Prudentópolis, Pitanga, Campo Mourão.
Demoramos umas duas semanas.
Meu
marido, José Antonio dos Santos era dentista de Sapocaí - MG, e nos conhecemos em
Ponta Grossa - PR, no hotel que minha mãe trabalhava. A gente se amava, daí fugimos pra cá porque ele era casado; Ele
foi o primeiro dentista e prefeito
nomeado quando Campo Mourão separou de Pitanga", revela Dona Santa –
batizada Justilina – a primeira primeira-dama de Campo Mourão.
Zuleika Teodoro foi parteira em Campo Mourão
tinha mais de mil comadres
Os
Teodoro - Aqui fomos bem acolhidos pela
família do seu Antoninho (Antonio Teodoro de Oliveira) e da dona Zuleika.
Moramos na casa deles, na Rua Brasil, atrás da Casa Iracema dos Cilião de
Araújo.
Foi
a Zuleika que me apresentou uma amiga das mais bondosas que já conheci,
chamada Anita (Anita Albuquerque) e seu marido, seu Francisco Albuquerque que
indicou o José ao governador Moisés Lupion para assumir a prefeitura de Campo Mourão até a realização da primeira eleição na qual uns 500 eleitores do povo que tinha aqui, elegeu o senhor Pedro Viriato, que não teve adversário.
Anita
em ação - O José atendia os clientes e eu
ajudava dona Zuleika no que fosse preciso. A casa dela era simples, mas limpinha. Tinha de
tudo e sempre estava cheia de visitas, filharada, enteados,parentes e comadres. Ela era parteira que aprendeu
com dona Anita e sempre que me chamavam, era prestativa.
Joãozinho - Aconteceu
que a Zuleika 'arruinou' para ganhar o Joãozinho (João Teodoro de Oliveira
Sobrinho). A dona Anita veio correndo logo que soube. Era só atravessar a
praça, morava do outro lado, perto do Posto de Saúde do Estado (hoje Museu Municipal). Os
trabalhos começaram, mas a criança não nascia e a coisa foi apurando. A Zuleika
se esforçava. A dona Anita incentivava e ajudava: “Vamos Zuleika... forrçaa
Zuleika!!!
Nisso ela me chamou lá do quarto. Vim correndo, estava eu, na cozinha, nervosa. Ela me falou: “Santa, prepara bastante água quente e bastante panos limpinhos (toalhas). Aplicou muitas compressas e nada.
Nisso ela me chamou lá do quarto. Vim correndo, estava eu, na cozinha, nervosa. Ela me falou: “Santa, prepara bastante água quente e bastante panos limpinhos (toalhas). Aplicou muitas compressas e nada.
Então ela mandou: “Santa corre na cozinha e vire o tição ao contrário, no fogão”. Fui, virei e voltei. E nada do bebe nascer. A
Zuleika parecia que ia desfalecer. Estava com o rosto muito vermelho e gemia
demais.
Dona Anita me disse: “Vai lá fora, rápido, e soca o pilão três vezes”. Fui,
soquei com toda força: pum, pum e puum !!
Quando voltei o Joãozinho começou aparecer. Cabecinha cabeludinha. Dei um suspiro aliviada e dona Anita ajudou a Zuleika a fazer mais força e aparou o menino roxinho, sem respiração.
A Zuleika parecia que ia morrer, estava muito mal, largadona na cama. Os dois estavam maus! Dona Anita, sem perder a calma, disse: “Santa. Cuide da Zuleika que cuido do nenê”. Eu continuei fazer as compressas quentes e dona Anita suspendeu pelas perninhas e deu uns tapinhas na criança e nada de chorar. Ela acertou: “Ele está afogado!!
Mais que ligeira colocou o nariz e a boquinha dele na boca e chupou meio forte e veio aquelas coisas. Ela cuspiu e nem bem desentupiu, o Joãozinho berrou forte. Chorou pra valer!
Quando voltei o Joãozinho começou aparecer. Cabecinha cabeludinha. Dei um suspiro aliviada e dona Anita ajudou a Zuleika a fazer mais força e aparou o menino roxinho, sem respiração.
A Zuleika parecia que ia morrer, estava muito mal, largadona na cama. Os dois estavam maus! Dona Anita, sem perder a calma, disse: “Santa. Cuide da Zuleika que cuido do nenê”. Eu continuei fazer as compressas quentes e dona Anita suspendeu pelas perninhas e deu uns tapinhas na criança e nada de chorar. Ela acertou: “Ele está afogado!!
Mais que ligeira colocou o nariz e a boquinha dele na boca e chupou meio forte e veio aquelas coisas. Ela cuspiu e nem bem desentupiu, o Joãozinho berrou forte. Chorou pra valer!
A
Zuleika respirava com dificuldade e começou a voltar ao normal, bem zonza, enquanto dona Anita cortou o umbigo, deu
aquele banho no Joãozinho, enfaixou bem, agasalhou na fralda e no cueiro, e entregou ele enroladinho, no
colo da Zuleika, que ajudei a se recostar nos travesseiros que coloquei na cabeceira da cama. Pegou e já deu o primeiro mamá no peito, pra ele. Parecia guloso e dormiu mamando igual anjinho.
Uma coisa linda que notei, é que dona Anita, o tempo todo, até a criança mamar, ela rezava baixinho. Conversou com Deus sem parar, durante todo o parto! Quando terminou, se benzeu e fez uma higiene geral no quarto; deu banho de pano molhado na Zuleika e se lavou na bacia de água quente, com sabão de cinza,
Depois fiquei sabendo que ela já tinha feito uns mil partos e que nenhuma mãe ou bebe morreu nas suas mãos. Todos viveram e foram batizados por ela".
Uma coisa linda que notei, é que dona Anita, o tempo todo, até a criança mamar, ela rezava baixinho. Conversou com Deus sem parar, durante todo o parto! Quando terminou, se benzeu e fez uma higiene geral no quarto; deu banho de pano molhado na Zuleika e se lavou na bacia de água quente, com sabão de cinza,
Depois fiquei sabendo que ela já tinha feito uns mil partos e que nenhuma mãe ou bebe morreu nas suas mãos. Todos viveram e foram batizados por ela".

"Não deu nem uma semana dona Anita veio tomar um café na casa deles. Viu que estavam todos
bem, inclusive Zuleika e Joãozinho.
Aproveitou e já batizou a criança, como era costume, em casa, pra não morrer pagão. Batismo na igreja era um mês depois", explicou.
Aproveitou e já batizou a criança, como era costume, em casa, pra não morrer pagão. Batismo na igreja era um mês depois", explicou.
Dona Anita agradeceu o café – sorridente o tempo todo – e nos convidou para rezar juntas e
agradecer a Deus pelo ‘milagre da vida’, Todos se levantaram e rezamos juntos. Eu rezei e chorei, feliz por tudo ter dado certo!! Ela se despediu e se foi calmamente, andando a passos largos em direção da sua casa, ali pertinho".
E o João Teodoro de Oliveira Sobrinho?
"Sobreviveu, cresceu belo e guapo, conhecido e amigo de quase toda Campo Mourão. Um amor de pessoa", concluiu Dona Santa.
º^

O trabalho e o que faz a parteira
O Dia Internacional da Parteira - 05 de Maio - foi instituído pela Organização Mundial da Saúde, em 1991, o que salienta a importância do trabalho das parteiras em todo o mundo..
Em pleno século 21, em lugares distantes dos grandes centros, é primordial e persiste a existência da parteira. Comunidades rurais, pela relativa distância dos centros de saúde, vivem isoladas, o que torna o trabalho da parteira indispensável.

Na maioria das tribos nativas a mulher ganha filhos sozinhas dentro de rios de água limpa, assistidas pelas mulheres mais velhas da aldeia, contava Pedemar Maraguara Porã, cacique da tribo Pixuna, em suas palestras em escolas de Campo Mourão, sobre: Usos e Costumes Indígenas.
"Quando começa dores ela vai sozinha até o rio. A índia fica acocorada... a criança sai dela, dentro da água, que fica pela cintura da mãe. Ela corta umbigo nos dentes, amarra com cipó imbira, dá banho no filhinho e nela também; abraça e dá de mamá; daí volta até aldeia, como se nada tivesse acontecido, andando normalmente", narrava Pedemar.
Qual é o papel da parteira
durante o parto.
Hoje a luz elétrica está por toda parte, mas antigamente ou aonde
o benefício não chegou, quando o parto ocorre à noite, a iluminação é
garantida por intermédio de lamparinas e lampiões.
“Muitos partos fiz a luz de velas e cirurgias a luz de flash de
fotografia. A professora Leoni, minha esposa, me ajudava!”, revelou o médico pioneiro dos anos 50 em Campo Mourão, Dr.
Manoel Andrade, quando ainda não existia a Usina Mourão.
O trabalho das parteiras não é para qualquer um.
Trata-se de um trabalho duro, que requer muito amor ao próximo, experiência e esforço físico devido as caminhadas distantes, muitas vezes na boca da noite, a pé ou a cavalo, além da falta de material adequado. O temor maior está na possível perda do bebê ou morte da mãe. Porém conhecem bem suas limitações e partos mais difíceis encaminham à médicos e postos de saúde com urgência.
Trata-se de um trabalho duro, que requer muito amor ao próximo, experiência e esforço físico devido as caminhadas distantes, muitas vezes na boca da noite, a pé ou a cavalo, além da falta de material adequado. O temor maior está na possível perda do bebê ou morte da mãe. Porém conhecem bem suas limitações e partos mais difíceis encaminham à médicos e postos de saúde com urgência.
A parteira, pelo seu valor e coragem, é reconhecida e respeitada
pela comunidade e muitas delas usam práticas populares: plantas medicinais,
superstições, simpatias, além da indispensável reza, que torna a fé em mais um
instrumento divino a fim de que o trabalho de parto aconteça sem problemas.
Mesmo tendo o direito à saúde garantido constitucionalmente, a
falha do sistema, principalmente nessas áreas ermas, faz com que a figura da parteira
continue a salvar muitas vidas.
No entanto se faz necessária a vontade política dos gestores dos serviços de saúde do Brasil, para melhorar essa delicada situação humanitária.
No entanto se faz necessária a vontade política dos gestores dos serviços de saúde do Brasil, para melhorar essa delicada situação humanitária.

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