01/04/2011

* Primeiro 'Point' de Campo Mourão

 
Respeitosa simplicidade sem apelação

 
Raia dos Porungos de Campo Mourão

1940 - O recém aberto quadro urbano, com amplas ruas e avenidas cheirando terra revolvida, no principio  de Campo do Mourão - derivado dos abençoados Campos do Mourão - limitava-se a Praça 10 de Outubro - hoje Getúlio Vargas - e menos de meia dúzia de casas totalmente de madeira a sua volta tendo como pontos de lazer e festas o Bosque das Copaíbas e a Raia dos Porungos.


CAMPO MOURÃO SAÚDA OS SEUS ILUSTRES VISITANTES

O Bosque das Copaíbas 

Na década de 40, antes da construção da cadeia do Distrito Policial, o bosque servia para prender os criminosos, que eram amarrados nos troncos das árvores até serem transferidos para a Delegacia de Polícia do Município de Guarapuava ou de Pitanga do qual Campo Mourão foi emancipado no dia 10 de Outubro de 1947.
Nas décadas de 40 e 60 o cruzeiro de cedro na capelinha de Santa Cruz (atual Jardim Santa Cruz) e o Bosque das Copaíbas (centro da cidade) eram, respectivamente, os pontos de encontros religiosos, esportivos, políticos e sociais do então Campo do Mourão.

Comícios de Moysé Lupion e Jânio Quadros 
no Bosque de Campo Mourão

A festa de Santa Cruz era comemorada no primeiro domingo de maio e a data consagrada é 8 de maio. Nela eram celebrados casamentos, batizados, a Festa da Colheita e a Missa de Ação de Graças por padres que vinham a cavalo desde Guarapuava até que, em 1942, foi fundada a igreja Matriz de São José, no centro do povoado, hoje cidade de Campo Mourão.

Cerimônia religiosa na Raia dos Porungos, 
à esquerda a casa de Chico Albuquerque

Em frente a igreja situava-se a primitiva Praça 10 de Outubro (atual Getúlio Vargas) e no centro da quadra cercada pelas Avenidas Irmão Pereira e Capitão Índio Bandeira e ruas Brasil e Araruna, e o Bosque nativo onde eram realizadas festas, comícios, churrascadas e recepções às visitas ilustres.


1950 - antigo Colégio Santa Cruz/ 
antiga matriz de São José

O principal evento festivo dava-se na Raia dos Porungos, nos fins de semana, com disputas de 'pencas’ que eram as corridas de cavalos, em duplas. Ida e volta os meninos-jóqueis, magrelos, em seus cavalos em pelo, corriam em disparada, em duas pistas, lado a lado, no sentido Posto do Cunhado/Posto Guarujá.

Nas apostas valia tudo; dinheiro, animais, sacas de alimentos, arreios, guarda-chuvas e até dentaduras desde que tivessem dentes de ouro. Só era proíbido apostar a mulher.

E a água das jornadas e a cachaça para a festa eram trazidas pelos participantes, em grandes e médios porungos nativos, também conhecidos como cabaças.

Ao meio dia as corridas paravam para o almoço, a base de churrasco assado nas valas e servido nas mesas de madeira tosca, à sombra do majestoso e acolhedor bosque natural.

À tarde tinha leilão de prendas e geralmente era disputada uma partida de futebol na terra destocada da praça, por duas equipes formadas entre os festeiros.


Time de futebol de Campo Mourão e a torcida - 1940

A missa matinal era celebrada em um pequeno púlpito, no meio do bosque, que também servia para os 'cantadores’ dos leilões e para os discursos dos lideres, autoridades e políticos. A renda da festa era doada a matriz de São José, contabilizada pelo bravo padre Aloysio Jacobi.

 
Pe Aloysio Jacobi primeiro vigário de Campo Mourão
construtor da primeira igreja matriz de São José
Foto autografada por ele.

Entre o Bosque e a Raia havia um poço comunitário coberto, com cerca de 25 m de profundidade que fornecia água fresca aos festeiros e aos poucos moradores da cidade, perfurado onde está hoje a quadra de esportes do Colégio Santa Cruz.

Cavalhada com Lupion à frente - ao fundo o Bosque

Nas festas de São José, da Santa Cruz e do Bosque, o povo vinha de longe, a cavalo e as famílias em carroças. As pessoas vestiam as suas melhores roupas e os animais encilhados com arreios de couro, decorados com metais dourados e prateados, celas com pelegos coloridos, conforme a posse financeiras dos seus proprietários valiam tanto quanto uma Mercedez o BMW hoje.

O Bosque tinha a forma arredondada com cerca de 40 m de diâmetro, com dezenas de árvores de diferentes espécies da flora nativa prevalendo as Copaibeiras e os ninhos de saúvas.

Na década de 60 ao seu lado foi construída, em alvenaria, a estação rodoviária, o prédio da Telepar e mais tarde o novo Colégio Vicentino Santa Cruz e mais recentemente, o terminal de transporte urbano e o centro cultural na antiga estação rodoviária que sacrificou mais da metade das árvores nativas formadoras do Bosque. Foi, praticamente, seu fim.


O que resta do Bosque resiste ali, 
entre o Terminal  e o Santa Cruz

Ao fundo o Bosque e a seu lado direito está o Colégio Vicentino Santa Cruz.
Do outro lado havia um significativo morro de terra fofa, que abrigava milhões de formigas saúvas, conhecidas como plantadoras de matas e florestas.
Os ninhos eram abarrotados de folhas e sementes que se transformavam em fungos alimentares das saúvas ruivas. No mês de outubro havia a revoada das Iças (rainhas) que voavam longas distâncias, as centenas, até pousar na terra, cortar as asas, abrir um buraco, nele depositar seu abdome, tapar o buraquinho e morrer. Em seis meses apareciam as formiguinhas que imediatamente iam para o corte e colheita de folhas para alimentar o novo formigueiro, formando longos carreadores (caminhos).


De longos tempos, esses formigueiros imensos eram abandonados após a morte da rainha, e deles brotavam as sementes não devoradas e formavam-se os bosques em vários pontos do Cerrado Mourãoense, tal qual nasceu o Bosque das Copaibeiras.

Florada em Campo Mourão e sementes de Copaíba
considerada o Bálsamo dos Deuses, pelos Incas.

Antigos campos do espigão, hoje Jardim Lar Paraná


Campo Mourão, 30 de maio de 2010
A pedido da digníssima Irmã Geralda
Superiora do Colégio Vicentino Santa Cruz

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