24/03/2011

MAMBORÊ Fruto do Império da Erva Mate


Hino de Mamborê

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“Haamam-Amburê” surgiu da ganância, trabalho escravo e violência
no recôndito do império da erva-mate.

Começo - As primeiras explorações na vasta região de Campo Mourão começaram por volta de 1918 por paraguaios e argentinos, em virtude da abundante erva-mate por aqui.

As maiores reservas ficavam em Porto Mendes, Cascavel e Campo Mourão, mais exatamente em Mamborê/PR. Os aventureiros penetravam a mata por caminhos nativos ou abriam “picadas” e carreadores afim de colher e transportar, nas costas, a preciosa erva colhida.
Na região de Guarapuava e Laranjeiras havia a Companhia Mate Laranjeira, enquanto que na região de Alto Paraná, Porto Mendes, Porto Allica. Quem mais explorou a erva-mate foi a Companhia Allica que instalou acampamentos a partir do Rio Piquiri até o descampado da região de Campo Mourão e o centro atual de Mamborê.
Império - O argentino Dom Júlio Thomas Allica, proprietário da companhia, foi o principal explorador e exportador de erva-mate na grande região de Campo Mourão, hoje formada pelos 25 municípios da Comcam-Comunidade dos Municípios da Região de Campo Mourão. 

Trabalho escravo - A mão-de-obra nos ervais era paga com baixos salários, apesar da companhia Allica ser rica e poderosa. Os trabalhadores, em regime de escravidão, eram chamados “mensus” porque recebiam minguados salários mensais. Nos casos de fuga, os trabalhadores recapturados  eram punidos severamente com a morte pelo carrasco Santa Cruz, cunhado e capataz do poderoso Allica.

Ocupação - Com o intenso trabalho das companhias, vários acampamentos surgiram: Memória, Lupái, Boicai, Santa Cruz e Porto Piquiri. Do outro lado do Rio Piquiri surgiram outros povoamentos: Ronquita, Catatumba, Inhampecê, Pensamento, Don Canuto, Sununu e Natividad (atual Mamborê).
Natividad era uma espécie de Central. Detinha o acampamento principal, com armazém, víveres, armas, enorme barracão e um número maior de ranchos que localizava-se no meio e em volta da atual Praça das Flores, marco zero da Cidade de Mamborê. Deste ponto abriam-se as picadas em direção aos demais acampamentos de colheita da cobiçada erva nativa.
Violência - A localidade conhecida como Campina do Amoral, na época era chamada de Tapera de Sinhá Ana Coita (nome de uma moradora do local) que fornecia pouso e comida aos passantes. Havia uma picada de Natividad à essa localidade e, a partir daí, era possível seguir até as vilas de Pitanga ou de Campo do Mourão.

Os catadores de erva-mate, que tinham maior contato com moradores de Campo Mourão que visitavam Natividad a fim de vender seus produtos, tomaram conhecimento da existência do caminho via Tapera de Sinhá Ana Coita. 
Fugas e mortes - Devido aos maus tratos e a situação de miséria em que viviam, a maioria dos catadores de erva-mate decidiu fugir. Após se 'organizarem', armados de foices e facões, seguiram até a Tapera de Sinhá Ana Coita. A maioria debandou na direção de Campo Mourão e não foi alcançada pela patrulha do carrasco Santa Cruz, enquanto a minoria fugiu em direção a Pitanga. Estes foram alcançados e mortos violentamente pelos asseclas do impiedoso capataz. O local ficou conhecido como “Las Cruces” e os corpos abandonados ao deus dará, depois sepultados por brasileiros que os encontraram aos pedaços e em decomposição, vários dias depois do massacre.


Origem de Mamborê - O Acampamento Natividad ficou um período abandonado pelas fugas e falta de nova força trabalhadora devido as notícias ruins e dos maus tratos da Companhia Allica, que se espalharam por todos os lugares. No trabalho do carrasco Santa Cruz, na busca de trabalhadores nos arredores de Alto Paraná, ele fazia promessas que não seriam cumpridas e até usava de violência para trazer os homens e, assim, o acampamento foi reativado.
Para "esquecer" Natividad e apagar a fama de lugar ruim, Dom Júlio Allica trocou o nome para “Haamam-Amburê” do  dialeto Guarani. “Haamam” significa “lugar distante” e “Amburê” quer dizer “reunião de pessoas” que, com o tempo abreviou-se: Mamburê.


Início do fim - Na Revolução de 1924 as tropas Legalistas de Arthur Bernardes se defrontaram com as da Resistência rebelde comandadas pelo general Izidro Dias Lopes e pelo tenente João Cabanas. Uma das ferozes batalhas aconteceu na Serra dos Medeiros, entre Cascavel e Laranjeiras do Sul, onde as tropas da Resistência foram derrotadas.

O tenente Cabanas e seus homens fugiram pelos acampamentos: Santa Cruz, Pensamento e Haamam Amburê na tentativa de chegar ao Campo do Mourão e seguir para Mato Grosso, através da insipiente Estrada Boiadeira.
Mas, o plano fracassou quando, antes de chegarem ao povoado de Campo do Mourão foram surpreendidos pelas forças do governo, que os cercaram no estreito Picadão de Pitanga.
O tenente Cabanas mandou dar meia volta, retornou a “Haamam Amburê” e seguiu rumo ao Paraguai pela foz do Rio Iguaçu. Com ele e a tropa militar foram os fugitivos dos acampamentos remanescentes da Companhia Allica, a grande maioria a pé.
Na rota de fuga destruíram pontes e afundaram balsas e canoas, afim de evitar qualquer perseguição por parte das forças legalistas. Ferramentas, armas, ranchos e depósitos abarrotados de erva-mate ficaram abandonados no centro e região de Mamborê.

Fim da Allica - Após vários anos de exploração, Dom Júlio Allica abandonou a região. Os vestígios de seus acampamentos e das lutas militares são muitos e bem visíveis na área do Município de Mamborê.  Até recentemente encontrava-se munições e armas, bem como buracos na terra (trincheiras) em vários lugares. Na região do Gavião, até poucos anos, havia sinais da existência de um “carijo”, instrumento de desidratação das folhas da erva-mate.

O império de Allica desmoronou com a Revolução no Brasil e pelo triste fim do seu capataz Santa Cruz, assassinado em Quatro Pontes, um lugar qualquer na região.

De Mamburê a Mamborê dos Campos do Mourão
Um pouco mais de detalhes sobre Mamborê

A terra onde se localiza o atual Município de Mamborê já foi território espanhol na época em que vigorava o Tratado de Tordesilhas (Séc. XVII e XVIII).

Em 1524 passou pela região a expedição de Aleixo Garcia e o negro José Pacheco guiados e escoltados por um pequeno exército com cerca de 2 mil índios carijós, do litoral catarinense, considerados os melhores flecheiros, em busca do ouro Inca, que encontraram em Cusco (Peru), de onde retornaram com 25 quilos do precioso metal. Porém Garcia e quase todos integrantes da sua comitiva foram dizimados, na volta, emboscados pelos índios Paiaguás, nas proximidades da Vila São Pedro (Paraguai). Os que conseguiram escapar levaram ouro à Santa Catarina, onde a notícia se espalhou rapidamente e começou a corrida em busca do El Dorado, pelo Caminho de Peaberu, percorrido pela vez primeira, pelo português Aleixo Garcia.

Em 1541 uma grande expedição montada (23 cavalos), escoltada por 230 arcabuzeiros e comandada pelo lendário espanhol, Álvar Nuñez Cabeza de Vacca, atravessou os sertões e campos dos estados de Santa Catarina e do Paraná utilizando-se do antigo Caminho do Peaberu. Fez o mesmo trajeto de Garcia. 
Conheceu as Cataratas do Iguaçu e chegou em Assunção em 1542, onde se declarou governador e denominou a região - que incluía Mamborê e toda a Comcam - de Província Del Guairá onde se estabeleceram dezenas de Vilas e Missões Jesuíticas, também conhecidas por Reduções para as quais atraiam as famílias indígenas e ali as catequizavam, obrigavam a falar o castelhano e a seguir o catolicismo romano.

Os trabalhos de Alexandre Gusmão - ministro a serviço do Reino Luzitano – resultaram na assinatura do Tratado de Madrid, em 1750, que definiu os atuais limites internacionais do Brasil. Desta forma a Província del Guairá passou a pertencer aos portugueses e chegou a ocupar quase a metade do Estado do Paraná que passou a pertencer a Província de Piratininga (São Paulo), governada por D. Luiz Antônio de Souza Botelho Mourão, o IV Morgado de Mateus, da Vila Real/PT.

As primeiras entradas clandestinas de exploradores na região aconteceram por volta de 1918. Paraguaios e Argentinos trabalhavam para companhias que buscavam a erva-mate em grandes quantidades. Utilizavam os ramais do Peaberu e o caudaloso Rio Piquiri, para o transporte em balsas, barcos e barcaças, até os rios Paraná e da Prata (Buenos Aires) e dali exportadas para o exterior.

 
O argentino Dom Júlio Thomas Allica, proprietário da companhia, foi o principal explorador e exportador de erva-mate da região, onde mantinha um considerável contingente de famílias em regime de trabalho escravo, dominadas pelo sanguinário capataz, Sñr. Santa Cruz. Nas tentativas de fuga e maus tratos, morreu muita gente. Inclusive o violento capataz foi morto em uma emboscada na localidade conhecida por Las Cruzes.

Como a região era muito extensa, surgiram diversos acampamentos ervateiros, sendo que o de nome Natividad (Nascimento ou Natal) localizava-se onde hoje está a Praça das Flores, no coração de Mamborê. Após um massacre pelos homens leais do capataz da Allica, o carrasco Santa Cruz, contra trabalhadores desertores do acampamento, Natividad foi abandonado.

Dom Júlio Allica então, trocou o nome para "Haamam-Amburê", que na língua guarani: "haamam" significa "lugar distante" e "amburê" quer dizer "reunião de pessoas". Com a entrada das famílias pioneiras, a localidade ficou conhecida por "Mamburê", forma abreviada de "Haamam Amburê".

Cronologia:
Em 1853 foi criada a Província do Paraná.
Em 29/07/1648 foi criado Paranaguá.
Em 7/07/1852 emancipou-se o Município de Guarapuava.
Em 30/12/1943 surgiu o Município de Pitanga.
Em 10/10/1947 foi criado o Município de Campo Mourão. 
Pela Lei número 613, de 27 de janeiro de 1951, Mamburê foi elevado à categoria de Distrito Judiciário do Município de Campo Mourão.

Porque Mamborê - * Em 25 de julho de 1960, conforme Lei Estadual 4.245, instituiu-se o Município com nome de Mamborê por um lapso de grafia na publicação no Diário Oficial do Estado, datado em 28 de Julho de 1960. O certo seria Mamburê, mas prevalece até hoje, Mamborê.

 
Anibal Khury

Independência - No final dos anos cinqüenta e início dos sessenta, líderes ilustres do então Distrito de Mamburê deram início a um movimento que objetivava a sua emancipação política e econômica. Em comitiva seguiram à capital (Curitiba) e de pronto receberam apoio dos deputados estaduais Anybal Cury e Jorge Amim Maia. Os líderes mamborenses eram: Antonio Farid, Daniel Miranda, Irani Roque Martins, Itacy Ferreira Martins, Nelson Chiminácio e Paulino Ferreira Messias.


Em 10 de setembro de 1960, Nelson Chiminácio (1960 a 1961) assume como prefeito provisório, nomeado pelo Governador Moysés Lupion Wille de Troya, conforme Resolução Nº 31.467, de 16/8/60.

Moysés Lupion

* Em 25 de julho de 1960, através da Lei Estadual 4.245, foi instituído o Município de Mamborê por um engano de grafia na publicação do Diário Oficial do Estado, datado em 28 de Julho de 1960. O certo era Mamburê.

Ao ser desmembrado do Município de Campo Mourão, a casa onde funcionou a sede da nova Prefeitura de Mamborê possuía apenas uma escrivaninha. O imóvel de madeira se localizava na esquina da Av. Augusto Mendes dos Santos com a R. Ricardo Kauffmann (proximidades da Praça das Flores), anexa ao escritório e livraria de Daniel Miranda, junto ao Posto do Correio.



Já no início do mandato de Ernesto Carlos Look (1963 a 1966 e 1970 a 1973) - primeiro prefeito eleito -  foi alugada parte da casa pertencente a João Marron, na esquina das avenidas Interventor Manoel Ribas e Antonio Chiminácio, onde se instalou o Bazar Janete.
Em menos de um ano a sede da Prefeitura do Município de Mamborê foi transferida para o local onde hoje é a estação rodoviária. Ali permaneceu por aproximadamente 20 anos.
A nova sede foi inaugurada em 20 de fevereiro de 1981, no mandato de Ubiraci Pereira Messias (1977 a 1982 - 1989 a 1992) e recebeu o nome de Paço Municipal de Mamborê. Tempos depois foi mudado para Paço Municipal Nelson Chiminácio, homenagem ao prefeito interino de Mamborê (nomeado).

Localização - O Município de Mamborê está localizado na zona fisiográfica do Centro-Oeste do Estado do Paraná a 24º 17" 30" latitude e 52º 31" 36" longitude.
Mamborê limita-se com Campo Mourão e Farol ao Norte; com Boa Esperança e Juranda a oeste; com Campina da Lagoa e Nova Cantu ao sul e com Luiziana a leste.
Altitude - 980 metros acima do nível do mar.
Área total do Município - 782,904 km2 - 75.360,9 hectares, correspondendo a 0,38% da área do Estado do Paraná.
Área urbana de Mamborê - 2.789.134,52 m2.
Distância à Curitiba - 481 km.

 
Mamborê - 1958

Hospital São Pedro - Ano 1955

 
Praça das Flores - Mamborê

 
Vista aérea de Mamborê




 História de Mamborê 
Copilada por Wille Bathke Jr

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