06/06/2019

* Campo Mourão e os Caciques


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Campo Mourão antes da civilização

Em 19 de abril, no Brasil, comemoramos Dia do Índio, denominação esta referida aos primeiros habitantes da América dada por Pedro Álvares Cabral quando ancorou na costa brasileira, em 1500 e pensou estar na Índia.

Na área rural do município de Fênix (ex-distrito de Campo Mourão), no ponto de encontro das águas dos rios Corumbataí (rio do sapo) e Ivaí (rio da cana brava) existe o precioso Parque Estadual Vila Rica do Espírito Santo. Comparada ao antigo sertão é uma ínfima reserva ecológica e arqueológica, onde resta um dos últimos remanescentes da floresta tropical e um pouco da fauna característica da região.

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É no interior desse importante Parque que se encontram resquícios das ruínas de Vila Rica do Espírito Santo fundada pelos espanhóis em 1592, destruída pelos bandeirantes portugueses em 1632, que pode ser visitada mediante prévio agendamento. 

Vila Rica foi a terceira cidadela que os jesuítas espanhóis construíram no Paraná. A primeira, Ontiveros, na foz do Rio Piquiri e a segunda, Ciudad Real (atual Guaíra) proximidades do Salto das Sete Quedas que despareceu sob  água da represa  Itaipu. 


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Vila Rica recebeu este nome porque os espanhóis confundiam as pedras de quartzo e os cristais de rocha, comuns na região, que rebrilhavam e centelhavam de encontro a luz do sol, tais quais pedras preciosas.
  
Retrocedendo mais de breves 100 anos, nos primórdios do ano de 1500, na vasta região, havia a populosa nação Guarani, com seus usos, costumes, cultura e crendices religiosas,  estimada em cerca de 250 mil ameríndios. Este imenso aldeamento, sub dividido em tribos distintas e governadas por caciques, ficava à beira dos ramais do longo Peaberu, na vastíssima e pródiga região dos Campos (Campo Mourão), tracejada por uma estreita estrada principal e primitiva construída há milhares de anos, que ligava o Oceano Pacífico ao Oceano Atlântico. Ia e vinha da capital inca: de Cuzco (Peru) até o litoral brasileiro onde hoje estão os estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina e vice-versa. 

Na mesopotâmia do Ivai/Piquiri existiam duas tribos distintas e equidistantes. Uma chefiada pelo cacique Ibyra Tã (madeira dura) no vale do Piquiri (Ubiratã) e na outra imperava o cacique Coaracy Berá (sol brilhante) na região dos Campos (Campo Mourão), à margem esquerda do vale do Ivaí, em território que predominava o capim, a vegetação média esparsa (cerrado), entremeada de árvores típicas, retorcidas, casca grossa, a perder de vista.

Quando do início da exploração e primeiras visitas de pecuaristas de Guarapuava, ao então Campos do Mourão, a partir de 1880, duas tribos remanescentes existiam no grande cerrado do centro oeste paranaense (capim de pasto nativo). A do cacique Gembrê nos arredores dos atuais jardins Modelo, Santa Cruz e Batel, margem direita do Ribeirão 119, e a do cacique Índio Bandeira na região do Barreiro das Frutas, além da margem direita do Rio do Campo, mais precisamente onde está a Fazenda Campo Bandeira, da família Jort.

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Segundo estudos arqueológicos este caminho estreito era usado, a pé, pelos povos de toda a América do Sul e fazia interligação e a comunicação entre dezenas de etnias, interagindo tal qual espécie de traço de união do mundo pré-colombiano. 
Um tronco do Pê abê y u cortava o Vale do Ivaí e seguia rumo ao Paraguai, Bolívia (deusa Lua) e Peru (rei Sol). Tinha pouco mais de 1 metro de largura (30 palmos) revestido, na maior parte do traçado, por uma espécie de grama fechada que evitava que sementes de árvores e o mato vingassem no leito pisoteado da estradinha que rumava à imaginária Terra Sem Mal (Paraíso). 
Em Campo Mourão existem alguns trechos ainda visíveis, isolados e abandonados deste importante e sagrado traçado batizado, pelos jesuítas, como Caminho de São Thomé.

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Onde era a antiga redução está  o Parque Estadual de Vila Rica do Espírito Santo, no município de Fênix - PR, no interior do qual tem um pequeno museu onde encontramos vestígios arqueológicos dos índios guaranis: pontas de flechas, panelas, utensílios domésticos e até urna funerária de barro cozido exposta aos visitantes. 
Nessa região existem muitos sítios arqueológicos onde, até hoje, agricultores e habitantes da localidade, acidentalmente, encontram artefatos indígenas e de europeus que povoaram a pequena urbe. As tribos que habitavam e trafegavam por este território eram várias, dentre as predominantes citamos: Guaranis, Tupis  e Kaingangues.

A mistura de raças começou em 1592 quando a primeira expedição espanhola chegou ao território guarani através do Pê abê y u, ali fizeram contato pacífico e passaram a atrair e conviver com os indígenas catequizados pelos jesuítas da Congregação de Santo Inácio de Loyola (loiolistas). Formaram um povoado misto, com dezenas de taipas (casas de barro) e chácaras, que logo cresceu e passou a ser conhecido por Vila Rica do Espírito Santo assentada em área territorial de 300 mil metros quadrados ocupados por jesuítas, espanhóis e, predominantemente, famílias de índios como parte da Missão.  

A decadência da sociedade indígena se iniciou por ali. Os espanhóis trouxeram a prosperidade do mundo moderno para as missões e impuseram suas crenças, idioma e hábitos aos nativos. Com eles vieram também as doenças fatídicas para os indefesos nativos, que morreram aos milhares.

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No ano de 1620, Vila Rica despontava como o maior ponto estratégico do sul do Brasil. Forçosamente os índios foram dominados e catequizados ou mortos. O que nos prova isso são os artefatos encontrados no museu do parque, com símbolos cristãos entalhados em pedra ou feitos em argila. 
Existiram muitas outras reduções jesuíticas entre o Paraguai e o Brasil destruídas por grupos belicosos de aventureiros em busca de riquezas e bandeirantes paulistas, em 1632.
  
Retrocedendo no tempo, lá em 1522, Portugal já havia rompido os tratados com a Espanha e a coroa portuguesa passou a ver os povoados jesuíticos como ameaça política e territorial, já que em tão pouco tempo os religiosos católicos haviam estabelecido uma verdadeira revolução nas aldeias. A coroa portuguesa então, colocou em cena as Entradas (expedições oficiais militares) e as Bandeiras (expedições clandestinas civis). Entre estas surgiram numerosos grupos armados que combatiam os espanhóis, queimavam as aldeias, saqueavam, aprisionavam e escravizavam os índios e até matavam em massa os que não se submetiam ao seu jugo. 
Em 1632 – pouco mais de um século depois - a bandeira liderada por Manoel Preto e seu imediato Antônio Raposo Tavares, localizou Vila Rica do Espírito Santo e durante três meses o bando ficou de tocaia na região, analisando a vida dos habitantes e ao observar que lhes faltava alimentos e estavam entrando em pânico, apertou o cerco. Barrou a entrada de subsistências e provocou a fuga dos aldeãos e missionários famintos e desesperados, a maioria composta por colonos desarmados e sem defesas militares.  
No dia do pesado ataque, Raposo Tavares comandou cerca de mil homens bem armados, entre os quais os temidos flecheiros tupis (os mais temidos pelos guaranis), que fulminaram e destruíram a aldeia, incendiaram (inclusive a igreja onde muitos tentaram se esconder), mataram quem encontravam pela frente, saquearam tudo que havia de valor e obrigaram brancos e índios, a fugirem, em pânico, mata adentro e rio Ivaí abaixo, até atingir a margem direita do Rio Paraná, longe do perigo, já em terra paraguaia. Muitos morreram pelo caminho, notadamente idosos e crianças, e outros se afogaram no caudaloso rio. Não havia canoa suficiente.

Foi a última vez que os guaranis, em massa, habitaram a região. Após o triste ocorrido, migraram e passaram a ocupar terra das margens opostas dos rios Iguaçu e Paraná, atual território do Paraguai. 
A única etnia que prevaleceu na região foi a dos Kaingangues, que hoje tem pequenas aldeias em Manoel Ribas, Mangueirinha, São Jerônimo da Serra, Cândido de Abreu e algumas famílias andarilhas, depauperadas, na periferia de Campo Mourão.

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Igreja Divino Espírito Santo - Paróquia de Fênix - PR

Onde atualmente está o município de Fênix a história ainda é, relativamente, recente. 
Apenas em 1940, com a colonização do norte paranaense é que a região centralizada por Campo Mourão passou a ser, paulatinamente, habitada por: cafeicultores, madeireiros, pecuaristas e comerciantes, a maioria oriunda de Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul.


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Esse era o mapa de Campo Mourão e seus Distritos
hoje, municípios, com exceção de Piquirivai

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