23/05/2019

* O Grande Nelsinho de Campo Mourão


 
Nelson Teodoro de Oliveira 
- “Sim, sou mourãoense, nasci em 9 de janeiro de 1940, capricorniano. Somos netos e filhos de pioneiros. Meus pais são Joaquim Teodoro de Oliveira e Izabel Luiza de Oliveira. Vivo feliz no seio de uma família de 12 irmãos: Adelaide, Leonir, Dilce, Nelson, Acir, Eleny, Diógenes, Alcione, Valmir, Josemar, José Carlos (Carlinhos) e Luis Carlos Teodoro de Oliveira” - adianta Nelsinho.
“Nosso avô paterno José Custódio de Oliveira, com a família, em carro-de-boi e a cavalo, após uma dura jornada que se prolongou por cerca de três anos, alcançou Campos do  Mourão – PR, em 1910, embalado pelo sonho de plantar e colher cereal e café, cultura que a família já praticava em Diamantina – MG, posteriormente no interior de São José do Rio Pardo – SP e conhecia bem seu manejo. Fixou-se e implantou sua lavoura, com sucesso, na extensão imensa e ondulada Barreiro das Frutas antes denominado Campina dos Teodoro, entre os rios da Várzea e do Campo, local de rico solo produtivo e clima ameno”.
“Sou bem casado, já se vão  34 anos, com Sonia Pessa de Oliveira e pai de Luiz Cláudio e Luiz Sérgio”.

Torcedor - Nelsinho - com é carinhosamente chamado na família e conhecido entre amigos - é agricultor de berço, foi líder estudantil no Ginásio de Campo Mourão, é cooperativista, rotariano, líder rural e cidadão benemérito de Campo Mourão. “Torço pelo Corinthians, pela minha família, minha cidade e nosso povo”, declarou.
Nelson Teodoro de Oliveira é pessoa importante e influente. Ao longo das quatro últimas décadas teve papel fundamental na fundação do Sindicato Rural Patronal, da Coamo, do Rotary Club e da Faculdade de Ciências e Letras de Campo Mourão (Fecilcam) entre outros feitos, além de integrar a Federação da Agricultura do Estado do Paraná (FAEP) e a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) fazendo parte das diretorias. “Afinal não podemos passar em brancas páginas do livro da nossa vida, por esta terra, né?!” 
Somos os melhores - É o cooperado (fundador) número 48 da Coamo.  “Antes, nosso solo era improdutivo e conhecido pelos famosos três ésses: saúva, samambaia e sapé. Hoje, a gente vê e comemora com satisfação excelentes colheitas em uma terra das mais férteis que conheço, com todo apoio logístico que nos é dado pela pujante Coamo e sua equipe gabaritada de primeiro mundo. Em termos de safras agrícolas somos um dos estados que mais produz grãos, e estamos entre os países mais produtivos, além do que a nossa cooperativa, da qual me orgulho, é a maior da América Latina. Isso nos dá muita satisfação de sermos mourãoenses, de amar e batalhar nessa terra abençoada” - exalta Nelsinho.
Estudante – “Cursei o primário no antigo Instituto Santa Cruz das irmãs Vicentinas quando a superiora era a veneranda Marta Kleina (1951 a 1953). Fiz o Exame de Admissão ao curso ginasial e matriculado no excelente colégio Internato Paranaense (irmãos maristas) em Curitiba (1954 a 56) onde também frequentei o famoso Colégio Estadual do Paraná (1959/60) perto do Passeio Público, bem como na profissionalizante Escola Técnica da Universidade Federal do Paraná. Com a inauguração do Ginásio Campo Mourão (particular) que nossos pais ajudaram a construir financeiramente a pedido do querido professor Ephigênio José Carneiro e seu pai Bonifácio, lá perto do estádio de futebol (1956 a 58), voltei a estudar na minha terra natal que tanto amo e não mais precisei mudar daqui”.


Em Curitiba – “Fiz muitas amizades e tive a felicidade de conhecer e conviver com uma pessoa das mais dinâmicas e letradas: Milton Luiz Pereira. Era jovem, estudava Direito na Federal. Pedi a ele me ensinar Latim (matéria obrigatória ginasial). Ele topou desde que eu engraxasse os sapatos dele, como paga (rindo). Não me fiz de acanhado e aceitei a proposta. Ele se revelou um ótimo professor e locutor da Rádio Clube Paranaense – PRB2 onde apresentava boletins de notícias várias vezes ao dia e o Informativo Prosdócimo (jornal falado) que era o carro-chefe da emissora pioneira do Paraná e eu me revelei um bom engraxate, mas não segui a arte”. (rindo). “Depois o Milton – que me apelidou de Campinho – veio conhecer Campo Mourão, gostou, ficou, prosperou e aqui se realizou politicamente e profissionalmente. Aqui ele foi um dos meus professores no Ginásio Campo Mourão".
Comunicativo como era, logo conquistou a simpatia de todos, o que o levou à prefeitura de Campo Mourão, com excelente trabalho realizado tanto como advogado como prefeito. Deixou a cidade bem cuidada e assumiu o alto cargo de Juiz Federal. Em Curitiba quase todo lugar que ele ia, até nos mais chiques, dirigia seu fusca azul que ele ganhou dos amigos e simpatizantes mourãoenses, logo após concluir seu mandato de prefeito” - relembra 'Campinho'.

Ginásio – “No Ginásio Campo Mourão tudo estava por fazer em termos de professores e estudantes. Até montar e parafusar as ‘carteiras’ nós ajudamos. Íamos lá à noite. Nossos pais contribuíram com 1000 mil cruzeiros na época e quando a primeira turma se formou, foram ‘perdoadas’, a pedido dele, as cerca de cem  promissórias assinadas e devidas pelo Fijo (Ephigênio)” – confidenciou
“Seguindo exemplos de união dos estudantes vistos em Curitiba, nos mobilizamos em várias reuniões que resultaram na fundação do Grêmio Lítero Esportivo Barão do Cerro Azul (GLECA), nas cores azul e branca, do qual fui Diretor de Esportes e o Wille Bathke Junior, amigo de infância e até hoje, foi presidente.
Organizamos a fanfarra com três percussões e realizamos o primeiro desfile cívico-estudantil em torno da praça São José; formamos os times de vôlei, ‘queimada’ que as meninas gostavam e futebol oficial.
Compramos bolas, capinamos um campo de futebol no fundo do Ginásio e fizemos uma quadra poliesportiva no pátio, atrás dos banheiros. Colocamos traves de pinho (quadradas) no terreirão onde hoje é o Estádio Municipal Roberto Brzezinski (antigo Estádio Olímpico) e ali realizamos muitas partidas contra os desafiantes da nossa molecada, entre a qual me incluo porque eu também dava meus chutes e pontapés. A bola de capotão era apenas detalhe”. (rindo).

Primeiro troféu – “A mais importante peleja foi aquela, debaixo de chuva e em cima do barro (não havia grama), na qual disputamos a primeira taça oferecida pelo saudoso entusiasta de Campo Mourão e que apreciava muito o esporte, doutor Nelson Bittencourt Prado, advogado e jornalista. Esse troféu simples, prateado, muito bonito, deve estar na galeria das vitórias do Colégio Estadual Campo Mourão desde a gestão do professor e diretor, Joani Teixeira, com o nome do amigo Wille gravado, porque ele marcou 2 gols e o pesado time, de grandes homens trabalhadores da encantada Usina Mourão fez, 1” – rememora.
 
Comissão de Campo Mourão pró Fundacam
Homem da terra – Nelsinho ajudou a fundar a Cooperativa de Eletrificação Rural de Campo Mourão (Cercam) e participou das manifestações públicas, dos atos e trabalhos, com um grupo de abnegados, dedicados à criação da Fundação de Ensino Superior de Campo Mourão – Fundacam, depois Fecilcam e, finalmente, encampada pela Universidade Federal do Paraná – UTFPR da qual é importante extensão voltada ao ensino superior da juventude mourãoense, de toda região enfim, e até de outros estados, que busca aqui as fontes de formação profissional, com qualidade. “Hoje dá gosto ver o quanto avançou o ensino superior e multiplicaram-se as universidades e campus, em nossa cidade. Esse fato maravilhoso nos enche de orgulho e garante que, não mais, nossos filhos precisarão deixar a cidade. Antes, a maioria, que estudava ou servia o exército fora daqui, não voltava" - diz eufórico.

Internatos - As escolas preferidas de nossos pais, que nos matriculavam em Curitiba porque aqui não havia ginásio, para os meninos era: o Internato Paranaense (marista) no bairro Seminário e o das meninas era o Colégio Nossa Senhora de Lourdes (freiras) no Cristo Rei, perto dos Móveis Cimo, quase em frente ao Hospital Cajuru “ - localiza.
 
Nelsinho vereador em Campo Mourão

Trabalho e atividades - Entre 1958 e 1964 trabalhei na tesouraria do extinto Banco Mercantil e Industrial do Paraná (Bamerindus) e fui encarregado da implantação do Crédito Rural na Agência de Campo Mourão. Em 1965 ingressei no Banco do Brasil, por  concurso como ”avaliador”, na agência de Campo Mourão e posteriormente na de Cascavel até 1969.
Em 1968 fui presidente da Associação Rural, transformada no Sindicato Rural de Campo Mourão, onde estou desde a sua fundação. Fui eleito vereador com 803 votos pela Arena e atuei na 6ª legislatura, entre 1969 e 1972, sendo secretário da Mesa Executiva. Fui eleito primeiro secretário da primeira diretoria e membro do Conselho de Administração da Coamo durante esses mais de 40 anos. Sou vice-presidente da Federação da Agricultura do Paraná, presidente estadual da Comissão de Meio Ambiente e membro efetivo da Confederação Nacional da Agricultura sediada em Brasília “ – acrescentou.
Homenagens  Com orgulho recebi o título de Cidadão Benemérito de Campo Mourão, dia 17 de dezembro de 2002.
Dia 26 de novembro de 2010, por ocasião dos 40 anos da Coamo, fui homenageado representando todos os cooperados. Fui pego de surpresa e me senti honrado. Meu lema é: trabalho, honestidade e, acima de tudo, confiança ponderou.
Política – “Nossa família sempre participou honestamente de política partidária no sentido de trabalhar e melhorar cada vez mais nosso município em benefício da população, sem descriminar ninguém e nem perseguir ou prejudicar os ‘adversários'.
Meu pai e meu tio Antoninho (Antonio Teodoro de Oliveira) foram exemplares prefeitos em Campo Mourão. Somos amigos de todos. Quanto a política praticada, séria e honesta no passado, hoje é péssima. Atualmente não tem fidelidade partidária, há muito interesse pessoal, excesso de vaidade e falta o interesse coletivo. Quando fui vereador de 69/72 concorreram apenas 13 candidatos e 11 foram eleitos. Hoje dezenas, centenas se candidatam pensando apenas em seu próprio interesse” – lamentou.
"Campo Mourão é uma cidade tranquila, em desenvolvimento constante graças ao setor rural produtivo e a iniciativa privada. Cresce no setor de empregos, na arrecadação de impostos e geração de renda, mas, nos últimos 20 anos,  os poderes públicos e políticos deixam a desejar, por eles estamos a passo de tartaruga. Campo Mourão é a cidade que nasci e escolhi para viver. É um grande orgulho ser Mourãoense nato. Tenho certeza que, futuramente, a Campo Mourão que imaginamos para os nossos filhos e netos, terá mais atenção política, segurança e maior desenvolvimento na agricultura, na educação, ensino superior profissionalizante e nas lideranças, pilares que são a razão do progresso de uma cidade, de um povo e do país”. – previu.

Otimismo -“Sou feliz pela família e amigos que tenho e me orgulho em poder ter ajudado a servir e fazer alguma coisa boa em prol da nossa cidade. Acreditem e lutem para realizar seus ideais, faça tudo como se dependesse apenas de você. Ame a sua cidade, seja voluntário e dê um pouco de si em prol do próximo e do bem comum e, com absoluta certeza,  será muito mais feliz e fará nossa cidade feliz. Campo Mourão, se depender de mim, estarei sempre à disposição em qualquer empreitada se for do bem e para todos”. – finalizou Nelson Teodoro de Oliveira. Agradeceu a conversa franca, com um forte aperto de mão.
Adeus Nelsinho - A morte do pioneiro, produtor cooperado, líder rural de Campo Mourão e no Paraná, Nelson Teodoro de Oliveira, 79, ocorrida sábado (18/05/19), foi profundamente lamentada por lideranças políticas e do setor do agro negócio. Amigo de todos, filho de família estimada e respeitada, Nelsinho, além de amigos e familiares deixou a esposa Sônia Pessa de Oliveira, com quem era casado há 43 anos e os filhos: Luiz Cláudio e Luiz Sérgio. O município respeitou três dias de luto pelo seu falecimento. Nelsinho repousa em sua morada eterna, no Cemitério Municipal São Judas Tadeu de Campo Mourão.

Coments 

Francisco Jorge Spartalis TeixeiraMeu amigo Nelsinho, que nos tempos de estudante, em Ctba, morava no Pombal na rua Paula Gomes, dividia o quarto com o Irineu Brzezinski e depois com Dr. Milton na Esplanada. Lá era carinhosamente chamado de Campinho! Companheiro dos bão! Deve estar fazendo comício lá no céu! Que nosso Bom Deus o acolha em seu reino! Nossos sentimentos de pesar à família !


Milton Luiz Pereira: Eu Morei na Pensão Esplanada (Rua Comendador Araújo, 268) quando cheguei à Curitiba, duro e desempregado. Conheci o Ítalo, mecânico da Ford, que me ofereceu sociedade numa oficina de fundo de garagem. Fui graxeiro (lavador de peças) por um ano. Vendi minha parte da oficina pela metade do preço”, recorda do primeiro investimento. “Nessa pensão o “Campinho” (Nelson Teodoro de Oliveira) morou no meu quarto a pedido de seu pai, senhor Joaquim Teodoro de Oliveira. Na ocasião o Nelsinho me pediu para lhe ensinar Latim (matéria obrigatória de ginásio) e me 'pagava'... engraxando meus sapatos", relatou doutor Milton, sorrindo.
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Joaquim Teodoro de Oliveira
um Gentleman no Sertão

Nasceu dia 18 de abril de 1908, em Cerqueira César (Distrito de Santa Cruz do Rio Pardo). Filho de Almira Lemes (nome de escola municipal) da Silva e José Teodoro de Oliveira.
Izabel Luíza, sua prima e esposa, nasceu em Pitanga-PR, dia 25 de dezembro de 1909, filha de Ana Luíza da Conceição e Joaquim Custódio de Oliveira. 
 Saga  Em 10 de Outubro de 1910, a família Custódia de Oliveira, chegava aos Campos do Mourão. “Foram mais de três anos de viagem, desde o interior paulista, através de trilhas, em carro de boi, a cavalo e cargueiros de suprimentos, transportados por animais, através de matas, serras e caminhos pelos campos nativos”.
Bebês retardaram a viagem  - “Ao chegarem ocuparam pequenas áreas de terra devoluta à margem direita do Rio do Campo até perto da margem esquerda do Rio da Várzea. Preferiram terra onde tinha muito palmito, que diziam ser melhor pra plantar café. Plantaram e se deram bem, diz Adelaide.
“Meus bisavós paternos, Ana e José Custódio de Oliveira, é que tiveram a ideia e a iniciativa desta longa aventura. Minha avó materna, Ana Luíza, cavalgou grávida (engravidou na viagem) e ganhou minha mãe Izabel, em Pitanga, quase no fim da jornada. O mesmo aconteceu com minha avó paterna Almira, que teve o tio Antoninho (Antonio Teodoro de Oliveira), também em Pitanga, revela Adelaide. 
"O nascimento dos bebês retardou a chegada aosCampos do Mourão por quatro meses. Esperaram as criancinhas ficarem parrudas, e seguiram em frente, explica Carlinhos Teodoro, rindo.


Joaquim Custódio de Oliveira e Ana Luíza  tiveram: Luiz (casado com Ana Pereira), Maria Luiza de Jesus (Luiz Custódio de Oliveira), Olímpia (Raul Rodrigues Monteiro), Laurinda (Camilo Pereira que foi casado com a prima Maria, falecida), Ana (Pedro Rodrigues Monteiro), Almira (Eduardo Rodrigues Monteiro)

"Minha mãe tem três irmãs casadas com três filhos do João Rodrigues Monteiro (João Bento) e meu pai tem irmãs casadas com filhos de Jozé Luiz Pereira. É que nesse tempo só tinha essas famílias com moços e moças em idade de casar. O jeito era unir prima com primo (rindo muito), mas graças a Deus nunca deu problema de consanguinidade. Nasceram filhos, todos perfeitos, graças a Deus”, agradece Adelaide.

De  Joaquim e Luíza  Dos primos Joaquim Teodoro de Oliveira e Izabel Luíza, nasceram: Adelaide (divorciada de Manoel Barreto), Dilce (Roberto Ribeiro de Castro), Leonir (Newton Xavier do Rego), Nelson (Sônia Maria Pessa), Acyr (solteiro), Eleni (solteira), Áurea (falecida), Diógenes (Mariza Dario), Alcione (Claudete Figueiredo), Valmir (solteiro), Josemar  (Izabel Cavalcante), José Carlos (solteiro) e Luiz Carlos (Maria Elizabete Montemezzo), toda minha irmandade cresceu em Campo Mourão e é formada em cursos superiores diz Adelaide orgulhosa da família.

 
Ala masculina dos Teodoro de Oliveira em Campo Mourão

Gentleman – “Meu pai (Joaquim Teodoro de Oliveira) teve somente 15 meses de estudos, em casa, com o professor Laurindo (1914) e com a professora Maria (1921). Estudou quando trabalhava no armazém do seu João Bento, em Pitanga. Era o contabilista porque sabia fazer contas direitinho. Papai sempre foi um cavalheiro, elegante e um homem de fino trato. Apesar de viver em meio a violência da época, ter sido Inspetor de Quarteirão e Delegado de Polícia, sempre agiu com calma e ponderação", destaca Adelaide. 
"Foi mais pacificador que autoridade, sabe?, orgulha-se o filho Acyr. 
“Ele dizia que antes de ser agricultor tinha que ser doutor. Um agricultor não pode ser doutor, mas um doutor pode ser agricultor. Essa era uma das filosofias de vida do meu pai", revelou Valmir.
Viagem Penosa – "Meus avós eram lavradores e vieram para cá de tanto ouvirem falar bem de um tal de Campos do Mourão através dos mensageiros dos irmãos Pereira, que vieram da Ilha Grande-SP (região de Rio Pardo) e já estavam aqui desde 1903. A viagem foi muito penosa, demorou, mas correu tranquila. Fizeram um 'devolteio' grande até chegar aqui, a passo de cavalo e  bois de canga. Atravessaram o Paranapanema e entraram pelo Norte Pioneiro do Paraná, sem estradas. Pelos carreadores cortaram Itararé, Castro, Ponta Grossa, Guarapuava e pararam em Pitanga pra minha avó ganhar minha mãe (Izabel Luíza) e a mãe de papai ganhar o tio Antoninho... Eita !!! (gargalhadas). Ali ficaram vários meses e atrasou a viagem" - (pergunta: mas a dieta não é de 40 dias?) - Era (risos), mas demoraram mais até as crianças ficarem fortinhas. O medão deles, de Pitanga pra cá, eram os tigres (onças). A maior dificuldade era atravessar os rios nas cheias, não tinha pontes. Acampavam nas beiras e esperavam a água baixar. A noite deitavam e mantinham o fogo aceso pra espantar os bichos. Os cachorros vigiavam. O sal não podia faltar. O principal alimento era carne de caça, que tinha muita”, descreve Adelaide no rumo do desconhecido.

Posseiros  A região de terra ocupada pela família Custódio de Oliveira foi legalizada mais de 20 anos depois da posse. É a mesma fazenda que temos até hoje no Barreiro das Frutas, antes conhecida como Campina dos Teodoro. No início pegaram lotes pequenos porque pensavam que nunca iam poder pagar. O pai do meu pai, por exemplo, ficou só com 100 alqueires, no começo. A posse foi pacifica, não teve entreveros com jagunços ou grileiros. Os posseiros daqui não brigavam entre eles. Eram todos parentes, irmãos, compadres... era tanta terra devoluta a ser ocupada que uma vez meu pai cedeu um requerimento de 500 hectares no Paraná do Oeste (perto de Moreira Sales) ao amigo capitão Renato Romeiro Pinto de Mello", revelou Adelaide. 
"Era comum as famílias que chegavam sem nada irem visitar a gente e diziam: -você tem tanta terra, dá um pouco pra nós!.. E meu pai, meus tios davam os requerimentos registrados de terra, quando viam que as intenções eram boas. Eles também queriam que Campo Mourão crescesse”, explica Carlinhos Teodoro. 
"As brigas e mortes eram entre os grileiros que vinham do nada aventurar por aqui. Teve uns tempos que se matavam entres eles.. uns três.. quatro por dia. Tinha vez que matavam dois e deixavam dois amarrados, como aviso. Voltavam e matavam no outro dia,  diz Carlinhos em tom de brincadeira pra ilustrar o retrato da época (rindo muito).
"Bem mais recente o pai deu aquela quadra do Tiro de Guerra ao Departamento de Obras do Estado (DOE). Ele tinha reservado ali pra construir uma praça no Jardim Flórida, que ele loteou, onde era o grande pasto que ele alugava pras tropas repousarem, acrescentou Acyr. 

Sobrevivência  Quando minha família chegou no Campo (10/10/1910) era tudo sertão. Não tinha nem onde comprar o precioso sal e alimentos. A gente tinha que ir à Guarapuava abastecer. Pitanga era igual Campo Mourão, tinha nada também, só o nome. Nossa gente viajava em tropas de mulas e a cavalo. Depois de quase um mês, com tempo bom, voltavam com o sal grosso, querosene de acender lampiões e lamparinas, peças de tecidos pras mulheres fazerem roupas pra toda família, ferramentas, pólvora e chumbo pra caçar. Como as safras demoravam a se formar e colher, não circulava dinheiro. Eles levavam e compravam as mercadorias com couros de caças, rapaduras, arroz e café limpo... mês a mês eles se revezavam nas idas às compras, mas cada animal da tropa era de um dono, tinha seu pedido anotado na caderneta e os produtos de troca... transportavam os balaios e as bruacas de couro (cargueiros), tudo em lombos de 15 a 20 mulas (a mula é mais resistente que o burro e o cavalo). Cabiam uns 80 litros em cada uma (60 kg de cada lado). Usava-se muito o pessoeiro (alforje duplo) com bolsas de couro do lado, fechada com fivelinhas metálicas. O pessoeiro ia logo atrás da cela do dono do cavalo, e dentro tinha seu alimento: paçoca de carne socada no pilão com farinha de milho, rapadura de cana-de-açúcar, virado de feijão enxuto feito com farinha de mandioca... comiam essas coisinhas básicas, bem nutritivas, explica Adelaide.
A tropa tinha um puxador (sinoeiro)  que a égua madrinha seguia com um badalo no pescoço dela. Quando a égua parava, o cincerro deixava de badalar e toda a tropa parava em volta dela para descansar e se alimentar, enquanto a comitiva dormia, com fogo aceso e cachorros de vigia. Tinha muita onça. Quando as compras demoravam vir, começava faltar tudo. As famílias se socorriam, umas com as outras com o quase nada que tinham, até a tropa retornar, conta Adelaide da dor da fome. 
Porque São José  As famílias e os compadres se reuniam um domingo por mês e faziam o Dia do Lazer. Primeiro era na Capelinha Santa Cruz na saída para Peabiru. Depois na Capela de São José, num alto pouco para cá da Vila Guarujá, perto da Vila Carollo, construída pelos Pereira, Custódio, Oliveira e Monteiro. "Foi ali que eles elegeram São José como nosso padroeiro, em 1932, registra Adelaide.

 
1940/42 - Com ajuda do povo o Pe Aloysio construiu a Igreja Matriz de Campo Mourão 
 em honra a São José, e a Casa Paroquial no ponto mais elevado do quadro urbano.
"O povo ajudou o padre Aloysio Jacobi a construir a capela e  rezava missa ali, até quando terminaram a Igreja da Paróquia de São José, em 1942, no centro, de frente à Praça Getulio Vargas, que antes era chamada de Praça 10 de Outubro. Daí ele fez uma casa do lado da igreja matriz e veio morar na cidade. A casa dele era onde está a praça elevada e, a Catedral é onde estava a igreja toda de madeira, até a cobertura e a torre," - localiza Adelaide.

Procissão dos descalços - Quando o padre Agostinho veio benzer a Capela de São José, na saída da estrada Campo Mourão/Roncador (BR-158), ela já estava pronta. "Os homens esperaram a vinda dele para colocar a imagem de São José no altar e, nesse dia, foram em procissão desde o centro da cidade até a igrejinha... levaram a estátua num andor, todos descalços na poeira quente e sol ardendo. Foi uma intenção (promessa) de agradecer, porque deu tudo certo no abençoado Campo, apesar das bolhas nos pés", explica Adelaide.
A primeira imagem de São José foi doada por Manoel Mendes de Camargo, quando terminou a picada da Boiadeira. Foi trazida de Guarapuava. 
"Era pequena e não é a mesma que está na Catedral. A outra sumiu quando ficou em uma capela na terra do Miguel Pereira na região do Jardim Copacabana", lamenta Adelaíde. 

Dia do Lazer - "Nesse dia - um domingo por mês - o pouco povo que tinha Campo Mourão se reunia na Capela de São José e, antes de tudo rezavam o terço, em coro. Isso era sagrado! Depois da reza tinha o almoço por conta do organizador (cada mês era escolhido um). À tarde era servido café com bolo de polvilho. Tinha brincadeiras e até baile de sanfona, viola e pandeiro, numa batida só" (rindo).

A Santa Cruz foi o primeiro ponto de encontro dos cristãos e as primeiras festas foram ali, no primeiro domingo de maio (Dia de Santa Cruz). O local era assinalado por um cruzeiro de cedro vivo, do tempo da chegada dos Pereira. 
Em 1956, "com essa fé de pagar promessa, largaram velas acesas no altar e queimou a palhoça (capelinha) duas vezes, mas foi refeita. No terceiro incêndio só sobrou um pedaço chamuscado do cruzeiro. Daí foi feita a gruta. 
"Tem lá uma gruta agora e um pedaço do que sobrou do cruzeiro, guardado ali pelo seu Ville Bathke, que fundou o Jardim Santa Cruz, grande amigo de meu pai e da família" registra Adelaíde.
 
Família de Antonio Teodoro de Oliveira, 
um dos prefeitos Nota 10 de Campo Mourão

Joaquim caçador - "Você acredita que meu pai sempre foi autoridade em Campo Mourão, desde inspetor de quarteirão a delegado de polícia e nunca andou armado?. E olha que era bom no tiro, viu? Tinha uma Winchester/44 - 20 balas, que era infalível nas mãos dele. Digo isso porque ele foi o maior caçador de onças entre 1940/50. Abateu 53 a pedido de amigos e compadres.
Ele não gostava de caçar, mas acontecia que onças matavam porcos e reses das fazendas e sítios dos vizinhos, causando prejuízos enormes. Então recorriam ao meu pai. Ele contava que tinha muito dó dos animais da mata. Dizia que eles não tinham culpa tinham fome. O invasor é a gente. As onças matam para sobreviver e nós matamos para dizimar" palavras de seu Joaquim.
 
 Da esq > dir: José Camilo Pereira Fº, Cesário Rosseti, Joaquim Custódio de Oliveira, José Custódio Sobrinho, Luiz Francisco Lopes, José Camilo Pereira, Joaquim Teodoro de Oliveira, os dois negros à direita eram filhos de Jorge Cafurna e o cachorro onceiro é o Coronel. 

No facão - "Papai quase chorou na sua última caçada. Aconteceu dele atirar e a bala quebrou a espinha da onça que tentava se salvar com o maior sacrifício se arrastando nos quartos traseiros: 'essa eu tive que acabar no facão com ajuda dos cachorros' contou papai, que depois dessa  não caçou mais nenhuma. Ficou muito chocado com a triste cena".

Desarmado - "Quando delegado ele não portava nenhuma arma e nunca maltratou um preso ou malfeitor. A arma dele era uma boa conversa. Porém ele tinha um guarda-costa conhecido por Zé Gaúcho que andava armado até os dentes, e tinha uma cara feia, de gente ruim, que botava medo no mais valente fora da lei. Só de ver a cara dele o bandido se entregava". (rindo)

 

Guerra do rádio - “Teve várias ocorrências, e de uma delas nunca me esqueço porque eu participei: quando o Lupion perdeu a eleição para o Bento, o novo governador parou as obras, paralisou tudo em Campo Mourão (usina e ponte no Ivai), suspendeu tudo mesmo e mandou um rádio enorme, de se comunicar com a capital, para Peabiru onde as lideranças eram do PR (Bento) e no Campo eram do PSD (Lupion). Só que lá era Distrito e aqui já era Município e o lado de cá não se conformou em perder mais um benefício importante por perseguição política. Quando meu pai e seu Francisco Albuquerque souberam, chamaram mais algumas lideranças (Devete de Paula Xavier, Pedro Viriato e outros, mas o Devete não foi, era prefeito tampão). Combinados, montaram em seus cavalos e levaram mais um de sobra, com cangalha de carga no lombo. O Zé Gaúcho foi junto sempre perto de papai. Parecia sua sombra”. (risos).
“Quando chegaram na altura da Lagoa Seca e do Pinheirinho tinha um emissário que lhes avisou que o pessoal de Peabiru estava reunido, inclusive mulheres, todos armados e que não iam entregar o rádio. Mesmo assim, os de Campo Mourão mandaram o emissário na frente levando recado de que a missão era de paz e que, por direito, o radio tinha que estar na sede de Campo Mourão. E seguiram em frente".
Perigo a vista - “Chegaram e foram direto ao ponto, perto da praça, onde depois construíram o Cine Vera, local em que já estava instalado o equipamento de comunicação, operado por um telegrafista da Militar. A sala pequena estava lotada e atrás dos recepcionistas, o famoso pistoleiro-matador, Pedro Candinho, doido para acabar com a vida de mais alguém. Portava dois 38 na cintura, chapelão na cabeça a la faroeste e olhar fixo em papai. Parecia hipnotizado”. Imagine a cena, pediu Adelaíde.
“Os mourãoenses entraram... Meu pai Joaquim tirou o chapéu e, com um gesto elegante, cumprimentou a todos e disse a que veio com seus amigos. Depois de muita discussão... Leva não leva, os ânimos se acalmaram e, resumindo: o grande e potente rádio veio para Campo Mourão no lombo do cavalo da cangalha e tudo terminou bem", suspira aliviada, Adelaide.

Quase morreu - "Veja só como é o destino e a hora das pessoas: passados dias, Pedro Candinho encontrou com papai, aqui no Campo. Conversaram de soslaio e o pistoleiro perguntou:
O senhor tava armado lá no Peabiru?
Por quê a pergunta, Pedrinho?
Porque a ordem que recebi era de que se o senhor se 'coçasse' era pra eu mandar bala no senhor e além de eu, tinha mais dois jagunços, caso eu falhasse ou morresse, eles faziam o serviço por mim.
Mas eu não ando armado e nem fui armado. Só preveni o Zé Gaúcho que você estava lá com tua corja e dei ordem a ele: se o Candinho se mexer Zé, fuzila ele sem dó, e os capangas também. Não assuntou que o tempo todo ele ficou te namorando e era o único, dos nossos, armado?
Sériooo seu Joaquim... Minha nooossa... Então escapei por pouco?!
Se cuide meu amigo. Bom dia... Passar bem Pedrinho !!
 
Nelson. Adelaide e o primo Eraldo


Os filhos de Almira e   José Teodoro de Oliveira são: Joaquim (casado com Izabel Luíza), Antonio (Zuleica), João (Francisca), Alfeu (Anita), Gabriel (faleceu), Maria (Camilo), Ana (João Dias), Eufrazina (Joaquim Mendes) e Elizilia (Eurides).


Imagem relacionada
Campo Mourão, janeiro, 2002

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