02/06/2019

* CAMPO MOURÃO: ÉGILE E CLÁUDIO S. PINTO

 
Trecho da longa entrevista sobre a vida de Égile 
em Campo Mourão - Ouça!

 
Égile Perdoncini e Claudio Silveira Pinto

Claudio Silveira Pinto nasceu dia 25 de dezembro de 1916, em Morretes (PR). Filho de Benigno e Maria Nunes Pinto. Casou com Égile Perdoncini, em Campo Mourão, e tiveram sete filhos: Marlene, Jurandir, Juarez, Claudete, Cláudia, Márcia e Cláudio Júnior.
Chegou a Campo Mourão, sozinho, na década de 40, a convite de Belim Carolo e hospedou-se na casa da Família Albuquerque e, a princípio, exerceu a função de Guarda-Florestal na região conhecida por Roncador. 

 
BR-158 corta Roncador pela Av. São Pedro

O local foi acampamento temporário da equipe de engenharia que demarcou o traçado da BR-158 e iniciou seu povoamento construindo umas poucas casas de madeira para seus empregados no traçado hoje denominado Avenida São Pedro.

 
Av. São Pedro - Roncador - PR em 2017
Com o tempo se tornou dono de, praticamente, toda a Gleba Can can, loteou a área da qual resultou o nascimento e urbanização da cidade e município de Roncador, nome do principal rio próximo a cidade cujo 'ronco' da água, se ouve de longe. Esse barulho era 'um sinal' de localização aos aventureiros e viageiros que buscavam ou cruzavam o antigo sertão. Era referência de situação geográfica.

A região era rica em florestas de araucárias, mata fechada a perder de vista. o que o levou a explorar o rico filão do ramo madeireiro. Montou serraria em Roncador e depósito em Campo Mourão, auxiliado pela sua jovem esposa Égile que se revelou excelente motorista e comerciante a exemplo do seu marido Claudio.
Foi proprietário das Serrarias Cancan e Santo Antonio em Roncador- PR, do Depósito de Madeiras e  da Companhia Mourãoense de Automóveis - Cimauto, revenda e assistência técnica e mecânica da Volkswagen do Brasil, em Campo Mourão - PR. Com o fim dos pinheiros, transformou a vasta área da Serraria Cancan, plantou pastagens e dedicou-se à pecuária de corte até o final da sua existência.

Claudio Silveira Pinto foi eleito vereador na 2ª Legislatura de Campo Mourão, em 1951 
com 91 votos, pelo Partido Republicano. 


2ª LEGISLATURA: (1952-1955) 

Em 05/12/51 assumiram:
1.            APARÍCIO TEIXEIRA D'ÁVILA, 108 UDN.
2.            ARTHUR MOREIRA DE CASTILHO, 158 votos - PTB.
3.            CLÁUDIO SILVEIRA PINTO, 91 votos - PR.
4.            DARVINO BATISTA GUIMARÃES, 106 - PR.
5.            ELEUTÉRIO G. DE ANDRADE, 101 votos - UDN.
6.            GEREMIAS CILIÃO DE ARAÚJO, 108 - PR.
7.            JOSÉ PEREIRA CARNEIRO, 114 votos - PR.
8.            JOSÉ PODOLAN, 75 votos - PTB.
9.            LAURENTINO B. GUIMARÃES, 73 votos - PTB.
10.       MANOEL DE JESUS PEREIRA, 105 votos - PR.
11.       SILVINO LOPES DE OLIVEIRA, 225 votos - PR.

Suplentes que assumiram:
1.            ACINDINO MARTINS DE OLIVEIRA.
2.            CARLOS STALMANN.
3.            DANIEL MIRANDA.
4.            EDMUNDO MALMSTRON.
5.            EURIDES OVÍDIO PEREIRA.
6.            FREDERICO LEOPOLDO SEFRIN.
7.            MANOEL TONETTI.
8.            NAPOLEÃO BATISTA SOBRINHO.
9.            VICTOR COSTA.

Claudio Silveira Pinto faleceu dia 16 de novembro de 1989, em Curitiba e está sepultado em Campo Mourão.

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ÉGILE PERDONCINI

A menina Égile nasceu na Colônia Weirich fundada por alemães nos arredores de Passo Fundo - RS, em 3 de outubro de 1926.
Filha do italiano João Baptista Perdoncini e Maria Pandolfo Perdoncini que tiveram uma família de 12 filhos e filhas: Davi,  José, Fortunato, Égile, Rosa, Atílio, Jeronimo, Iraci, Palmira, Ivaldina, Silvino e Olliva, com os quais Égile se dava bem, aprendeu e dividia as lides caseiras. 
No décimo terceiro parto, Maria não foi feliz, não resistiu. A criança morreu antes de deixar seu ventre e ela, não suportando as dores, também faleceu. Foi uma tristeza imensa na família e amigos. As filhas assumiram as responsabilidades e afazeres e seu João morreu viúvo. Foi fiel até o final da sua vida.



"Viemos morar aqui em 1940 a convite do Belim Carollo e o Bruno Ghering veio junto,  quando meu pai adquiriu a serraria (movida à roda-dágua à margem direita do Rio do Campo) construída pelo Teodoro Metchko, a primeira de Campo Mourão".
Depois de casada aprendeu a fazer negócios, no ramo de madeiras serradas, com seu marido, guarda florestal que veio transferido de Morretes/PR e aqui logo instalou serraria em vasta porção de terra a  beira do Rio Cancan, em Roncador,  naquele tempo, patrimônio de Campo Mourão".
"O Claudio era 10 anos mais novo que eu quando casamos aqui no Campo em regime de comunhão e direitos iguais diante da sociedade civil e perante Deus. A família, quase inteira, era contra nosso casamento. Eu embrabeci, disse que amava ele, e pronto!"
"Eu tive que dar duro. Era tudo com dificuldade. No começo pegava no pesado mais que ele, porque enquanto eu cuidava da serraria no Roncador e do Deposito no Campo, ele viajava o Paraná, São Paulo, Mato Grosso e Brasilia pra vender as madeiras serradas. Na ausência dele eu gerenciava tudo: a família, os empregados e os negócios todos. Eu só não gostava de mexer com bancos. Guardava dinheiro em sacos. Fizemos um cofre escondido na parede da casa e guardava os trocos ali. A gente só recebia e pagava em dinheiro, nada desses negócios de cheques e promissórias. Eu até me preveni contra ladrão, comprei um revólver 32, mas nunca precisei usar". 


"Muitas das vezes tive que transportar cargas e mais cargas de madeira em cima do caminhão que eu dirigia de lá até o depósito aqui. Eu sei tudo de madeira que a gente usa polegada para medir e calculava certinha todas as cargas. Também sei 'cubar' as toras antes de serem serradas. Você mede pela ponta mais fina em X, daí mede o comprimento, faz os cálculos na Facit e tem o resultado de quantos metros cúbicos tem a tora, mas deixe 10 cm fora do comprimento que é a medida descontada do destope (ponta bruta da tábua)".
"Certa ocasião, um freguês carregou três caminhões com madeiras de primeira qualidade. Na hora de acertar ele mentiu que era de terceira. Fui ver e mandei descarregar, se ele não pagasse o certo. Ele assustou. Pensou que eu era boba. Pagou e ainda me pediu desculpas", conta sorrindo.

 
Égile Perdoncini em seu Chevy rabo de peixe

"Um dos primeiros autos cheba, rabo de peixe, que teve aqui no Campo foi o nosso. Só que mulher era feio dirigir, era proibida até pela família paterna, mas eu dirigia por tudo e não me importava o que falavam de mim. O Claudio me apoiava. Esse auto é gostoso, macio, muito bonito mesmo, e eu ia fazer compras e passear com as crianças também. A gasolina era baratinha. O Davi, meu irmão, tinha um lindo desse. O nosso está guardado na garagem. Vou te mostrar nosso Chevy 57".

Primeiro Chevy em Campo Mourão

"Você sabia que mulher séria não podia andar de a cavalo e nem usar calça comprida? - Diziam que mostrava o corpo ou, quem usava eram as mulheres lá de baixo. Que nada!"
"Eu montava e vestia calça comprida de brim coringa mesmo ou as bombachas do Claudio com botinha de couro nos pés, ainda mais quando chovia. Eu andava assim na serraria e ficavam me olhando, pensando que era doida. Tinha que percorrer aquele mato enorme pelos carreadores estreitinhos para contar as toras nos estaleiros e ver se a peonada estava derrubando os pinheiros certos. O de menos de 20 centímetros de tronco que passavam pela cangalha, eu proibi de cortar. Eram  finos. Uma judiação. Então mandava deixar eles para crescerem até engrossar bem". 
"Imagine eu fazer isso sem ser de a cavalo e sem  calça comprida? A perna da gente ficava toda picada, tinha muito mosquito, de nuvem. A onça também respeita o cavalo,  tinha algumas lá no pinhal, então até delas eu estava protegida em cima do cavalo. Só escutava os urros, mas não via as bichanas".
"Eu sempre fui criada e vivi em serraria. Primeiro com papai lá no sul, depois com o Claudio aqui. Na família papai exigia mais das filhas que dos filhos. Ele era duro na paçoca, por isso enfrento qualquer serviço e já trabalhei muito nessa vida e enfrentei alguns perigos. Hoje os filhos pensam mais nos estudos e nada de pegar no pesado".


"Lá no Cancan, perto da casa, tinha um depósito grande, onde guardava peças da serraria e dos carros meio velhos já, e uma escada de degraus de madeira meio podre. Nesse dia eu estava sozinha na casa. Meus três primeiros partos foram lá. Então subi por ali e escutei uns barulhos debaixo dela, umas batidas estranhas. Assombração sei que não era, não acredito nisso. Então peguei o machado e lasquei a escada toda. Acredita que tinha quatro jararacas morando ali? - Matei a ninhada no machado, porque se ela morder uma criança ou a gente, é morte certa. É muito venenosa. Eu enfrentei elas. Nunca tive medo de nada".
"Quando viemos Campo Mourão era nada. Era luz de lampião, Acordava e dormia com as galinhas. Era pouco recurso até para comer. Eu matava porco e aproveitava tudo dele. Fazia banha, torresmo, linguiça, salame... as galinhas também eram nosso alimento, desde os ovos... era tudo natural por isso sou forte". 

"A homenagem mais bonita que recebi, foi uma certa tarde. Cheguei cansada do Roncador. O Claudio tinha voltado das viagens. Me abraçou e disse porque eu não tomava um banho pra relaxar. Os filhos estavam me olhando esquisito. 
Me banhei, me vesti, me arrumei no quarto e quando voltei na sala o Claudio, com os filhos, me convidou: venha comigo ver uma coisa. Fui e vi, até me emocionei. Ele colocou o nome da casa de Vila Égile", relembra com os olhos rasos de lágrimas.


"Foi muito duro enfrentar o início que tinha tudo pra fazer. Aqui era o fim da picada, mas hoje Campo Mourão é uma cidade bonita. Adoro viver aqui. Ainda tem umas casas antigas feitas com madeiras que eu vendi. Olho nelas e me dá saudade. Quero ver Campo Mourão cada vez melhor pois já tenho até bisnetos e eles merecem viver em uma cidade boa, assim como todos nós queremos", finalizou.


Dona Égile faleceu dia 19 de novembro de 2018, aos 92 anos, na Central Hospitalar, vitima de problema circulatório. Está sepultada no Cemitério São Judas Tadeu, em Campo Mourão, ao lado do esposo, filhos e filha.

Galeria de Fotos:


 
Claudio e Égile na primeira Festa do Carneiro no Buraco
com o prefeito Augustinho Vecchi em Campo Mourão.

 
Égile gostava de dedilhar músicas suaves em seu piano

"Eu amo a terra e as plantas"


"Eu dirijo auto e caminhão, até trator se for preciso"


Égile Perdoncini Silveira Pinto mulher determinada.
Uma Vida de lutas e vitórias em Campo Mourão.

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